Meus caros,
O controle de tração, isoladamente considerado, não é o único fator a dificultar as ultrapassagens. Elas estão mais difíceis hoje por uma conjunção de fatores.
Um desses fatores, como já afirmado aqui, são os freios de carbono, que tendo uma eficiência brutal, fazem com que os pilotos possam frear cada vez mais dentro da curva, diminuindo o espaço para ultrapassagem.
Outro fator reside no apoio aerodinâmico. Hoje os carros estão totalmente dependentes da aerodinâmica e se ficar atrás de outro carro, principalmente no contorno das curvas de alta velocidade, desequilibra-se totalmente. Exatamente por isso, alterou-se o traçado do circuito de Barcelona, palco da corrida deste fim de semana. A entrada da reta, que era precedida de uma curva de alta, foi alterada para uma curva de baixa velocidade, que fará com que os carros iniciem a reta mais próximos, facilitando a tomada do vácuo e ultrapassagem ao final dela.
Com a adoção de novas regras a partir de 2008 e utilização de asas traseiras bi-partidas, os carros perderão apoio aerodinâmico, dependendo mais do apoio mecânico e quem sabe aí, poderemos assistir mais ultrapassagens.
Mas deve aqui ser ressaltado também, que a falta de ultrapassagens hoje em dia deve-se muito mais que qualquer questão técnica, à pressão que os pilotos sofrem se cometerem um erro em ultrapassagem. Basta que eles errem, toquem rodas ou batam, para que o mundo lhes caia na cabeça. Todo mundo endeusa o Gilles Villeneuve, que era extremamente arrojado nas ultrapassagens. Todavia, se ele corresse hoje, já teria sido cuspido da Fórmula 1, porque também batia uma barbaridade e isso não se admite mais. Vejam, por exemplo, o Felipe Massa. Ele errou a ultrapassagem na Malásia e a imprensa italiana, assim como a brasileira caíram de pau em cima dela. Então, os pilotos ficam obrigados a conviver com a mediocridade e o medo.
Terminando, vocês talvez possam até estranhar e malhar, mas o piloto que tem mais precisão nas ultrapassagens é exatamente o Rubens Barrichello. Lembrem-se, por exemplo, do GP da Inglaterra de 2003 e vejam o show que ele deu. Ou mesmos as ultrapassagens que fez sobre o Ralf Schumacher em Ímola e sobre o Trulli na França. Verdadeiras obras de arte que quase ninguém comenta, porque o esporte predileto por aqui é malhar o Rubinho, como se ele fosse um braço duro. E se eu for puxar pela memória, posso ainda lembrar uma enorme quantidade de ótimas ultrapassagens que ele fez, como na corrida em Donnington/1993, em que todo mundo só lembra da primeira volta do Ayrton Senna, sendo que naquela mesma volta, o Rubinho também fez uma caralhada de ultrapassagens.
Assim, apesar das desculpas que se dão hoje em dia, se o piloto tiver culhões ainda é possível fazer grandes coisas, como demonstrou o Heidfeld na última corrida, ultrapassando o Fernando Alonso por fora. Ultrapassagens sempre implicam riscos e quem não está autorizado ou capacitado para assumi-los, simplesmente se recolhe. Aliás, a grande diferença entre Prost e Senna estava exatamente nos culhões para fazer esta manobra.