A ficção científica é um gênero sem nenhuma tradição no cinema brasileiro. O realismo fantástico até dá as caras de vez em quando, mas aquela ficção de raiz, com cientista maluco e tudo, permanece praticamente inédita. Isso até "O Homem do Futuro", que estreia nesta sexta-feira (02), dirigido por Cláudio Torres ("A Mulher Invisível"). O filme estrelado por Wagner Moura é tão radical nesse sentido que recicla boa parte do que já se fez na seara da viagem no tempo, por onde o roteiro trafega.
O sentimento de déjà vu acompanha o espectador por algum tempo. A principal influência para a história, escrita pelo próprio Torres, parece ter sido a trilogia "De Volta para o Futuro". Também comparecem "Carrie, a Estranha", "Exterminador do Futuro", "Efeito Borboleta", Tim Burton e alguns elementos típicos da sociedade norte-americana, como o tradicional baile de formatura, convertido numa festa a fantasia de final de ano. Lá pelas tantas, depois de ouvir um bom número de frases clichês do gênero ("esta noite somos deuses!", "em que ano nós estamos?"), já se aprende como o jogo funciona e a jornada flui sem muitos solavancos.
O filme segue Zero (Wagner Moura, no modo caricatura ligado no máximo), pesquisador brilhante, professor excêntrico e homem amargurado. Sempre de jaleco branco e olhar vidrado, Zero, vulgo João, está trabalhando num projeto que pode mudar o mundo, algo que envolve um conversor de partículas, micro buracos-negros e alguma outra expressão tirada de "Física para Leigos". Contrariando as ordens da chefe (Maria Luísa Mendonça, mulher do diretor), o cientista dá início a um experimento e viaja 20 anos no passado, para 1991. Ao longo da história se entende que ele tentava encontrar uma forma alternativa de energia – mas para isso ele precisava entrar numa cápsula e se trancar lá dentro?
A questão é que Zero volta para um dia fundamental de sua juventude, quando ainda estava na faculdade, gago e nerd da cabeça aos pés. Naquela noite, ele passaria por uma experiência traumática nas mãos de sua paixão, a belíssima Helena (Alinne Moraes), e do valentão Ricardo (Gabriel Braga Nunes). Convencido de que se mudasse o rumo dos acontecimentos sua vida deixaria de ser miserável, Zero segue em frente e, moral da história, descobre que estragou tudo no futuro. No meio do caminho, ainda aparece Otávio (Fernando Ceylão), o amigo gordinho que emula, sem muito sucesso, o britânico Nick Frost ("Todo Mundo Quase Morto").
A trama não guarda muitas surpresas para quem conhece o riscado. O que importa, na verdade, é criar o clima de comédia romântica, grande sacada de Cláudio Torres, ciente do que o povo gosta e do que o mercado quer. Por isso não adianta ficar questionando por que diabos Alinne Moraes – linda no telão do cinema, que valoriza seu rosto muito mais do que a TV – daria bola para o personagem de Wagner Moura. Afinal, não se trata de uma comédia romântica corajosa ou com diálogos inteligentes: o negócio aqui é jogar para ganhar, sem subverter regras ou arriscar. Essa parcela ficou a cargo da extravagância da ficção científica.
O que não quer dizer que o roteiro não tenha seus momentos iluminados. A história, sim, fica confusa em algumas partes – inclusive na atrapalhada reviravolta final –, mas o diretor tem bom timing cômico e soube tirar graça do que se perdeu no passado (como os celulares gigantescos e a liberdade de se acender um cigarro dentro de um bar). Atenção também para as piadas com Michael Jackson e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
A parte técnica de "Homem do Futuro", por sua vez, não deixa nada a desejar. Os efeitos especiais são convincentes, de uma forma pouco explorada no cinema nacional, e conseguiram até converter o Teatro Municipal de Paulínia, cidade onde parte das cenas foi filmada, num arranha-céu futurista. Pena que não investiram também na maquiagem – os personagens do passado e futuro ganham no máximo um penteado diferente.
E Wagner Moura? Parece se divertir como nunca dentro de uma fantasia de astronauta, brincando bastante nos três momentos que seu personagem experimenta ao longo da história. Sem se dar por satisfeito, ainda canta a música-tema e faz covers de "Inútil", do Ultraje a Rigor, "Tempo Perdido", da Legião Urbana, e "Creep", do Radiohead. E ele se sai muito bem. É seu carisma, no fim das contas, que segura "O Homem do Futuro" e faz a comédia valer a pena. Está aí mais um forte candidato a reforçar sua fama de imbatível no cinema brasileiro.
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/ ... 42225.html
esse Cláudio Torres e esse Wagner Moura me pagam... ser ridicularizado em cadeia nacional não é coisa que se faça com nenhum ser humano
O sentimento de déjà vu acompanha o espectador por algum tempo. A principal influência para a história, escrita pelo próprio Torres, parece ter sido a trilogia "De Volta para o Futuro". Também comparecem "Carrie, a Estranha", "Exterminador do Futuro", "Efeito Borboleta", Tim Burton e alguns elementos típicos da sociedade norte-americana, como o tradicional baile de formatura, convertido numa festa a fantasia de final de ano. Lá pelas tantas, depois de ouvir um bom número de frases clichês do gênero ("esta noite somos deuses!", "em que ano nós estamos?"), já se aprende como o jogo funciona e a jornada flui sem muitos solavancos.
O filme segue Zero (Wagner Moura, no modo caricatura ligado no máximo), pesquisador brilhante, professor excêntrico e homem amargurado. Sempre de jaleco branco e olhar vidrado, Zero, vulgo João, está trabalhando num projeto que pode mudar o mundo, algo que envolve um conversor de partículas, micro buracos-negros e alguma outra expressão tirada de "Física para Leigos". Contrariando as ordens da chefe (Maria Luísa Mendonça, mulher do diretor), o cientista dá início a um experimento e viaja 20 anos no passado, para 1991. Ao longo da história se entende que ele tentava encontrar uma forma alternativa de energia – mas para isso ele precisava entrar numa cápsula e se trancar lá dentro?
A questão é que Zero volta para um dia fundamental de sua juventude, quando ainda estava na faculdade, gago e nerd da cabeça aos pés. Naquela noite, ele passaria por uma experiência traumática nas mãos de sua paixão, a belíssima Helena (Alinne Moraes), e do valentão Ricardo (Gabriel Braga Nunes). Convencido de que se mudasse o rumo dos acontecimentos sua vida deixaria de ser miserável, Zero segue em frente e, moral da história, descobre que estragou tudo no futuro. No meio do caminho, ainda aparece Otávio (Fernando Ceylão), o amigo gordinho que emula, sem muito sucesso, o britânico Nick Frost ("Todo Mundo Quase Morto").
A trama não guarda muitas surpresas para quem conhece o riscado. O que importa, na verdade, é criar o clima de comédia romântica, grande sacada de Cláudio Torres, ciente do que o povo gosta e do que o mercado quer. Por isso não adianta ficar questionando por que diabos Alinne Moraes – linda no telão do cinema, que valoriza seu rosto muito mais do que a TV – daria bola para o personagem de Wagner Moura. Afinal, não se trata de uma comédia romântica corajosa ou com diálogos inteligentes: o negócio aqui é jogar para ganhar, sem subverter regras ou arriscar. Essa parcela ficou a cargo da extravagância da ficção científica.
O que não quer dizer que o roteiro não tenha seus momentos iluminados. A história, sim, fica confusa em algumas partes – inclusive na atrapalhada reviravolta final –, mas o diretor tem bom timing cômico e soube tirar graça do que se perdeu no passado (como os celulares gigantescos e a liberdade de se acender um cigarro dentro de um bar). Atenção também para as piadas com Michael Jackson e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
A parte técnica de "Homem do Futuro", por sua vez, não deixa nada a desejar. Os efeitos especiais são convincentes, de uma forma pouco explorada no cinema nacional, e conseguiram até converter o Teatro Municipal de Paulínia, cidade onde parte das cenas foi filmada, num arranha-céu futurista. Pena que não investiram também na maquiagem – os personagens do passado e futuro ganham no máximo um penteado diferente.
E Wagner Moura? Parece se divertir como nunca dentro de uma fantasia de astronauta, brincando bastante nos três momentos que seu personagem experimenta ao longo da história. Sem se dar por satisfeito, ainda canta a música-tema e faz covers de "Inútil", do Ultraje a Rigor, "Tempo Perdido", da Legião Urbana, e "Creep", do Radiohead. E ele se sai muito bem. É seu carisma, no fim das contas, que segura "O Homem do Futuro" e faz a comédia valer a pena. Está aí mais um forte candidato a reforçar sua fama de imbatível no cinema brasileiro.
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/ ... 42225.html
esse Cláudio Torres e esse Wagner Moura me pagam... ser ridicularizado em cadeia nacional não é coisa que se faça com nenhum ser humano