Pergunta: A origem da Area Trash?

[zé americano]

Sou muito curioso com a origem da Area Trash de BH. Já fiz várias pesquisas na internet, mas nada. Na verdade muita informação desencontrada. Primeiro li sobre Hilda Furacão que vivia por lá, mas depois fui descobrir que ela fazia, na verdade, parte de um romance de Roberto Drummond, publicado em 1991. Não li, mas parece ser bom. Leitura recomendo sempre!

Fiquei, então, pensando sobre o motivo de ter tantos hotéis. Seria por causa do local privilegiado? Afinal, o Terminal Rodoviário de BH fica do lado. Ele foi inaugurado em 1971 e acredite sem quiser, foi o maior e mais moderno terminal da America Latina, fonte do próprio portal da Prefeitura.

Se não tiver errado, provavelmente começou a construção dos prédios na década de 60 e 70, pelo tipo de edificações; não sou perito nesse ramo, só um palpite. Acredito, também, que na década de 50 e 60 seria quase impossível esse tipo de evento nesse local. Os mais velhos falam que aquilo lá é pré-histórico, mas acho que não tanto assim, mas uma coisa eu tenho que concordar com eles, hoje tem mais prima do que tia por lá, não é uma coisa boa, apesar de gostar de GP mais novas.

Meu primeiro programa foi em 2001 no Brilhante por R$ 10, depois de prestar vestibular pra UFMG, curiosamente depois de 10 anos eu me cadastrei no GPGUIA. Continuo pobre

Será que meu post vai pra vala?

[Dickmusic]

Há muita coisa confiável na internet sobre esse assunto. Especialmente reportagens, artigos acadêmicos e dissertações de mestrado. O famoso CDG nasceu junto com a cidade.

Da dissertação intitulada PROSTITUIÇÃO, GÊNERO E SEXUALIDADE: HIERARQUIAS SOCIAIS E ENFRENTAMENTOS NO CONTEXTO DE BELO HORIZONTE, de Letícia Cardoso Barreto, copio aqui um trecho onde ela fala sobre a Guicurus da década de 50:

"As relações entre o Poder Público e a prostituição na Rua Guaicurus remetem à década de 50. (...), anteriormente a este período, a área, sendo próxima da estação central e possuindo inúmeros galpões, era parte de um “pólo industrial” . (...) Com as constantes inundações pelo ribeirão Arrudas e o crescimento da região central se voltando para a Avenida Afonso Pena e a praça Raul Soares, a região se desvalorizou e se tornou incompatível com a função industrial. Com o abandono, foram instaladas as “casas de tolerância”. Apesar de o Brasil ser signatário do Tratado Abolicionista Internacional, essa ação possui traços que remetem ao modelo regulamentarista, o qual considera que a prostituição pode ser realizada apenas sob determinadas condições."

Porém, noutro texto, temos mais informações sobre o surgimento da área trash de BH, o trecho abaixo fala justamente do período compreendido entre 1897 e 1939 (fonte: A territorialidade da prostituição em Belo Horizonte. Autores: Luciana Teixeira de Andrade e Alexandre Eustáquio Teixeira)
"Em Belo Horizonte, como no Brasil, não era considerada crime, mas um comportamento que precisava ser objeto de controle e regulamentação pelas autoridades policiais e médicas, com o fim de evitar sua disseminação e exposição às “famílias de bem”. Entre as práticas de controle utilizadas, a principal foi a concentração das prostitutas em bordéis ou cabarés de uma determinada região da cidade, o que facilitava a vigilância policial e sanitária, além de tirá-las das ruas. Outra prática foi o fichamento na polícia, que também facilitava o controle e as intimidava (Moraes apud Andrade, 1987, p. 28).

Nas cidades brasileiras, a região que agrupava as atividades de prostituição e de boemia era chamada de zona. Nem sempre a zona comportava toda a prostituição da cidade, mas era o lugar mais conhecido e de maior concentração. Um forasteiro que chegasse em uma cidade à procura de sexo, perguntava apenas: “Onde fica a zona?” Em Belo Horizonte, a zona localizava-se na parte mais baixa da cidade (daí que “descer” significava ir à zona), próxima à Feira de Amostras (hoje rodoviária) e à Praça da Estação Ferroviária, mais precisamente na região que Pedro Nava denominou “quadrilátero da zona”, que ficava entre Ruas da Bahia, Caetés, Curitiba e Oiapoque. Entre as ruas destacavam-se a Guaicurus e a Avenida Oiapoque (Nava, 1985, p. 54).

Durante os dois primeiros períodos em análise, sabe-se da existência de outras casas de prostituição em bairros vizinhos à zona ou até mesmo em locais mais distantes e isolados. Mas, por se tratarem de casos raros, optamos por enfocar prioritariamente as regiões de maior concentração de casas de prostituição. As casas isoladas serão mencionadas apenas quando for notória a sua importância"

Já que gosta de ler...
Dissertações sobre o tema:
http://www.academia.edu/632888/Prostitu ... _Horizonte
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/ds ... sequence=1

Artigos "não acadêmicos":
http://jus.com.br/revista/texto/7356/ma ... -trabalham
http://outros.divulgueconteudo.com/2716 ... -policiais

Aquele que citei é muito legal também, procure no google: A territorialidade da prostituição em Belo Horizonte. Autores: Luciana Teixeira de Andrade e Alexandre Eustáquio Teixeira

[tio chota]

Porque tanto trabalho, é só perguntar ao "Ussamas", ele já estava por lá na fundação do CDG.

E na construção das "Piramides do Egito" tambem.

SDs, Tio Chota

[ussama]

ta certo tio, eu sempre tava lá comendo o rabo da sua mãe.

[tio chota]

http://ts3.mm.bing.net/th?id=H.46872189 ... 4&pid=15.1

Estão querendo dar uma dedada nele

Sds, Tio Chota

[zé americano]

Valeu pelos artigos, apesar de não passar um detalhamento profundo dessa história. Na verdade, houve uma confusão em certas publicações, mas de acordo com o último link, a zona surgiu a partir dos anos 50 mesmo.

Assim, a Rua Guaicurus foi palco do primeiro ciclo comercial e industrial de BH, antes de se tornar a tradicional zona boêmia de Belo Horizonte, imortalizada pela lendária Hilda Furacão no início da fundação da cidade. A existência de muitos galpões e a proximidade com a estação central foram determinantes para que a região se tornasse um importante polo industrial, segundo o assessor da presidência do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-MG), José Abílio Belo Pereira:
"A atividade econômica ligaria a Guaicurus ao uso predominantemente comercial, mas havia também habitações. À medida que o centro da cidade foi crescendo para o lado da Avenida Afonso Pena e da Praça Raul Soares, a região (da Guaicurus) foi ficando abandonada. Todo aquele pedaço era inundado pelo (ribeirão) Arrudas, o que desvalorizava a área e a tornava incompatível com a atividade industrial. Com o abandono, ela foi apropriada para a atual função, a partir dos anos 50", explica Pereira. (EB)

[Senhor White]

Bem informativo!