Hoje, 23 de abril, é dia de São Jorge, aquele que com sua lança um dia enfrentou o dragão!
Lembro bem de um carnaval, no interior do estado, eu tinha uns 17 ou 18 anos, quase 3 da manhã, meio quase totalmente bêbado, atraquei na mulher mais feia do baile e talvez de toda a cidade, quiçá de todo o estado. Mas era feia a guria, devia ter quase a mesma idade que eu, tinha um nariz enorme, alguns buracos de espinhas mal espremidas na cara, cabelo meio marron meio curto, dentes numa verdadeira suruba, uns por cima dos outros, enfim, era o demônio em forma de gente.
Mas eu, um tímido adolescente, ali, olhando todo mundo se dar bem, na seca, bêbado, só vi aquela bunda que passava com os braços para o alto, dedinhos pra cima, sorridente, cantando "mamãe eu quero, mamãe eu quero..."
Tomei mais um gole de conhaque com cirilinha e dei vazão aos sentimentos. Terminei o baile de mãos dadas, levei-a em casa ao amanhecer, fiz juras de amor, marcamos um encontro no outro dia, não comi e ainda fui dormir feliz, sentindo-me um garanhão.
No outro dia, ressaca desgraçada, achei no bolso um papel amarrotado com o nome da diva e o nome de uma rua...caí na real, lembrei que eu até beijei aqueles lábios trincados, tomei uma aspirina, amassei o papel e voltei a dormir.
Naquele dia, passei aguentando as sacanagens do meu primo chamando-me de São Jorge.
Não foi o único dragão que enfrentei, a vida às vezes nos coloca desafios, hoje bebo menos, avalio mais, mas se for terça de carnaval, 3 da manhã e eu estiver na seca, não terei dúvida de sacar da lança e enfrentar a morte.
Viva o padroeiro eventual de todo putanheiro que se preze!
E vejam, não toquei nenhuma vez no nome do Malevo, pra não dizerem que estou de implicância

Sereno, de espada em riste.