Sou de uma geração que viveu visceralmente as termas cariocas, geração que teve origem nos resquícios dos velhos cabarés. Conheci a Vila Mimosa nos últimos suspiros do lendário Mangue e posso dizer que frequentei um dos mais famosos e derradeiros bordeis periféricos do Rio, a famigerada Casa Rosa, em Laranjeiras. Foi na Casa Rosa que me batizaram como libertino, um batismo conduzido por uma balzaquiana chamada Telma. Sim, forista sem fé, a Casa Rosa foi o rio Jordão de muitos virgens ancestrais da nossa cidade, não foram batizados por João Batista, mas pelas messalinas de plantão. Eu mentiria se afirmasse que a minha primeira experiência sexual foi algo digno de se contar para os netos, não foi; primeiro, porque me recusei a ter filhos e netos; segundo, porque a experiência beirou o ridículo.
Do alvorecer dos românticos anos 80 até este pandemônio que é o século 21, as termas formam o cenário que permeou a face empolgante da minha existência. Em um piscar de olhos envelheci sem perceber que os bordéis também envelheciam. Talvez, eu não tenha reparado que envelheciam porque a queda desse modelo de lazer foi súbita, como o tombo repentino de alguém que tropeça num desnível da calçada. De repente, as termas caíram de cara no chão.
– Por que dessa queda, Dante? – Perguntaria o forista crítico.
São muitos os fatores, mas tudo indica que os principais foram o negócio formatado como cartel, em um quadro de pequenos monopólios; o envelhecimento de rufiões que foram incapazes enxergar as mudanças sociais e econômicas da cidade; às novas ferramentas tecnológicas que trouxeram independência profissional às mulheres com perfil empreendedor. Os gestores de termas não evoluíram, não delegaram espaço para mentes mais modernas e isso se refletiu no nicho do comércio que comandam. As termas se tornaram o reflexo máximo de uma funesta característica do Rio, a péssima prestação de serviço aliada a cobrança de preços desconectados da realidade.
Muitos de nós conhecem os personagens que comandaram e que comandam as Termas da região central da cidade, por exemplo. Não falo dos trashs, mas das termas tradicionais. São os velhos proxenetas que comandam. Quando não são velhos na idade cronológica, são velhos na postura psicológica. Além disso, são mentes acostumadas a tocar o negócio com mentalidade de agiotas, esquecendo que estão em uma cidade falida. O cliente prefere beber no boteco fora das termas, ou levar uma cachaça entocada no bolso, do que consumir dentro do bordel. Os velhos rufiões, na cobiça de faturar rápido, inviabilizam cada vez mais o próprio empreendimento.
Quando um dos maiores prostíbulos queimou, causando a morte trágica de vários bombeiros, me impressionava a quantidade generosa de eufemismos que a grande imprensa usava para se referir ao lugar: SPA masculino, casa de entretenimento masculino, boate etc. Em nenhum momento chamaram de bordel, casa de tolerância ou qualquer outra coisa que se aproximasse do que o tal estabelecimento era de fato. Eu, que também sou jornalista, até hoje fico intrigado com as motivações que levam repórteres de grandes jornais a suavizar um fato. O bordel da Rua Buenos Aires não sofreu o incêndio somente por alguma suposta negligência, pegou fogo também pelas mesmas causas que fazem a decadência de todas as termas, o envelhecimento, a acomodação, o descuido, a inflexibilidade. Antes de queimar, a referida casa já estava apelando para feijoadas, promoção de dupla de mulheres e outros sinais de declínio e falta de criatividade diante de um período adverso. Só não foram capazes de compreender que o conjunto crucial de erros que cometiam e não corrigiam contribuíram para a queda do império. Foi-se.
Agora, depois de flyers pelo WhatsApp, as termas descobriram outra moda que não é original, mas que foi capaz de causar impacto na primeira casa que a usou, os shows de atrizes pornôs. A Mosaico levantou a bola com sucesso e todas as casas do Centro e do subúrbio passaram a repetir a fórmula. Como falta criatividade aos gestores, as termas repetem à exaustão a iniciativa. A única casa que tenta criar atrações é, sem dúvida, a Mosaico, que fica na Praça da Bandeira. As outras, esperam o que ela faz para exercerem a vulgaridade da imitação. A velhice não é um demérito, a mente velha é. E os rufiões do Rio carregam com orgulho sobre o pescoço o cérebro de Matusalém.
É possível que as termas não estivessem condenadas se seus proprietários fossem capazes de mudar a filosofia pétrea pela qual as conduzem. Os rufiões velhos seguem envelhecendo e as termas definham. Não conseguiram sequer renovar o público, atrair grupos mais jovens. Não é difícil ter a sensação de encontrarmos sempre as mesmas caras nos puteiros. Jovens não têm grana para frequentar e provavelmente não sentem interesse. A ideia de termas virou uma ideia desgastada, carcomida.
Neste intervalo entre parágrafos, conto um caso. Certa vez, observando o movimento fraco no início de semana numa grande termas quase na esquina da Av. Rio Branco, sugeri ao arrendatário que tentasse atrair foristas com promoções, pois o forista além de ser um cliente que faz programa, é um cliente que divulga os locais que frequenta. Recebi um roliço não do gestor da casa, com a justificativa de que ele não via cabimento em favorecer foristas. Apesar disso, ainda são muitos os foristas que frequentam e escrevem sobre essa casa. Outro caso semelhante é um fórum ativo no Rio e que surgiu com a falácia de renovação e hoje é um dos que mais maltrata, expulsa e difama foristas, mesmo assim alguns foristas continuam sendo provedores desse fórum. A conclusão que chego é que o forista rima com masoquista não à toa. Muitos desavisados abandonaram o maior e mais antigo fórum do Rio para embarcar nesse outro site de amadores, que surgiu com a intenção de transformar o que era lazer e confraternização em um caça níquel. É muito triste. Em fórum, a lealdade é vocábulo desconhecido e a ingratidão é master. Há um orgulho mórbido da própria falta de caráter.
Privês e trashs estão sobrevivendo porque são acessíveis para o bolso da maioria dos clientes do lazer sexual, são flexíveis e com uma estrutura mais fácil de pagar. As termas, apesar do momento econômico apocalíptico do país, ainda querem existir sob a lei do menor esforço. Não dá. É compreensível que estruturas graúdas e complexas como as termas gerem muitas despesas, engessando as margens das estratégias para alavancar o faturamento. No entanto, não há saída. Nenhuma dessas casas terá condições de sobrevivência a médio prazo se não encontrarem um caminho novo, saindo da trilha que seguem há décadas e que não funciona no novo século. As termas necessitam de reinvenção, urge rejuvenescer, abandonar a pretensão de pedestal para se assumirem como ideia de arena popular. Não precisam ser trashs, mas não podem insistir em atuar como casas de câmbio. Será que há vida inteligente nos obscuros escritórios dos puteiros? Em breve, descobriremos.
Do alvorecer dos românticos anos 80 até este pandemônio que é o século 21, as termas formam o cenário que permeou a face empolgante da minha existência. Em um piscar de olhos envelheci sem perceber que os bordéis também envelheciam. Talvez, eu não tenha reparado que envelheciam porque a queda desse modelo de lazer foi súbita, como o tombo repentino de alguém que tropeça num desnível da calçada. De repente, as termas caíram de cara no chão.
– Por que dessa queda, Dante? – Perguntaria o forista crítico.
São muitos os fatores, mas tudo indica que os principais foram o negócio formatado como cartel, em um quadro de pequenos monopólios; o envelhecimento de rufiões que foram incapazes enxergar as mudanças sociais e econômicas da cidade; às novas ferramentas tecnológicas que trouxeram independência profissional às mulheres com perfil empreendedor. Os gestores de termas não evoluíram, não delegaram espaço para mentes mais modernas e isso se refletiu no nicho do comércio que comandam. As termas se tornaram o reflexo máximo de uma funesta característica do Rio, a péssima prestação de serviço aliada a cobrança de preços desconectados da realidade.
Muitos de nós conhecem os personagens que comandaram e que comandam as Termas da região central da cidade, por exemplo. Não falo dos trashs, mas das termas tradicionais. São os velhos proxenetas que comandam. Quando não são velhos na idade cronológica, são velhos na postura psicológica. Além disso, são mentes acostumadas a tocar o negócio com mentalidade de agiotas, esquecendo que estão em uma cidade falida. O cliente prefere beber no boteco fora das termas, ou levar uma cachaça entocada no bolso, do que consumir dentro do bordel. Os velhos rufiões, na cobiça de faturar rápido, inviabilizam cada vez mais o próprio empreendimento.
Quando um dos maiores prostíbulos queimou, causando a morte trágica de vários bombeiros, me impressionava a quantidade generosa de eufemismos que a grande imprensa usava para se referir ao lugar: SPA masculino, casa de entretenimento masculino, boate etc. Em nenhum momento chamaram de bordel, casa de tolerância ou qualquer outra coisa que se aproximasse do que o tal estabelecimento era de fato. Eu, que também sou jornalista, até hoje fico intrigado com as motivações que levam repórteres de grandes jornais a suavizar um fato. O bordel da Rua Buenos Aires não sofreu o incêndio somente por alguma suposta negligência, pegou fogo também pelas mesmas causas que fazem a decadência de todas as termas, o envelhecimento, a acomodação, o descuido, a inflexibilidade. Antes de queimar, a referida casa já estava apelando para feijoadas, promoção de dupla de mulheres e outros sinais de declínio e falta de criatividade diante de um período adverso. Só não foram capazes de compreender que o conjunto crucial de erros que cometiam e não corrigiam contribuíram para a queda do império. Foi-se.
Agora, depois de flyers pelo WhatsApp, as termas descobriram outra moda que não é original, mas que foi capaz de causar impacto na primeira casa que a usou, os shows de atrizes pornôs. A Mosaico levantou a bola com sucesso e todas as casas do Centro e do subúrbio passaram a repetir a fórmula. Como falta criatividade aos gestores, as termas repetem à exaustão a iniciativa. A única casa que tenta criar atrações é, sem dúvida, a Mosaico, que fica na Praça da Bandeira. As outras, esperam o que ela faz para exercerem a vulgaridade da imitação. A velhice não é um demérito, a mente velha é. E os rufiões do Rio carregam com orgulho sobre o pescoço o cérebro de Matusalém.
É possível que as termas não estivessem condenadas se seus proprietários fossem capazes de mudar a filosofia pétrea pela qual as conduzem. Os rufiões velhos seguem envelhecendo e as termas definham. Não conseguiram sequer renovar o público, atrair grupos mais jovens. Não é difícil ter a sensação de encontrarmos sempre as mesmas caras nos puteiros. Jovens não têm grana para frequentar e provavelmente não sentem interesse. A ideia de termas virou uma ideia desgastada, carcomida.
Neste intervalo entre parágrafos, conto um caso. Certa vez, observando o movimento fraco no início de semana numa grande termas quase na esquina da Av. Rio Branco, sugeri ao arrendatário que tentasse atrair foristas com promoções, pois o forista além de ser um cliente que faz programa, é um cliente que divulga os locais que frequenta. Recebi um roliço não do gestor da casa, com a justificativa de que ele não via cabimento em favorecer foristas. Apesar disso, ainda são muitos os foristas que frequentam e escrevem sobre essa casa. Outro caso semelhante é um fórum ativo no Rio e que surgiu com a falácia de renovação e hoje é um dos que mais maltrata, expulsa e difama foristas, mesmo assim alguns foristas continuam sendo provedores desse fórum. A conclusão que chego é que o forista rima com masoquista não à toa. Muitos desavisados abandonaram o maior e mais antigo fórum do Rio para embarcar nesse outro site de amadores, que surgiu com a intenção de transformar o que era lazer e confraternização em um caça níquel. É muito triste. Em fórum, a lealdade é vocábulo desconhecido e a ingratidão é master. Há um orgulho mórbido da própria falta de caráter.
Privês e trashs estão sobrevivendo porque são acessíveis para o bolso da maioria dos clientes do lazer sexual, são flexíveis e com uma estrutura mais fácil de pagar. As termas, apesar do momento econômico apocalíptico do país, ainda querem existir sob a lei do menor esforço. Não dá. É compreensível que estruturas graúdas e complexas como as termas gerem muitas despesas, engessando as margens das estratégias para alavancar o faturamento. No entanto, não há saída. Nenhuma dessas casas terá condições de sobrevivência a médio prazo se não encontrarem um caminho novo, saindo da trilha que seguem há décadas e que não funciona no novo século. As termas necessitam de reinvenção, urge rejuvenescer, abandonar a pretensão de pedestal para se assumirem como ideia de arena popular. Não precisam ser trashs, mas não podem insistir em atuar como casas de câmbio. Será que há vida inteligente nos obscuros escritórios dos puteiros? Em breve, descobriremos.