Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

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Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#1 Mensagem por O Pastor » 08 Mar 2011, 16:42

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"Horror! Horror!" Estas palavras, as últimas do personagem Kurtz, têm confundido e fascinado os leitores desde a primeira publicação de O Coração das Trevas (Heart of Darkness), de Joseph Conrad, em 1902.

Numa narrativa baseada na idéia de contraste (luz versus escuridão, branco versus negro, civilizado versus selvagem, etc.) e interpenetração de opostos (por exemplo, sempre que aparece um elemento branco ele está cercado de negro, e vice-versa), o livro é ao mesmo tempo provocante e perturbador, atraindo e incomodando em doses iguais.

Nascido em 1857 na Polônia, Józef Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski viria a ser conhecido como Joseph Conrad, um dos maiores escritores da língua inglesa, autor do clássico Lord Jim, entre muitos outros. E é o mesmo narrador de Lord Jim, Charlie Marlow, espécie de alterego de Conrad, que nos conta (por figura interposta, já que existe uma história dentro da história) sua estranha aventura em O Coração das Trevas. Na verdade, o próprio Conrad fez uma viagem muito semelhante à de Marlow, subindo o Rio Congo num barco a vapor.

Marlow faz a viagem em busca de Kurtz, um comerciante de marfim que se teria deixado influenciar demasiadamente pela magia do continente negro e sucumbido aos instintos selvagens. A história pessoal de Kurtz simboliza a trajetória do europeu civilizado em contato com o primitivo continente africano. No início, ele representa toda a cultura do homem branco, sendo ao mesmo tempo poeta, músico, político, comerciante, um polivalente homem da renascença. Ao final de sua trajetória, porém, já cometeu os mais diversos crimes contra a sociedade civil, que para ele já não faz sentido, e acaba por permitir um crime contra a religião cristã, o de ser adorarado ele mesmo como um deus.

Marlow e Kurtz são quase como uma só pessoa, duas faces do mesmo ser separadas por um mundo de possibilidades. Marlow é o que Kurtz poderia ter sido, Kurtz é o que Marlow poderia vir a ser. Em sua viagem rio acima, enquanto Kurtz não passa de uma figura mítica formulada em descrições divergentes de outros personagens, Marlow se afasta, aos poucos, física e mentalmente, do mundo dos brancos, retratado como brutal, e adentra a escuridão da selva, símbolo da realidade e da verdade. Mas também esta simbologia é ambígua, e por vezes não sabemos (nem nós leitores, nem o próprio Marlow) de que lado está a virtude ou onde reside a verdadeira escuridão.

O Coração das Trevas já foi interpretado de diversas formas. Numa leitura historicista, pode ser considerado uma dura crítica ao colonialismo. Ou, numa visão psicológica, pode ser encarado como uma jornada pesadelo adentro, ou mesmo um esbarrão com a própria loucura, da qual Marlow escapa mas não Kurtz. Ou, para o antropólogo ou sociólogo, o livro pode ser um debate sobre o contraste entre civilização e selvageria. Ou ainda pode ser visto como uma reflexão moral sobre o bem e o mal, que parecem ser os pontos centrais da trama. Como tão poucas páginas podem conter tanta coisa?

Um aspecto algumas vezes enervante de O Coração das Trevas (mas talvez seja exatamente o que gera seu encanto) é a forma como Conrad deixa o próprio leitor na escuridão. As trevas são sempre mencionadas mas nunca definidas, o horror balbuciado por Kurtz nunca chega a ser explicado, tudo é calculado para que o mistério se perpetue. Ser explícito, como o próprio Conrad escreveu anos mais tarde, é fatal para o fascínio de qualquer obra artística, roubando a sugestividade e destruindo a ilusão.

http://www.burburinho.com/20020228.html

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O Pastor
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Leopoldo II - Rei da Bélgica

#2 Mensagem por O Pastor » 08 Mar 2011, 16:52

A Maior Fazenda da História da Humanidade - o Congo Belga, do rei Leopoldo II


O Estado Livre do Congo foi um reino privado, propriedade pessoal de Leopoldo II da Bélgica entre 1877 e 1908. Incluía toda a área hoje conhecida como República Democrática do Congo e assentava na exploração do trabalho africano para extracção de borracha e marfim.

Em 1908, depois da brutalidade deste tipo de colonização ter por fim sido exposta na imprensa ocidental, esta propriedade privada passou a ser uma colónia da Bélgica, o Congo Belga.

Exploração Europeia

O Rio Congo era a última parte do continente africano que os europeus ainda não haviam explorado.

Um por um, os outros grandes mistérios da África foram investigados: o litoral pelos marinheiros portugueses do Infante D. Henrique no século XV; o Nilo Azul por James Bruce em 1773; o alto Niger por Mungo Park em 1796; a vastidão do deserto do Saara pelos competidores Alexander G. Laing, René Callié e Hugh Clapperton na década de 1820; os manguezais do baixo Nilo pelos Irmãos Lander em 1830; o sul da África e o Zambezi por David Livingstone na Década de 1850 e o alto Nilo por Burton, John H. Speke e Samuel Baker em uma sucessão de expedições entre 1857 e 1868. Contudo, o Congo permaneceu um mistério, mesmo tendo sido uma das primeiras regiões a se tentar explorar.

Desde o Século XV, os exploradores europeus navegaram pelo largo estuário do Congo, planejando abrir caminho até às cataratas e corredeiras que tinham origem a apenas 160 km da costa e viajam rio acima até sua fonte desconhecida. Todos falharam. As corredeiras e cataratas na verdade se estendiam por 352 km pelo interior, e o terreno perto do rio era praticamente intransponível, o que persiste ainda hoje. Repetidas tentativas de se viajar através dessa região foram frustradas por graves eventualidades. Acidentes, conflitos com nativos, e acima de tudo as doenças fizeram com que grandes e bem equipadas expedições não conseguissem percorrer mais que 60 km através do legendário Caldeirão do Inferno.

Somente a partir da Década de 1870 é que o Congo foi explorado pelos europeus, e mesmo assim não pelo mar, mas pelo outro lado do continente africano. Partindo de Zanzibar, o jornalista estadunidense Henry Morton Stanley tinha como objetivo encontrar o famoso Dr. Livingstone de quem não havia notícias há já alguns anos. Na verdade Livingstone estava explorando a parte superior de um grande rio do interior chamado Rio Lualaba, que se supunha relacionado com o Rio Nilo, mas que se revelou como sendo o alto Rio Congo.

Após deixar Livingstone, Stanley navegou por 1600 km Lualaba abaixo (alto Congo) até ao grande rio que ele chamou de Stanley Pool (agora chamado de Pool Malebo). Então, ao invés de perecer no impenetrável país das cataratas, Stanley optou por um longo desvio através da região para se aproximar da feitoria portuguesa em Boma no estuário do Congo.

Prelúdio à conquistaQuando Stanley voltou à Europa em 1878, ele não tinha apenas encontrado Livingstone, resolvido o último grande mistério da exploração africana, e arruinado a sua saúde: também tinha aberto o coração da África tropical para o mundo, o seu maior legado.

Stanley foi consagrado em toda a Europa. Ele escreveu artigos, apareceu em reuniões públicas, fez pressão junto dos ricos e poderosos, e sempre seu tema era a oportunidade para exploração comercial das terras que ele descobriu ou, em suas palavras, "despejar a civilização europeia no barbarismo africano."

"Há 40.000.000 de pessoas nuas" do outro lado das cataratas, escreveu Stanley, "e os industriais têxteis de Manchester estão à espera de os vestir... as fábricas de Birmingham estão a fulgurar com o metal vermelho que será transformado em objectos metálicos de todos os tipos e aspectos que os irão decorar... e os ministros de Cristo estão zelosos de trazer as suas pobres almas para a fé Cristã."

A Europa não se encontrava contente com esta ideia: a grande jogada sobre o continente africano e as suas riquezas ainda não tinha começado. Fora do cabo da Boa Esperança e da costa do Mar Mediterrâneo, a Europa não tinha colónias africanas que pudessem ser consideradas significativas e o interesse das grandes potências estava fortemente focado nas terras onde a Europa tinha feito a sua fortuna: as Américas, as Indias Ocidentais, a China e Australásia. Parecia por isso ser desprovido de senso económico qualquer investimento de energias em África quando o retorno proveniente das outras colónias se provava ser mais rico e mais rápido. Também não existia qualquer interesse humanitário forte no continente, agora que o comércio de escravos para a América tinha sido extinto. Stanley foi aplaudido, admirado, condecorado e ignorado.

Foi nesta altura que o Rei Leopoldo II da Bélgica desenrolou o seu papel. Nas palavras de Peter Forthard, o Rei Leopoldo era um homem alto e imponente... gozando um reputação de sensualidade hedonística, inteligência acutilante (o seu pai, uma vez descreveu-o como subtil e matreiro como uma raposa), com uma ambição desmedida e dureza pessoal. No entanto ele era um monarca extremamente menor na "realpolitik" desse tempo, reinando numa nação totalmente insignificante, uma nação que, de facto, ganhou existência apenas quatro décadas antes e que vivia sob a ameaça constante de perder a sua precária independência para as grandes potências vizinhas. Leopoldo foi uma figura da qual haveria toda a razão para se esperar que se dedicasse à manutenção da neutralidade estrita do seu país, evitando litígios com os seus vizinhos poderosos e dedicar-se aos seus prazer desenvolvidos pela carne, em vez de uma pessoa que iria causar um impacto tão grande na história. No entanto, de uma maneira tão espantosa como inimaginável, conseguiu, virtualmente sozinho, alterar o equilíbrio de poder em África e apressar a terrível era de colonialismo europeu no continente negro.

Como monarca constitucional, Leopoldo foi encarregue das funções simbólicas normais tais como abertura do parlamento, recepção de diplomatas, comparência a funerais de estado, etc.. Ele não dispunha de poder formal para orientar a política nacional. Mas, durante mais de 20 anos tinha vindo a estimular a Bélgica para assumir um lugar entre as grandes potências colonais da Europa. Leopoldo observou que "As nossas fronteiras nunca poderão ser alargadas dentro da Europa". contudo, acrescentou que "desde os tempos históricos que as colónias são úteis, elas podem desempenhar um grande papel naquilo que faz o poder e a prosperidade dos estados, vamos pois lutar para obtermos uma nossa".

Por várias vezes, lançou diversos esquemas sem sucesso tais como comprar uma província argentina, comprar Bornéu aos holandeses, arrendar as Filipinas à Espanha ou estabelecer colónias na China, Vietname, Japão ou nas Ilhas do Pacífico. Quando os exploradores da década de 1860 focaram a sua atenção em África, Leopoldo tentou criar esquemas para colonizar Moçambique, o Senegal e o Congo. Nenhum destes planos chegou a bom termo: o governo da Bélgica resistiu a todas as sugestões de Leopoldo, vendo a aquisição de uma colónia como uma boa maneira de gastar dinheiro com pouco ou nenhum retorno.

A solução encontrada pelo monarca foi extraordinária em sua simplicidade megalomaníaca. Se o governo da Bélgica não adquirisse uma colônia, ele o faria por si mesmo, agindo na sua capacidade de cidadão comum. Em 1876 Leopoldo II patrocinou uma conferência geográfica internacional em Bruxelas, convidando delegados das sociedades científicas de toda a Europa para discutir assuntos filantrópicos e científicos como a melhor forma de coordenar a fabricação de mapas, para prevenir o reaparecimento do comércio de escravos da costa ocidental e para procurar formas de enviar ajuda médica à África. A conferência foi uma encenação: em seu encerramento, Leopoldo propôs o estabelecimento de um comitê beneficente internacional para continuar o trabalho da conferência, aceitando modestamente o cargo de presidente. Outro encontro foi realizado no ano seguinte, mas a partir de então a Association Internationale Africaine tornou-se meramente uma frente da ambição de Leopoldo. Ele criou uma série de organizações, culminando na Association Internationale du Congo, da qual só existia um acionista: o próprio Leopoldo.

Logo depois que Stanley retornou do Congo, Leopoldo tentou recrutá-lo. Stanley, ainda na esperança do apoio do Inglaterra recusou a oferta. Entretanto, diante da insistência do monarca, acabou aceitando. Leopoldo, aparentemente, era o único europeu disposto a financiar o sonho de Stanley: a construção de uma ferrovia sobre as Montes Crystal, do mar até a Stanley Poll, de onde poderia se alcançar mil milhas no coração da África. Stanley, muito mais familiarizado com o rigor do clima africano e a complexidade da política local que Leopoldo, persuadiu seu patrão de que o primeiro passo deveria ser a construção de uma linha férrea e uma série de fortes. Leopoldo concordou e com profundo sigilo, Stanley assinou um contrato de cinco anos, com salário de £1000 por ano, e migrou para o Zanzibar sob um nome disfarçado. Para evitar desconfianças, trabalhadores e materiais foram conseguidos em diversas rotas, e as comunicações entre Stanley e Leopoldo eram confiadas ao Coronel Maximilian Strauch. Foi somente ai que Stanley foi informado da magnitude da ambição de Leopoldo: Stanley não iria simplesmente construir uma série de estações ferroviárias, mas iria construir uma nova nação. As instruções eram certeiras: "Esta é uma idéia de criar um novo Estado, tão grande quanto possível, e depois administrá-lo. No projeto era claramente inteligível que não havia possibilidade de garantir o menor poder político aos negros. Aquilo seria absurdo".

Sem encontrar nada repreensível nas ambições de Leopoldo, Stanley seguiu com sua tarefa. Com todos seus atalhos na sociedade européia, ele era, sem dúvida, o homem certo para tal tarefa. Em menos de três anos, sua capacidade para trabalho pesado, suas habilidades de jogar grupos sociais uns contra os outros, o constante uso de modernas armas para matar seus oponentes e toda a sua determinação abriram rota para a criação do Congo.

Anos mais tarde, Stanley escreveria que a parte mais cansativa de seu trabalho não era trabalhar sozinho, nem negociar com os nativos, mas sim manter a ordem entre os diversos homens brancos que ele trouxera consigo pelos mares, que reclamavam constantemente sobre pequenos problemas de status. "Praticamente todos eles", escreveu Stanley, "clamavam por gêneros de todos os tipos, o que incluia vinhos, tabaco, cigarro, roupas, sapatos, dentre um sem número de extravagâncias", (mencionou ainda folhas para aquecer suas camas).

Cansado, Stanley retornou a Europa, apenas para ser reenviado por Leopoldo, que lhe prometeu um surpreendente assistente: 'Chinese' Gordon (que não aceitou a oferta de Leopoldo, mas, ao invés, escolheu encontrar seu destino em Khartoum. "É indispensável", instruira Leopold, "que você deva obter para o Comité d'Études (i.e., ao próprio Leopold) o máximo de terra que você possa obter.

Tendo estabelecido um porto no Baixo Congo, em 1883, Stanley subiu o rio para estender os domínios de Leopoldo, empregando seus métodos usuais: negociações com os chefes locais para a obtenção da soberania em troca de roupas; jogar uma tribo contra a outra; e, se necessário, matar um chefe contrário a seus objetivos e negociar com o outro chefe. Porém, ao se aproximar de Stanley Falls, na junção do Congo com o Lualaba, ele rapidamente percebeu que seus homens não eram os únicos intrusos.

Tippu Tip, o último e maior esclavagista do Zanzibar do Século XIX, era bem conhecido de Stanley, assim como o caos social e a devastação que as caçadas aos escravos trouxeram. Isto foi somente através da ajuda de Tippu Tip que Stanley encontrara Livingstone (que sobrevivera por anos no Rio Lualaba pela virtude da amizade de Tippu Tip). Então Stanley descobriu que os homens de Tippu Tip haviam avançado ainda mais ao oeste em busca de aldeias frescas a serem escravizadas.

Seis anos antes, os zanzibaritas pensaram que o Congo era um lugar mortal e intransitável, a alertaram Stanley a não tentar ir lá, mas quando Tippu Tip soube em Zanzibar que Stanley havia sobrevivido, agiu rápido. Aldeias por toda região foram queimadas e despovoadas. Corpos boiaram rio abaixo. Tippu Tip fazera incursões em 118 aldeias, matara 4000 africanos, e, quando Stanley chegou em seu assentamento, haviam 2300 escravos, a maioria mulheres jovens e crianças, em correntes prontas para serem transportadas meio caminho através do continente, rumo aos mercados do Zanzibar.

Tendo encontrado o novo dono do lado superior do Congo, Stanley calmamente negociou um acordo a permiti-lo erguer sua última estação fluvial bem abaixo de Stanley Falls (o qual prevenia navios a viajarem rio acima). Ao fim de seus recursos físicos, Stanley repatriou-se, sendo substituído pelo Tenente-Coronel Francis de Winton, outrora do Exército Belga.

A génese do Estado Livre do Congo

Na Europa, as intrigas de Leopold começaram a render frutos. Considerando que ele havia ganho a propriedade de Congo em grande parte por causa dos interesses dos mais poderosos, agora ele podia confirmar e fortalecê-la por causa de seus interesses. Em alguns anos desde o estabelecimento da empreitada no Congo, o humor na Europa tinha mudado decididamente, e a luta pela África estava a ponto de começar a sério. As atividades de Leopold no Congo já tinham empurrado os franceses a reclamar uma área na margem norte (A moderna República do Congo no extremo norte de Stanley Pool, Lago Malebo hoje). Enquanto ninguém (fora Leopold) em particular quis tais colônias economicamente pouco promissoras, as outras potências da Europa não estavam dispostas a permanecer ociosas e ver terras sendo adquiridas rapidamente por seus rivais.

Numa estarrecedora sucessão de negociações duvidosas, Leopoldo, na capacidade de presidente da desinteressada e puramente humanitária “Associação Internacional Africana”, jogou os protagonistas da política européia uns contra os outros.

A Inglaterra estava inquieta com a expansão francesa e tinha uma reivindicação no Congo apoiada na expedição do Ten. Cameron 1873 no Zanzibar para repatriar o corpo de Livingstone, mas estava relutante em se comprometer com mais uma colônia improdutiva. Portugal tinha uma reivindicação ainda mais antiga, datando já no descobrimento de Diego Cão na entrada do rio em 1482 e, tendo ignorado isso por séculos, estava estimulado a relembrar. Portugal flertou com os franceses em primeiro momento, mas os britânicos ofereceram apoiar a reivindicação do Congo inteiro em troca de um tratado de livre comércio. Para os ingleses, o livre comércio era uma perda menor: o verdadeiro benefício foi a frustração dos franceses. Depois Bismarck entrou na rixa da parte da Alemanha: já com propriedades vastas no Sudoeste Africano, ele não desejava o Congo, mas não lhe agradava como dono nem França nem Inglaterra.

Neste ponto Leopoldo agiu. Ele começou uma campanha publicitária na Inglaterra, mencionando os horrendos registros escravistas de Portugal, e sorrateiramente disse aos mercadores que se lhe fosse dado controle formal do Congo, dar-lhes-ia o mesmo status de “nação mais favorecida”, que Portugal ofereceu. Ao mesmo tempo, Leopoldo prometeu a Bismarck que ele não daria a nenhuma nação status privilegiado, onde seriam comerciantes alemães tão bem-vindos quanto qualquer outro. Então, aos franceses Leopoldo ofereceu apoio da “Associação” para a posse de toda margem norte, e adoçou o acordo propondo que, se sua riqueza pessoal se provasse insuficiente para segurar o Congo inteiro (como parecia totalmente inevitável), o Congo voltava para a França. Finalmente, ele alistou a ajuda dos Estados Unidos, enviando ao seu presidente, Arthur copias cuidadosamente editadas dos tratados que Stanley havia extraído de chefes locais, e propondo que, como uma junta humanitária desinteressada, a “Associação administraria o Congo para o bem de todos, passando o poder para os nativos tão logo estivessem prontos para tal responsabilidade. Isto foi o golpe de mestre.

Em novembro de 1884 Bismarck reuniu uma conferência de 14 nações para encontrar uma solução pacífica para a crise do Congo, e após três meses de negociações, Leopoldo fulgurou triunfante. A França foram dados 665.626,9444 km² (66.562.694,41 hectares) na margem norte (atual Congo-Brazzaville e a República Centro-Africana), a Portugal foi dado 665.626,9444 km² (90.908.582,67 hectares) ao norte (atual Angola), e a organização “filantrópica” totalmente controlada por Leopold recebeu a soma de 2.343.939,27 km² (234.393.924 hectares) para constituir o “Estado Livre do Congo”.

Num ofuscante espetáculo de virtuosidade diplomática, Leopoldo obteve da conferência não somente acordo na transferência do Congo para uma de suas muitas células filantrópicas, tampouco para sua autoridade de Rei dos Belgas, mas simplesmente para si. Ele se tornou único dono de 30 milhões de pessoas, sem constituição, sem supervisão internacional, sem ao menos ter estado alguma vez no Congo, e sem mais do que uma meia dúzia de seus obedientes tivesse ouvido falar nele.

Conquista de Leopold

Leopoldo não mais precisava fazer a fachada da “Associação”, e a substituiu por um gabinete apontado de belgas que executariam suas ordens. Para a temporária capital de Boma, ele mandou um governador-geral e um chefe de polícia. A vasta bacia do Congo foi dividida em 14 distritos administrativos, cada distrito em zonas, cada zona em setores, a cada setor em postos. Dos comissários de distritos até o nível de posto, todo encarregado-chefe era europeu: mercenários e aventureiros de todo tipo.

Três problemas principais se apresentaram pelos próximos anos. Primeiro, além dos oito empórios de Stanley, o Estado Livre era uma selva não-mapeada, e não oferecia qualquer retorno comercial. Segundo, Cecil Rhodes, então Primeiro Ministro da Colônia Britânica do Cabo (parte da atual África do Sul) estava expandindo do Sul e ameaçando a ocupar a área sul do Lualaba, a despeito da Conferência de Berlim e com tácita conivência de Londres. Terceiro, as gangues escravistas de Tippu Tip estabeleceram uma presença forte no norte, leste e oeste do país (atual Uganda), e efetivamente estabeleceram um estado independente.

Leopoldo era um dos homens mais ricos da Europa, mas nem mesmo ele pode agüentar manter as despesas. Ele precisou extrair riquezas do Congo, não gasta-las. Em flagrante violação de seu mandato, ele foi em busca disso, e arquitetou o mais brutal regime colonial da história moderna.

A primeira mudança foi a introdução das “terres vacantes” (terras vagas), que correspondiam a tudo o que ninguém efetivamente habitava. Essas terras foram atribuídas ao estado, e os servidores do estado (quer dizer, todo homem branco empregado de Leopold) eram encorajados a explorá-las.

Em seguida, o Estado Livre foi dividido em duas zonas econômicas: a Zona de Livre Comércio foi aberta a empreendedores de qualquer nação, que eram autorizados a arrendar o monopólio por 10 e 15 anos de qualquer coisa de valor: marfim de um distrito particular, ou a concessão de borracha. A outra zona --- mais de dois terços do Congo- -- se tornou o “Domaine Prive” (domínio privado): a propriedade privada exclusiva do estado, sendo premissa da conclusão de que Leopold era seu dono.

Nesta base, o Congo se tornou auto-suficiente financeiramente. Ainda que não o suficiente para a ganância de Leopoldo. Em 1893 ele extirpou o mais prontamente acessível 2.589.988,811 km² (258.998.881,1 hectares) da parte da Zona de Livre Comércio e as declarou como sendo “Domaine de la Couronne” (Domínio da Coroa), sujeito às mesmas regras das terras do “Domínio Privado”, exceto que toda renda ia diretamente para Leopold em pessoa. Ninguém sabe quanto Leopoldo lucrou do Estado Livre do Congo, mas o valor sem dúvida alcançou a ordem das dezenas de milhões, de longe mais do que até mesmo Leopoldo poderia gastar.

O segundo problema era o expansionismo britânico rumo a parte sul da Bacia do Congo. O vulnerável e distante distrito de Katanga, Lualaba acima, foi ocupado por um poderoso chefe chamado Msiri, que já rejeitara sondagens de Rhodes. Leopold não se incomodou em negociar: ele mandou expedições bem armadas para ocupar a capital. Msiri recuou floresta adentro, foi capturado, e ainda se recusou a desistir de sua soberania. Sob ordens de Leopoldo, um oficial do Estado Livre assassinou Msiri, cujo sucessor provou ser mais influenciável.

Em curto prazo, o terceiro problema, o dos escravos árabes, foi simplesmente resolvido: Leopold negociou em aliança, e depois indicou Tippu Tip como governador do distrito de Stanley Falls. Em longo prazo, isso foi insatisfatório. Na Bélgica, Leopold passava pelo constrangimento de estar aliado ao último escravista no mundo e, pior, Tippu Tip e Leopold eram rivais comerciais diretos: cada escravo que Tippu Tip extraía de seu domínio, cada quilo de marfim, era uma perda para Leopold. Uma confrontação bélica era inevitável.

Ambos os lados lutaram por procuração, armando e guiando as tribos canibais das florestas de Lualaba em conflitos de ferocidade sem paralelo. Eles acreditavam que sofrimento tornava a carne tenra, e prisioneiros eram preparados para o caldeirão ainda vivos; não só os guerreiros tribais permitiam-se esse costume: oficiais europeus comiam também carne humana. Os mosquetes de Tippu Tip não eram páreo para a artilharia e as metralhadoras de Leopold. Lá pelo início de 1894 a guerra já estava finda.

As regras de LeopoldoEnquanto isso, a busca por renda era dura. O salário dos funcionários distritais foi reduzido ao mínimo, e acrescidos de uma comissão baseada no lucro que a área rendesse a Leopoldo. Comunidades nativas no “Domínio Privado” foram meramente proibidas por lei a vender itens a qualquer um, a não ser o Estado: a eles era requerido prover aos funcionários públicos com um conjunto de cotas de borracha e marfim a um preço fixado, por mandato governamental, prover comida ao posto local, e prover 10% de sua população como trabalhadores forçados de tempo integral ---escravos em tudo, fora o nome---; e outros 25% de meio-período.

Para impingir as cotas de borracha, a Force Publique (Força Pública) foi instituida: de uso corrente, policiais, na sua maioria eram canibais do Lualaba. Armados com armas modernas e chicote. A “Força Pública” rotineiramente pegava e toturava reféns (na maioria mulheres), açoitavam, estupravam, incineravam aldeias, a acima de tudo, extirpavam mãos humanas como troféus mostrando que, quando as cotas não eram cumpridas, não estavam tendo vontade o suficiente de cumprir.

Um oficial branco de baixa patente F descreveu uma incursão para punir uma aldeia que havia protestado. O oficial branco em comando: "Ordenaram-nos a cortar as cabeças dos homens e as pendurar nas cercas da aldeia, bem como seus membros sexuais, e pendurar as mulheres e crianças em forma de cruz". Após ver um íncola morto pela primeira vez, um missionário dinamarquês escreveu: "O soldado disse: 'Não leve muito a sério. Eles matam 'a nós' se não levarmos a borracha. O comissionário nos prometeu que se tivermos muitas mãos, ele encurtará nosso serviço'" Nas palavras de Peter Forbath:

“ As cestas de mão cerradas, postas aos pés dos chefe de posto europeus, tornaram-se o símbolo do Estado Livre do Congo. ...A coleção de mãos se tornou um fim em si mesmo. Os soldados da “Força Pública” as traziam em vez da borracha; eles até mesmo iam colhê-las em lugar de borracha... Elas tornaram-se um tipo de moeda. Elas são usadas para amenizar o déficit das cotas de borracha, substituir... o povo ao qual é exigido trabalhar para as gangues de trabalhos forçados; e os soldados da “Força Pública” tinham seus bônus pagos de acordo com quantas mãos eles coletavam. ”

Em teoria, cada mão direita provava um assassinato judicial. Na prática, soldados “trapaceavam”, simplesmente cortando a mão e deixando a vítima para viver ou morrer. Numerosos sobreviventes relataram que eles viveram além de um massacre fingindo de morto, não se movendo nem mesmo quando tinham suas mãos serradas. E esperavam os soldados partirem para então procurar socorro.

Estimativas do total das chacinas variam consideravelmente. O relatório famoso 1904 do diplomata britânico Roger Casement aponta para 3 milhões apenas nos 20 anos que o regime de Leopold durou; Forbath, no mínimo 5 milhões; Adam Hochschild 10 milhões; a Enciclopédia Britânica estima um declínio populacional de 20 ou 30 milhões para 8 milhões.

O fim do Estado Livre do Congo

Leopold se endividou vertiginosamente com seus investimentos no Congo, até que a salvação veio com o início da “era da borracha” que envolveu o mundo todo a partir de 1890. Preços subiram freneticamente através da década com as descobertas de novos usos da borracha em tiras por parte das indústrias: mangueiras, tubulações, isolamento para cabos telegráficos e telefônicos e fiações, etc. Ao fim de 1890 a borracha bruta havia superado de longe o marfim como principal fonte de renda do Estado Livre do Congo. O ano de pico foi 1903, com a borracha faturando o preço mais alto e empresas concessionárias obtendo os melhores faturamentos.

Entretanto, o frenesi conduziu a esforços para encontrar produtores a custo mais baixo. Empresas concessionárias congolesas começaram a enfrentar competição do cultivo de borracha no Sudeste Asiático e América Latina. Como plantações eram começadas em outras áreas tropicais, a maioria sob possessão de firmas inglesas rivais, o preço mundial da borracha começou a cair. A competição induziu ao aumento do uso de trabalho escravo para diminuir o custo de produção. Enquanto isso, o custo de aplicação estava devorando as margens de lucro, ao mesmo tempo que a tributação aumentava a insustentabilidade dos métodos de colheita. Pelo crescer da competição imposta por outras áreas de produção, o domínio privado de Leopold estava progressivamente vulnerável a escrutínios internacionais, especialmente da parte da Inglaterra.

Joseph Conrad em seu O Coração das Trevas e Mark Twain (acima) criticaram o regime colonial, que para eles era baseado em trabalho escravo, violação de direitos e mutilações. A obra King Leopold's Soliloquy de Mark Twain realizava essa crítica de uma maneira sarcástica.Quando a borracha congolesa atingiu seu pico, visitantes tiveram a entrada barrada. missionários foram permitidos somente sob vigilância, e principalmente se eles eram católicos belgas, que Leopold podia manter quietos. Ao mesmo tempo, funcionários foram proibidos de deixar o país. Mesmo assim, rumores circularam e Leopold desfechou uma enorme campanha publicitária para desacreditá-los, ao ponto de criar uma Comissão para a Proteção dos Nativos, fictícia, para desbaratar as “poucas ocorrências isoladas” de abuso. Editores foram subornados, críticos acusados de tocar campanhas secretas para alavancar as ambições coloniais de outras nações, relatórios testemunhais dos missionários excomungados como tentativas de difamar padres católicos honestos. E por uma década ou mais Leopold foi bem sucedido. O segredo circulava dentre as pessoas, mas poucos acreditavam.

Eventualmente, os argumentos mais efetivos vieram da mais inesperada fonte. Funcionários nas maiores empresas navais em Londres começaram a se perguntar por que barcos que traziam grandes cargas de borracha do Congo retornavam abarrotados de armas e munição para a “Força Pública”. Edmund Morel foi o mais famoso desses: ele se tornou um jornalista de investigação em tempo integral, e então (ajudado por mercadores que desejavam acabar com o monopólio secreto de Leopoldo), um editor. Em 1902, o romance de Joseph Conrad intitulado “O Coração das Trevas” foi publicado, baseado na sua breve experiência como capitão de um navio a vapor no Congo, dez anos antes. Este livro encapsulava o pavor crescente do público, e em 1904, Sir Roger Casament, o cônsul britânico, entregou um longo e detalhado relatório testemunhal o qual tornara público. A Associação Britânica de Reforma do Congo, fundada por Morel, exigia ação. Outras nações européias fizeram o mesmo, como fez os Estados Unidos, e o Parlamento Inglês clamou por uma reunião das 14 potências signatárias a rever a Conferência de Berlim. O Parlamento Belga forçou Leopoldo a organizar uma comissão independente de inquérito, e apesar dos esforços desesperados do Rei, em 1905 foi confirmado o relatório de Casement em cada sórdido detalhe.

Leopoldo ofereceu uma reforma em seu regime, mas poucos levaram isso a sério. Todas as nações estavam de acordo que o domínio do Rei deveria ser extinto o mais rápido possível, mas nenhuma nação estava desejosa de assumir a responsabilidade, e nunca foi sugerido que as terras em questão fossem devolvidas ao povo da região. A Bélgica era a forte candidata à administração do Congo, mas os belgas não estavam ainda dispostos a isso. Por dois anos a Bélgica debateu a questão e foi às urnas decidir. Enquanto Leopoldo fez o máximo de sua última oportunidade e, inacreditavelmente, aumentou o “Domínio da Coroa” para com isso espremer até a última gota de lucro enquanto podia.

Finalmente, em 15 de novembro de 1908, quatro anos depois do Relatório de Casement e seis anos depois de “O Coração das Trevas”, o Parlamento Belga anexou o Estado Livre do Congo e assumiu a administração. Contudo, o escrutínio internacional não representou nenhuma grande perda para Leopoldo ou para as empresas concessionárias no Congo Belga. Nesse tempo, o Sudeste Asiático e a América Latina tinham se tornado produtores de borracha de baixo custo. Junto com os efeitos do esgotamento dos recursos no Congo, os preços internacionais da mercadoria tornaram inviável a extração congolesa, mas a “era da borracha” já estava acabada.

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#3 Mensagem por Tricampeão » 08 Mar 2011, 22:55

Aguardando a continuação...

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O Pastor
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#4 Mensagem por O Pastor » 15 Mar 2011, 09:01

Tricampeão escreveu:Aguardando a continuação...

Eu também, mas pór falta de tempo tenho deixado pra frente.

Mas antes de continuar com a saga congolesa no século XX, vou voltar no tempo e postar alguma coisa sobre o Congo pré-Diogo-Cão. Também acho salutar postar sobre o que foi o Tratado de Berlim de 1885 e como ele decretou todo o desastre africano no século XX.

A idéia do tópicop é não apenas postar a África sacaneada que todos conhecem, mas mostrar os aspectos positivos do continente, mas sem deixar de falar sobre as mazelas. De preferencia citando livros.

Logo o tempo melhore, vem mais postagens.

Fuiste!!

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#5 Mensagem por Compson » 15 Mar 2011, 19:30

Tricampeão escreveu:Aguardando a continuação...
2

Este tópico merecia maior visibilidade...

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#6 Mensagem por Tricampeão » 15 Mar 2011, 21:13

O Pastor escreveu:A idéia do tópicop é não apenas postar a África sacaneada que todos conhecem, mas mostrar os aspectos positivos do continente, mas sem deixar de falar sobre as mazelas. De preferencia citando livros.
Vai queimar seu filme com a turminha do mimimi.

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O Pastor
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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#7 Mensagem por O Pastor » 17 Mar 2011, 10:22

Utilizarei muitas vezes linguagens do tipo "mais avançado do que os europeus", não no sentido de criar um sentimento revanchista ou de inferioridade, mas no sentido de dar fim a certos mitos de que todos os povos subsaarianos eram estupidos e viviam dependurados em árvores como macacos.

A grande dificuldade de se contar a história dos povos subsaarianos é ausência da escrita (para muitos deles) e de grandes estruturas de pedra (que os europeus consideram sinal de avanço civilizatório). Mas mesmo no caso de monumentos, mostrarei mais a frente que muitos povos subsaarianos conseguiram desenvolvê-los e existem evidências no Zimbabwe, Botswana, em quase toda costa oeste africana e sem falar dos povos que compreendiam a antiga Núbia e Etiópia.

Neste tópico atento a formação dos primeiros reinos na região do Congo, para dar continuidade ao texto inicial. Antes da chegada dos portugueses existiam na região povos desenvolvidos extremamente avançados em metalurgia, cerâmica e agricultura. A arte de dominio dos metais era exemplar. Também cito o escritor e historiador estadunidense John Henrik Clarke.

[ external image ]
Período Pré-Colonial

As evidências arqueológicas encontradas em Lunda, Congo e no Deserto do Namibe, a área conhecida actualmente como Angola tem sido habitada desde tempos pré-históricos. Contudo, foi somente milhares de anos mais tarde, no início da história registada, que apareceram as sociedades mais desenvolvidas. Os primeiros as estabelecerem-se foram os Bosquímanos, que eram conhecidos como grandes caçadores. Fisicamente eram similares aos pigmeus em tamanho e tinham também um castanho claro como cor de pele.

Bosquímanos

No início do sexto século a.C., de pele mais escura, tecnologicamente mais avançados começaram uma das maiores migrações na história. Eram os Bantu, e vieram do norte, provavelmente de lugares perto da presente Republica dos Camarões. Os Bantu tinham dominado a tecnologia do trabalho em metais. Quando alcançaram Angola encontraram os Bosquímanos e outros grupos consideravelmente menos avançados do que eles próprios. Rapidamente dominaram esses grupos com o seu conhecimento sobre a utilização do metal, cerâmica, e agricultura. Durante a passagem dos séculos os Bantu estabeleceram-se na região e fizeram crescer outros grupos diferentes, que com o passar do tempo ficaram com características étnicas diferentes, algumas das quais persistem ainda hoje.

Bantu

A primeira grande entidade política na área, foi o Reino do Congo, apareceu no século XIII e estava confinado desde o Gabão no norte, do rio Kwanza no sul, e desde o Atlântico a ocidente ao rio Cubango a leste.

A sua riqueza vinha de uma maneira geral da agricultura. O poder estava nas mãos dos "Mani," aristocratas que ocupavam posições chave no reino e que respondiam somente ao todo poderoso Rei do Congo. Mabanza foi o nome dado ao território unido e administrado pelos Mani; Mbanza Congo, a capital, tinha uma população de 50,000 no século XVI.

O Reino do Congo foi dividido em seis províncias e incluía alguns reinos dependentes, tais como Ndongo no Sul. O Comércio, baseado na alta produtividade agrícola e o crescimento da exploração mineira, eram a maior actividade económica da região. Em 1482 caravanas comandadas pelo português Diogo Cão chegaram ao Congo. Outras expedições se seguiram o que levou ao aparecimento de relações comerciais entre dois estados. Os portugueses trouxeram as armas de fogo e o interesse pela religião; em troca, o Rei do Congo oferecia escravos, marfim, e minerais. O Rei do Congo converteu-se ao Cristianismo, e adoptou uma estrutura política similar aos europeus; ele tornou-se uma figura bem conhecida na Europa, ao ponto de receber missivas do Papa.

Ao sul do Reino do Congo, à volta do rio Kwanza, existiam vários estados importantes, entre os quais o Reino de Ndongo, governado pelo Rei Ngola, Por altura da chegada dos portugueses, Ngola Kiluange estava no poder, e mantinha uma política de alianças com os estados vizinhos, contra os estrangeiros durante décadas. Eventualmente ele estava em Luanda. Anos mais tarde, o Ndongo teve um crescimento sem igual outra vez quando Ginga Mbandi, conhecida como Rainha Ginga, alcançou o poder. Uma política astuta, ela manteve os portugueses em xeque com bem preparados acordos. Depois de ter realizado várias jornadas, em 1635 formou uma grande coligação com os estados de Matamba e Ndongo, Congo, Kassanje, Dembos e Kissamas. Á cabeça desta grande coligação, ela forçou os portugueses a retirar.

Entretanto Portugal tinha sido ocupado por Espanha, e os seus territórios ultramarinos ficaram para segundo plano nos seus assuntos internos. Os holandeses tiraram vantagem desta situação e ocuparam Luanda em 1641. Ginga fez uma aliança com os holandeses, confinando os portugueses para Massango, onde ficaram fortemente fortificados, onde a partir daí realizavam missões para capturar escravos nas guerras Kuata Kuata. Os escravos de Angola eram essenciais para o desenvolvimento da sua colónia o Brasil, mas o tráfico foi interrompido por estes eventos. Em 1648 uma força em larga escala veio do Brasil comandada por Salvador Correia de Sá e recuperou Luanda, permitindo o regresso dos portugueses em grande número.

http://www.camacupa.com/dnn/Terra/UmPou ... fault.aspx
The Old Congo
by John Henrik Clarke

The people and nations of Central Africa have no records of their ancient and medieval history like the "Tarikh es Sudan" or the "Tarikh el Fettach" of the Western Sudan (West Africa). The early travelers to these areas are mostly unknown. In spite of the forest as an obstacle to the formation of empires comparable to those of the Western Sudan, notable kingdoms did rise in this part of Africa and some of them did achieve a high degree of civilization.

The Congo Valley became the gathering place of various branches of the people we know now as Bantu. When the history of Central Africa is finally written, it will be a history of invasions and migrations. According to one account, between two and three thousand years ago a group of tribes began to move out of the region south or southwest of Lake Chad. Sometime during the fourteenth and fifteenth centuries the center of Africa became crowded with pastoral tribes who needed more land for their larger flocks and herds. This condition started another migration that lasted for more than a hundred years. Tribes with the prefix Ba to their names spread far to the west into the Congo basin and southward through the central plains. The Nechuana and Basuto were among these tribes. Tribes with the prefix Ama—great warriors like the Ama-Xosa and Ama-Zulu—passed down the eastern side.

In the meantime some of the more stable tribes in the Congo region were bringing notable kingdoms into being. The Kingdom of Loango extended from Cape Lopez (Libreville) to near the Congo; and the Congo Empire was mentioned by the Portuguese as early as the fourteenth century. The Chief of Loango, Mani-Congo, extended his kingdom as far as the Kasai and Upper Zambesi Rivers. This kingdom had been in existence for centuries when the Portuguese arrived in the fifteenth century. They spoke admiringly of its capital, Sette-Camo, which they called San Salvador. The Kingdom of Congo dates back to the fourteenth century. At the height of its power it extended over modern Angola, as far east as the Kasai and Upper Zambesi Rivers.

Further inland the Kingdom of Ansika was comprised of the people of the Bateke and Bayoka, whose artistic talents were very remarkable. Near the center of the Congo was the Bakuba Kingdom (or Bushongo), still noted for its unity, the excellence of its administration, its art, its craftsmanship and the beauty of its fabrics.

South of the Congo basin the whole Bechuana territory formed a vast state which actually ruled for a long time over the Basutos, the Zulus, the Hottentots and the Bushmen, including in a single empire the greater part of the black population of Southern and Central Africa. This was the era of Bushongo grandeur; the people we now know as Balubas.

Only the Bushongo culture kept its records and transmitted them almost intact to modern research. The Bakubas are an ancient people whose power and influence once extended over most of the Congo. Their history can be traced to the fifth century. For many centuries the Bakubas have had a highly organized social system, an impressive artistic tradition and a secular form of government that expressed the will of the people through a democratic political system. Today, as for many generations in the past, the court of a Bakuba chief is ruled by a protocol as rigid and complicated as that of Versailles under Louis XIV.

At the top of the Bakuba hierarchy is the royal court composed of six dignitaries responsible for cabinet-like matters such as military affairs, justice and administration. At one time there were in the royal entourage 143 other functionaries, including a master of the hunt, a master storyteller and a keeper of oral traditions. In the sixteenth century the Bakubas ruled over a great African empire. The memory of their glorious past is recalled in the tribe with historical exactitude. They can name the reigns of their kings for the past 235 years. The loyalty of the people to these rulers is expressed in a series of royal portrait-statues dating from the reign of Shamba Bolongongo, the greatest and best known of the Bakuba kings.

In the Bakuba system of government the king was above all a symbol, rather like the Mikado in the eyes of the Japanese. His ministers, the Kolomos, paid him great respect in public, even if they were his known enemies. In private they made no pretense of subservience. If the king wanted to see his ministers he had to go to their houses or meet them on neutral ground. The ordinary members of the tribe had representatives at the court on a political and professional basis. Some of these officials represented geographical areas, trades and professions. The weavers, the blacksmiths, the boat-builders, the net-makers, the musicians and the dancers all had their representatives at court. There was even a special representative of the fathers of twins. The representative of the sculptors was held in highest esteem. The Bakuba sculptors are considered to be the finest in Africa.

Shamba Bolongongo was a peaceful sovereign. He prohibited the use of the shongo, a throwing knife, the traditional weapon of the Bushongo. This wise African king used to say: "Kill neither man, woman nor child. Are they not the children of Chembe (God), and have they not the right to live?" Shamba likewise brought to his people some of the agreeable pastimes that alleviate the tediousness of life. The reign of Shamba Bolongongo was really the "Golden Age" of the Bushongo people of the Southern Congo. After abolishing the cruder aspects of African warfare, Shamba Bolongongo introduced raffia weaving and other arts of peace. According to the legends of the Bushongo people, their history as a state goes back fifteen centuries. Legends notwithstanding, their magnificent sculpture and other artistic accomplishments are unmistakable, the embodiment of a long and fruitful social experience reflecting the life of a people who have been associated with a higher form of culture for more than a thousand years.

Early in the twentieth century when the European writer, Emil Torday, was traveling through the Congo collecting material for his book On the Trail of the Bushongo, he found the Bakuba elders still singing the praises of Shamba Bolongongo. They also repeated the list of their kings, a list of one hundred twenty names, going back to the godlike king who founded their nation. From these Bakuba elders, Emil Torday learned of Bo Kama Bomanchala, the great king who reigned after Shamba Bolongongo. The elders recalled the most memorable event that had occurred during his reign. On March 30, 1680, there was a total eclipse of the sun, passing exactly over Bushongo.

Jose Fernandez, one of the first European explorers to visit Central Africa, went there in 1445. Any number of subsequent expeditions were carried out by such men as Diego Borges, Vincente Annes, Rebello de Araca, Francisco Baretto and Dom Christovao da Gama. The parts of Africa visited, explored and discovered by these men included the kingdom of the Congo, Timbuktu, the East Coast of Africa, Nubia, the Kingdom of Angola, Abyssinia and the Lake Tsana region.

Much of the history and civilization of Central Africa and East Africa was revealed by the study made by the Portuguese African explorer Duarte Lopez in his book History of the Kingdom of Congo. Duarte Lopez went to the Congo in 1578 and stayed for many years. From his study and description of the Congo we learn that the Kingdom of the Congo included the territory formerly known as the Congo, Angola and parts of the Cameroons.

According to Lopez, the kingdom of the Congo at the time measured 1,685 miles. The King, still reliving his past glory, styled himself Dom Alvarez, King of Congo, and of Abundo, and of Natama, and of Quizama, and of Angola, and of Angri, and of Cacongo, and of the seven Kingdoms of Congere Amolza, and of the Pangelungos, and the Lord of the River Zaire (Congo) and of the Anzigiros, and of Anziqvara, and of Doanga, etc. He also tells us that the Kingdom of Angola was at one time a vassal state of the Congo.

At the time of Lopez's twelve years stay in the country, the Kingdom of the Congo was divided into six provinces. The province of Bamba was the military stronghold of the kingdom, and was capable of putting 400,000 well-disciplined men in the field.

The rich gold mines at Sofala (now a port of Mozambique) attracted the Portuguese to the East Coast of Africa. They used intermarriage with the Africans as a means of gaining favor and pushing into the interior of Africa. In turn, the Africans gradually lost their anti-Christian hostilities and gave in to being converted to Christianity. And thus Christianity was introduced into the Congo before 1491. The Mani Sogno was the first Congo nobleman to embrace the Christian faith. The Moslems, coming into the Congo from the East Coast, prevailed upon the Africans to resist being converted to Christianity, telling them that Christianity was a subtle method used by the Portuguese to take over their country. This warning notwithstanding, Christianity continued to spread in the Congo.

In 1513, Henrique, son of Dom Affonso, then King of the Congo, was sent to Lisbon and to Rome to study theology. In 1520, Pope Leo X appointed Henrique Bishop of Utica and Vicar-apostolic of the Congo. Unfortunately, Henrique died before he could return to the Congo. He was Rome's first Central African bishop. The royal nonono of Portugal still hold the records reflecting the ceremonial respect that was paid to this Christian son of an African king and queen.

In the years that followed, Portuguese evangelization of the Congo continued. The Holy See received ambassadors from and sent legates to the Congo. In 1561, Father Dom Goncalo da Silvera baptized the Emperor of the Court of Monomotapa.

The peaceful relations between the Africans and the Portuguese were eventually disrupted by the rising European lust for slaves and gold. It was from Angola and the Congo that the Portuguese New World was to derive its greatest source of slaves. In 1647, Salvador Correia of Brazil organized an expedition of fifteen ships for the purpose of reconquering Angola, which had been under Dutch rule for eight years. This event might be considered go be one of the earliest political interventions of the New World in the Affairs of the Old.

Portuguese domination founded on the dire necessities of the slave trade persisted in Angola. After a period of relative splendor, the Christian Kingdom of the Congo began to weaken and was practically destroyed by European fortune hunters, pseudo-missionaries and other kinds of free-booters. By 1688, the entire Congo region was in chaos. By the end of the seventeenth century European priests had declared open war on the non-Christian population of the Congo. They were attempting to dominate Congolese courts and had ordered the execution of Congolese ancestral priests and indigenous doctors. Now the Congolese Christians were pathetic pawns of the hands of unscrupulous European priests, soldiers, merchants and other renegade pretenders, mere parish priests from Europe were ordering Congolese kings from their thrones.

Soon treachery, robbery and executions compounded the chaos in the Congo. Violence became the order of the day as various assortments of European mercenaries vied for control of this rich area of Africa. In the ensuing struggle many of the Christian churches built by the Portuguese were destroyed. The Dutch, still feeling the humiliation of the decline of their influence in Angola, came into the Congo and systematically removed all traces of the once prevailing Portuguese power.

By 1820 Arab slave traders had penetrated the Congo from Zanzibar and through Tanganyika. Soon after their arrival their slave raids were decimating the population. The European rediscovery of the Congo and neighboring territories began in the middle of the nineteenth century. In 1858, two Englishmen, Burton and Spoke, discovered Lakes Tanganyka and Victoria, approaching them from the shores of the Indian Ocean. The Scotch Protestant missionary, Livingstone, explored the regions of the big lakes and in 1871, Livingstone and Stanley met on the shore of Lake Tanganyika. From 1874 to 1877, Henry Morton Stanley crossed Africa from east to west and discovered the Congo River.

In the meantime, King Leopold II of Belgium focused his attention on Central Africa and in 1876 founded the Association International Africaine. In 1878, King Leopold commissioned Stanley to establish connection between the Congo River and the ocean in the non-navigable part of the river. From 1879 to 1885, a handful of Belgian officers sent by the King set up posts along the Congo River. They were followed by Catholic and Protestant missionaries.

King Leopold's undertakings gave rise to competition and greed. Other European nations had designs on the Congo. The King's diplomatic successes at the Berlin Conference of 1884 settled this matter. The members of the Conference marked out spheres of influence in Africa and determined boundaries that are still in existence. The Congo Free State came into being. The Belgian parliament agreed that Leopold should have "exclusive" personal ownership of the Congo. The United States was the first power to ratify the arrangement, largely through the efforts of General Henry S. Stanford, who was American minister to Brussels at the time.

And thus began the tragedy of Belgian rule in the Congo.

http://www.africawithin.com/clarke/LumumbaCongo.html

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#8 Mensagem por O Pastor » 17 Mar 2011, 10:27

A partir do período português
HistóRia Do Congo

1.Quando os portugueses chegaram ao Congo, encontraram ali grandes mercados regionais, nos quais produtos específicos a certas áreas como sal, metais, tecidos e derivados de animais eram trocados por outros, e um sistema monetário, no qual conchas chamadas nzimbu, colectadas na região da ilha de Luanda, serviam de unidade básica. O estreitamento das relações com os portugueses intensificou o comércio regional e o (1) internacional e aumentou a importância dos comerciantes, muitos deles não congoleses. O Congo não era uma nação voltada para o comércio, exercido em grande parte pelos naturais de Loango, e posteriormente controlado pelos portugueses de São Tomé e de Angola e pelos Holandeses. Mas eram o comércio, principalmente de escravos, e o controle das minas, sempre aquém das expectativas, os principais interesses dos portugueses no Congo quando ali chegou Diogo Cão. (2) Instruídos para estabelecer contactos pacíficos e acompanhados de intérpretes conhecedores de línguas africanas, os enviados do

2.rei português tomaram conhecimento da cidade real no interior do continente e para lá enviaram emissários. Como estes demoraram a voltar, retidos na corte congolesa pela curiosidade que despertou o que contavam, os navios portugueses, recusando-se a esperar, zarparam sem eles, levando alguns reféns. Em Portugal esses foram tratados como amigos e aprenderam um pouco dos hábitos, da religião e da língua do reino. Conforme o prometido, nova expedição trouxe de volta os congoleses capturados, agora quot;ladinosquot;, juntamente com uma embaixada e presentes para o mani Congo, retorno amplamente festejado. Disposto a abraçar a fé de Cristo, o mani Congo enviou, em 1488, uma embaixada para o rei português, que foi presenteado com tecidos de palmeiras e objectos de marfim, formalizando seu desejo de se converter ao cristianismo e pedindo o envio de clérigos, assim como de artesãos, mestres de pedraria e carpintaria, trabalhadores da terra, burros (3) e pastores. Junto com os pedidos, deixou claro o seu desejo de que doravante os dois reinos se igualassem nos costumes e na maneira de viver, solicitando que alguns jovens, enviados com a embaixada, fossem instruídos na fala, escrita e leitura latinas, além dos mandamentos da fé católica. E, com efeito, durante todo ano de 1489 e 1490 os enviados do rei do Congo permaneceram em Portugal, aprendendo o português, os mandamentos da fé católica e os costumes da sociedade portuguesa. Em 19 de Dezembro de 1490, nova expedição foi enviada ao Congo, a qual, em 29 de Março de 1491, chegou à foz do rio Zaire, por eles chamado rio do Padrão por lá ter sido colocado um padrão indicador de que o rei de Portugal havia sido o descobridor daquelas terras, em nome do seu reino e de Cristo. A província de Nsoyo (Sonho ou Sono nos relatos portugueses), na qual se encontrava a foz do rio Zaire, era governada por um irmão

3.da mãe do rei do Congo, o mais respeitado dentre os chefes provinciais. Ao receber os portugueses em M’Pinda, o chefe local mandou que todos viessem receber os enviados do rei de Portugal. As quot;mulheres dos fidalgosquot; locais fartaram-se de saudar os estrangeiros, dizendo que seus maridos haviam de fazer o melhor de si para o serviço do Rei de Portugal, a que eles chamavam Zampem-Apongo, que entre eles quer dizer 'Senhor do Mundo'. (4) Ao olhos dos congoleses, o rei português passava, pois, a ser assimilado a Zambem-apongo, divindade suprema dos povos banto, senhor que reinava no mundo dos mortos, pois, vale dizer, a festa era também para João da Silva (Caçuta), congolês baptizado e embaixador do rei do Congo morto na viagem de regresso em Cabo Verde. Senhor do Mundo, porque senhor dos mortos, o Zambem-apongo dos congoleses foi entendido pelos observadores portugueses como sendo o rei de Portugal, D. João II especificamente. Doravante, e por muito tempo, portugueses e congoleses passariam a traduzir noções alheias para sua própria cultura a partir de analogias que permitiam supor estarem tratando das

4.mesmas coisas quando na verdade sistemas culturais distintos permaneciam fundamentalmente inalterados. O Mani Congo e os chefes que o cercavam foram imediatamente identificados como o rei e sua corte; os nobres congoleses associados aos fidalgos portugueses e os cargos administrativos e honoríficos foram chamados pelos equivalentes europeus. Morto D. João I do Congo, e após uma luta sucessória e fratricida na qual não faltaram tentativas, da parte de algumas facções nobres, em remover o cristianismo de que haviam sido excluídos, ascendeu ao trono D. Afonso I, o mais importante rei da história luso-congolesa, chefe político e espiritual da catolização do reino do Congo. Isto porque, na verdade, seu pai, D. João I, não obstante convertido, logo abandonaria o cristianismo, pressionado por sectores da nobreza que não aceitavam a nova religião. Para eles, ela não se mostrou eficaz contra os infortúnios que então assolavam o reino. Além disso, o rei e os nobres resistiam a aceitar a monogamia imposta pelos padres, um dos temas mais polémicos na aceitação da nova religião, uma vez que a extensão da rede de solidariedades tecida pelos casamentos era peça fundamental nas relações de poder tradicionais. Com a morte de João I e a deflagração da luta sucessória, subiu ao trono um outro filho seu que não seguia os preceitos do cristianismo, apoiado pelos nobres defensores das tradições congolesas. Mas Afonso conquistou o trono depois de lutas com seu irmão e reinou por trinta e sete anos, de 1506 a 1543, sendo as bases do cristianismo no Congo estabelecidas no seu reinado. Era profundamente dedicado ao catolicismo, impressionando os missionários com o seu saber e com a sua dedicação aos estudos.

5.Seu filho Henrique chegou a ser consagrado bispo (1518- 1531), o que não foi visto com bons olhos pelo clero e pela coroa portuguesa, pois dessa forma diminuía o controle exercido pelo Estado por meio do monopólio da religião. Mas não foi apenas o cristianismo que floresceu sob o reinado de Afonso I. Antes de tudo, D. Afonso promoveu um autêntico quot;aportuguesamentoquot; das instituições políticas do reino, em consonância com D. Manuel, rei de Portugal, que a isto o estimulou. Assim, a justiça do Estado passou a guiar-se (5) pelas normas portuguesas, a partir da embaixada de Simão da Silva, portador do Regimento de 1512, e os antigos chefes de linhagem das províncias passaram a intitular-se de condes, marqueses, duques. Trata-se de matéria riquíssima que não tenho condições de desenvolver aqui, mas vale o registo de que, sob a inspiração política e institucional portuguesa, o Estado congolês foi perdendo as características tradicionais de confederação ou chefatura pluritribal para assumir, ainda que no plano das instituições e da etiqueta política, aspectos da monarquia ocidental, centralizando- se mais nitidamente – traço que sobreviveria ao reinado de Afonso I, perdurando até o século XVIII, não obstante as dilacerantes crises políticas que o reino atravessou no século XVII. Por outro lado, Afonso I recebeu grande ajuda dos portugueses para incrementar o comércio de cobre extraído em regiões ao norte do Congo que, trazido para a capital, se tornou um meio valioso com o qual o rei podia adquirir mercadorias europeias. Essas importações e o incremento no comércio, ao aumentar a riqueza do rei, permitiram assegurar a lealdade de nobres importantes, construindo a base de um longo e memorável reinado. Também o comércio de escravos com os portugueses, em fase

6.inicial de implantação, tornou-se monopólio real com redes de comércio que chegavam a São Tomé, o centro de todo tráfico da África ocidental, e até mesmo ao Benin. Quando o comércio de pessoas fugiu do controle do rei, com mercadores desrespeitando as rotas estabelecidas e o monopólio real, Afonso (6) I escreveu ao rei português reclamando que até mesmo nobres congoleses estavam sendo capturados em guerras interprovinciais para serem vendidos como escravos. O comércio de escravos era antigo naquela região, mas as regras tradicionais estavam a ser violadas. Não apenas prisioneiros de guerra ou pessoas endividadas estavam a ser negociadas, mas as rotas tradicionais, controladas pelos chefes locais, estavam a ser ignoradas em prol de novos caminhos que burlavam o controle real. Tudo isso ameaçava o poder real com a evasão de tributos que lhe seriam devidos pelos privilégios tradicionais e o enriquecimento de chefes e comerciantes abalava as bases de seu poder. Somando-se a isso, a região do N’dongo (futura Angola), começava a atrair o interesse dos comerciantes portugueses que buscavam justamente fugir aos monopólios existentes no Congo, concorrendo com o tráfico de escravos controlado pelo rei congolês e pelos comerciantes autorizados pelo rei lusitano. De todo modo, quando os portugueses chegaram à foz do Zaire, o Congo, assim como outros reinos da região, estava em processo de franca expansão, como os registos de guerras frequentes atestam .A escravização das populações conquistadas permitia aos reis ampliar a sua riqueza pessoal assim como fortalecer exércitos e o corpo administrativo composto por dependentes directos, além de aumentar o volume de tributos recebidos dos territórios ocupados.

7.Assim, a expansão permitia o acúmulo de riqueza e um reforço da centralização política. Quando os portugueses chegaram àquela parte da África, portanto, não só encontraram uma grande população cativa, como as condições necessárias para sustentar um amplo mercado de escravos, no qual havia espaço para os estrangeiros recém-chegados. No caso congolês, o próprio processo de centralização e fortalecimento das cidades frente às aldeias estava baseado na crescente existência de escravos, concentrados principalmente em Mbanza Kongo, cujo trabalho era apropriado pelos membros das linhagens nobres que, assim, incrementavam a sua riqueza, o seu poder, seus sinais de status. Não só no Congo, mas em vários estados da África centro - ocidental os escravos eram resultado das guerras de expansão, sendo fundamentais na centralização e reforço das lealdades. Afonso I reinou nesse período, e apesar dos problemas que seu reinado enfrentou, expandiu as fronteiras do reino, fortaleceu a centralização do poder real, desenvolveu a capital, disseminou o cristianismo e a educação formal, valorizando sobremodo a leitura e a escrita. Não seria exagero ver em seu reinado, sobretudo do ponto de vista religioso e político-constitucional, o processo que Serge Gruzinski chamou de ocidentalização, estudando o México na mesma época. Lembrado até hoje como o mais poderoso rei da história do Congo, Afonso I, esse defensor implacável da fé cristã, assemelha- se em muitos aspectos ao ideal de rei (7)missionário e cruzado, rei que combate os infiéis com a ajuda de forças divinas, amplia e consolida as fronteiras da cristandade. As bases do catolicismo congolês fincaram raízes profundas no seu reinado, que se prolongou até quase meados do século XVI.

8.Catolicismo que, não obstante, foi incapaz de remover por completo as tradições religiosas locais, do que resultou um complexo religioso original, híbrido, a um só tempo católico e banto. As relações luso-congolesas estabelecidas no reinado de Afonso I entraram em lento mas progressivo colapso a partir da segunda metade do século XVI e, sobretudo no século XVII, após a morte de Álvaro II, em 1614.Na verdade, não obstante a retórica da Coroa portuguesa de que o rei do Congo não era vassalo de Portugal, senão um quot;irmão em armas de seus reisquot;, como dele disse D.João IV, o facto é que Portugal sempre viu no Congo uma possibilidade de expandir a fé católica e garantir o tráfico de escravos em partes de África. Portugal atendeu muito pouco às reivindicações dos monarcas congoleses, como se percebe na correspondência entre as duas Coroas no período, e acabaria por deslocar os seus interesses no tráfico para Angola.A deterioração das relações luso-congolesas cresceu no século XVII, a ponto de, no reinado de Garcia Afonso II (1641-1663), o Congo se ter aproximado dos holandeses, que haviam tomado Luanda anos antes. Garcia II desenvolveu, na verdade, uma política ambígua, cortejando e deixando-se cortejar pelos batavos, porém, recusando a pressão holandesa para abandonar o catolicismo romano. Desatendeu, por outro lado, as exigências do padroado da Coroa Portuguesa, admitindo no reino capuchinhos italianos e espanhóis, embora tenha ratificado um tratado que garantia importantes concessões territoriais a Portugal na vizinha Angola. Apesar das cautelas de parte a parte, Congo e Portugal seguiriam doravante caminhos distintos, quando não opostos, até ao frontal embate de 1665.Referimo-nos à batalha de Mbwila (Ambuíla), quando os congoleses foram derrotados pelos portugueses,

9.seguindo-se um período de guerras internas ligadas à sucessão real. Portugueses e congoleses enfrentaram-se em Mbwila em relativa igualdade numérica, mas, enquanto o exército congolês era formado principalmente por camponeses recrutados, o exército português era composto na sua maioria por guerreiros imbangalas (jagas), povo criado na tradição guerreira. A guerra ocorreu em torno a uma disputa sucessória em Mbwila, importante região do N'dembo, estando os portugueses interessados em controlar o território que seria passagem para as cobiçadas minas de ouro e prata. Na batalha morreram milhares de congoleses, muitíssimos nobres e o rei António I teve sua cabeça cortada e enterrada em Luanda, enquanto a sua coroa e o seu ceptro, emblemas reais, foram remetidos a Lisboa à guisa de troféus. Junto com o rei, haviam morrido os principais candidatos ao trono, abrindo-se então um complicado processo sucessório que fortaleceu a posição de Nsoyo. Depois da batalha, São Salvador (Mbanza Congo) foi à ruína com as linhagens nobres fugindo das guerras sucessórias para outras províncias. De todo modo, a maioria dos autores que se detiveram na história congolesa deste período atribuem a desestruturação do reino a causas externas, localizando no aumento do número de escravos traficados, na intensificação das guerras regionais e na alteração do equilíbrio entre os poderes tradicionais os principais motivos das guerras civis que assolaram o Congo até o início do século XVIII. Com o enriquecimento das linhagens governantes do Nsoyo, não só devido ao grande aumento do comércio que passava por M’Pinda, seu porto, mas principalmente com o aumento da riqueza produzida na cidade devido à concentração de escravos e tributos, surgiu uma alternativa de aliança entre as linhagens em disputa, que não dependiam mais apenas da linhagem então reinante.

10.O poder centralizado do Congo foi destruído pelas rivalidades entre Nsoyo e São Salvador – agudizadas no quot;período holandêsquot; – pela derrota em Mbwila e pelas lutas entre as linhagens nobres. Depois de Mbwila, toda a nobreza se transferiu para as províncias, que se tornaram mais autónomas e passaram a escolher os seus administradores, independentemente do poder central, pelo qual, no entanto, a disputa era constante. Cada chefe local cercou-se de um grupo de auxiliares, reproduzindo nas províncias a estrutura da corte real e escolhendo seu sucessor. As rivalidades entre as linhagens provocaram guerras permanentes que empobreceram a população em consequência de recrutamentos forçados, destruição de plantações e escravização dos derrotados, vendidos para os comerciantes de Luanda ou para a Loango dos mercadores. Nsoyo, a mais forte província, cuja capital teve a população dobrada entre 1645 e 1700, quando contava com cerca de 30.000 habitantes, desenvolveu-se muito nesse período, beneficiando-se dos escravos trazidos de São Salvador, em ruínas. A intenção de Nsoyo era manter um rei fantoche no poder, servindo aos interesses da nobreza local, e, para tal, apoiava algum pretendente ao trono o suficiente para lá o colocar, mas não o suficiente para que se fortalecesse no cargo. No entanto, a crise política, qualificada por alguns como verdadeira quot;anarquiaquot;, tomou conta do reino congolês. Entre 1665 e 1694, houve nada menos do que 14 pretendentes à coroa do reino, alguns com sucesso, outros nem tanto, e muitos deles assassinados. No final de Seiscentos, o Congo possuía três reis, sendo D. Pedro IV o mais poderoso deles, aparentemente, e talvez o único capaz de levar adiante um projecto de reunificação congolês. Foi neste contexto de crise e fragmentação que irrompeu o antonianismo, movimento que, seja em termos religiosos ou políticos, nos fornece importantes pistas para compreender as complexas relações entre catolicismo e monarquia na África banto.

11.A fundadora da quot;seitaquot; foi a jovem aristocrata Kimpa Vita, nascida de família nobre congolesa na década de 1680, baptizada Dona Beatriz, mulher que fora sacerdotisa do culto de Marinda (nganga marinda), embora educada no catolicismo. Kimpa Vita contava entre 18 e 20 anos quando, cerca de 1702-1703, acometida de forte doença, disse ter falecido e depois ressuscitado como Santo António. E seria como Santo António que Kimpa Vita pregaria às multidões do reino – daí o movimento ter ficado conhecido como antonianismo – seguindo o rasto de outras várias profetisas que lhe precederam na mesma tarefa, como a Matuta, em meio à crise que assolava o reino. A pregação de Kimpa Vita possuía forte conotação política. Preconizava o retorno da capital a São Salvador e a reunificação do reino, chegando mesmo a envolver-se nas lutas facciosas da época. Melhor exemplo disso ocorreu quando de sua chegada a São Salvador, onde encontrou Pedro Constantino da Silva, nobre militar enviado por D. Pedro IV, a quem proclamou quot;Rei do Congoquot; em troca da sua adesão ao antonianismo. Assegurou-se ainda, por meio de vários acordos, da aliança de famílias nobres adversárias de D. Pedro, a exemplo dos grupos de Kimpanzu, especialmente da família Nóbrega, enraizada no sul da província de Nsoyo.As alianças estabelecidas por Kimpa Vita, metamorfoseada em Santo António, não eram porém resultado de mero cálculo político. Ancoravam-se numa cosmologia complexa e peculiar que, se formos resumir em poucas palavras, vale seguir o que disse Boxer sobre o movimento: quot;uma modalidade remodelada e completamente africanizada do cristianismoquot; . Com efeito, o movimento confirma, antes de tudo, o êxito do processo de canonização do Congo inaugurado no século XV e cristalizado sob o reinado de Afonso I na primeira metade do século XVI.O Deus dos antonianos era, sem dúvida, o Deus cristão,

12.o Deus dos missionários, com o qual Kimpa Vita dizia jantar todas as sextas-feiras, após quot;morrerquot;, para quot;ressuscitarquot; no dia seguinte. Santo António, por outro lado, santo muito valorizado na missionação realizada no Congo, era a pessoa assumida pela profetisa, por ela chamado de quot;segundo Deusquot;. Africanizando o catolicismo, quot;a Santo António congolesaquot; dizia que Cristo nascera em São Salvador, a verdadeira Belém, e recebera o baptismo em Nsundi, a verdadeira. Afirmava ainda que a Virgem Santíssima era negra, filha de uma escrava ou criada do Marquês de Nzimba Npanghi e que São Francisco pertencia ao clã do Marquês de Vunda. O catolicismo do movimento antoniano era, portanto, muitíssimo original, implicando uma leitura banta ou bakongo da mensagem cristã. Modelava-se, em vários aspectos, na acção pedagógica dos missionários, mas condenava o clero oficial, sobretudo os missionários estrangeiros, aos quais acusava de quot;haverem monopolizado a revelação e o segredo das riquezas para exclusiva vantagem dos brancosquot; em prejuízo dos quot;santos negrosquot;.Rejeitou, igualmente, boa parte dos sacramentos católicos: o baptismo, a confissão, o matrimónio, ao menos no tocante à liturgia e aos significados oficiais, abrindo caminho, no caso do matrimónio, para a restauração legitimada da poligamia. Adaptou, ainda, certas orações católicas, a exemplo da Ave -Maria e sobretudo do Salve Rainha. Proibiu, ainda, a veneração da cruz, esse grande nkisi católico-bakongo, em razão de ter ela sido o instrumento da morte de Cristo. Kimpa Vita prometia a todos os que aderissem à sua pregação uma próxima quot;idade de ouroquot;, e não apenas no sentido figurado, pois dizia que as raízes das árvores derrubadas converter-se-iam em ouro e prata e que das ruínas das cidades surgiriam minas de pedras preciosas.

13.Prometia, ainda, tornar fecundas as mulheres estéreis e outras mil bem-aventuranças, granjeando imenso apoio popular. Não se escusava, porém, de ameaçar os reticentes com as piores penas, incluindo a de transformá-los em animais. Organizou para tanto uma verdadeira igreja antoniana, um clero, onde pontificavam outros santos, como São João, e uma plêiade de sacerdotes denominada de quot;os antoninhosquot; que saíam a pregar a excelência da nova igreja e o poder taumatúrgico e apostólico quot;da Santo Antónioquot; que a chefiava. Kimpa Vita despertou obviamente a ira dos missionários capuchinhos e das facções nobres adversárias do antonianismo e postulantes do poder real. O próprio D. Pedro IV, de início cauteloso e hesitante em reprimir o movimento, terminou por ceder às pressões dos capuchinhos italianos, ordenando a prisão da profetisa e de São João, quot;o anjo da guardaquot; da profetisa que os frades diziam ser seu amante. O estopim ou pretexto que levou à prisão de Kimpa Vita teria sido a acusação de que tinha um filho recém-nascido, cujo choro teria sido ouvido enquanto ela o amamentava em segredo, do que resultara o seu desmascaramento como quot;falso Santo Antónioquot;.Kimpa Vita foi presa e condenada a morrer na fogueira como herege do catolicismo. A sentença foi executada em 1708 e na fogueira arderam Kimpa Vita e o seu quot;anjo da guardaquot; – o Santo António e o São João do catolicismo congolês. O Rio Zaire ou Congo - quot;Rio Poderosoquot; - ou simplesmente quot;Rioquot; (Zaire) impressionaria profundamente os seus descobridores, comandados por Diogo Cão. Aquela torrente de água doce a penetrar, por alguns quilómetros, pelo mar dentro, era suficiente testemunho de sua extraordinária pujança e importância. Os Portugueses não conheciam coisa que se assemelhasse a isso - o seu Tejo pátrio ficava muito àquem da majestade africana do quot;Zairequot;.Rumores corriam, conforme uma velha tradição europeia,

14.de que devia existir um meio de comunicação com o lendário Reino do Preste-João (afinal, este viria a revelar-se na Etiópia com seu cristianismo copta, mais tarde). Seria por ali o caminho. 1485 - O audacioso navegador português Diogo Cão encontrou no Reino do Congo, um país política e administrativamente bem estruturado, dividido em províncias, confiadas a sobas vassalos, próspero e totalmente independente. Diogo implantou o Padrão de S. Jorge (Abril de 1483) situando-o na margem esquerda do citado grande curso fluvial. Por contactos estabelecidos com os povos ribeirinhos, souberam os Portugueses da existência, no interior, dum poderoso rei. Aquele capitão Português enviou ao potentado Negro mensageiros e presentes. Mas não se deteve no local, prosseguiu viagem para sul. Só decorridas 15 luas arribou novamente ao Congo, trazendo consigo 4 Negros que havia pegado à chegada, os quais enviou ao rei, vestidos já à portuguesa, bem alimentados, falando a língua portuguesa. Foram esses os primeiros embaixadores da civilização lusitana. Ficou o monarca encantado, ao ouvir da boca dos seus súbditos já meio ocidentalizados notícias precisas a respeito dos estrangeiros. E assim se encetaram amistosas relações entre portugueses e congoleses.... Foi em 1575, quase um século depois de Diogo Cão ter assinalado com os seus padrões toda a costa de Angola (1482 - 1486), do Zaire ao Cabo Negro, que Paulo Dias de Novais, Primeiro Governador e Capitão-Mor das conquistas do Reino de Angola desembarcou na Ilha de Luanda com cerca de 700 homens, 350 dos quais homens de armas, padres, mercadores e servidores, estabelecendo o primeiro núcleo de portugueses. Aqui entraram, além de alguns portugueses, muita gente que nela vivia, toda, no dizer dos cronistas, «muito bem disposta ao cristianismo». Um ano depois, reconhecendo não ser «o lugar acomodado para a capital da conquistas», funda em terra firme a vila de S. Paulo de

15.Loanda, e logo a igreja de S. Sebastião, no morro de S. Miguel, (Museu das Forças Armadas). À sua volta foi crescendo a Vila e irradiando depois, tomou foros de cidade, em 1605, no governo de Manuel Cerveira Pereira. Entretanto, estenderam-se as conquistas ao interior de Luanda e fundaram-se os presídios de Massangano (1583), Muxima (1599) e Cambambe (1604), de que restos ainda hoje se encontram ao longo do rio Kwanza. A Câmara de Luanda deve ter início ao estabelecer-se em terra firme a Vila. Não há documentos precisos da sua fundação. Mas sabe-se que Paulo Dias de Novais logo «criou os cargos e ofícios necessários ao governo da nova Colónia». Nalgumas descrições assinala-se a sua presença em actos solenes, desde 1595, e em 1611 é já a Câmara que, com o Bispo e Nobreza, elege o novo governador Bento Banha Cardoso, por morte repentina do antecessor. Por várias vezes teve o Senado da Câmara intervenção directa na governação da colónia, de 1667 a 1669, e de 1702 a 1704, foi-lhe o governo confiado e confirmado por cartas régias. No entanto, a colaboração que sempre dispensou aos governadores, quer em auxílios materiais quer morais, fazem salientar, como já foi publicado, a sua «útil e leal acção» na defesa da colónia e a favor da colonização, se atentarmos sobre tudo no contraste do procedimento de outras «câmaras ultramarinas» nessas épocas, e de que as descrições de Lopes de Lima nos dão conta. As primeiras perturbações causadas pelas investidas holandesas tiveram lugar em 1624.Em 1633 armam-se em Luanda 5 navios de guerra para combater as suas naus que na costa de Benguela ameaçavam o comércio. O sossego não volta até ao aparecimento, na baía, da Grande Armada, do comando do Almirante Pedro Houtebeen, no dia 24 de Agosto de 1641 em que o governo, alarmado, abandonou precipitadamente a cidade a caminho do Bengo, para se acolherer ao presídio e vila de Massangano.

16.Seguem-se sete anos em que os portugueses em Angola, escreveram as mais dolorosas páginas da sua história.Salvador Correia de Sá e Benevides, que ao serviço de Portugal vinha no Brasil governando, depois de feitos militantes, em terra e mar, é encarregado pelo rei D. João IV, ao regressar de uma das viagens comerciais que, por sua determinação e protegia, da restauração de Angola, caída em poder dos holandeses. Acompanhado de 1.200 homens de armas e de uma frota de 12 navios, faz se ao mar em 12 de Maio de 1648, fundeando em 12 de Agosto na baia de Quicombo. A inclemência do mar fez perder a nau Almirante e os 300 homens que continha, levantando-se (Cardonega) «uma tormenta de marés tão fortes, coisa não vista de outros navegantes naquela paragem». Mas, mesmo sem ela e sem esses homens, Salvador Correia de Sá chega à baía de Luanda, ante o pasmo da gente holandesa, que pensa tratar-se apenas de simples guarda avançada de grande esquadra. Apressadamente se refugiam os de terra na Fortaleza de S. Miguel. Mas o desembarque faz-se na manhã seguinte, 15 de Agosto, e em assalto bem conduzido, rendem-se os holandeses dominados por menos de metade de homens portugueses. Por alvarás régios de 28 de Setembro e 9 de Dezembro de 1662, aos oficiais da Câmara da cidade de Luanda e seus moradores foram concedidos os mesmos privilégios dos cidadãos da cidade do Porto, em consideração aos serviços prestados à Restauração de Angola. O seu brasão de armas fica para sempre registado nos arquivos da Torre do Tombo, entre os das cidades e vilas portuguesas. Como que um novo período começa; pretende-se apagar da memória o pesadelo do condomínio; a cidade muda o seu nome passando a ser S. Paulo de Assunção de Luanda, por ser aquele o dia da Assunção da Virgem que no seu brasão passa a figurar, (15 de Agosto). Antes da invasão holandesa e segundo a descrição de Dapper e a sua gravura que acompanha a edição francesa da sua Obra (1686),

17.na cidade existiam já as fortalezas de S. Miguel ( 1638 ), no mesmo local em que hoje se encontra, do Penedo, Santa Cruz e algumas outras desaparecidas, várias igrejas (seis), conventos dos Jesuítas, dos Terceiros Franciscanos, Hospital da Misericórdia e casario diverso principalmente na baixa da cidade. Mas a cidade, depois de reconquistada, teve de ser construída de novo ( Cardonega ), restauradas as casas dos habitantes sem tectos, sem portas, as igrejas desbaratadas, mostrando por toda parte a ruína; concederam-se «chãos de sesmaria» aos moradores para novas casas e arimos (Lopes de Lima). Os primeiros missionários nessas áreas foram os navegadores e mercadores ainda ligados à ideia das Cruzadas. Não raros esses navegadores utilizaram-se do recurso de levar nativos para Portugal para prestarem informações e serem catequizados. De volta às suas terras, esses homens podiam servir como intérpretes, auxiliando os portugueses na sua empresa. Mas, para J. F. Marques, também, só muito escassamente foi bem- sucedida a evangelização na Guiné, Senegal e Benim, por causa da influência muçulmana. Só a partir das duas últimas décadas do século XV a cristianização da África negra conheceu medidas e resultados consistentes. Com D. João II e D. Manuel I, o esforço apostólico da Coroa portuguesa passou dos actos isolados à adopção de uma política assentada, em traços gerais, na conversão dos reis gentios e na formação de um clero nativo (Riley, 1998:162). Assim, ao lado das feitorias e dos interesses mercantis, seguiram a construção de igrejas e capelas e a educação na fé católica de crianças e jovens, transformando-os, posteriormente, em missionários em suas terras de origem. No Senegal, chegou-se a construir o convento de S. Vicente do Cabo, destinado à formação de clero negro. A terceira zona identificada por J. F. Marques abrangia o reino do Congo e a ponta

18.meridional costeira da África. A chegada ao Reino do Congo, depois de meio século de investidas para o reconhecimento da costa ocidental da África e do golfo da Guiné, revelou aos portugueses uma área na qual não havia a influência islâmica. D. Henrique foi uma das principais figuras que Roma admirou na embaixada enviada ao Papa em 1514 pelo Rei D. Manuel I de Portugal, sob a chefia do descobridor Tristão da Cunha. Quatro anos mais tarde, em 3 de Maio de 1518, foi D. Henrique sagrado Bispo de Útica, apesar da oposição que os Cardeais haviam manifestado. A sagração de D. Henrique representou uma vitória para a política de El-Rei D. Manuel, 'O Venturoso', porque a Europa não compreendia que um negro pudesse ser elevado à plenitude do sacerdócio, ao episcopado. Com hipocrisia ou sem ela, facto consumado é o que importa, foi Portugal o primeiro País a atingir a plena fraternidade entre as raças humanas. Infelizmente D. Henrique faleceu antes de ser elevado a Bispo do Congo com a criação da Diocese do mesmo nome. Durante esse período, erigiu-se um certo número de sedes episcopais, e uma das primícias deste empenho missionário, foi a sagração de D. Henrique — filho de D. Afonso I, rei do Congo — como bispo titular de Utica, feita em Roma por Leão X, no ano de 1518. D. Henrique tornou-se assim o primeiro bispo autóctone da África negra.

http://www.slideshare.net/crie_historia ... a-do-congo

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#9 Mensagem por Tricampeão » 17 Mar 2011, 23:35

Parabéns pelo trabalho de pesquisa, Pastor.
Incrível que nas nossas escolas não se contem essas histórias.
Aliás, em Cuba, uma dos temas das discussões recentes sobre educação é justamente esse: uma forma disfarçada de racismo.

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#10 Mensagem por O Pastor » 18 Mar 2011, 09:05

Tricampeão escreveu:Parabéns pelo trabalho de pesquisa, Pastor.
Incrível que nas nossas escolas não se contem essas histórias.
Aliás, em Cuba, uma dos temas das discussões recentes sobre educação é justamente esse: uma forma disfarçada de racismo.

A questão é que nas nossas escolas não se conta a história da África como se deve. E é importante ser contada porque a presença africana, tanto na nossa população, quanto na nossa cultura é essencial na nossa identidade.

Geralmente ela mostra os africanos como indolentes, preguiçosos e merecidamente feitos de escravos. E acaba que muita, mas muita gente acredita nisso. Por isso, existe a necessidade de ser um pouco didático aqui :lol: :lol:,

Sobre a questão da escravidão, precisa ficar claro de uma vez por todas é que ela sempre existiu no continente, mesmo antes da chegada dos europeus. Era na verdade, consequencia das guerras locais e os próprios africanos a viam com naturalidade. O que não existia era uma indústria da escravidão, que passou a existir sobretudo a partir do século XVII com a aceleração da economia nas colônias americanas. A grande dificuldade que muita gente tem em enxergar isso, é que existe introjetada na metalidade das pessoas, quando se fala de africanos negros, que todos são iguais - falam o mesmo idioma e compartilham dos mesmos costumes. Obviamente isto é um erro absurdo, é o mesmo que dizer que um espanhol é a mesma coisa que um russo ou um sérvio, só porque são europeus. E é a mesma coisa na África, há centenas de povos com línguas, costumes, biotipo e cultura totalmente distintos. E portanto, não havia ainda naqueles povos dominadores a idéia de que o comércio de escravos com os europeus fosse uma coisa ruim, porque na verdade eles estavam escravizando junto com os europeus, povos que eram seus rivais históricos. Não havia ainda uma idéia de AFRICANIDADE, de união, de percepção de semelhança que muitos imaginam que deveria haver. E se for pensar, não faz sentido em se pensar nisso, é o mesmo que imaginar por exemplo, que Inglaterra e França do século XIII tivessem que ser um só país apenas por serem europeus. Foi a partir do século XVIII que os africanos começam a perceber que ficaram pra trás e que a indústria da escravidão se voltaria contra eles prórpios, mesmo os que não eram escravisados, porque causaria sobretudo na Europa e nas Américas, uma identidade. A identidade de que ela tinha cor e principalmente causaria um declinio populacional que prejudicaria o desenvolvimento do continente, porque a demanda das colonias americanas era infinita.

Em todo caso, fica claro nos texto a diversidade de povos que habitavam a região e sobretudo, o quão avançado eles eram. Os europeus, quando da sua chegada, não tinham aparato tecnologico o suficiente para dominar a região, como fizeram com as Américas, por exemplo. Eles tiveram de fazer um intrincado sistema de aliança com os reinos locais para dar vazão aos tratados de comércio. Foi somente a partir do final do século XVII e sobretudo no século XVIII com o enriquecimento provindo da América, que os europeus deram o grande salto tecnologico, que permitiram finalemnte dominar a regiãop sem a necessidade de alianças. Mas mesmo assim ela seguiam.

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#11 Mensagem por Tricampeão » 18 Mar 2011, 22:32

O Pastor escreveu:A grande dificuldade que muita gente tem em enxergar isso, é que existe introjetada na metalidade das pessoas, quando se fala de africanos negros, que todos são iguais - falam o mesmo idioma e compartilham dos mesmos costumes. Obviamente isto é um erro absurdo, é o mesmo que dizer que um espanhol é a mesma coisa que um russo ou um sérvio, só porque são europeus. E é a mesma coisa na África, há centenas de povos com línguas, costumes, biotipo e cultura totalmente distintos. E portanto, não havia ainda naqueles povos dominadores a idéia de que o comércio de escravos com os europeus fosse uma coisa ruim, porque na verdade eles estavam escravizando junto com os europeus, povos que eram seus rivais históricos. Não havia ainda uma idéia de AFRICANIDADE, de união, de percepção de semelhança que muitos imaginam que deveria haver. E se for pensar, não faz sentido em se pensar nisso, é o mesmo que imaginar por exemplo, que Inglaterra e França do século XIII tivessem que ser um só país apenas por serem europeus.
Muito bem analisado. A princípio, os africanos não tinham por que achar que precisavam se unir para lutar contra os europeus. Foi só a opressão destes que provocou, depois de muitos anos, esse união.
É o mesmo que aconteceu na América Latina. Durante muitos anos, a população se identificou muito mais com os modelos europeus do que com os locais, virando as costas para os vizinhos. Só recentemente entendeu que era preciso que nos uníssemos todos para enfrentar o inimigo comum. Felizmente, hoje, apenas os analfabetos funcionais pagam pau pros gringos filhos da puta.
Também é o mesmo que se processa com relação à união dos trabalhadores contra a opressão de classe. A princípio, os trabalhadores admiram os modelos burgueses e vêm os colegas como competidores, como desejam os dominadores. Apenas com o tempo a consciência amadurece e as lantejoulas fajutas da ideologia vigente aparecem como verdadeiramente são: meros instrumentos de dominação. É o que o Bruxo de Trevis chamava de passagem do estado de classe em si (an sich) a classe para si (für sich), como muito bem nos explica o Manual do Bolchevista Rural Amador, do mago Josemar Fagundes.

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#12 Mensagem por O Pastor » 21 Mar 2011, 13:47

Antes de avançarmos em temas mais modernos como Che Guevara no Congo, Mobutu, Ruanda, Zimbabwe, Apartheid, e etc, vou tentar significar o que foi o "Tratado de Berlim" e como ele foi decisivo na grande tragédia que flagelou o continente no século XX.

Como dito no começo deste tópico, poucos gringos foram mais filhos-da-puta do que Leopoldo II, da Bélgica. Além de criar uma ONG de fachada pra enganar os incautos, ele, pessoa física, se tornou dono de 2.343.939,27 km² de terras sem praticamente gastar nem um centavo, se tornando de uma hora pra outra no maior fazendeiro da história da humanidade. Nas suas fazendas, além de trabalho escravo, também prevaleciam exploração de todo tipo e massacres contra a humanidade. Tudo era permitido, desde que os bolsos de Leopoldo estivessem sempre abarrotados. A experiência belga foi tão cruel no Congo, que os seus próprios irmãos europeus a condenaram, do tipo: basta, decaptar membros das pessoas, assim também é demais.

Mas particularmente no limiar do século XX, final do século XIX, nada simbolizou mais o desastre africano do que o Congresso de Berlim, 1884/1885. A chamada "partilha da África" pode bem ser considerada o simbolo de uma era, o auge do imperialismo europeu sobre o mundo. Depois daquilo, a ganância e a beligerança, trariam uma maldição tão grande sobre os donos do mundo, que eles nunca mais seriam os mesmos. Uma das consequencias do Congersso de Berlim foi sem dúvida, abrir uma das portas para a I Guerra Mundial que só terminaria de fato em 1945.

O Congresso de Berlim vai de encontro a uma série de idéias que estavam em voga naquela virada de século. Antes é preciso entender o que foi o final do século XIX para os países europeus e o que aquela era simbolizou.

NO final do século XIX, num processo de conquistas científicas que vinham desde a Primeira Revolução Industrial, a Europa finalmente havia conquistado o Mundo. Acredita-se que o ritmo das descobertas cientificas e o tamanho do comércio relativo, alcançados no final daquele século nunca mais foi igualado em outro momento da história da humanidade. A Europa estava tecnologicamente e administrativamente a frente de todos os demais povos, fossem de civilizações antigas como as dos indianos e chineses, ou novas como dos latino-americanos e evidentemente, não era diferente em relação aos povos africanos. Mesmo os históricos inimigos muçulmanos, àquela altura, estavam muito atrasados e empobrecidos. O Império Otomano não era nem sombra do que foi, comandado por sultões fracos e sem expressão. Já os europeus (leia-se ingleses, franceses e alemães), através do poder conquistado pela superioridade de suas armas, garantiam uma capacidade nunca antes vista de dominar outros povos e melhorar o nível de bem-estar em suas próprias metrópoles.

Os antigos reinos subsaarianos se atrasaram de tal maneira, que muitos foram simplesmente puverizados e subjulgados aos interesses europeus, perdendo progressivamente sua independência e o pior, sua importância e estima. O Congresso de Berlim apenas formalizou, com precisão germânica aquilo que todos já conheciam. A questão era saber quem, mandaria em quem. Otto von Bismarck, talvez o maior estadista alemão de todos os tempos, percebeu que havia terra demais e pra todo mundo, e não era preciso brigar. Obviamente, ele obteve uma grande vitória, mas uma vitória relativa como será visto adiante, porque pra quem é ganancioso, o "muito" nunca é o bastante. E o Congresso de Berlim se transformaria na maior maldição alemã, pois seria um dos fundamentos que a arrastaria pra I Guerra Mundial.

Após os primeiros contatos no século XV/XVI, os europeus foram pouco a pouco fazendo seus interesses prevalecerem sobre os interesses africanos. O principal interesse no continente sempre foi assegurar a mão-de-obra escrava abundante para as colônias nas Américas, no chamado comércio trinagular. O navio saia da Europa cheio de mercadorias manufaturadas, descarregava-as na África e saia dali, cheio de escravos que eram descarregados nas Américas que por sua vez lotavam os navios de produtos da região como pau-brasil, cana-de-açucar, ouro, prata, tabaco, etc. Este processo garantiu a riqueza dos países europeus e durou até o inciio do século XIX, quando os ingleses perceberam que ganhariam muito mais se pudesse vender seus produtos industrializados aos africanos, ao invés de escravizá-los. Também, se os escravos nas Américas fossem libertos, significaria mais mercado para seus produtos. A partir disso e talvez um pouco de causas humanitárias, iniciou-se o processo de abolição da escravatura (nota-se que o Brasil foi a última nação do mundo ocidental a extinguir a escravidão). Iniciava-se a era da Revolução Industrial e com a extinção gradual da escravidão, muitos dos reinos africanos que dependiam do comércio triangular e já vinham de longo peroido de decadência, simplesmente se extinguiram de vez, junto com o antigo regime. Os únicos mercados que persistiam eram os árabes da costa oriental, notadamente o lendário mercado de Zanzibar.

Associadas as inúmeras descobertas científicas, o final do século XIX também viu nascer uma série de teorias controversas que tentavam explicar a origem da vida e dos seres e porque eles eram diferentes entre si. Entre elas haviam a "Origem das Espécies" de Charles Darwin, "The Descent Man" de Francis Galton e mesmo as idéias economicas de Thomas Malthus. Da distorção das idéias de Darwin, para formação do "darwinismo social" foi apenas um pulo, que procurou jsutificar, entre outras coisas, o porque da dominação européia sobre outros povos, considerados mais fracos. E se eles eram fracos, era legítima a partilha de suas terras para um bem maior, o bem de prover os mais fortes.

E além de tudo isso, vinha o crescente nacionalismo entre as nações européias. A Alemanha florescia sob a bandeira prussiana e sua ascenção a colocava em choque com os interesses de França e Inglaterra. A Alemanha sabia que precisava de garantir um mercado ultramarino tão poderoso quanto o de seus rivais, por isso, mesmo atrasado, percebeu na África uma grande oportunidade de alcançar estes objetivos. O choque de interesses, que inclui a África, levaria essas nações a I Guerra Mundial.

O Congresso de Berlim realizado entre 19 de Novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885 teve como objetivo organizar, na forma de regras, a ocupação de África pelas potências coloniais e resultou numa divisão que não respeitou, nem a história, nem as relações étnicas e mesmo familiares dos povos do Continente.

No congresso, que foi proposto por Portugal e organizado pelo Chanceler Otto von Bismarck da Alemanha — país anfitrião, que não possuía mais colônias na África, mas tinha esse desejo e viu-o satisfeito, passando a administrar o “Sudoeste Africano” (atual Namíbia) e o Tanganhica — participaram ainda a Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos da América, Suécia, Áustria-Hungria, Império Otomano.

Os Estados Unidos possuíam uma colônia na África; a Libéria, só que muito tarde, mas eram uma potência em ascensão e tinham passado recentemente por uma guerra civil (1861-1865) relacionada com a abolição da escravatura naquele país; a Grã-Bretanha tinha-a abolido no seu império em 1834. A Turquia também não possuía colónias em África, mas era o centro do Império Otomano, com interesses no norte de África. Os restantes países europeus que não foram “contemplados” na partilha de África, também eram potências comerciais ou industriais, com interesses indirectos naquele continente.

Num momento desta conferência, Portugal apresentou um projecto, o famoso Mapa cor-de-rosa, que consistia em ligar Angola a Moçambique para haver uma comunicação entre as duas colônias, facilitando o comércio e o transporte de mercadorias. Sucedeu que, apesar de todos concordarem com o projecto, a Inglaterra, à margem do Tratado de Windsor, surpreendeu com a negação face ao projecto e fez um ultimato, conhecido como Ultimato britânico de 1890, ameaçando guerra se Portugal não acabasse com o projecto. Portugal, com medo de uma crise, não criou guerra com Inglaterra e todo o projecto foi-se abaixo.

Como resultado desta conferência, a Grã-Bretanha passou a administrar toda a África Austral, com excepção das colónias portuguesas de Angola e Moçambique e o Sudoeste Africano, toda a África Oriental, com excepção do Tanganica e partilhou a costa ocidental e o norte com a França, a Espanha e Portugal (Guiné-Bissau e Cabo Verde); o Congo – que estava no centro da disputa, o próprio nome da Conferência em alemão é “Conferência do Congo” – continuou como “propriedade” da Associação Internacional do Congo, cujo principal accionista era o rei Leopoldo II da Bélgica; este país passou ainda a administrar os pequenos reinos das montanhas a leste, o Ruanda e o Burundi.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Berlim

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#13 Mensagem por O Pastor » 22 Mar 2011, 11:27

Heranças artísticas da região: http://www.metmuseum.org/toah/hd/luba/hd_luba.htm - The Luba and Lunda Empires

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- Escultura da mulher de Luba

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- Vasos de bronze

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- Máscara de LUba

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#14 Mensagem por Tricampeão » 22 Mar 2011, 23:03

Que Império de Luba é esse?

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#15 Mensagem por O Pastor » 28 Mar 2011, 10:04

Tricampeão escreveu:Que Império de Luba é esse?
O Império de Luba se localizava no interior do que é hoje a Rep. Dem. do Congo e fazia fronteira com o Reindo de Lunda que se localizava onde hoje é Angola. Os reinos se fundiram no inicio do século XVII e foram extintos em 1889.

[ external image ]

Initially the core of what would become the Lunda Empire was a simple village called a gaand in the KiLunda language. It was ruled over by a king called the Mwaanta Gaand or Mwaantaangaand. One of these rulers, Ilunga Tshibinda, came from the kingdom of Luba where his brother ruled and married a princess from an area to the south. Their son became the first paramount ruler of the Luunda creating the title of Mwanta Yaav .

The Lunda Kingdom controlled some 150,000 sq. km by 1680. The state doubled in size to around 300,000 sq. km at its height in the nineteenth century. The Mwata Yamvos of Lunda became powerful militarily from their base of 175,000 inhabitants. Through marriage with descendants of the Luba kings, they gained political ties. The Lunda people were able to settle and colonialize other areas and tribes, thus extending their empire through southwest Katanga into Angola and north-western Zambia, and eastwards across Katanga into what is now the Luapula Province of Zambia. The kingdom became a confederation of a number of chieftainships that enjoyed a degree of local autonomy , with Mwata Yamvo as paramount ruler and a ruling council to assist with administration.

http://www.globalarchitectsguide.com/li ... Empire.php
http://en.wikipedia.org/wiki/Kingdom_of_Luba

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#16 Mensagem por Compson » 29 Mar 2011, 22:49

O Pastor escreveu:
Os Estados Unidos possuíam uma colônia na África; a Libéria, só que muito tarde, mas eram uma potência em ascensão e tinham passado recentemente por uma guerra civil (1861-1865) relacionada com a abolição da escravatura naquele país; a Grã-Bretanha tinha-a abolido no seu império em 1834.
Isso aqui me levou a um negócio meio bizarro, que tem um pouco a ver com o objetivo deste tópico de mostrar como as representações sobre a África na cultura ocidental são chapadas.

A Libéria teve uma origem sui generis, bem à americana. Uma espécie de ONG, fundada por brancos evidentemente, a American Colonization Society, queria mandar os negros de volta para a África, alegando que eles nunca poderiam se integrar à sociedade americana e que isso seria o melhor para eles. Ao que parece, os caras compraram e anexaram áreas do que hoje é a Libéria e começaram a mandar negros para lá, sempre com alguns brancos para liderar, é claro. Além do preconceito sobre a impossibilidade de integração, tem outro relacionado a achar que negro = África, como se bastasse devolvê-los a qualquer lugar do continente, sem se preocupar com sua origem, cultura, nacionalidade...

Também parece haver um certo projeto imperalista dos americanos, que acabou sendo abortado, talvez por causa da vitória do Norte na Guerra da Secessão e por eles terem descoberto que no México seria muito mais fácil.
In 1822, the American Colonization Society (A.C.S.), working to "repatriate" black Americans to greater freedom in Africa, established Liberia[12] as a place to send people who were formerly enslaved.[5][13] This movement of black people by the A.C.S. had broad support nationwide among white people in the United States, including politicians such as Henry Clay and James Monroe. They believed this was preferable to emancipation of slaves in the United States. Clay said, because of "unconquerable prejudice resulting from their color, they never could amalgamate with the free whites of this country. It was desirable, therefore, as it respected them, and the residue of the population of the country, to drain them off."[14] The institution of slavery in the U.S. had grown, reaching almost four million slaves by the mid 19th century.[15] Some free African Americans chose to emigrate to Liberia.[16] The immigrants became known as Americo-Liberians, and about 5% of present-day Liberians trace their ancestry to them. On July 26, 1847, Americo-Liberian settlers declared the independence of the Republic of Liberia.[17][18]
Jehudi Ashmun, an early leader of the ACS colony, envisioned an American empire in Africa. During 1825 and 1826, Ashmun took steps to lease, annex, or buy tribal lands along the coast and along major rivers leading inland. Like his predecessor Lt. Robert Stockton, who in 1821 established the site for Monrovia by "persuading" a local chief referred to as "King Peter" to sell Cape Montserado (or Mesurado) by pointing a pistol at his head, Ashmun was prepared to use force to extend the colony's territory. His aggressive actions quickly increased Liberia's power over its neighbors. In a treaty of May 1825, King Peter and other native kings agreed to sell land to Ashmun in return for 500 bars of tobacco, three barrels of rum, five casks of powder, five umbrellas, ten iron posts, and ten pairs of shoes, among other items. (The treaty is included in papers of the ACS in the U.S. Library of Congress.)
Com um PIB per capita de pouco mais de 200 dólares, o país aparece sempre nos últimos lugares dos rankings mundias. A expectativa de vida geral é de pouco mais de 41 anos, a mortalidade infantil é superior a 130 por mil e a subnutrição chega a 38% da população.

É, os gringos não foderam a Áfria em extensão territorial, mas, no pequeno espaço e curto período em que atuaram, o fizeram com grande eficiência.

Por outro lado, a Libéria teve George Weah, que foi melhor que qualquer jogador americano, ever!

http://en.wikipedia.org/wiki/American_C ... on_Society
http://en.wikipedia.org/wiki/Liberia

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#17 Mensagem por O Pastor » 28 Abr 2011, 20:54

Bela contribuição ao tópico, do camarada Compson.

A Libéria é formada por mais de 16 etnias, mais os descendentes de ex-escravos estadunidenses. Esses ex-escravos acabaram formanado a elite economica e intelectual do país, entrando em choque com os outros povos já existentes. A capital se chama Monrovia, por causa do presidente americano James Monroe. Este país tem uma das mais antigas universidades da África, a Universidade da Libéria fundada em 1862.

O caminho político seguido pelos liberianos foi o da democracia, aos moldes que existia nos EUA. Foi o primeiro país da África a se tornar independente em 1847.

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#18 Mensagem por O Pastor » 28 Abr 2011, 21:37

Vou colocar agora um tema mais atual e saber o que os senhores pensam a respeito.

O tema atual é o Zimbabwe. País da região sul, faz fronteira com a África do Sul e ficou famoso no Brasil por causa do amistoso que a Seleção fez por lá, antes da Copa.

Acontece que o Zimbabwe é uma ditadura que já dura mais de 25 anos. Até aí nada demais, ainda mais se tratando de um país africano. Mas há um problema.

Historicamente, o Zimbabwe sofreu uma importante colonização britânica, capitaneada pelo explorador Cecil Rhodes, que deu inclusive o nome ocidentalizado ao país, Rodésia. Esses britânicos trataram logo de ocupar as melhores terras e dominar a política. Este processo durou até 1980, quando a independencia do país foi reconhecida internacionalmente e deu-se as primeiras eleções livres para todos os cidadãos, não apenas os brancos.

Alguns anos depois, Robert Mugabe já primeiro-ministro socialista, inicia uma perseguição à influência dos brancos na política e economia no país. Primeiro, vai retirando os brancos da política e depois, pouco a pouco, começa a expulsar os fazendeiros de suas terras com a promessa de redistribuí-las a fazendeiros negros. Na verdade, inicia-se gradualmente um estado de perseguição aos brancos, onde a polícia vai virando as costas aos saques e crimes cometidos contra essa população.

O interessante deste caso é que Mugabe é um ditador com os defeitos e virtudes de todos os ditadores. Seu governo vem sendo desastroso nos ultimos anos, em especial, levando o país a experimentar uma das maiores inflações do mundo. Com a política de expulsar os fazendeiros brancos, elem fez com que a agricultura praticamente parasse, pois os novos senhoriso das terras, se quer são agricultores, muitos são de fato, bandidos. Então, fica um caso curioso de um reforma agrária que era necessária, pois a minoria branca detinha a maioria das terras cultiváveis. Mas acontece que ela foi feita de maneira desastrosa.

É a idéia de vc querer dar o troco nos europeus, pelo que eles fizeram com os negros ao longo dos séculos. Mas será que é justo?? Expulsar familias que ocupam aquela terra a gerações?? Mas não foi o mesmo que os brancos fizeram com os negros quando Cecil Rhodes ali chegou?? O Zimbabwe seria um caso paradoxal de nossa era, se a população negra estivesse de fato ganhando com essa inversão de poder. Mas não está. Mugabe é corrupto e de fato, ninguém está ganhando com suas políticas.
Robert Mugabe closes in on last white farmers

FOR Ray Finaughty, the dream of farming Africa’s rich soil has ended as the campaign to drive Zimbabwe’s white farmers from their land enters its final stage.

One by one the last white farmers are being beaten into submission. Four more had their farms seized by marauding gangs last week.

“They do not want us whites,” one farmer said.

Finaughty, 43, will never forget how his world came crashing down. One moment at his Manda farm there was stillness. Then came a burst of noise and confusion. A screaming, drunken mob hammered at the gates.

It was the climax of a two-year eviction campaign against him. He had fought step by step in the courts. Their judgments in his favour were all ignored. With no respect for the rule of law in Zimbabwe, he finally lost the battle.

Armed with spears and sticks, a mob threatened him and his wife, Loraine, by driving a tractor against the gate of their home. “We’re going to kill you,” they said. The family were given 10 minutes to pack their life’s belongings.

It was not the first attack that Finaughty had weathered. In one savage beating his attackers suggested breaking his legs as he lay injured in a field. “Leave him. He’s dead,” he heard one of them say.

Finaughty crawled away and saved himself. He had four broken ribs and concussion.

Another time, acting in self-defence, he had to shoot dead an armed robber who broke into his farmhouse. The police were sympathetic and took no action. But they treated the seizure of his farm differently.

“This is political. It’s a hot potato. We can’t get involved,” said Vengisai, the chief inspector, when Finaughty contacted his office.

So the Finaughty family drove away from the farm they loved. Soon, they believe, much of the land they had cultivated will be derelict.

Behind them they have left 90 loyal workers and their families, some 400 people in all. They have been forced to abandon 6,000 chickens, 190 head of cattle and a valuable tobacco crop, all of which could be lost.

“You have to take it on the chin and walk away,” Finaughty said in Harare last week. “That’s the bottom line.”

Finaughty was born in Zimbabwe and is proud that his great-grandfather was one of its first white settlers.

He bought Manda, east of Harare, in 1994 and made it into a successful enterprise. He did everything he could to comply with President Robert Mugabe’s chaotic land reform programme. In 2001 he accepted giving up three-quarters of Manda, which was sub-divided into 86 plots for black Zimbabweans with whom he peacefully coexisted.

“I don’t play politics. I believe we whites are in Africa as visitors,” he said.

Afterwards he kept his head down and stayed on what remained of his farm, more than 1,600 acres, which have now been violently taken away from him.

The culprit is Winnie Mushipe, a top official of the Reserve Bank of Zimbabwe. But behind her is believed to be Didymus Mutasa, one of Mugabe’s old guard.

Two years ago Mushipe was controversially allocated the farm by Mutasa, then the lands minister. A former head of the state intelligence service, Mutasa has been a notorious supporter of Mugabe’s campaign to run the rest of the whites off their farms.

Mushipe had no legal right to seize the farm. She had followed no legal procedures.

The Commercial Farmers Union (CFU) accuses Mutasa of orchestrating some of the worst of the latest farm invasions. He owns more than 10 farms in the area.

“An evil bastard,” is how one evicted farmer described him after Gavin Woest, another white farmer, was allegedly threatened with death and told he had just minutes to leave his farm, which Mutasa’s wife coveted.

Mutasa was unrepentant. “These white people create stories,” he said. “I have not gone to America or Britain for land. I get my land in Zimbabwe, which is my country. What’s wrong with that?”

Since 2000 some 4,200 white farmers have been driven from their land and at least 18 have been murdered; Don Stewart, the last to die, was strangled and burnt to death in his farmhouse in December.

Of the 300 still farming, more than half have been served with official eviction notices. In another blow, Zimbabwe’s High Court last week rejected a South African regional court ruling, which the government was meant to follow, that the land seizures were racist and illegal and white farmers should be allowed to return to their land.

“Enforcement of that judgment would be fundamentally contrary to the public policy of this country,” said the judge.

“Without a doubt the agenda has always been to get rid of us whites. They do not want us,” responded Deon Theron, the CFU president.

He had hoped that the unity government would oppose the new wave of seizures. Since becoming prime minister in the unity government, Morgan Tsvangirai, leader of the Movement for Democratic Change (MDC) has dismissed the seizures as “isolated incidents”.

“They [the MDC] cannot be seen to be supporting white farmers. They are still caught up with that, instead of saying what is right is right and wrong is wrong,” Theron said.

“This is happening at a time when we need investors to revive the economy. But no investors want to put their money in a country that has no respect for property rights or the rule of law.”

As he spoke, the telephone rang in his office with news of another invasion, this one of a farm belonging to Rudolf Du Toit, a neighbour of Finaughty.

A drunken mob was scaling his security fence. Du Toit, 69, fired shots in the air to keep them out. They told him that he was leaving “dead or alive”.

In the end he left alive, with just a suitcase of clothes.

“By the next election there will not be one white farmer on the land,” said Thomas Beattie, 67, a veteran farmer who was driven off his farm in November, even though he was once a Zanu-PF supporter.

“It is nothing less than ethnic cleansing.”

Photos expose regime’s diamond grab

This is the first picture proving that Robert Mugabe’s military still controls a fabulously valuable diamond field, despite the government giving an international undertaking that the occupation has ended.

The picture and others show a camp for soldiers and an airfield under construction at Marange in the east of the country. The 6,500ft runway is for military transport planes and appears to have a fortified control tower.

“It is clearly a military airfield and obviously not for diamonds or for bringing in mining equipment,” said one defence expert. “It seems to be a base camp to make the diamond field impregnable.”

The military massacred more than 200 people when it took over Marange in 2008 as its riches became apparent. The government had seized the field from a British-registered mining company, African Consolidated Resources, which had discovered the diamonds.

Last year, after documenting “unacceptable violence against civilians”, including forced labour, torture and beatings by soldiers, the Kimberley Process — the international body that regulates trade in rough diamonds to ensure they do not fund conflict — came under pressure to ban all Zimbabwe diamond sales.

It relented after an assurance from Obert Mpofu, the mines minister, that soldiers and police had withdrawn and Zimbabwe would comply with regulations to exploit the field responsibly.

The pictures, taken a few days ago, show Zimbabwe to be in non-compliance and are likely to revive calls for a ban.

The Marange diamonds, worth tens of billions of dollars, are Zimbabwe’s most valuable asset. If exploited honestly they could transform its broken economy.

http://www.timesonline.co.uk/tol/news/w ... 009620.ece
[ external image ]
Fazendeiros brancos sofrem no Zimbabwe.

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#19 Mensagem por Tricampeão » 28 Abr 2011, 23:24

Porra, Pastor, você abandona o Congo antes de chegar na narrativa do que os gringos filhos da puta fizeram lá.
Fala pelo menos do assassinato do Lumumba.

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#20 Mensagem por O Pastor » 29 Abr 2011, 20:13

Tricampeão escreveu:Porra, Pastor, você abandona o Congo antes de chegar na narrativa do que os gringos filhos da puta fizeram lá.
Fala pelo menos do assassinato do Lumumba.
:lol: :lol:

Esse Tricampeão é louquinho...

Tranquilo, vou retomar o Congo. Não esqueci.

Mas há muito para dizer sobre a África, há tanta, tanta coisa interessante acontecendo, que me perco.

Depois do Congresso de Berlim, farei uma retomada do Congo a partir da Primeira Guerra Mundial e os seus efeitos e como as discussões de paz do Tratado de Versalhes trataram a questão africana. Muito interessante mesmo...não percam!! :mrgreen:

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#21 Mensagem por O Pastor » 23 Mai 2011, 21:32

Retomando os trabalhos, vamos falar sobre o que significou a Primeira Grande Guerra para a África e como ela foi decisivamente afetada. Anteriormente, vimos como as peripécias do rei Leopoldo II, da Bélgica, mais o "Congresso de Berlim" ajudariam a moldar o mapa artificial do continente africano. E como essas fronteiras permanecem vivas até hoje. Os europeus na ansia de fazer valer seus poderes, alimentaram rivalidades, criaram uma série de ressentimentos que ainda hoje são a causa da maioria das guerras civis e fome, que vemos acontecer.

Em 1914 a Europa vivia seu apogeu de dominação sobre o mundo. Mais de 80% das aplicações internacionais eram de origem européia e mais de 65% das exportações eram de seus produtos industriais. Inúmeras descobertas científicas permitiam um salto tecnológico nunca antes experimentado pela humanidade. A expansão do capitalismo, relativamente falando, só alcançaria paralelos no final do século XX.

No entanto, apesar de sua civilização brilhar como nunca antes, os europeus viviam contradições sobre questões antigas, que não se resolveram. No campo político, apenas 3 países eram repúblicas e mesmo assim, apenas a França era uma república liberal. A monarquia predominava, e entre as nações mais importantes, apenas a Inglaterra era uma monarquia moderna. Os demais países tais como a Alemanha, Itália, Áustria-Hungria e Rússia, eram monarquias absolutistas e autoritárias. Havia ainda nos países mais industrializados os inevitáveis choques entre a burguesia e o operariado. E nos países onde a nobreza imperava, o choque era entre os agricultores cada vez mais pobres e os príncipes sequiosos de mais e mais poder. Todo esse jogo de interesses resultava numa pressão cada vez maior sobre os governos centrais na busca de mais terras, mercados e colônias para resolverem seus problemas.

A Alemanha que havia sido unificada tardiamente, já possuía uma indústria que começava a ultrapassar a inglesa. Mas os alemães não tinham um mercado ultramarino do tamanho do britânico e nem colônias o suficiente para buscar matérias-primas, essenciais para sua indústria. O interesse alemão, somado a beligerância de sua elite militar, começava a causar mal-estar com a França, Inglaterra e Rússia.

Naquele momento histórico apenas 3 nações africanas eram livres: a Libéria, que tinha sua independência formal desde de o meio do século XIX, mas era ligada aos E.U.A; a África do Sul que havia se libertado recentemente do julgo britânico; e a Etiópia, cuja história remontava ao Egito Antigo e que havia humilhado os italianos recentemente, quando eles tentaram invadir seu território. As demais nações estavam totalmente controladas pelos europeus, que ainda mantinham as fronteiras “fictícias” estabelecidas pelo “Congresso de Berlim”.

Quando de sua explosão, a Grande Guerra na África foi baseada, sobretudo, em guerrilhas, que envolveram grande parte da população africana. Em especial á África Orientale a região do Congo, foi onde mais se sentiu os efeitos da guerra.
East African Campaign (World War I)

The East African Campaign was a series of battles and guerrilla actions which started in German East Africa and ultimately impacted portions of Mozambique, Northern Rhodesia, British East Africa, Uganda, and the Belgian Congo. The campaign was effectively ended in November 1917.[9] However, the Germans entered Portuguese East Africa and continued the campaign living off Portuguese supplies.

The strategy of the German colonial forces, led by Lieutenant Colonel (later Generalmajor) Paul Emil von Lettow-Vorbeck, was to drain and divert forces from the Western Front to Africa. His strategy failed to achieve these results after 1916, as mainly Indian and South African forces, which were not deployable to Europe due to colonial policies, took up the remainder of the campaign.[10][11] Nevertheless, the Germans fought the duration of World War I. The Germans received word of the armistice on 14 November 1918 at 7:30 a.m. Both sides waited for confirmation, and the Germans formally surrendered on 25 November. German East Africa ultimately became two League of Nations Class B Mandates, Tanganyika Territory of the United Kingdom and Ruanda-Urundi of Belgium, while the Kionga Triangle became a mandate of Portugal.

Background

German East Africa (comprising Burundi, Rwanda, and the mainland part of modern-day Tanzania) was a large territory with complex geography, including parts of the extensive Great Rift Valley, Lake Tanganyika and Lake Victoria. It varied from the mountainous, well-watered and fertile north-west, to the drier and sandy or rocky center, with wildlife-rich grasslands in the north-east and vast areas of uninhabited forest in the south-east. Its coast, inhabited by the Swahili people and Arab traders, dominated trade with Central Africa in conjunction with British-controlled Zanzibar and the coasts of modern-day Kenya and Mozambique.
At the start of the Great War, Governor Heinrich Schnee of German East Africa ordered that no hostile action was to be taken.[12] To the north, Governor Sir Henry Conway Belfield of British East Africa stated that he and "this colony had no interest in the present war."[13] The colonial governors, who often met in prewar years, had discussed these matters and wished to adhere to the Congo Act of 1885, which called for overseas possessions to remain neutral in the event of a European war.[14] And, neither colony had many troops.

Campaign history
Beginning, 1914–1915

In East Africa, the Congo Act was first broken by the British.[15] On 5 August 1914, troops from the Uganda protectorate assaulted German river outposts near Lake Victoria, and on 8 August a direct naval attack commenced when the British warships HMS Astraea and Pegasus bombarded Dar es Salaam from several miles offshore.[16] In response, the commander of the German forces in East Africa, Lieutenant Colonel Paul Emil von Lettow-Vorbeck, bypassed Governor Schnee, nominally his superior, and began to organize his troops for battle. At the time, the German Schutztruppe in East Africa consisted of 260 Germans of all ranks and 2,472 Askari,[17] and was approximately numerically equal with the two battalions of the King's African Rifles (KAR) based in the British East African colonies.[12]

On 15 August, German Askari forces stationed in the Neu-Moshi region engaged in their first offensive of the campaign. Taveta on the British side of Kilimanjaro fell to 300 askaris of two field companies with the British firing a token volley and retiring in good order.[18] In September, the Germans began to stage raids deeper into British East Africa and Uganda. A tiny German navy on Lake Victoria existed in the form of a "pom-pom"-armed tug boat, causing minor damage but a great deal of news. The British then mounted guns on two lake steamers, trapped the tug, which was scuttled, was later raised (the gun used elsewhere) and continued to serve German interests as an unarmed transport. With the tug’s "teeth removed, British command of Lake Victoria was no longer in dispute."[19]
In an effort to solve the raiding nuisance and to capture the entire northern, white settler region of the German colony, the British command devised a two-pronged plan. The British Indian Expeditionary Force "B" of 8,000 troops in two brigades would carry out an amphibious landing at Tanga on 2 November 1914 to capture the city and thereby control the Indian Ocean terminus of the Usambara Railway (see Battle of Tanga). In the Kilimanjaro area, the Force "C" of 4,000 men in one brigade would advance from British East Africa on Neu-Moshi on 3 November 1914 to the western terminus of the railroad (see Battle of Kilimanjaro). After capturing Tanga, Force "B" would rapidly move north-west, join Force "C" and mop up what remained of the broken German forces. Although outnumbered 8:1 at Tanga and 4:1 at Longido, the Schutztruppe under Lettow-Vorbeck prevailed. According to the British Official History of the War the events are described as one of "the most notable failures in British military history."[20]

[edit] Naval war

The German naval command had just one major warship in the Indian Ocean when war was declared, the light cruiser SMS Königsberg. After limited opportunities for commerce raiding, Königsberg sank the cruiser HMS Pegasus in Zanzibar harbour and then retired into the Rufiji River delta. After being cornered by warships of the British Cape squadron, including an old battleship, two shallow-draught monitors with 6 in (150 mm) guns were brought from England that demolished the cruiser on 11 July 1915. The surviving crew of Königsberg and her 4.1 in (100 mm) main battery guns were taken over by the Schutztruppe.[21] The British salvaged and used six 4 in (100 mm) from the sunken Pegasus, the so-called 'Peggy guns'.[22]
Lake Tanganyika expedition
In 1915, two British motorboats, HMS Mimi and Toutou were transported by land to the British shore of Lake Tanganyika. They captured the German ship Kingani, renaming it HMS Fifi, and with two Belgian ships under the command of Commander Geoffrey Spicer-Simson, attacked and sunk the German ship Hedwig von Wissmann in a bid to secure the lake as the strategic key to the western part of the German colony. The Graf von Götzen was the only German ship to survive. Lettow-Vorbeck then had its Königsberg gun removed and sent by rail to the main fighting front.[23] The ship was scuttled after a floatplane bombing attack by the Belgians on Kigoma and before advancing Belgian colonial troops could capture it. It was later refloated and used by the British[24] and is still in service today plying the lake under the Tanzanian flag.

[edit] British Empire reinforcements, 1916

General Horace Smith-Dorrien was assigned with orders to find and fight the Schutztruppe, but he contracted pneumonia during the voyage to South Africa which prevented him from taking command. In 1916, General J.C. Smuts was given the task of defeating Lettow-Vorbeck. Smuts had a large army (for the area), some 13,000 South Africans including Boers, British, and Rhodesians as well as 7,000 Indian and African troops. In addition, not under his direct command but fighting on the Allied side, was a Belgian force and a larger but ineffective group of Portuguese military units based in Mozambique. A large Carrier Corps of African porters under British command carried supplies for Smuts' army into the interior. Despite all these troops from different allies, it was essentially a South African operation of the British Empire under Smuts' control. During the previous year, Lettow-Vorbeck had also gained personnel and his army was now 1,800 Germans and some 12,000 Askaris.

Smuts' army attacked from several directions, the main attack was from the north out of British East Africa, while substantial forces from the Belgian Congo advanced from the west in two columns, over Lake Victoria and into the Rift Valley. Another contingent advanced over Lake Nyasa (Lake Malawi) from the south-east. All these forces failed to capture Lettow-Vorbeck and they all suffered from disease along the march. One unit, 9th South African Infantry, started with 1,135 men in February, and by October its strength was reduced to 116 fit troops, without doing much fighting at all.[25] However, the Germans nearly always retreated from the larger British troop concentrations and by September 1916, the German Central Railway from the coast at Dar es Salaam to Ujiji was fully under British control.

With Lettow-Vorbeck's forces now confined to the southern part of German East Africa, Smuts began to withdraw his South African, Rhodesian and Indian troops and replaced them with askaris of the King's African Rifles. By the start of 1917, more than half the British Army in the theatre was composed of Africans, and by the end of the war, it was nearly all African troops. Smuts himself left the area in January 1917 to join the Imperial War Cabinet at London.

[edit] Belgian-Congolese participation

Belgian-Congolese participation in the campaign was sizeable—for the logistics alone some 260,000 carriers were mobilized, not counting troops.
The colonial armed forces of the Belgian Congo, 'Force Publique', started their campaign on 18 April 1916 under the command of General Charles Tombeur, Colonel Molitor and Colonel Olsen. They captured Kigali on 6 May. The German askaris in Burundi fought well, but had to give way to the numerical superiority of Force Publique. By 6 June, Burundi as well as Rwanda was effectively occupied.
Force Publique and the British Lake Force then started a thrust to capture Tabora, an administrative center of central German East Africa. They marched into German territory in three columns and took Biharamuro, Mwanza, Karema, Kigoma and Ujiji. After several days of heavy fighting, they secured Tabora. To forestall Belgian claims on the German colony, Smuts ordered their forces back to Congo, leaving them as occupiers only in Rwanda and Burundi. But the British were obliged to recall Belgian-Congolese troops to help for a second time in 1917, and after this event the two allies coordinated campaign plans.

[edit] Last years, 1917–1918

Despite continued efforts to capture or destroy Lettow-Vorbeck's army, the British failed to end German resistance. First, Major General Reginald Hoskins (of the KAR) took over, then another South African, Major General J.L. van Deventer was assigned command. Van Deventer then launched a major offensive in July 1917. The Germans’ tactical skill could delay but it could not halt; by early autumn they were pushed 100 mi (160 km) south.[26] They were still able to tie down large British forces and even defeat them on occasion. In mid-October 1917, Lettow-Vorbeck fought a pivotal and costly battle at Mahiwa, the Schutztruppe's last stand in defense of their colony, where they lost 519 men killed, wounded or missing and the British Nigerian brigade 2,700 killed, wounded or missing.[27] After the news of the battle reached Germany, Lettow-Vorbeck was promoted to Generalmajor.[28]
In early November 1917, the German High Command made an attempt to deliver much-needed supplies to Lettow-Vorbeck by air from Germany. The naval dirigible L.59 traveled over 4,200 mi (6,800 km) in 95 hours, but in the end the mission failed when the airship received an "abort" message over the radio from the German admiralty.[29]

British units were closing in on the Schutztruppe and on 23 November 1917, Lettow-Vorbeck crossed south into Portuguese Mozambique to gain supplies by capturing Portuguese garrisons. By leaving German East Africa, he no longer had to defer to the civil authority of Governor Schnee. With his caravans of troops, carriers, wives and children, he marched through Mozambique for the next nine months, avoiding capture, but unable to gain much strength. Lettow-Vorbeck's army was divided into three groups on the march. He eventually learned that he had lost a thousand-man detachment under Hauptmann Theodor Tafel, who was forced to surrender, being out of food and ammunition.[30]

The army then reentered German East Africa and crossed into Northern Rhodesia in August 1918. On 13 November 1918, two days after the Armistice was signed in France, the German Army took and occupied its last town, Kasama, which had been evacuated by the British. The next day at the Chambezi River, Lettow-Vorbeck was handed a telegram announcing the signing of the armistice and he agreed to a cease-fire: the 'Von Lettow-Vorbeck Memorial' marks the spot in present-day Zambia. As requested, he marched his undefeated army to Abercorn and formally surrendered there on 23 November 1918.[31]

[edit] Assessments

• In this campaign, disease killed or incapacitated 30 men for every man killed in battle on the British side.[32]

• In one capacity or another, nearly 400,000 Allied soldiers, sailors, merchant marine crews, builders, bureaucrats, and support personnel participated in the East Africa campaign. They were assisted in the field by an additional 600,000 African bearers. The Allies employed nearly 1 million people in their fruitless pursuit of Lettow-Vorbeck and his handful of warriors.[33]

• Lettow-Vorbeck was cut off from home. He could entertain no hope of a decisive victory. His aim was purely to keep the British on the stretch as much as possible for as long as possible and to make them expend the largest possible resources in men, in shipping, and in supplies. He failed to divert Allied manpower from Europe after 1916. Indian and South African forces, which were not deployable to Europe, took up most of the fighting instead. In 1917-1918 some shipping was diverted to the African theatre, but not enough to inflict difficulties on the Allied fleets.[9]

• In retrospect, the East African campaign came to look like a 'sideshow' of the First World War. As memory focused on the vast slaughter of the Western Front, the Indians, Africans and British who had borne the pains of that 'poisonous country' were all but forgotten. Even today, it is only possible to give approximations of the total fatalities. The British Commonwealth forces lost over 10,000 men, ⅔ of them from disease. German losses were about 2,000. But the black people of East Africa suffered far more as carriers who died from disease, exhaustion and military action. One modern estimate is 100,000 dead on all sides. Black civilians also suffered dreadfully. War devastated many localities, bringing hunger, disease and death in its train. Thousands of Africans perished in the outbreak of influenza that swept over their continent at the end of the war.

• An unknown Belgian missionary in Congo wrote about the Congolese community as a society where "the father is at the front, the mother mills grains for the soldiers, while the children are carrying the food to the front." No Congolese colonial troops fought in Europe, but the people of the Congo also paid a high price in the Great War.

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#22 Mensagem por O Pastor » 23 Mai 2011, 21:35

O artigo abaixo fala um pouco mais dos efeitos da Primeira Guerra na África.

http://www.hyperhistory.net/apwh/essays ... acific.htm

Comparing the effects of WWI on
Africa, Latin America and the Pacific Islands


While World War I is thought to have most greatly affected Germany and the surrounding European countries, it did in fact, damage other areas nearly as much. Africa, Latin America, and the Pacific Islands all suffered from the first great World War.
The First World War did not only cause negative effects. Africa, one nation that was very war torn, did benefit in small ways from the war in terms of relationships with other countries. “World War I gave rise to a crucial change in the relationship between Africa and Europe.” Although, through this war, England and Africa had a closer knit relationship, the devastation which the war caused was to a much greater scale than the progress. After the war, more than 2 million Africans had been slain, often in the process of making sacrifices for the British troops. Eastern Africa, losing the most men in battle, at 100,000 dead, was just as horrible as the death toll of 65,000 in French North Africa and West Africa. Following the end of the war, approximately 2% of the African population died in an influenza outbreak.

According to an African American historical society, “World War I had a general negative influence on the trade and development of Africa”. This statement is true, considering the fact that the price of all commodities went up in Africa following the war, the economy stalled, and the poverty rate became worse than ever. The Pan African Congress stated that “The shabby treatment of African and Caribbean people in Britain prompted a large number to return home, disaffected, but also politicized and radicalized.” The Great War caused trading to cease with many countries, including Germany, one of Africa’s main trading partners at the time. Though many missionaries and campaigns for Christianity had been prospering prior to WWI, persecution began to take place after the war. Congo, one of the strongest Christian nations in Africa before the war, became a hunted, persecuted church, though it was still strong in Christ. The Church of Africa, though it didn’t benefit from the war, became stronger in the strength of the Holy Spirit through trial and suffering.

While Africa was losing hundreds of men daily, Latin America hesitated to take a side in the war, and decided to remain neutral for a time, as they saw the war as “none of their business”. Contrary to their belief, the Latin Americans were very much a part of the war process as they were accused of safe-harboring German ships while they were still declared neutral. During the war negotiation process, Argentina, Brazil, Chile, and Mexico were the “Big Four” countries in South and Latin America. Though this world war may have had negative attributes, for Brazil, when they declared war, it “was a significant step in her rise to respectable status in world affairs and also heightened the sense of Nationalism in the huge, disjointed Republic.” Unlike Africa, the war that affected Latin America did not pay a toll on the lives of their people. Though the Latin Americans did lose many lives, it was hardly the devastating number that Africa had after the war. Also, Latin America did not suffer to the extremity of Africa, because they were at liberty to be neutral, unlike the continent of Africa, who was forced to enter the war field unprepared and unwillingly. The "Great War" did not have a large impact upon religion or the spread of Christianity in the countries of Latin America as it had in Africa.

According to the encyclopedia Britannica, “Some of the bitterest fighting of World War I occurred in the Pacific Islands.” Throughout the war there was “ethnic violence, government malfeasance, and endemic crime.” At the beginning of the war, countries such as Japan began to obtain small pacific islands without much resistance, as these island peoples were unable to defend themselves against the masses. Unlike both Africa and Latin America, the Pacific Islands didn’t have the forces or ability to be directly involved in the war. Felix Eugene Michael Hercules, who was quoted by Peter Fryer in his book Staying Power, said, “He (Caribbean and African man) fought with the white man to save the white man's home...and the war was won… Black men the entire world over are asking to-day: "What have we got? What are we going to get out of it all?”

World War I, cause of countless deaths; many of them innocent, affected not only Germany and the Jewish people, but many surrounding nations and nations round the world. The involvement of Africa, Latin America, and the Pacific Islands has often been overshadowed by Europe.

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#23 Mensagem por O Pastor » 23 Mai 2011, 21:39

Depois da Grande Guerra, o mapa do mundo mudaria mais uma vez. Os países centrais cairiam um a um, frente a derrota alemã. Alemanha e Áustria-Hungria, seriam desmembradas e a Rússia experimentaria o socialismo. A monarquia cairia também na Turquia. Na África, a Alemanha perderia todas as suas colônias para França, Inglaterra, Bélgica e Portugal. O Tratado de Versalhes de 1919, imporia termos absurdos para os alemães que os deixariam numa crise moral e economica sem paralelos. Era o chamado “ovo da serpente” para o nascimento do regime nazista.
Para o povo africano, a guerra havia representado apenas mais fome e miséria. Os recursos africanos, tanto humanos quanto físicos, foram usados no limite, para ajudar no esforço de guerra. O lado positivo foi apenas a reconquista da consciencia pan-africanista que começava a aumentar.

African Americans - The league of nations and the pan-african congress

World War I shattered the balance of power in Europe and destroyed the Russian, German, Ottoman, and Austro-Hungarian empires. These state systems lost control of the diverse ethnic groups previously under their control. Subject nations and national minorities began demanding language rights, sovereignty, and democratic governments. When the Allies met in the Paris suburb of Versailles in 1919 to rebuild the world order, their agenda included the construction of nations in eastern Europe and the revitalization of the empires that remained. European debates on political autonomy and territoriality were the model for Asians and Africans seeking to bring their own interests to world attention.

The Pan-African Congress was an important vehicle for formulating and disseminating such demands. The association emerged from a 1900 London conference. Organized by a Trinidadian attorney resident in London and an African-American bishop, the congress brought together blacks from Britain and its colonies, the United States, and South Africa. The purpose was to discuss colonialism and racism and suggest strategies for reform. The association made little headway in its first twenty years, the zenith of European colonial domination of Africa. World War I provided an opportunity to renew its goals, however, and it planned a Paris conference that would convene simultaneously with the Versailles peace conference.

African-American leaders sought representation as observers at the peace conference and began discussing it before the war ended. Those most interested included the intellectual activist W. E. B. Du Bois, entrepreneur C. J. Walker, National Equal Rights League founder William Monroe Trotter, and activist Wells-Barnett. The Universal Negro Improvement Association, an international organization founded by Marcus Garvey, named delegates to the congress, including the labor leader A. Philip Randolph. Other interested organizations included the National Association for the Advancement of Colored People (NAACP) and the National Race Congress. The thinking was that if representatives of black organizations were denied admission to the proceedings or audiences with principals, they could use the Pan-African Congress and their proximity to the peace talks to bring their issues to public attention.

President Woodrow Wilson led the U.S. delegation at Versailles. Wilson believed in international organization and saw the peace conference as an opportunity to put the United States permanently at the center of power in the global community. Like other Allied leaders, Wilson wished to maintain control over national minorities. He was, additionally, a committed segregationist who as president of Princeton University had excluded African-American students from dormitories, and as president of the United States had separated federal civil servants by race, placing black employees behind partitions.

The Wilson administration did not want minority observers or protesters in Europe. The State Department accordingly refused passports to most of the black Americans wishing to go to France. Those who managed to cross the Atlantic attended a Pan-African Congress composed of fifty-seven delegates who discussed, under the careful scrutiny of the French government, such issues as the status of defeated Germany's colonies and colonial reform. The more militant civil rights activists and nationalists were less interested in the Pan African Congress than in addressing the peace conference, the forum where decisions affecting the world's national minorities and subject peoples would be made. President Wilson was determined to prevent such initiatives. He refused to see either Trotter or a young Vietnamese leader, Nguyen That Thanh, later known as Ho Chi Minh. Wilson and British Prime Minister David Lloyd George prohibited the presence of delegates of colonized peoples and racial minorities at Versailles, but Du Bois succeeded in representing the NAACP at the first conference of the League of Nations in 1921.

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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#24 Mensagem por O Pastor » 23 Mai 2011, 21:46

Na verdade, todos concordaram que depois da Primeira GUerra e do Congresso Pan-Africano de 1920, melhores condições de vida deveria ser permitida aos africanos. Mas apesar da carnificia da Primeira Guerra, para os africanos pouca coisa mudava. O nacionalismo ainda imperava entre as nações européias e o senso de superioridade sobre o resto do mundo ainda era a regra. Alguns motins começavam a surgir nas colônias, mas ainda muito timidos.

Ficou claro que a idéia de que a Grande Guerra poria fim a todas as guerras, era errado. Ao termino, Inglaterra e França pensaram apenas em arrancar o maximo de espolio que pudessem da Alemanha. Os EStados Unidos finalmente alcançava o status de superpotencia. A Africa seguiu sob dominio europeu e viu a Etiopia ser invadida pela Italia fascista, num golpe de extrema covardia.

O pau ainda comeria por um longo tempo Congo e toda África |Sub-saariana. As mudanças mais profundas tomariam vez apenas no final da segunda guerra mundial.
The Pan-African Congresses, 1900-1945

http://www.blackpast.org/?q=perspective ... -1900-1945

In the nearly half century between 1900 and 1945 various political leaders and intellectuals from Europe, North America, and Africa met six times to discuss colonial control of Africa and develop strategies for eventual African political liberation. In the article that follows, historian Saheed Adejumobi describes the goals and objectives of these six Pan African Congresses and assesses their impact on Africa.

Pan-Africanist ideals emerged in the late nineteenth century in response to European colonization and exploitation of the African continent. Pan-Africanist philosophy held that slavery and colonialism depended on and encouraged negative, unfounded categorizations of the race, culture, and values of African people. These destructive beliefs in turn gave birth to intensified forms of racism, the likes of which Pan-Africanism sought to eliminate.

As a broader political concept, Pan-Africanism’s roots lie in the collective experiences of African descendants in the New World. Africa assumed greater significance for some blacks in the New World for two primary reasons. First, the increasing futility of their campaign for racial equality in the United States led some African Americans to demand voluntary repatriation to Africa. Next, for the first time the term Africans, which had often been used by racists as a derogatory description, became a source of pride for early black nationalists. Hence, through the conscious elevation of their African identity black activists in America and the rest of the world began to reclaim the rights previously denied them by Western societies.

In 1897, Henry Sylvester-Williams, a West Indian Barrister, formed the African Association in London to encourage Pan-African unity; especially throughout the British colonies. Sylvester-Williams, who had links with West African dignitaries, believed that Africans and those of African descent living in the Diaspora needed a forum to address their common problems. In 1900, Sylvester- Williams organized the first Pan-African meeting in collaboration with several black leaders representing various countries of the African Diaspora. For the first time, opponents of colonialism and racism gathered for an international meeting. The conference, held in London, attracted global attention, placing the word “Pan-African” in the lexicon of international affairs and making it part of the standard vocabulary of black intellectuals.

The initial meeting featured thirty delegates, mainly from England and the West Indies, but attracted only a few Africans and African Americans. Among them was black America’s leading intellectual, W. E. B. Du Bois, who was to become the torchbearer of subsequent Pan- African conferences, or congresses as they later came to be called. Conference participants read papers on a variety of topics, including the social, political, and economic conditions of blacks in the Diaspora; the importance of independent nations governed by people of African descent, such as Ethiopia, Haiti, and Liberia; the legacy of slavery and European imperialism; the role of Africa in world history; and the impact of Christianity on the African continent. Perhaps of even greater significance was the formation of two committees. One group, chaired by Du Bois, drafted an address “To the Nations of the World,” demanding moderate reforms for colonial Africa.
The address implored the United States and the imperial European nations to “acknowledge and protect the rights of people of African descent” and to respect the integrity and independence of “the free Negro States of Abyssinia, Liberia, Haiti, etc.” The address, signed by committee chairman Du Bois as well as its president Bishop Alexander Walters, its vice president Henry B. Brown, and its general secretary Sylvester-Williams, was published and sent to Queen Victoria of England. The second committee planned for the formation of a permanent Pan-African association in London with branches overseas. Despite these ambitious plans, the appeals of conference participants made little or no impression on the European imperial powers who controlled the political and economic destiny of Africa.

It was not until after World War I that Du Bois revived the Pan-African congresses. Following the war, European and American politicians gathered for a peace conference in Versailles, France. Du Bois, who attended the conference as a special representative of the National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), appealed to President Woodrow Wilson. In a letter to Wilson, he urged the American government to initiate a comprehensive study of the treatment of black soldiers. Moreover, Du Bois expressed hope that the peace treaty would address “the future of Africa” and grant self-determination to the colonized peoples. President Wilson subsequently released a Fourteen Point memorandum, which suggested the formation a League of Nations and called for “an absolutely impartial adjustment of all colonial claims, based on the principle that the interests of the population must have equal weight with the equitable claims of the government.” Although historians have questioned the impact Du Bois’s request had on Wilson’s Fourteen Point memorandum, it was apparent that the loudest voice on behalf of oppressed blacks in the New World and colonized Africa belonged to the participants of the Pan-African Congress.
Galvanized by the gathering of world leaders and the discussion of colonial Africa’s future, Du Bois proposed the formation of a Pan-African Congress. In 1919, as the Versailles Peace treaty deliberations ran their course, Du Bois, with the support of Blaise Diagne, a member of the French Parliament from the West African colony of Senegal, and funding from African American civil rights and fraternal organizations such as the NAACP, the Elks, and the Masons, convened a Pan-African Congress in Paris. The Congress, attended by approximately sixty representatives from sixteen nations, protectorates, and colonies, however, was more “pan” than African since most of the delegates had little, if any, first-hand knowledge of the African continent. Prominent American attendees included black members of the NAACP such as John Hope, president of Morehouse College, and Addie W. Hunton, who had served with black troops in France under the auspices of the Young Men’s Christian Association (YMCA), as well as white NAACP members, such as the Columbia University professor Joel Spingarn, the socialist William English Walling, and the socialist muckraking author Charles Edward Russell. Among the other delegates from the United States were Roscoe Conklin Simmons, a well- known black orator; Rayford W. Logan, who had served with the U.S. Army in France; black women’s rights activist Ida Gibbs Hunt; and Dr. George Jackson, a black American missionary in the Congo.

Conference participants adopted a resolution calling for the drafting of a code of law “for the international protection of the natives of Africa.” Other demands called for direct supervision of colonies by the League of Nations to prevent economic exploitation by foreign nations; to abolish slavery and capital punishment of colonial subjects who worked on the plantations of European colonial powers in Africa, especially in the Belgian Congo; and to insist on colonial peoples’ right to education. Moreover, the gathering stressed the need for further congress meetings and suggested the creation of an international quarterly, the Black Review, which was to be published in several languages. ‘While congress attendees insisted that African natives should be allowed eventually to participate in their own government, they did not demand African self-determination. Despite the moderate nature of the demands, the European and American powers represented at the Versailles Peace Conference remained noncommittal.

The Pan-African Congress reconvened in London in August 1921 and a month later in Brussels. Both meetings featured representatives from the Americas, the Caribbean, Europe, and Africa who echoed earlier PanAfricanist reformist ideas, denouncing imperialism in Africa and racism in the United States. Moreover, the delegates demanded local self-government for colonial subjects and Du Bois stressed the need for increased interracial contacts between members of the black intelligentsia and those concerned about the political and economic status of colonial peoples.
In 1923, the Pan-African Congress met in two separate sessions in London and in Lisbon. Noted European intellectuals such as H. G. Wells and Harold Laski attended the London session. Several members of previous meetings participated in the deliberations that addressed the conditions of the African Diaspora as well as the global exploitation of black workers. While some scholars argue that the 1921 and 1923 congresses were effective only in keeping alive the idea of an oppressed people trying to abolish the yoke of discrimination, others claim that the international gatherings laid the foundation for the struggle that ultimately led to the political emancipation of the African continent.

Delegates reconvened for a fifth Pan-African Congress in New York in 1927. The congress featured 208 delegates from twenty-two American states and ten foreign countries. Africa, however, was represented only sparsely by delegates from the Gold Coast, Sierra Leone, Liberia, and Nigeria. The small number of African delegates was due in part to travel restrictions that the British and French colonial powers imposed on those interested in attending the congress, in an effort to inhibit further Pan-African gatherings. Most of the delegates were black Americans and many of them were women. The congress was primarily financed by Addie W. Hunton and the Women’s International League for Peace and Freedom, an interracial organization that had been founded in 1919 by opponents of World War I. Similar to previous Pan- African congresses, participants discussed the status and conditions of black people throughout the world.
The financial crisis induced by the Great Depression and the military exigency generated by World War II necessitated the suspension of the Pan-African Congress for a period of eighteen years. In 1945, the organized movement was revived in Manchester, England. It is unclear whether Du Bois or George Padmore, a West Indian Marxist, provided the initiative for this meeting. Recognizing Du Bois’s historic contribution to the Pan-African movement, delegates named him president of the 1945 congress. The Manchester meeting marked a turning point in the history of the gatherings. For the first time representatives of political parties from Africa and the West Indies attended the meetings. Moreover, the conservative credo of the forum gave way to radical social, political, and economic demands. Congress participants unequivocally demanded an end to colonialism in Africa and urged colonial subjects to use strikes and boycotts to end the continent’s social, economic, and political exploitation by colonial powers.

While previous Pan-African congresses had been controlled largely by black middle-class British and American intellectuals who had emphasized the amelioration of colonial conditions, the Manchester meeting was dominated by delegates from Africa and Africans working or studying in Britain. The new leadership attracted the support of workers, trade unionists, and a growing radical sector of the African student population. With fewer African American participants, delegates consisted mainly of an emerging crop of African intellectual and political leaders, who soon won fame, notoriety, and power in their various colonized countries.

The final declaration of the 1945 congress urged colonial and subject peoples of the world to unite and assert their rights to reject those seeking to control their destinies. Congress participants encouraged colonized Africans to elect their own governments, arguing that the gain of political power for colonial and subject peoples was a necessary prerequisite for complete social, economic, and political emancipation. This politically assertive stance was supported by a new generation of African American activists such as the actor and singer Paul Robeson, the minister and politician Adam Clayton Powell, and the educator and political activist William A. Hunton Jr. who took an increasing interest in Africa.

While the Pan-African congresses lacked financial and political power, they helped to increase international awareness of racism and colonialism and laid the foundation for the political independence of African nations. African leaders such as Kwame Nkrumah of Ghana, Nnamdi Azikiwe of Nigeria, and Jomo Kenyatta of Kenya were among several attendees of congresses who subsequently led their countries to political independence. In May 1963, the influence of these men helped galvanize the formation of the Organization of African Unity (OAU), an association of independent African states and nationalist groups.

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O Pastor
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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#25 Mensagem por O Pastor » 05 Jul 2011, 22:50

Dando sequencia ao "Coração das Trevas"...

Falando em pan-africanismo, vale uma releitura sobre Marcus Garvey. Fundamental para se entender a luta universal da diáspora negra.

Recomendo este livro: "The Philosophy and Opinions of Marcus Garvey, Or, Africa for the Africans"

[ external image ]
Marcus Mosiah Garvey
(1887-1940) leader of the Universal Negro Improvement Association, first African-American leader in American history to organize masses of people in a political movement


Garvey was born in Jamaica and immigrated to Harlem in 1916 at the age of 28. In his homeland he had been an admirer of Booker T. Washington's philosophy of self-improvement for people of African descent and had formed the Jamaica Improvement Association. When he arrived in America his ideas expanded and he became a Black Nationalist. For him, Africa was the ancestral home and spiritual base for all people of African descent. His political goal was to take Africa back from European domination and build a free and United Black Africa. He advocated the Back-to-Africa Movement and organized a shipping company called the Black Star Line which was part of his program to conduct international trade between black Africans and the rest of the world in order to "uplift the race" and eventually return to Africa.

Garvey studied all of the literature he could find on African history and culture and decided to launch the Universal Negro Improvement Association with the goal of unifying "all the Negro peoples of the world into one great body and to establish a country and government absolutely on their own". The motto of the U.N.I.A. was "One God! One Aim! One Destiny." The Negro World was the U.N.I.A. weekly newspaper founded in 1918. It was published in French and Spanish as well as English. In it African history and heroes were glorified.

The ranks of the U.N.I.A. were comprised of African "nobility" - knights of the Nile, dukes of the Niger and Uganda; knights of Ethiopia, duchesses, etc. Garvey himself was the "Provisional President of Africa" and he and the members of his empire paraded in elaborate military uniforms. Harlem loved parades and street ceremonies, and the U.N.I.A. gave the grandest. During their annual conventions, thousands of delgates from all over the United States, the Caribbean, Central America and Africa marched up and down the streets of Harlem with their banners, uniforms and colorfully decorated cars. Garvey travelled throughout the United States speaking and meeting with African-American leaders. In the post World War I economic crisis and with racial discrimination, lynching and poor housing, the masses of Black people were ready for a leader who was aggressive and had a plan to "uplift the race". The U.N.I.A. grew quickly. By 1919 there were over 30 branches throughout the United States, the Caribbean, Latin America and Africa. Garvey claimed over a milllion people had joined his organization in 3 years.

In nine years Garvey built the largest mass movement of people of African descent in this country's history. It began to fail after he was convicted of mail fraud and was deported from the U.S. The Black Star Line failed because of purported mismanagement and lack of sufficient funds. However, the U.N.I.A. still survives today and Garvey left a legacy of racial pride and identification with a glorious African heritage for African Americans.
http://www.marcusgarvey.net/Information/history.htm

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Mistar Gaga
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Re: Coração das Trevas - Desmistificando o Continente Africano

#26 Mensagem por Mistar Gaga » 17 Fev 2014, 00:57

Eu li esse livro há uns 10 anos. Ele pode ser encontrado no formato pocket book em bancas de revista por 15 reais.

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