Aqui jaz a luxúria, fossilizada e morna sob o mausoléu de concreto – Assim eu relatei a despedida e o sepultamento da Discoteca Help, em Copacabana. Enterrada por um museu que até hoje não teve sua construção concluída, ninguém sabe se terá.
Sempre me espantou que tão poucos foristas frequentassem a Help, a maioria nem sequer pisou no antigo tempo da luxúria. Uma lacuna no currículo. Sim, forista sem fé, a Help foi um dos maiores templos do pecado que já existiu no Rio. Fincada em frente à praia de Copacabana, na altura do Posto 6, sua fachada em neon, com pernas dançantes piscando em sequência, ali era o abrigo dos notívagos, dos boêmios e dos gringos de passagem pela cidade. Por dentro, um coliseu ainda decorado e preservado como as antigas danceterias da década de 80 (foi inaugurada em 1984 pelo Chico Recarey). Paredes cobertas por lantejoulas azuis, enormes globos espelhados pendurados no teto, um pequeno palco na extremidade da pista, dois bares e dois andares. A Help guardava as proporções de um mamute da libertinagem.
A pista da boate costumava lotar a partir da meia-noite, uma quantidade enorme de garotas de programas vinda de todos os cantos, de todos os bordéis. A multidão comprimida naquele imenso espaço de festa unia uma tribo cosmopolita em busca do prazer e do dinheiro. Não havia um dia melhor ou pior. Na quarta-feira, na sexta, sábado ou no domingo podíamos chegar e encontrar o ambiente abarrotado. Na porta do banheiro masculino havia a foto do Bono Vox, onde um senhor careca permanecia de plantão distribuindo toalhas de papel.
Nada se comparava ao Carnaval da Help, mulheres seminuas desfilando por todos os lados, seios à mostra, oferecendo-se para o abate sem nenhum pudor. Nunca foi impossível encontrar um sexo gratuito ali, eu mesmo vivi muitos encontros em que nada me foi cobrado.
O DJ tinha um repertório eclético e dos mais animados da noite carioca. Dancei muito naquela pista circular, muitas vezes me divertindo sozinho e bêbado durante a madrugada inteira. Se havia um lugar onde a alegria boêmia nos invadia, esse lugar era a Miss Help, como apelidaram os gringos. Não falo movido pela nostalgia, pois nostalgia é a vontade de reviver; falo pelo sentimento da ausência, queria que ainda existisse algo parecido com o que foi a Help.
Às 3h da madrugada, tocavam uma sessão de músicas românticas que nos permitiam dançar de rostinho colado com alguma mulher que aceitasse o convite. Um clima de cabaré dos mais legítimos. Perdi as contas de quantas garotas beijei, de quantas se deitaram comigo no Vanity, um motel que ficava a poucos metros do templo. A Help nunca foi um programa noturno, era uma religião. No bar em frente, eu me calibrava com um bom uísque antes de entrar na arena. No próprio bar, o flerte escancarado antecipava as expectativas da aventura iminente. Existia uma adrenalina que hoje não encontro em lugar algum. Eu não amei na Help, mas amei a Help.
Quando, por acaso, passo de carro em frente ao antigo endereço do Posto 6, minha vontade é desembarcar e pendurar uma faixa naquela construção sombria e tortuosa que anuncia um museu inconcluso, escrever nela os dizeres que abriram este texto:
Aqui jaz a luxúria, fossilizada e morna sob o mausoléu de concreto...
Sempre me espantou que tão poucos foristas frequentassem a Help, a maioria nem sequer pisou no antigo tempo da luxúria. Uma lacuna no currículo. Sim, forista sem fé, a Help foi um dos maiores templos do pecado que já existiu no Rio. Fincada em frente à praia de Copacabana, na altura do Posto 6, sua fachada em neon, com pernas dançantes piscando em sequência, ali era o abrigo dos notívagos, dos boêmios e dos gringos de passagem pela cidade. Por dentro, um coliseu ainda decorado e preservado como as antigas danceterias da década de 80 (foi inaugurada em 1984 pelo Chico Recarey). Paredes cobertas por lantejoulas azuis, enormes globos espelhados pendurados no teto, um pequeno palco na extremidade da pista, dois bares e dois andares. A Help guardava as proporções de um mamute da libertinagem.
A pista da boate costumava lotar a partir da meia-noite, uma quantidade enorme de garotas de programas vinda de todos os cantos, de todos os bordéis. A multidão comprimida naquele imenso espaço de festa unia uma tribo cosmopolita em busca do prazer e do dinheiro. Não havia um dia melhor ou pior. Na quarta-feira, na sexta, sábado ou no domingo podíamos chegar e encontrar o ambiente abarrotado. Na porta do banheiro masculino havia a foto do Bono Vox, onde um senhor careca permanecia de plantão distribuindo toalhas de papel.
Nada se comparava ao Carnaval da Help, mulheres seminuas desfilando por todos os lados, seios à mostra, oferecendo-se para o abate sem nenhum pudor. Nunca foi impossível encontrar um sexo gratuito ali, eu mesmo vivi muitos encontros em que nada me foi cobrado.
O DJ tinha um repertório eclético e dos mais animados da noite carioca. Dancei muito naquela pista circular, muitas vezes me divertindo sozinho e bêbado durante a madrugada inteira. Se havia um lugar onde a alegria boêmia nos invadia, esse lugar era a Miss Help, como apelidaram os gringos. Não falo movido pela nostalgia, pois nostalgia é a vontade de reviver; falo pelo sentimento da ausência, queria que ainda existisse algo parecido com o que foi a Help.
Às 3h da madrugada, tocavam uma sessão de músicas românticas que nos permitiam dançar de rostinho colado com alguma mulher que aceitasse o convite. Um clima de cabaré dos mais legítimos. Perdi as contas de quantas garotas beijei, de quantas se deitaram comigo no Vanity, um motel que ficava a poucos metros do templo. A Help nunca foi um programa noturno, era uma religião. No bar em frente, eu me calibrava com um bom uísque antes de entrar na arena. No próprio bar, o flerte escancarado antecipava as expectativas da aventura iminente. Existia uma adrenalina que hoje não encontro em lugar algum. Eu não amei na Help, mas amei a Help.
Quando, por acaso, passo de carro em frente ao antigo endereço do Posto 6, minha vontade é desembarcar e pendurar uma faixa naquela construção sombria e tortuosa que anuncia um museu inconcluso, escrever nela os dizeres que abriram este texto:
Aqui jaz a luxúria, fossilizada e morna sob o mausoléu de concreto...