London Calling - Inglaterra em Chamas

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#16 Mensagem por O Pastor » 12 Ago 2011, 20:34

NUMABOA escreveu:O problema da inglaterra e outros países europeus é excesso de socialismo,um welfare state que não é mais financiavel ao lado de uma juventude ao mesmo tempo viciada em assistencialismo e marginalizada de oportunidades,tal qual na frança a maioria são de descendentes de imigrantes,que vivem como estrangeiros em seu proprio país.
Discordo!!

Os suburbios ingleses são bem diferentes dos franceses. O tumulto, acredito, teve mais participação de ingleses/ingleses do que de ingleses/imigrantes, ou foi pau a pau. No caso dos franceses, entra muito a cultura islâmica no meio, coisa que não acontece na Inglaterra.

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#17 Mensagem por florestal » 12 Ago 2011, 23:10

A única coisa que pode mudar uma sociedade são as idéias de esquerda, desde que atualizadas e que se disponham a analisar o mundo atual. Infelizmente, as esquerdas ainda continuam apegadas ao passado, mais precisamente à Revolução Russa de 1917. O assalto bolchevique ao poder é coisa do passado e está definitivamente enterrado pela história. Interessante a quantidade de pessoas que ainda se referem a ele, para criticar ou apoiar, ao invés de enterrarem o defunto.

Os excluidos dos nossos dias não conseguem se organizar politicamente e daí essas revoltas que não levam a nada, exceto maior repressão policial. Foi assim há pouco com os espanhóis que se reuniam em uma praça de Madrid e agora é com os ingleses.

A esquerda possível e atual é Gramsci e sua radicalidade democrática, é a única teoria que permanece viva e, contraditoriamente, totalmente desconhecida das massas que se mobilizam por diversas motivações. É a única teoria que pode pensar a mudança da sociedade de nossa época.

http://www.acessa.com/gramsci/

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#18 Mensagem por Compson » 12 Ago 2011, 23:26

florestal escreveu:Infelizmente, as esquerdas ainda continuam apegadas ao passado, mais precisamente à Revolução Russa de 1917. O assalto bolchevique ao poder é coisa do passado e está definitivamente enterrado pela história. Interessante a quantidade de pessoas que ainda se referem a ele, para criticar ou apoiar, ao invés de enterrarem o defunto.
Discordo... A Catástrofe de 1917-89 (a Catástrofe mais longa de todos os tempos) tem que ser lembrada e criticada sempre para que não volte a se repetir.

Do mesmo modo que:
NUMABOA escreveu:O problema da inglaterra e outros países europeus é excesso de socialismo,um welfare state que não é mais financiavel ao lado de uma juventude ao mesmo tempo viciada em assistencialismo e marginalizada de oportunidades,tal qual na frança a maioria são de descendentes de imigrantes,que vivem como estrangeiros em seu proprio país.
O nazismo precisa ser lembrado, para que manifestações preconceituosas como essa não ocorram. Dois problemas:

(1) Não importa se os revoltosos são imigrandes, descendentes de imigrantes ou descendentes de europeus. Todos têm os mesmos direitos e se não tiverem deve quebrar o pau mesmo!

(2) Os Estados europeus (principalmente os centrais) não estão quebrados por causa de assistencialismo (e muito menos o americano, que não é nada assistencialista). Estão quebrado por dois motivos:

(2a) Porque transformaram dívidas privadas em dívida pública na crise de 2008;

(2b) Porque a hegemonia conservadora atual impede que os Estados utilizem recursos básicos para equlibrar as contas e estimular a economia, como emissões monetárias...
florestal escreveu:A esquerda possível e atual é Gramsci e sua radicalidade democrática
Sou simpático a Gramsci, embora não o conheça muito. No tempo dele, ele certamente ficaria do lado dos bolcheviques, mas a alternativa era Berlusc... ops, Mussolini, então não se pode condená-lo.

Sua teoria da hegemonia é interessantíssima e é algo que muitos radicais de esquerda deveriam estudar com mais cuidado para perceber como seu discurso virou parte dos processos hegemônicos contemporâneos.

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#19 Mensagem por O Pastor » 13 Ago 2011, 00:02

Compson escreveu:
NUMABOA escreveu:O problema da inglaterra e outros países europeus é excesso de socialismo,um welfare state que não é mais financiavel ao lado de uma juventude ao mesmo tempo viciada em assistencialismo e marginalizada de oportunidades,tal qual na frança a maioria são de descendentes de imigrantes,que vivem como estrangeiros em seu proprio país.
O nazismo precisa ser lembrado, para que manifestações preconceituosas como essa não ocorram. Dois problemas:

(1) Não importa se os revoltosos são imigrandes, descendentes de imigrantes ou descendentes de europeus. Todos têm os mesmos direitos e se não tiverem deve quebrar o pau mesmo!

(2) Os Estados europeus (principalmente os centrais) não estão quebrados por causa de assistencialismo (e muito menos o americano, que não é nada assistencialista). Estão quebrado por dois motivos:

(2a) Porque transformaram dívidas privadas em dívida pública na crise de 2008;

(2b) Porque a hegemonia conservadora atual impede que os Estados utilizem recursos básicos para equlibrar as contas e estimular a economia, como emissões monetárias...
TOMA!! (Tem o meu aval....)

Concentração de riqueza, resume o que vc descreveu no ítem 2. Nos EUA o governo injetou uma quantidade de dinheiro sem precedentes em conglomerados gigantescos que estavam em regime pré-falimentar. O pobrema é que esse dinheiro não foi revertido na criação de empregos e estimulo da economia. Aparentemente, ficou retido, perdido em algum lugar do sistema financeira internacional.

Viu só, é culpa dos muçulmanos, ou melhor, dos mexicanos que roubam do cidadão branco e honesto.

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#20 Mensagem por florestal » 13 Ago 2011, 01:31

Compson escreveu: Discordo... A Catástrofe de 1917-89 (a Catástrofe mais longa de todos os tempos) tem que ser lembrada e criticada sempre para que não volte a se repetir.
Não foi uma catástrofe, a Revolução Russa de 1917 foi o episódio histórico mais importante do século que passou e modificou substancialmente a vida em toda a Europa; diretamente nos países do chamado socialismo real e indiretamente nos demais países, que adotaram medidas reformistas e propiciaram a criação do estado de bem estar social, característica de todos os governos social-democratas do pós-guerra que chegaram ao poder em aliança com a burguesia como política de contenção ao comunismo.

Agora, a Revolução Russa não pode ser analisada sob uma ótica cristã de bem ou mal, de se querer saber se a pessoa defende ou ataca, a Revolução Russa tem de ser analisada pelo que realmente foi: uma repressão inaudita justificada pela má vontade da burguesia em reformar a sociedade e pelos antecedentes da Comuna de Paris da década de 1870 do século retrasado e uma gigantesca transformação social, que transformou um país feudal e atrasado em uma potência.

Não fosse a Revolução Russa veríamos nas grandes cidades européias o mesmo cenário brasileiro de exclusão social, com favelas, gente vendendo bugigangas nos semáforos, criminalidade, etc.

A história é escrita pelos vencedores, assim, como exemplo, todos se admiram dos países nórdicos (Suécia, Dinamarca, Finlândia, etc.) mas nada é dito que o bem estar que esses países alcançaram é fruto da Revolução Russa, já que no pós-guerra a burguesia européia privilegiou políticas reformistas como forma de se contrapor ao socialismo real.

Para se ter uma idéia, quando da revolução bolchevique, a Rússia possuia 89% de analfabetos vivendo como animais. Em pouco tempo todos foram alfabetizados e, o mais importante, o ensino superior passou a ser de massa, coisa que não ocorria mesmo nos países europeus mais adiantados. Sob Stálin, com os planos quinquenais, a URSS cresceu mais de 15% ao ano durante mais de dez anos seguidos, fato não repetido até hoje por nenhum outro país. Em contrapartida, a repressão política matou milhares de pessoas.

Finalizando, a Revolução Russa está morta e deve ser enterrada, suas idéias e seus símbolos, como a foice e o martelo devem desaparecer do horizonte político, pois mais atrapalham do que ajudam aos que pretendem modificar a sociedade dos nossos dias em que vivemos.

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#21 Mensagem por Carnage » 13 Ago 2011, 01:36

Porra! Acho incrível como parece que tem gente que vê a história passar na frente dos olhos mas continua ignorando como as coisas funcionam e embarcam em lendas perpetradas pelos estelionatários internacionais.

Nenhum país nunca quebrou, ou mesmo ficou em más condições, por causa de dinheiro gasto com o social. Países sempre quebram por especulação financeira, falcatruas bancárias, exploração de dívidas por entidades financeiras, etc. É sempre culpa do sistema financeiro, ou melhor, dos tubarões que o controlam ou de ações de governos pra beneficiar e proteger este sistema financeiro. Sempre.

É sempre o caso de privatizar os ganhos e socializar os prejuízos. Sempre.

Mas sempre tem gente dizendo que a culpa é o dinheiro gasto com bem estar social...

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#22 Mensagem por Compson » 15 Ago 2011, 11:30

florestal escreveu:
Compson escreveu: Discordo... A Catástrofe de 1917-89 (a Catástrofe mais longa de todos os tempos) tem que ser lembrada e criticada sempre para que não volte a se repetir.
Não foi uma catástrofe, a Revolução Russa de 1917 foi o episódio histórico mais importante do século que passou e modificou substancialmente a vida em toda a Europa; diretamente nos países do chamado socialismo real e indiretamente nos demais países, que adotaram medidas reformistas e propiciaram a criação do estado de bem estar social, característica de todos os governos social-democratas do pós-guerra que chegaram ao poder em aliança com a burguesia como política de contenção ao comunismo.
Foi sem dúvida uma catástrofe! O fato de ter alguns efeitos positivos não legitima nenhum poder totalitário.

Para fazer o país crescer, um governo precisa de três coisas: recursos naturais, controle de investimentos e controle de salários. O governo da União Soviética controlava esses três fatores de modo muito mais rigoroso que qualquer ditadura da América Latina, por exemplo... O busílis está em conciliar esse controle com procedimentos decisórios minimamente democráticos.

Sobre o Estado de bem estar social, não é um resto do sistema comunista... É uma conquista dos trabalhadores de cada país ocidental. A Inglaterra já tinha uma estrutura de proteção social no final do século XIX.

Foi uma catástrofe, mas foi uma catástrofe necessária para a humanidade perceber que um certo jacobinismo travestido de marxismo é das piores opções possíveis. O Gulag não é exceção ao regime soviético: está no cerne do projeto bolchevique. Basta ler Estado e Revolução, mais precisamente o final do capítulo 5, para perceber que o ideal de Lenin nada tinha de "emancipação do trabalho", mas consistia em transformar toda a Rússia num campo de trabalho, baseado numa espécie de supervisão e caguetagem geral de todos contra todos. Que utopia!

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#23 Mensagem por Carnage » 15 Ago 2011, 23:12

http://www.conversaafiada.com.br/politi ... exausto-2/
O tempo exausto (2)
por Mauro Santayana


A mesma espécie de sábios que decretou o fim da História, com o triunfo da globalização neoliberal, decretara antes o fim das ideologias. A ordem do raciocínio é a mesma: o capitalismo, premiando os audazes e persistentes, liquidaria as ideologias. Na realidade, eles pensavam em uma só ideologia, o que é correto, do ponto de vista lógico: o fim do pensamento de esquerda, com o domínio absoluto da ordem da direita, contra a “anarquia” libertária, acabaria com os lados ideológicos. Onde predomina o pensamento único – no caso, o neoliberal – as idéias se encontram castradas, mortas.

Mas a ideologia não é uma diversão da inteligência. Ela corresponde a interesses humanos bem claros e definidos. Os homens, mesmo quando submetidos ao sofrimento mais terrível, não deixam de aspirar à felicidade. O que difere é o conceito de felicidade de cada um. Para os lúcidos, a felicidade é altruísta. Assim a sentem, por exemplo, os patriotas, quando seu país cresce em prosperidade, e todos  vivem em paz e têm a mesma oportunidade de realização. Não pode haver segurança pessoal e o conforto que o trabalho permite, enquanto houver crianças famintas e adolescentes perdidos no turbilhão da miséria, das drogas e do crime. Em uma sociedade como a que nos cabe, ainda não podemos ser felizes, se possuirmos  sentimento de  pátria. A pátria não é referência geográfica, é uma reunião de seres humanos que falam a mesma língua e têm projetos comuns. Como resumiu Renan, a nação é o ato cotidiano de solidariedade. Os grandes interesses, que manipulam os meios de informação, para manter os povos submissos, inoculam os vírus da intolerância para com os diferentes, e pervertem as parcelas mais débeis dos povos, transformando-as em hordas de predadores e assassinos. Isso ocorre em todos os países do mundo, porque é inerente ao sistema mundial de domínio.

Submetidas à insânia construída e mantida pelo controle da indústria cultural, muitas pessoas só se sentem felizes no usufruto da desigualdade e da injustiça. São aquelas cuja fortuna só lhes serve para a soberba e a intolerância. Há muitos homens ricos que escapam dessa maldição.  Lembro-me de uma confidência que me fez, quando participávamos da Comissão Arinos, o industrial Antonio Ermírio de Moraes, cuja posição no grupo de estudos era de centro-esquerda: ele se sentia tranqüilo porque não fazia de sua fortuna uma ofensa a ninguém. Guardava os seus domingos para servir aos outros, na direção de um grande hospital, e não os usava para a ostentação e o hedonismo. Ele, como alguns outros empresários brasileiros, como foi José Alencar, são daqueles que se orgulham mais do número de empregos que criam, do que do conforto e do poder de que podem desfrutar. Mas há – e não só entre os ricos, mas também entre os pobres alienados  – aqueles que só se sentem felizes diante da infelicidade alheia. Só são ricos porque vivem em um mundo de pobres. A partir dessa simplificação, podemos concluir que há, sim, e continuará havendo, duas ideologias, direita e esquerda, com suas pequenas variantes no espectro doutrinário.

A extrema-direita só pode impor-se mediante a fraude e o terror. Ela sempre se valeu da combinação dos dois expedientes que, na perfeita síntese da Igreja Católica e da Reforma  dos tempos inquisitoriais, se fazia mediante o pavor do inferno, reproduzido no mundo com as torturas, os massacres mútuos de católicos e protestantes,  e a hipocrisia da caridade, a fim de  garantir a submissão dos oprimidos, com o uso alternado da piedade e da forca,  como resumiu um conservador lúcido, Bronislaw Geremek.

Como em todas as grandes mudanças históricas, aguarda-se a intervenção da inteligência, a fim de conduzir a revolução que as ruas anunciam, nos paises árabes, nas praças espanholas e nos bairros de Londres – não só os  “sujos” de imigrantes negros e morenos, como Tottenham, mas também em áreas centrais, como a de Oxford City.

A última manifestação de rebeldia que contou com a presença de grandes intelectuais foi a eclosão da juventude, em 1968. Os homens que deram o suporte de suas idéias ao movimento, como Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Max Horkheimer, Jean Paul Sartre, já não existem. Os pensadores de hoje parecem acomodados. Não aparentam dispor da chama interior próxima dos jovens que queriam  amar e expressar seu inconformismo com o mal-estar de um mundo unidimensional e injusto, como os que se rebelaram em Paris, em maio de 1968 – e, em seguida, no resto do Ocidente.

O tempo está exausto, mas é provável que se canse da própria exaustão, a fim de, tal como  em outras épocas, provocar  o fulgor da inteligência e dar a alguns homens não só  idéias fortes, mas também o poder de, com elas, convocar a consciência solidária e essencial dos homens, contra os novos bárbaros.
http://www.viomundo.com.br/humor/darcus ... -vivo.html
Darcus Howe: O homem que detonou a BBC, ao vivo
por Luiz Carlos Azenha


O vídeo abaixo vai certamente entrar na lista das melhores atuações do PIG, emparelhado com aquele da massa cheirosa.

A entrevistadora da BBC, Fiona Armstrong, tinha — como se diz no ramo — uma agenda.
Ela queria que o entrevistado, o escritor Darcus Howe, condenasse os tumultos em Londres e parece ter ficado transtornada com a opinião destoante do convidado.

Ele disse que se a polícia e o governo britânico tivessem ouvido os jovens — brancos ou negros –, saberia antecipadamente que eles estavam no limite com a atuação dos policiais.

Howe citou o próprio neto, que disse ao avô ter sido revistado pela polícia um sem número de vezes nas ruas da cidade.
A apresentadora disse que não tinha motivos para achar que ele estava mentindo. Mas, quem disse que ele estava mentindo?

Em seguida, visivelmente agitada, ela sugeriu que o próprio escritor tinha participado de “riots” no passado, “tumultos”.
Ele: “Nunca participei de tumultos. Eu estive em manifestações que terminaram em conflito. Tenha respeito por um velho negro das Antilhas”.
Disse também que a entrevistadora soava “idiotic”, ou idiota.
A resposta final dele, em inglês:
“I have never taken part in a single riot. I’ve been part of demonstrations that ended up in a conflict. Stop accusing me of being a rioter and have some respect for an old West Indian negro, because you wanted for me to get abusive. You just sound idiotic – have some respect.”

A BBC pediu desculpas pela maneira como a âncora formulou a pergunta e Howe disse que, por isso, desistiu de processar a emissora.
Outras versões deste mesmo vídeo já tem mais de 3,5 milhões de acessos no You Tube.

Abaixo, veja também a surra que o sociólogo Silvio Caccia Bava deu nos entrevistadores da Globonews, tratando do mesmo assunto (notem, especialmente, como o entrevistador pergunta já respondendo, como se fosse o Ali Kamel):

http://www.youtube.com/watch?v=mzDQCT0AJcw

http://www.youtube.com/watch?v=HI1YSPHVeIA

http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=18241
O capitalismo bestial ataca nas ruas
O thatcherismo despertou os instintos bestiais do capitalismo (o “espírito animal” do empreendedor, como o chamam timidamente) e, desde então, nada surgiu que os domasse. Destruir e queimar é hoje a palavra de ordem das classes dominantes, de fato, em todo o mundo. Todos, não só os jovens agitadores, devem ser responsabilizados. O capitalismo bestial deve ser levado a julgamento por crimes contra a humanidade, tanto quanto por crimes contra a natureza. O artigo é de David Harvey.
David Harvey


“Adolescentes niilistas e bestiais”. Foi como o Daily Mail os apresentou: os jovens enlouquecidos, vindos de todas as vias da vida, que correram pelas ruas sem pensar, atirando desesperadamente tijolos, pedras e garrafas contra os polícias, saqueando aqui, incendiando ali, levando as autoridades a uma também enlouquecida caçada de salve-se quem puder/agarre o que conseguir, enquanto os jovens iam alterando os seus alvos estratégicos, saltando de um para outro.

A palavra “bestial” saltou-me à vista. Lembrou-me que os communards em Paris em 1871 foram mostrados como animais selvagens, como hienas, que mereciam ser (como foram, em vários casos) sumariamente executados, em nome da santidade da propriedade privada, da moralidade, da religião e da família. Mas em seguida a palavra trouxe-me outra associação: Tony Blair atacando os “média bestiais”, depois de ter vivido durante tanto tempo confortavelmente alojado no bolso esquerdo de Rupert Murdoch, até que Murdoch meteu a mão no bolso direito e de lá tirou David Cameron.

Evidentemente haverá o debate histérico de sempre entre os sempre prontos a ver a agitação das ruas como questão de pura, simples e imperdoável criminalidade, e os ansiosos por contextualizar eventos em termos de polícia incompetente; de eterno racismo e injustificada perseguição aos jovens e às minorias; de desemprego em massa entre os jovens; de pauperização incontrolável da sociedade; de uma política autista de austeridade que nada tem a ver com a economia e tudo tem a ver com a perpetuação e a consolidação da riqueza e do poder individuais. Haverá até quem condene o sem sentido e a alienação de tantos trabalhos e empregos e tal desperdício da vida de todos os dias, de tão imenso, mas desigualmente distribuído, potencial para o florescimento humano.

Se tivermos sorte, haverá comissões e relatórios que dirão tudo, outra vez, que já foi dito sobre Brixton e Toxteth nos anos Thatcher. Digo “sorte”, porque os instintos bestiais do atual primeiro-ministro parecem tender mais a mandar usar canhões de água, a convocar a brigada do gás lacrimogêneo e a usar balas revestidas de borracha, ao mesmo tempo em que ele untuosamente pontifica sobre a perda da bússola moral, o declínio da civilidade e a triste deterioração dos valores da família e da disciplina entre os jovens sem lar.

Mas o problema é que vivemos em sociedade na qual o próprio capitalismo se tornou desenfreadamente fera. Políticos-feras mentem nos gastos, banqueiros-feras assaltam a bolsa pública até ao último vintém, altos executivos, operadores de hedge fundse génios do lucro privado saqueiam o mundo dos ricos, empresas de telemóveis e cartões de crédito cobram misteriosas tarifas nas contas de todos, empresas de retalho aumentam os preços, por baixo do chapéu artistas vigaristas e golpistas aplicam os seus golpes até entre os mais altos escalões do mundo corporativo e político.

Uma economia política de saqueio das massas, de práticas predatórias que chegam ao assalto à luz do dia, sempre contra os mais pobres e vulneráveis, os simples e desprotegidos pela lei – isso é hoje a ordem do dia. Alguém ainda crê que seja possível encontrar um capitalista honesto, um banqueiro honesto, um político honesto, um comerciante honesto ou um delegado de polícia honesto? Sim, existem. Mas só como minoria, que todos os demais consideram idiotas. Seja esperto. Passe a mão no lucro fácil. Fraude, roube! A probabilidade de ser apanhado é baixa. E em qualquer caso, há muitos meios para proteger a fortuna pessoal e impedir que seja tocada pelos golpes das corporações.

Tudo isso, dito assim, talvez choque. Muitos de nós não vemos, porque não queremos ver. Claro que nenhum político se atreve a dizer estas coisas e a imprensa só publicaria, se algum dia publicasse, para escarnecer de quem dissesse. Mas acho que todos os que correm pelas ruas agitando a cidade sabem exatamente a que me refiro. Estão fazendo o que todos fazem, embora de modo diferente – mais flagrante, mais visível, nas ruas. O thatcherismo despertou os instintos bestiais do capitalismo (o “espírito animal” do empreendedor, como o chamam timidamente) e, desde então, nada surgiu que os domasse. Destruir e queimar é hoje a palavra de ordem das classes dominantes, de fato, em todo o mundo.

Essa é a nova normalidade sob a qual vivemos. Isso deveria preocupar o presidente do inquérito que rapidamente será nomeado. Todos, não só os jovens agitadores, devem ser responsabilizados. O capitalismo bestial deve ser levado a julgamento por crimes contra a humanidade, tanto quanto por crimes contra a natureza.

Infelizmente, isso é o que os agitadores nem vêem nem exigem. Tudo conspira para nos impedir de ver ou exigir exactamente isso. Por isso o poder político tão facilmente se traveste na roupagem da moralidade e de uma razão repugnante, de modo que ninguém veja a corrupção nua e a irracional estupidez.

Mas há réstias de esperança e luz em todo o mundo. O movimento dos indignados na Espanha e na Grécia, os impulsos revolucionários na América Latina, os movimentos camponeses na Ásia, todos esses começam a ver através da imundície que o capitalismo global, predatório, bestial lançou sobre o mundo. O que ainda falta para que todos vejamos e comecemos a agir? Como se poderá começar tudo outra vez? Que rumo tomar? As respostas não são fáceis. Mas uma coisa já se sabe: só chegaremos às respostas certas, se fizermos as perguntas certas.

(*) Geógrafo, professor emérito do Graduate Center da City University of New York.

(**) Artigo publicado em Counterpunch e disponível também em davidharvey.org, traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu.

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#24 Mensagem por O Pastor » 16 Ago 2011, 22:50

Darcus Howe!! Guns of Brixton!!
:-positivo-: :-positivo-: :-positivo-:

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#25 Mensagem por Carnage » 16 Ago 2011, 23:45

O Pastor escreveu:Darcus Howe!! Guns of Brixton!!
:-positivo-: :-positivo-: :-positivo-:
Porra, o negão é foda! Meu ídolo!

A bronca que ele dá na âncora mala foi demais!

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#26 Mensagem por O Pastor » 17 Ago 2011, 22:00

Carnage escreveu:
O Pastor escreveu:Darcus Howe!! Guns of Brixton!!
:-positivo-: :-positivo-: :-positivo-:
Porra, o negão é foda! Meu ídolo!

A bronca que ele dá na âncora mala foi demais!
A âncora é uma grande filho da puta. SE fosse ela pedia demissão e mudava de profissão.

Ela tentou manipular o velho, direcionando ele para um discurso dirigido. Só que o velho é um ex-Black Panthers, um puta de um escritor engajado, que percebeu a armadilha e rapidamente desfez o nó. Tá bombando no You Tube!! :mrgreen: :mrgreen:

http://en.wikipedia.org/wiki/Darcus_Howe

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#27 Mensagem por Carnage » 17 Ago 2011, 22:15

O texto é um tanto moralista, mas é interessante.

http://blogs.telegraph.co.uk/news/peter ... he-bottom/
The moral decay of our society is as bad at the top as the bottom [A decadência moral de nossa sociedade é tão grave no topo quanto na base]
By Peter Oborne
August 11th, 2011


David Cameron, Ed Miliband e toda a classe política britânica se juntaram ontem para denunciar os amotinados. Eles naturalmente estavam certos ao dizer que as ações dos saqueadores, incendiários e assaltantes eram abomináveis e criminosas, e que a polícia deveria receber mais apoio.

Mas havia também algo muito falso e hipócrita sobre o choque e o ultraje expressos no parlamento. Os deputados falaram sobre os terríveis eventos da semana como se não tivessem nada a ver com eles.

Não posso aceitar que seja este o caso. Na verdade, acredito que a criminalidade em nossas ruas não pode ser dissociada da desintegração moral dos escalões mais altos da moderna sociedade britânica. As últimas duas décadas testemunharam um terrível declínio dos padrões da elite governante britânica. Tornou-se aceitável que nossos políticos mintam e enganem. Uma cultura quase universal de egoísmo e ganância surgiu.

Não foram apenas os jovens ferozes de Tottenham que se esqueceram que tem tanto deveres quanto direitos. Assim é também com os ricos ferozes de Chelsea e Kensington. Alguns anos atrás, minha mulher e eu fomos a um jantar numa mansão no oeste de Londres. Um segurança vigiava o lado de fora da rua e houve muita conversa sobre uma “divisão norte-sul” , que eu aceitei literalmente por um tempo até me dar conta de que os donos da casa estavam se referindo a uma divisão entre os que moravam ao norte e ao sul da Kensington High Street.

A maioria das pessoas desta rua caríssima estavam tão desenraizadas e distantes do resto do Reino Unido quanto os jovens homens e mulheres desempregados que causaram tantos danos terríveis nos últimos dias. Para eles, a repulsiva revista do Financial Times chamada “Como gastar” é uma bíblia. Eu arriscaria dizer que poucos deles se importam em pagar impostos se puderem evitá-los e que menos ainda sentem algum tipo de obrigação com a sociedade que apenas algumas décadas atrás era “natural” para os ricos e os de cima.

Ainda assim celebramos as vidas vazias de gente que vive assim. Algumas semanas atrás, li uma nota em um jornal dizendo que o magnata dos negócios Sir Richard Branson estava pensando em transferir seu quartel-general para a Suiça. A medida foi descrita como um golpe em potencial contra o ministro das finanças George Osborne, porque resultaria na redução da arrecadação de impostos.

Não consegui deixar de pensar que num mundo são e decente, tal mudança seria um problema para o Sir Richard, não para o ministro. As pessoas notariam que um importante e rico homem de negócios estava fugindo dos impostos britânicos e pensariam mal dele. Em vez disso, ele foi condecorado e é amplamente bajulado. O mesmo é verdadeiro quanto ao brilhante varejista Sir Philip Green. Os negócios do Sir Philip nunca sobreviveriam sem a famosa estabilidade política e social do Reino Unido, sem nosso sistema de transporte para despachar suas mercadorias ou nossas escolas para educar seus trabalhadores.

Ainda assim Sir Philip alguns anos atrás transferiu um bilhão de libras [equivalentes a 2,6 bilhões de reais] em dividendos offshore e parece que não está nem um pouco disposto a pagar por isso. Por que ninguém se irrita e o responsabiliza? Eu sei que ele emprega caros advogados tributaristas e que tudo o que faz é legal, mas tem de enfrentar questões éticas e morais tão grandes quanto as colocadas para o jovem bandido que invadiu uma das lojas de Sir Philip para furtá-lo?

Nossos políticos — apoiados como fariseus na perna de trás, ontem, no Parlamento — são tão ruins quanto o Sir Philip. Eles já demonstraram que estão preparados para ignorar a decência e, algumas vezes, para violar a lei. David Cameron está feliz em ter alguns dos piores exemplos no ministério. Considerem por exemplo o Francis Maude, que é encarregado de enfrentar o desperdício no setor público — o que os sindicatos dizem que é eufemismo para guerrear contra trabalhadores de baixa renda. Ainda assim o sr. Maude ganhou milhares de libras ao violar o espírito, embora não a lei, na ajuda de custo dada aos parlamentares.

Muito se falou nos últimos dias da cobiça dos saqueadores por bens de consumo, inclusive pelo deputado de Rotherham, Denis MacShane, que afirmou com justeza, “o que os saqueadores queriam eram alguns minutos no mundo do consumo da Sloane Street”. Isso dito por um homem que usou 5.900 libras [o equivalente a 15.400 reais] de sua ajuda de custo para comprar oito laptops. Naturalmente, como um parlamentar, ele obteve os computadores legalmente, usando dinheiro público.

Ontem, o veterano deputado Gerald Kaufman pediu ao primeiro-ministro para avaliar como os saqueadores poderiam ser “reconquistados” pela sociedade. Sim, este é o mesmo Gerald Kaufman que pediu o reembolso de 14,301.60 libras [equivalentes a 37 mil reais] em três meses, inclusive 8,865 libras [equivalentes a 23 mil reais] por um aparelho de TV da Bang & Olufsen.

Ou considere o deputado de Salford, Hazel Blears, que tem pedido medidas duras contra os saqueadores. Eu acho difícil fazer qualquer distinção entre os golpes de Blears na ajuda de custo e na sonegação de impostos e os roubos na cara dura perpetrados pelos saqueadores.

O primeiro-ministro não demonstrou sinal de que entendeu que alguma coisa cheirava mal ontem no debate do Parlamento. Ele falou em moralidade, mas como algo que só se aplica aos muito pobres: “Vamos restaurar uma sensação de moralidade e responsabilidade — em toda cidade, em toda rua, em toda casa”. Ele parece não ter entendido que isso deveria ser aplicado também aos ricos e poderosos.

A verdade trágica é que o sr. Cameron em pessoa é culpado de não passar no teste da moralidade. Fazem apenas seis semanas ele apareceu sorridente na festa de verão da News International [a empresa de Rupert Murdoch], embora o grupo de mídia estivesse àquela altura não apenas sob uma, mas duas investigações policiais. Mais notadamente, ele deu uma posição de destaque no governo ao ex-editor do tabloide News of the World Andy Coulson, embora soubesse àquele altura que Coulson tinha se demitido depois que atos criminosos foram cometidos por subordinados. O primeiro-ministro desculpou a incapacidade desprezível de Coulson alegando que  “todo mundo merece uma segunda oportunidade”. Foi interessante que ontem ele não falou sobre uma segunda chance, quando prometeu punição exemplar para os amotinados e saqueadores.

Este duplo padrão de Downing Street [sede do governo britânico] é sintomático dos duplos padrões que existem no topo de nossas sociedades. Deveria ficar claro que a maioria das pessoas (inclusive, eu sei, os leitores do Telegraph) continuam a acreditar em honestidade, decência, trabalho duro e em colocar de volta na sociedade tanto quanto se tira dela.

Mas há os que não pensam assim. Certamente, os assim chamados jovens ferozes não se importam com decência e moralidade. Mas também os ricos e poderosos venais — muitos de nossos banqueiros, jogadores de futebol, homens de negócio e políticos.

Naturalmente, a maioria deles é inteligente e suficientemente rica para obedecer as leis. O mesmo não pode ser dito dos jovens homens e mulheres, sem esperança ou aspirações, que causaram a confusão e o caos nos últimos dias. Mas os amotinados tem esta defesa: eles estão apenas seguindo o exemplo das figuras respeitadas de nossa sociedade. Vamos considerar que muitos dos jovens de nossas metrópoles nunca foram treinados em valores decentes. Tudo o que conhecem é a barbárie. Nossos políticos e banqueiros, por outro lado, estiveram em boas escolas e universidades e tiveram as melhores oportunidades na vida.

Alguma coisa terrivelmente errada aconteceu no Reino Unido. Se vamos confrontar os problemas expostos na semana que passou, é essencial levar em conta que eles não existem apenas nos núcleos habitacionais.

A cultura da ganância e da impunidade que temos testemunhado em nossas telas de TV se estende até as sedes de empresas e ao ministério. Chega à polícia e a boa parte de nossa mídia. Não é apenas a juventude danificada, é o Reino Unido em si que precisa de reforma moral.

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Re: London Calling - Inglaterra em Chamas

#28 Mensagem por Carnage » 30 Ago 2011, 22:29

http://www.viomundo.com.br/politica/evi ... midia.html
O MUNDO À BEIRA DO CAOS
por Miguel Urbano Rodrigues


A crise do capitalismo é tão profunda que até os líderes dos EUA e da União Europeia e os ideólogos do neoliberalismo assumem essa realidade. Estão alarmados por não enxergarem uma solução que possa deter a corrida para o abismo. Esforçam-se sem êxito para que apareça luz no fim do túnel.

Apesar das contradições existentes, os EUA e as grandes potências da União Europeia puseram fim às guerras interimperialistas – como a de 1914-18 e a de 1939-45 – substituindo-as por um imperialismo colectivo, sob a hegemonia norte-americana, que as desloca para países do chamado Terceiro Mundo submetidos ao saque dos seus recursos naturais.

Mas a evolução da conjuntura mundial demonstra também com clareza que a crise do capital não pode ser resolvida no quadro de uma «transnacionalização global», tese defendida por Toni Negri e Hardt no seu polémico livro em que negam o imperialismo tal como o definiu Lenine. Entre os EUA e a União Europeia (e os países emergentes da Ásia e da América Latina) existe um abismo histórico que não foi nem pode ser eliminado em tempo previsível.

A crescente internacionalização da gestão não desemboca automaticamente na globalização da propriedade. O Estado transnacional, a que aspiram uma ONU instrumentalizada, o FMI, o Banco Mundial e a OMC é ainda uma aspiração distante do sistema de poder (*).

O caos em que o mundo está cair ilumina o desespero do capital perante a crise pela qual é responsável.
A ascensão galopante da direita neoliberal ao governo em países da União Europeia ressuscita o fantasma da ascensão do fascismo na Republica de Weimar. A Historia não se repete porem da mesma maneira e é improvável que a extrema-direita se instale no Poder no Velho Mundo. Mas a irracionalidade do assalto à razão é uma realidade.

O jogo do dinheiro nas bolsas é hoje muito mais importante na acumulação de gigantescas fortunas do que a produção. O papel dos «mercados» – eufemismo que designa o funcionamento da engrenagem da especulação nas manobras do capital – tornou-se decisivo no desencadeamento de crises que levam à falência países da União Europeia. Uma simples decisão do gestor de «uma agência de notação» pode desencadear o pânico em vastas áreas do mundo.

O surto de violência em bairros degradados de Londres, Birmingham, Manchester e Liverpool alarma a Inglaterra de Cameron e motiva nas televisões e jornais ditos de referência torrentes de interpretações disparatadas de sociólogos e psicanalistas que falam como porta-vozes da classe dominante.

Em Washington, congressistas influentes manifestam o temor de que, o «fenómeno britânico» alastre aos EUA e, nos guetos das suas grandes cidades, jovens latinos e negros imitem os das minorias da Grã Bretanha, estimulados por mensagens e apelos no Twitter e no Facebook.

Mas enquanto a pobreza e a miséria aumentam, incluindo nos países mais ricos, a crise não afecta os banqueiros e os gestores das grandes empresas. Segundo a revista «Fortune», as fortunas de 357 multimilionários ultrapassam o PIB de vários países europeus desenvolvidos.

Nos EUA, na Alemanha, na França, na Itália os detentores do poder proclamam que a democracia política atingiu um patamar superior nas sociedades desenvolvidas do Ocidente. Mentem. A censura à moda antiga não existe. Mas foi substituída por um tipo de manipulação das consciências eficaz e perverso. Os factos e as notícias são seleccionados, apresentados, valorizados ou desvalorizados, mutilados e distorcidos, de acordo com as conveniências do grande capital. O objectivo é impedir os cidadãos de compreender os acontecimentos de que são testemunhas e o seu significado.

Os jornais e as cadeias de televisão nos EUA, na Europa, no Japão, na América Latina dedicam cada vez mais espaço ao «entretenimento» e menos a grandes problemas e lutas sociais e ao entendimento do movimento da Historia profunda.

Os temas impostos pelos editores e programadores – agentes mais ou menos conscientes do capital – são concursos alienantes, a violência em múltiplas frentes, a droga, o crime, o sexo, a subliteratura, o quotidiano do jet set, a vida amorosa de príncipes e estrelas, a apologia do sucesso material, as férias em lugares paradisíacos, etc.
Evitar que os cidadãos, formatados pela engrenagem do poder, pensem, é uma tarefa permanente dos media.

As crónicas de cinema, de televisao, a musica, a critica literária reflectem bem a atmosfera apodrecida do tipo de sociedade definida como civilizada e democrática por aqueles que, colocados na cúpula do sistema de poder, se propõem como aspiração suprema a multiplicar o capital.

Em Portugal surgiu como inovação grotesca um clube de pensadores; os debates, mesas redondas e entrevistas com dóceis comentadores, mascarados de «analistas», são insuportáveis pela ignorância, hipocrisia e mediocridade da quase totalidade desses serventuários do capital. Contra-revolucionários como Mario Soares, António Barreto, Medina Carreira, Júdice; formadores de opinião como Marcelo Rebelo de Sousa, um intoxicador de mentes influenciáveis que explica o presente e prevê o futuro como se fora o oráculo de Delfos; jornalistas his master voice, como Nuno Rogeiro e Teresa de Sousa; colunistas arrogantes que odeiam o povo português e a humanidade, como Vasco Pulido Valente, pontificam nos media imitando bruxos medievais, servindo o sistema em exercícios de verborreia que ofendem a inteligencia.

O Primeiro-ministro e o seu lugar-tenente Portas, exibindo posturas napoleónicas, pedem «sacrifícios» e compreensão aos trabalhadores enquanto, submissos, aplicam o projecto do grande capital e cumprem exigências do imperialismo.

Desde o inicio do primeiro governo Sócrates, o que restava da herança revolucionaria de Abril foi mais golpeado e destruído do que no quarto de século anterior.

Ao Portugal em crise exige- se o pagamento de uma factura enorme da crise maior em que se afunda o capitalismo.

Nos EUA, pólo hegemónico do sistema, o discurso do Presidente Obama, despojado das lantejoulas dos primeiros meses de governo, aparece agora como o de um político disposto a todas as concessões para permanecer na Casa Branca. A sua ultima capitulação perante o Congresso estilhaçou o que sobrava da máscara de humanista reformador. Para que o Partido Republicano permitisse aumentar de dois biliões de dólares o tecto de uma divida publica astronomica- já superior ao Produto
Interno Bruto do país – aceitou manter intocáveis os privilégios indecorosos usufruídos por uma classe dominante que paga impostos ridículos e golpear duramente um serviço de saúde que já era um dos piores do mundo capitalista. A contrapartida da debilidade interior é uma agressividade crescente no exterior.

Centenas de instalações militares estadounidenses foram semeadas pela Ásia, Europa, América Latina e África.

Mas «a cruzada contra o terrorismo»  não produziu os resultados esperados. As agressões americanas aos povos do Iraque e do Afeganistão promoveram o terrorismo em escala mundial em vez de o erradicar. Crimes monstruosos foram cometidos pela soldadesca americana no Iraque e no Afeganistão. O Congresso legalizou a tortura de prisioneiros. A «pacificação do Iraque», onde a resistência do povo à ocupação é uma realidade não passa de um slogan de propaganda. No Afeganistão, apesar da presença de 140 000 soldados dos EUA e da NATO, a guerra está perdida.

Os bombardeamentos de aldeias do noroeste do Paquistão por aviões sem piloto, comandados dos EUA por computadores, semeiam a morte e a destruição, provocando a indignação do povo daquele país.

O bombardeamento da Somália (onde a fome mata diariamente milhares de pessoas) por aviões da USAF, e de tribos do Iémen que lutam contra o despotismo medieval do presidente Saleh tornou-se rotineiro. Como sempre, Washington acusa as vítimas de ligações à Al Qaeda.

Na África, a instalação do AFRICOM, um exército americano permanente, e a agressão da NATO ao povo da Líbia confirmam a mundialização de uma a estratégia imperial.

O terrorismo de Estado emerge como componente fundamental da estratégia de poder dos EUA.

Obviamente, Washington e os seus aliados da União Europeia, tentam transformar o crime em virtude. Os patriotas que no Iraque, no Afeganistão, na Líbia resistem às agressões imperiais são qualificados de terroristas; os governos fantoches de Bagdad e Kabul estariam a encaminhar os povos iraquiano e afegão para a democracia e o progresso; o Irão, vítima de sanções, é ameaçado de destruição; o aliado neofascista israelense apresentado como uma democracia moderna.

A perversa falsificação da Historia é hoje um instrumento imprescindível ao funcionamento de uma estratégia de poder monstruosa que, essa sim, ameaça a Humanidade e a própria continuidade da vida na Terra.

O imperialismo acumula porem derrotas e os sintomas do agravamento da crise estrutural do capitalismo são inocultáveis.

O capitalismo, pela sua própria essência, não é humanizável. Terá de ser destruído. A única alternativa que desponta no horizonte é o socialismo. O desfecho pode tardar. Mas a resistência dos povos à engrenagem do capital que os oprime cresce na Ásia, na Europa, na América Latina, na África. Eles são o sujeito da História e a vitoria final será sua.

Vila Nova de Gaia, 15 de Agosto de 2011
(*) Estes temas são tratados em profundidade pelo economista argentino Claudio Katz num livro a ser editado brevemente
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