Caro Capitão2,
Concordo contigo que nós do extremo sul somos vistos com certa desconfiança, preconceito e inveja por parte de outros povos menos evoluídos e apegados as suas tradições, até porque tradição não se compra com a instalação de fábricas ou a construção de obeliscos.
Temos tido um espaço democrático e cordial para o bom debate aqui nesse tópico. Salvo raras exceções, a discussão flui em bom nível, com argumentos inteligentes que, não raro, instigam e divertem os debatedores e os leitores.
Apesar disso, sempre é muito desagradável, seja aqui, seja em qualquer roda de debate de futebol, quando o assunto se desvirtua e extrapola o campo de jogo, a paixão da arquibancada e a história gloriosa de nossos clubes.
É muito triste que, volta e meia, interrompamos a sadia e bem-humorada rusga futebolística para preocuparmo-nos com questões outras, que já nos atormentam na nossa vida cotidiana e que, ao menos em nosso lazer, deveriam estar alheias.
O racismo é uma realidade. Na torcida do gremio, na torcida do Inter, no Rio Grande do Sul, no Brasil, no Mundo...
É um problama histórico, cultural e social. Imputá-lo ao mundo futebolístico, como faz parte da mídia, é uma solução simplista e injusta.
Da mesma forma, resumi-lo ao Rio Grande do Sul, ou à torcida do gremio é simplório demais.
A forte colonização alemã e italiana integrou um componente cultural à população do Rio Grande que se difere dos demais estados da federação.
Ao contrário do português, mais liberal e ansioso por expandir sua cultura além-fronteiras, esses povos vieram ao Brasil numa situação difícil, por não terem outra opção de uma vida melhor, numa europa caótica e em crise.
Viram, no apego às tradições, a única forma de manterem-se ligados à terra de origem. Por questões históricas, sempre foram mais fechados e avessos ao diferente, ao novo, ao estrangeiro, ao imigrante... por consequência, aos de outras raças.
Não estou justificando o racismo. Só quero ponderar que ele é um fenômeno muito mais profundo, complexo e intrigante do que se supõe.
Como colorado, ouço os gritos de "uh, uh, uh, uh, uh..." da torcida do gremio há mais de 30 anos, mesmo tendo a pele muito mais clara do que 90% dos torcedores que dirigem a mim e aos demais "macacos" a sua fúria.
Amigos, não acho que aqui seja a tribuna correta para tal assunto, motivo pelo qual me desculpo pela análise.
Dito isso, o que acho inaceitável é dizer que a torcida do gremio chama os colorados de macacos porque eles são "imitadores", ou que o grito de "uh, uh, uh... " não existe e na verdade é de "sul, sul, sul..." é um desrespeito ainda pior do que o racismo... é um deboche com a inteligência de todo mundo.
Espero que possamos voltar ao debate do futebol o quanto antes.
Um abraço a todos, sejam cu-vermelhos, sejam macacos, sejam mestiços.