Acreditem.................
Luto Nonsense
Morreu o presidente do Turcomenistão, Saparmurat Niyazov, aos 66 anos. Segundo informações oficiais, foi vítima de um ataque cardíaco.
Niyazov era um personagem recorrente nesse espaço. Um destaque obtido por “méritos próprios”, sem nenhum favor. Afinal, já foi dito que ele não era apenas um ditador brutal, mas um ditador que dirigia seu país como uma Disney World particular. E que Disney World…
Após o colapso da antiga União Soviética, ele se tornou o primeiro presidente do Turcomenistão. Vitalício, diga-se. Não apenas. Também era o primeiro-ministro. E presidente do único partido político do país. Não por acaso tinha o apelido, dado por si mesmo, de turkmenbashi (algo como “o pai de todos os turcomenos”).
Niyazov perdeu os pais cedo e foi criado em um orfanato. Entrou para o Partido Comunista, onde fez carreira até chegar a presidente do Soviete Supremo. Era o presidente da república quando a URSS se desintegrou. Aproveitou a deixa e criou um país, moldado à sua imagem e semelhança. Um país desértico, com 5 milhões de habitantes de maioria muçulmana, que fica espremido entre Irã e Afeganistão e que possui uma das maiores reservas de gás do mundo _ uma espécie de Bolívia da Ásia Central.
Mas Niyazov conquistou seu espaço no anedotário mundial pelas medidas que tomou. Elevou o culto à personalidade a patamares nunca antes alcançados. Sua imagem está espalhada por todos os espaços como uma paródia sem graça de Big Brother. Seu nome foi dado a cidades, escolas, estradas, aeroportos, um parque de diversões , um meteorito e até a uma espécie de melão. Pôsteres do turkmenbashi decoram as fábricas e prédios públicos, seu rosto estampa o dinheiro do país (o manat), está nos aviões, na famosa estátua de ouro fincada no centro da capital e que gira seguindo o sol, e até em garrafas de vodka. Tudo contra sua vontade, bem entendido.
- Se eu fosse um trabalhador e meu presidente me desse todas as coisas que eu tenho aqui no Turcomenistão, eu não iria apenas pintar seu quadro, eu teria sua imagem nos meus ombros, nas minhas roupas. Pessoalmente eu sou contra ter minhas fotos e estátuas nas ruas, mas é isso que o povo quer.
Não há liberdade de religião. Nem de imprensa, embora ele tenha criado um centro dedicado à mídia livre. Cultura? Bom… ele mandou fechar todas as livrarias do interior do país alegando que ninguém lia mesmo. Como não? No Turcomenistão todo mundo é obrigado a ler e a decorar o “Ruhnama”, o livro das almas, escrito pelo próprio Niyazov para ser uma espécie de guia espiritual da nação (eis uma seleta da poesia do homem, em inglês). E todo estudante deve dedicar um dia inteiro na semana para estudar a obra. Quem ler o livro três vezes em voz alta vai para o paraíso.
Alías, “Ruhnama” é como passou a ser conhecido no Turcomenistão o mês de setembro. É que, assim como fizeram os imperadores romanos, Niyazov renomeou o calendário. Janeiro passou a ser conhecido pelo seu próprio apelido: Turkmenbashi. Abril levou o nome de sua mãe.
Parece meio exagerado? Você não viu nada. Um de seus decretos baniu a execução de músicas em eventos públicos, na TV e nos casamentos. Já tinha proibido o balé e a dança no país, por considerar ambos “desnecessários”. Fez o mesmo com videogames. E decidiu que carros não podiam ter rádios.
Em uma ocasião proibiu cabelos longos e barbas para os homens. Certa vez baixou uma medida contra o uso de obturações de ouro. E aproveitou para aconselhar seus súditos a mascarem ossos para fortalecer os dentes. Também fechou todos os hospitais do país, com exceção dos da capital, Ashgabat, alegando que, quem ficasse doente poderia ir para a capital. Niyazov tinha uma quedinha por obras diferentes. Além da estátua de ouro, mandou construir um lago em pleno deserto de Kara Kum e um palácio de gelo na capital.
Também redefiniu as idades do homem. Por decreto, obviamente. Assim sendo, no Turcomenistão a infância acaba aos 13 anos; a adolescência aos 25; a juventude aos 37; a maturidade vai até os 49. E depois? Bom, dos 49 aos 62 é a idade do profeta; em seguida, até os 73, vem a idade da inspiração; até os 85 é a idade do ancião de barba branca; até os 97 é a velhice; e daí em diante é a idade de Oguz Khan (antigo chefe ancestral dos turcomenos).
Por essas e outras, a morte de Niyazov é uma perda irreparável para o Nonsense.
http://nonsense.nominimo.com.br/?p=502
Luto Nonsense
Morreu o presidente do Turcomenistão, Saparmurat Niyazov, aos 66 anos. Segundo informações oficiais, foi vítima de um ataque cardíaco.
Niyazov era um personagem recorrente nesse espaço. Um destaque obtido por “méritos próprios”, sem nenhum favor. Afinal, já foi dito que ele não era apenas um ditador brutal, mas um ditador que dirigia seu país como uma Disney World particular. E que Disney World…
Após o colapso da antiga União Soviética, ele se tornou o primeiro presidente do Turcomenistão. Vitalício, diga-se. Não apenas. Também era o primeiro-ministro. E presidente do único partido político do país. Não por acaso tinha o apelido, dado por si mesmo, de turkmenbashi (algo como “o pai de todos os turcomenos”).
Niyazov perdeu os pais cedo e foi criado em um orfanato. Entrou para o Partido Comunista, onde fez carreira até chegar a presidente do Soviete Supremo. Era o presidente da república quando a URSS se desintegrou. Aproveitou a deixa e criou um país, moldado à sua imagem e semelhança. Um país desértico, com 5 milhões de habitantes de maioria muçulmana, que fica espremido entre Irã e Afeganistão e que possui uma das maiores reservas de gás do mundo _ uma espécie de Bolívia da Ásia Central.
Mas Niyazov conquistou seu espaço no anedotário mundial pelas medidas que tomou. Elevou o culto à personalidade a patamares nunca antes alcançados. Sua imagem está espalhada por todos os espaços como uma paródia sem graça de Big Brother. Seu nome foi dado a cidades, escolas, estradas, aeroportos, um parque de diversões , um meteorito e até a uma espécie de melão. Pôsteres do turkmenbashi decoram as fábricas e prédios públicos, seu rosto estampa o dinheiro do país (o manat), está nos aviões, na famosa estátua de ouro fincada no centro da capital e que gira seguindo o sol, e até em garrafas de vodka. Tudo contra sua vontade, bem entendido.
- Se eu fosse um trabalhador e meu presidente me desse todas as coisas que eu tenho aqui no Turcomenistão, eu não iria apenas pintar seu quadro, eu teria sua imagem nos meus ombros, nas minhas roupas. Pessoalmente eu sou contra ter minhas fotos e estátuas nas ruas, mas é isso que o povo quer.
Não há liberdade de religião. Nem de imprensa, embora ele tenha criado um centro dedicado à mídia livre. Cultura? Bom… ele mandou fechar todas as livrarias do interior do país alegando que ninguém lia mesmo. Como não? No Turcomenistão todo mundo é obrigado a ler e a decorar o “Ruhnama”, o livro das almas, escrito pelo próprio Niyazov para ser uma espécie de guia espiritual da nação (eis uma seleta da poesia do homem, em inglês). E todo estudante deve dedicar um dia inteiro na semana para estudar a obra. Quem ler o livro três vezes em voz alta vai para o paraíso.
Alías, “Ruhnama” é como passou a ser conhecido no Turcomenistão o mês de setembro. É que, assim como fizeram os imperadores romanos, Niyazov renomeou o calendário. Janeiro passou a ser conhecido pelo seu próprio apelido: Turkmenbashi. Abril levou o nome de sua mãe.
Parece meio exagerado? Você não viu nada. Um de seus decretos baniu a execução de músicas em eventos públicos, na TV e nos casamentos. Já tinha proibido o balé e a dança no país, por considerar ambos “desnecessários”. Fez o mesmo com videogames. E decidiu que carros não podiam ter rádios.
Em uma ocasião proibiu cabelos longos e barbas para os homens. Certa vez baixou uma medida contra o uso de obturações de ouro. E aproveitou para aconselhar seus súditos a mascarem ossos para fortalecer os dentes. Também fechou todos os hospitais do país, com exceção dos da capital, Ashgabat, alegando que, quem ficasse doente poderia ir para a capital. Niyazov tinha uma quedinha por obras diferentes. Além da estátua de ouro, mandou construir um lago em pleno deserto de Kara Kum e um palácio de gelo na capital.
Também redefiniu as idades do homem. Por decreto, obviamente. Assim sendo, no Turcomenistão a infância acaba aos 13 anos; a adolescência aos 25; a juventude aos 37; a maturidade vai até os 49. E depois? Bom, dos 49 aos 62 é a idade do profeta; em seguida, até os 73, vem a idade da inspiração; até os 85 é a idade do ancião de barba branca; até os 97 é a velhice; e daí em diante é a idade de Oguz Khan (antigo chefe ancestral dos turcomenos).
Por essas e outras, a morte de Niyazov é uma perda irreparável para o Nonsense.
http://nonsense.nominimo.com.br/?p=502