"Não posso falar do resto do Brasil, mas no Rio os bordéis e boates minguam a cada dia, rumo à falência. É possível ver, a olho nu, a diminuição do número desses estabelecimentos, tanto pelo Centro como em toda a extensão da cidade. Em Copacabana, consta que insistem somente 8 boates, das dezenas que habitaram o bairro. Ao entrar em qualquer casa, o que se observa é a ausência de recepcionistas ou clientes, ou a ausência de ambos. No lugar dessa simbiose, antes motor maior dos lucros, restou uma atmosfera melancólica, assombrada pela nostalgia dos tempos festivos que parecem sepultados num passado não ressuscitável. Sim, esse antigo modelo de entretenimento parece ter sofrido morte cerebral.
Os lupanares que surgem sobre as ruínas dos antigos templos de glória são de estrutura precária, higiene questionável, com preços populares, atendimento horroroso e mulheres desoladas. Mesmo assim, também padecem com a falta de meretrizes e frequentadores.
As antigas termas ou boates dedicadas à prostituição fenecem sem reagir. Seus cáftens, acostumados a deixar o funcionamento no modo automático, estão sendo chamados a pensar, a buscar uma nova fórmula. Porém, não pensam e são preguiçosos. O máximo que alcançam, no topo da ganância ferida, é inventar algum tipo de promoção restrito a alguns dias da semana. Não está sendo suficiente. Abriu-se um buraco negro por onde o lucro, que já foi fácil, hoje escorre incontido pelo ralo da negligência. Rufiões são criaturas que preferem o extermínio à evolução.
A prostituta é uma personagem incrustrada na história da humanidade e enraizada em todos níveis do cenário nacional. A prostituição não morrerá, o que está morrendo por aqui são seus velhos canais de intermediação com o consumidor. Há desemprego, há falta de dinheiro e há violência, há uma crescente predominância de influência religiosa na sociedade, que avança sobre práticas que consideram imorais... mas há, acima de tudo, uma transformação de hábitos ensejada pelas Redes Sociais e pela tecnologia. A conjuntura atual exige criatividade, adaptação e novos meios de sobrevivência para todos os negócios.
Dizem que sites de contos eróticos e de relatos sexuais estão acabando porque exigem escrita e leitura numa época em que a imagem vale mais do que mil palavras. A escrita não está decaindo por causa do audiovisual ou do YouTube, pois produções em vídeo dependem de um bom roteiro, que dependem de um bom escritor para atrair público. Puteiros não estão morrendo por causa da Internet ou da crise social. O que está morrendo é aquela velha opinião formada sobre tudo, como cantava Raul Seixas. O que está morrendo é a mentalidade obsoleta de quem quer continuar lucrando sem forçar o cérebro, sem renunciar ao passado. Fórmulas que não mais funcionam precisam ser reinventadas. É o que o século 21 determinou. Apesar da onda de sucateamento que invade o país, o senso crítico das pessoas está mais sensível.
Provavelmente, não existirá solução fácil. Uma coisa é certa, não basta mais abrir um açougue para viver do corte da carne, ao consumidor prevalece a visão associada ao paladar. Não queira oferecer apenas sexo quando seus clientes procuram um toque de amor. Equivocados são os que não compreendem o mundo em que vivem."