Reforma Política

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Re: Reforma Política

#16 Mensagem por caçador_novo » 21 Set 2011, 22:34

Compson escreveu:
Carnage escreveu:
leteseu escreveu:Parlamentos municipais de um determinado país nórdico não remuneram os parlamentares. Há gente de todos os níveis sociais nestes parlamentos pois as pessoas exercem atividades no seu dia-a-dia e dedicam parte do tempo ao parlamento.

A corrupcão é notavelmente inferior àquela que ocorre em nossos parlamentos municipais.

Deixar de remunerar não resolve é claro. Todavia se tivéssemos um sistema jurídico eficiente os corruptos e corruptores pensariam antes de agir ilicitamente. Com garantia de punicão e trabalho sem remuneracão teríamos apenas parlamentares vocacionados.
Interessante, mas será que funcionaria numa democracia tão "novinha" como a nossa e num país com níveis de escolariade tão baixos? Comparar com um país onde quase todo mundo tem curso superior não acho que seja viável.
Além disso, ser parlamentar de uma cidade pequena é quase como participar do conselho de condomínio... Ser deputado federal no Brasil é uma exigência full time, só pelas distâncias que o cara tem que percorrer entre o Congresso e o Estado de origem....

Lembrando que, em sua maioria, os políticos são ricos porque são políticos, não o contrário! Quer dizer, um trabalhador médio não poderia abrir mão de quatro anos de remuneração e de sua vida profissional para servir ao país... Creio que a tendência seria tornar as relações mais promíscuas e clientelistas, pois o cara teria que ganhar a vida de outro jeito. Não que os promíscuos e clientelistas não existam hoje, mas a não remuneração tenderia a afastar os que não são.

Ser deputado seria uma atividade full time se todos comparecessem ao Congresso. Há muitos anos, um quorum de 400 deputados é considerado muito alto. Ou seja, é considerado difícil contar com apenas 25% de faltas. Além disso, a maioria dos deputados só ficam em Brasília de terça a quinta, supostamente para ficar juntos as bases. Assim, a demanda de tempo não é tão grande.
Concordo com voce quando diz que a não remuneração poderia ampliar a corrupção, apesar de que muitos políticos não pretendem se eleger para ganhar salário, mas defender direitos e interesses de grupos. Tanto que há bancadas (ruralistas, por exemplo) que são muito mais coesas que quase todos os partidos.
Qual a solução? Não sei e talvez não seja possível resolver as questões no âmbito do atual modelo representativo.
Outra questão que não é tratada abertamente é o fato de que alguns políticos procuram se eleger basicamente para terem forum privilegiado ou porque são ligados ao crime organizado (cabe lembrar que o crime só é organizado quando tem ramificações no aparelho estatal).

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Gilmor
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Re: Reforma Política

#17 Mensagem por Gilmor » 21 Set 2011, 23:17

Gilmor escreveu:
leteseu escreveu: O que precisamos é um choque de moralidade a ser iniciado no parlamento, onde deputado joga paciência no plenário.
Não podemos esquecer dos corruptores, as grandes empresas que financiam e depois manipulam essa corja.

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Carnage
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Re: Reforma Política

#18 Mensagem por Carnage » 28 Set 2011, 22:19

http://www.pt.org.br/index.php?/noticia ... fillipi_jr
Artigo: Financiamento Público e Democracia
Os custos das campanhas crescem exponencialmente a cada eleição. Desta forma, a dependência de financiadores também aumenta.
por José de Fillipi Jr.


A proposta de financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais, contida no relatório do deputado Henrique Fontana (PT/RS), vem sofrendo críticas com alegações de que seria um desperdício de recursos já escassos. Mas o atual sistema é bom? Poderíamos recomendar para outros países? Afirmo que não.

Fui tesoureiro de duas campanhas nacionais vitoriosas: a de 2006, com o ex-presidente Lula, e em 2010 com a presidenta Dilma e ambas com contas aprovadas. Desta forma, não apenas pelo que vivenciei, mas também pelo que observo e tento aprender como deputado federal, gostaria de dar minha opinião.

Os custos das campanhas crescem exponencialmente a cada eleição. Para compararmos, em 2002, o Tribunal Superior Eleitoral registrou R$ 94 milhões de gastos dos candidatos a presidente. No ano passado, este valor chegou a R$ 590 milhões. Desta forma, a dependência de financiadores também aumenta. Hoje, cerca de 30 grandes empresas bancam cerca de 85% desta conta.

Há ainda em nossa legislação uma grave deformação, pois veda as doações de empresas permissionárias e concessionárias de serviço público, mas libera para empresas que mantém contratos em aberto com o poder público.

Neste sentido, não tenho nenhum receio em afirmar que boa parte dos recursos destinada às campanhas provém de receitas oriundas de contratos firmados com os governos, em todas as esferas.

Tentei, como tesoureiro, buscar de fato recursos nas empresas privadas e com pessoas físicas. Gostaria de enaltecer aos que atenderam ao meu chamado, mas se avaliarmos, no final, o resultado foi desalentador.

Em 2010 enviei 10 mil cartas para as maiores empresas do país. Destas, 300 responderam e doaram aproximadamente R$ 7,5 milhões, 5% do total arrecadado.

Pela internet esperávamos pelo menos 10 mil doadores e chegamos a apenas 2 mil pessoas. O PSDB desistiu deste sistema e o tesoureiro da candidata Marina Silva acreditava ter o apoio de 1 milhão de doadores e, no final, não passou de 3.000!

Certamente, estamos diante de um problema de ordem cultural e política: os brasileiros ainda não estão dispostos a financiar a sua democracia.

Mas será que os mesmos brasileiros continuariam dispostos a delegar o pagamento desta conta para 30 grandes empresas? (Um alerta: o candidato derrotado José Serra afirma em seu blog que os grandes doadores contribuíram apenas com o PT. Inacreditável esta argumentação. Caro leitor, não se deixe enganar: os grandes financiadores do PT e do PSDB são os mesmos! Eles fazem aposta para nunca perder! No site do TSE você pode tirar qualquer dúvida).

O relatório do deputado Henrique Fontana prevê doações de pessoas físicas e jurídicas de forma impessoal e republicana para o Fundo de Financiamento das Eleições e o que não for arrecadado desta forma será garantido por recursos do tesouro.

Creio que com o tempo e com uma nova cultura política poderíamos um dia ter doações voluntárias massivas e suficientes para prescindir do financiamento público.

O que seria muito oportuno é debatermos ainda o aperfeiçoamento dos controles e a redução dos gastos de campanha. Para presidente, por exemplo, poderíamos limitar à metade do que foi em 2010.

Infelizmente, arrisco dizer que há pessoas torcendo para não haver mudanças no atual sistema. Para quem faz “negócios privados” nas eleições, este modelo parece bem vantajoso.

O debate prossegue e sugestões serão bem-vindas.

José de Filippi Jr. é deputado federal pelo PT-SP. Foi tesoureiro de duas campanhas presidenciais (2006-2010) e prefeito de Diadema por três

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Re: Reforma Política

#19 Mensagem por Ximba » 01 Out 2011, 10:21

Compson escreveu:
Além disso, um sistema de voto distrital pleno eliminaria qualquer representação de minoria: bem ou mal, se o sistema atual permite esquisitices como Tiririca, Maluf e Garotinho, o sistema distrital, além de não evitar esse problema (basta o figurão escolher o distrito certo), eliminaria as minorias, desde comunistas até os movimentos identitários (negros, homossexuais...), pois é muito improvável que estes encontrem um distrito onde consigam maioria. O sistema misto ameniza um pouco esse problema, mas ainda é pior para os pequenos.
Hj em dia um candidato desse "superstar" como tiririca e eneas levam 1 milhão de votos e empurram por meio do quociente eleitoral outros que receberam um quase nada de voto. Políticos que não representam ninguém e não são fieis nem ao próprio partido deles. Politicos que transformam Brasília em um grande balcão de negócios que atendem só os próprios interesses.
O sistema distrital, na minha visão, impede que esses políticos sem prepesentatividade se elejam. Trás o candidato mais próximo ao seus eleitores.
Acredito que o fim do voto secreto é importante, pois assim eu posso saber se o "meu candidato" está alinhando com as minhas idéias, além do financiamento público de campanhas, que no meu entender eliminaria o vínculo entre político e financiador, além de reduzir drasticamente os gastos com propaganda política.

Ximba

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Re: Reforma Política

#20 Mensagem por Compson » 01 Out 2011, 14:39

Ximba escreveu:Hj em dia um candidato desse "superstar" como tiririca e eneas levam 1 milhão de votos e empurram por meio do quociente eleitoral outros que receberam um quase nada de voto. Políticos que não representam ninguém e não são fieis nem ao próprio partido deles. Politicos que transformam Brasília em um grande balcão de negócios que atendem só os próprios interesses.
O sistema distrital, na minha visão, impede que esses políticos sem prepesentatividade se elejam. Trás o candidato mais próximo ao seus eleitores.
Não sei, no caso do Tiririca, um político "fisiológico" entrou, o Valdemar Costa Neto, e um político com história não entrou, o Genoino. Quer dizer que esses "fisiológicos" não são tão mal votados assim. Bastaria ele escolher a clientela, ops, o distrito certo para se candidatar.

Ximba escreveu:Acredito que o fim do voto secreto é importante, pois assim eu posso saber se o "meu candidato" está alinhando com as minhas idéias, além do financiamento público de campanhas, que no meu entender eliminaria o vínculo entre político e financiador, além de reduzir drasticamente os gastos com propaganda política.
Se "fim do voto secreto" = "fim do voto secreto dos parlamentares" concordo. Fim do voto secreto nas eleições, sou contra.

Financiamento público também sou favorável, embora não elimine o vínculo, apenas enfraquece. Mas temos de dizer também de onde vai vir o dinheiro; campanha não é barato!

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PRS
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Re: Reforma Política

#21 Mensagem por PRS » 01 Out 2011, 14:50

O problema maior , a meu ver, é não existir mecanismos que permitam ao ELEITOR cobrar e até chutar fora , DA MESMA FORMA QUE CHUTOU PRA DENTRO, os políticos.

Eu vejo aqui em Santos ; de 17 vereadores voltaram segunda feira para aumentar para 21 - está dentro dos limties legais que estabelece até 24 vereadores,pelo tamanho da população. Mas a questão é: o que 21 farão que 17 já não fazem? Dar "maior representatividade" é o argumento. E isso traduz-se em...? Afora criar Dia de não sei o quê ,mudar nomes de ruas e propor quem deve recebero título de cidadão santista, o que mais um vereador aqui faz?

Só que eu ,como cidadão, posso fazer o quê? O problema é exatamente esse - não existe mecanismo , acessível, que permita ao cidadão tomar uma atitude de cobrança. Ele pode publicar uma carta no jornal,passra email, ficar levanatando cartaz na frente da Câmara MAS legalmente, que atitude prática algum cidadão pode tomar?

Não pode . Porque não tem.

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Re: Reforma Política

#22 Mensagem por roladoce » 01 Out 2011, 15:12

PRS escreveu:O problema maior , a meu ver, é não existir mecanismos que permitam ao ELEITOR cobrar e até chutar fora , DA MESMA FORMA QUE CHUTOU PRA DENTRO, os políticos.

Eu vejo aqui em Santos ; de 17 vereadores voltaram segunda feira para aumentar para 21 - está dentro dos limties legais que estabelece até 24 vereadores,pelo tamanho da população. Mas a questão é: o que 21 farão que 17 já não fazem? Dar "maior representatividade" é o argumento. E isso traduz-se em...? Afora criar Dia de não sei o quê ,mudar nomes de ruas e propor quem deve recebero título de cidadão santista, o que mais um vereador aqui faz?

Só que eu ,como cidadão, posso fazer o quê? O problema é exatamente esse - não existe mecanismo , acessível, que permita ao cidadão tomar uma atitude de cobrança. Ele pode publicar uma carta no jornal,passra email, ficar levanatando cartaz na frente da Câmara MAS legalmente, que atitude prática algum cidadão pode tomar?

Não pode . Porque não tem.
Pode sim...

Tem o site do seu partido....tem email do seu partido..do seu canditado...tem email da impresa...tem o telefone do seu partido....do comite local....

Ou seja, o problema que nós brasileiro somos ensinados desde criança, que não podemos fazer nada....

Isso em paises com a democracia mais saudavel que a nossa...é o contrario..eles enchem o saco dos caras...das TV's...

Imagine uma enxurrada de emails contra isso...chamaria sim a atenção..

E o golpe de misericordia..é não votar mais no mesmo candidato....simples assim!!

Mais como eles tem certeza que vão ser reeleitos e que nós esqueremos....acontece isso...

Um exmplo simples..eu tive um probleminha com meu cartão de credito..fiz uma denuncia online e foi resolvido..

Foi-se o tempo que a internet era uma brincadeira!!! :razz:

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Re: Reforma Política

#23 Mensagem por PRS » 01 Out 2011, 17:28

roladoce escreveu:Imagine uma enxurrada de emails contra isso...chamaria sim a atenção..

E o golpe de misericordia..é não votar mais no mesmo candidato....simples assim!!

Mais como eles tem certeza que vão ser reeleitos e que nós esqueremos....acontece isso...

Um exmplo simples..eu tive um probleminha com meu cartão de credito..fiz uma denuncia online e foi resolvido..

Foi-se o tempo que a internet era uma brincadeira!!! :razz:
São coisas diferentes: refiro-me a existir um dispositivo LEGAL , acessível ao cidadão comum, que permita RETIRAR / RESTRINGIR a atuação de um represente ELEITO . Temos um para COLOCAR , a cada 4 anos, chamado voto e ainda assim , acaba entrando gente que não votamos.Mas só.

O que seria ideal é haver um sistema de avaliação pública em que o vereador/deputado/senador, anualmente fosse submetido a escrutinio popular - não conseguiu 50% de aprovação?cai fora.

Quanto a email, por favor, cite-me UM caso que mobilização internáutica propiciou a mudança de UMA legislação. Iternet funciona contra empresas porque tem o Governo para jogar em cima delas;mas contra o Governo - e refiro-me aos 3 poderes nesse cadinho - você só tem os Proles. E os Proles são bem dispersos.

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Re: Reforma Política

#24 Mensagem por roladoce » 01 Out 2011, 20:42

PRS escreveu:
roladoce escreveu:Imagine uma enxurrada de emails contra isso...chamaria sim a atenção..

E o golpe de misericordia..é não votar mais no mesmo candidato....simples assim!!

Mais como eles tem certeza que vão ser reeleitos e que nós esqueremos....acontece isso...

Um exmplo simples..eu tive um probleminha com meu cartão de credito..fiz uma denuncia online e foi resolvido..

Foi-se o tempo que a internet era uma brincadeira!!! :razz:
São coisas diferentes: refiro-me a existir um dispositivo LEGAL , acessível ao cidadão comum, que permita RETIRAR / RESTRINGIR a atuação de um represente ELEITO . Temos um para COLOCAR , a cada 4 anos, chamado voto e ainda assim , acaba entrando gente que não votamos.Mas só.

O que seria ideal é haver um sistema de avaliação pública em que o vereador/deputado/senador, anualmente fosse submetido a escrutinio popular - não conseguiu 50% de aprovação?cai fora.

Quanto a email, por favor, cite-me UM caso que mobilização internáutica propiciou a mudança de UMA legislação. Iternet funciona contra empresas porque tem o Governo para jogar em cima delas;mas contra o Governo - e refiro-me aos 3 poderes nesse cadinho - você só tem os Proles. E os Proles são bem dispersos.
Nâo sou advogado, e nem milito na área judirica, mais creio que o dispositivo legal, para isso, seria ação civil pública!! :D

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Re: Reforma Política

#25 Mensagem por caçador_novo » 02 Out 2011, 00:19

roladoce escreveu:
PRS escreveu:
roladoce escreveu:Imagine uma enxurrada de emails contra isso...chamaria sim a atenção..

E o golpe de misericordia..é não votar mais no mesmo candidato....simples assim!!

Mais como eles tem certeza que vão ser reeleitos e que nós esqueremos....acontece isso...

Um exmplo simples..eu tive um probleminha com meu cartão de credito..fiz uma denuncia online e foi resolvido..

Foi-se o tempo que a internet era uma brincadeira!!! :razz:
São coisas diferentes: refiro-me a existir um dispositivo LEGAL , acessível ao cidadão comum, que permita RETIRAR / RESTRINGIR a atuação de um represente ELEITO . Temos um para COLOCAR , a cada 4 anos, chamado voto e ainda assim , acaba entrando gente que não votamos.Mas só.

O que seria ideal é haver um sistema de avaliação pública em que o vereador/deputado/senador, anualmente fosse submetido a escrutinio popular - não conseguiu 50% de aprovação?cai fora.

Quanto a email, por favor, cite-me UM caso que mobilização internáutica propiciou a mudança de UMA legislação. Iternet funciona contra empresas porque tem o Governo para jogar em cima delas;mas contra o Governo - e refiro-me aos 3 poderes nesse cadinho - você só tem os Proles. E os Proles são bem dispersos.
Nâo sou advogado, e nem milito na área judirica, mais creio que o dispositivo legal, para isso, seria ação civil pública!! :D
Esse dispositivo existe no EUA, chama-se recall e permite que a permanência ou não de um parlamentar no congresso seja decidida por meio de uma consulta popular realizada no meio do mandato (se houver um requerimento assinado por um determinado número de eleitores solicitando a realização dessa consulta).

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Re: Reforma Política

#26 Mensagem por NUMABOA » 03 Out 2011, 17:03

Uma boa medida seria unificar o calendário eleitoral,fazendo uma eleição só a cada 4 anos.
economizaria centenas de milhões,deixava de parar o país a cada dois anos e evitava o oportunismo de políticos que mau se elegem tentam outro cargo

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Re: Reforma Política

#27 Mensagem por Sempre Alerta » 03 Out 2011, 23:53

Serra e a reforma política

Marcos Coimbra

Depois de ter sido premiado com a presidência do conselho político do PSDB, o ex-governador José Serra resolveu virar cientista político. E especialista em legislação eleitoral. Em um texto publicado há alguns dias na mídia paulista, ele expôs suas ideias sobre alguns pontos polêmicos da reforma política. (De -forma sintomática, apesar de presidir o conselho de seu partido, falou por conta própria.)
A hora é boa: as primeiras propostas de emenda constitucional estão chegando ao plenário do Senado, depois de saírem da comissão especial que José Sarney criou no início da legislatura e passarem pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Em paralelo, a Comissão de Reforma Política da Câmara, cujo relator é o deputado Henrique Fontana (PT-RS), também está prestes a apresentar seu anteprojeto.
No PT e nos principais partidos que formam a base de sustentação do governo, há muita movimentação. Quem a lidera é o ex-presidente Lula, que tem levado a sério o papel que ele mesmo se atribuiu, de “embaixador da reforma”. Desde a campanha eleitoral de 2010, repete que considera imprescindível promover nem que sejam algumas mudanças nas regras que organizam o -nosso sistema político.
Lula tem procurado fazer com que o PT e esses partidos se entendam a respeito de duas questões básicas: o financiamento exclusivamente público das campanhas e a manutenção do voto proporcional, mas com lista fechada, na eleição de deputados e vereadores. Com os partidos médios (PSB, PDT e PCdoB), a concordância parece viável. Com o PMDB, quase impossível.
São as mudanças relevantes que ainda podem ocorrer. Algumas foram descartadas, como a queda da obrigatoriedade do voto e o fim da reeleição no Executivo. Outras devem ser aprovadas sem maior discussão, pois são pouco significativas.
O artigo de Serra tem um título revelador, “O ruim pelo pior”, e é um ataque à proposta de financiamento público, tal como está no anteprojeto do deputado Fontana. Sua tese central é que ele é pior que o modelo vigente, de financiamento misto, mesmo que esse seja admitidamente ruim.
Na crítica à proposta, dois argumentos são usados. O primeiro diz respeito à previsão de que 80% dos recursos do fundo público de campanhas sejam distribuídos aos partidos de forma proporcional aos votos que obtiveram na eleição anterior, deixando 15% para reparte igualitário entre os que elegeram ao menos um deputado e 5% entre todos (mesmo os que não elegeram nenhum).
Parece que Serra considera errado levar em conta o desempenho dos partidos no acesso a um fundo como esse. Mas qual seria a alocação correta? A de um igualitarismo singelo, que faria com que legendas artificiais tivessem os mesmos recursos daquelas representativas?
Todo sistema de financiamento em que há algum tipo de recurso público estabelece a performance passada como critério de acesso. É assim no Brasil, onde o tempo de televisão depende do número de cadeiras conquistadas na Câmara na eleição anterior.
Serra diz que isso “congela a correlação de forças”, impedindo que “eventuais mudanças nas preferências dos eleitores” tenham “reflexos nos recursos disponíveis” na eleição seguinte. Ele mesmo expressa seu temor: “Que a proposta … beneficie diretamente os dois maiores partidos, PT e PMDB”.
Ou seja, é contra o financiamento público por conveniência, sem discuti-lo no mérito. Se contribui para a maior transparência na contabilidade dos partidos, se permite maior fiscalização ao explicitar o que cada um tem para gastar, se reduz a pressão por doações escusas, se fortalece os partidos, não importa: o que o preocupa é o risco de que seu partido seja “prejudicado”, recebendo menos dinheiro por ter tido menos votos que outros. (Ele parece não se lembrar que o PSDB perdeu votos, entre 2006 e 2010, na vigência do modelo atual, o que sugere que seu problema não se resolveria mantendo-o).
O segundo argumento é o mais usado pelos que preferem deixar tudo como está. Consiste em dizer que o financiamento público não impediria a arrecadação ilegal, pois os partidos continuariam a realizá-la.
É bem possível, mas isso não justifica considerar melhor o modelo vigente. Ou alguém acha que ele conduz à legalidade?
Não faz sentido a hipótese de que o financiamento público provoque mais problemas, que “empurre os candidatos para a ilegalidade”, como disse Nelson Jobim, citado por Serra. O que faz é reduzi-los, criando uma fonte legítima para os recursos necessários a uma campanha competitiva. Se empurra em alguma direção, é para a legalidade (o que não quer dizer que todos se comportarão da -maneira correta).
O texto termina com uma frase de pura fantasia: “A redução de custos, a transparência, a maior vinculação entre eleitor e eleito e o fortalecimento dos partidos, tudo isso pode ser alcançado… (com) o voto distrital”.
Com certo atraso, parece que Serra resolveu aderir a uma campanha que a direita brasileira faz há algum tempo.

http://www.cartacapital.com.br/politica ... a-politica

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Carnage
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Re: Reforma Política

#28 Mensagem por Carnage » 12 Out 2011, 00:15

http://colunas.epoca.globo.com/paulomor ... -politica/
Falácia contra a reforma política
10:04, 7/10/2011
Redação Época
Política, eleições


Está cada vez mais dificil contestar com argumentos racionais as vantagens do financiamento público de campanhas eleitorais. Não é uma panacéia.

Mas é uma forma lúcida para evitar a privatização do Congresso e do Executivo que, pelo sistema atual, ficam devendo favores para seus patrocinadores.

Casos tradicionais, no Brasil, envolvem até exemplos de obras públicas que são realizadas apenas para que um governante possa cumprir compromissos de campanha.

Nos Estados Unidos, as contribuições privadas transformaram a política externa daquele país numa reserva de mercado dos lobistas de Israel, como se demonstrou, mais uma vez, no constrangedor comportamento de Barack Obama diante da reivindicação de um Estado palestino. No plano interno, elas garantem privilégios vergonhosos a empresas de saúde e aos setores financeiros que são os verdadeiros senhores do Tea Party.

A falta de bons argumentos para atacar o financiamento público é tão notória que deu origem a teses de segunda linha. Não se vai ao centro da discussão. Procura-se efeitos colaterais.

O principal é dizer que o financiamento público irá favorecer o passado, pois cada partido terá direito a uma verba proporcional a sua votação no pleito anterior. Mais uma vez.

Este critério pode não ser perfeito mas é o mais próximo possível da vontade eleitoral. Aceita-se o mesmo critério na distribuição do tempo na TV, por exemplo. Eleições democráticas servem justamente para isso: distribuir recursos do Estado de acordo com a vontade da maioria do eleitor. Essa regra deveria valer para programas sociais, para obras de infraestrutura e assim por diante. Por que não deveria valer no financiamento de campanhas eleitorais, que estão na origem do poder político?

Na verdade, ataca-se o financiamento público de campanha porque é difícil argumentar que o financiamento privado é uma idéia melhor ou mais justa.

O financiamento público guarda um elemento de soberania popular. Por comparação, o financiamento privado é socialmente exclusivo e muito mais distorcido.

Isso porque só presta contas a um grupo muito menor de cidadãos: aqueles que tem acesso ao poder economico. É um dinheiro que não tem relação com a democracia e só reflete a vontade, os interesses e preferencias de seus proprietários.

Chega ser irônico, neste caso, reclamar contra a força do passado. Quem se diz incomodado com um pleito realizado há quatro anos deveria explicar por que fica mais à vontade com recursos acumuladas há 40 anos ou, quem sabe, há quatro séculos. Isso é que é passado, concorda?
http://colunas.epoca.globo.com/paulomor ... -politica/
A segunda falácia contra a reforma política
08:04, 8/10/2011
Paulo Moreira Leite
Política, eleições Tags: Reforma Política


Em nota anterior, discuti a primeira falácia usada para combater a criação de um sistema público de financiamento de campanha — aquela que diz que seria injusto distribuir as verbas conforme a força eleitoral de cada legenda. Observei que com todas as imperfeições, esse sistema seria melhor do que atual, que privatiza a luta política de acordo com a vontade dos grandes empresários.

Vamos discutir a segunda falácia. Diz-se que a idéia de financiamento público de campanha trái uma ilusão legalista. Assim: não adianta criar novas regras na lei. Elas não irão resolver o problema dos desvios de verbas de campanha e da corrupção, pois o Caixa 2, os abusos, desvios e etc sempre irão existir.

Parece um argumento inteligente. É absurdo e imoral.

Muitos crimes, de toda natureza, são cometidos e serão cometidos sempre. Nem por isso devem deixar de ser combatidos com os instrumentos ao alcance da mão. Ou alguém vai propor a legalização dos homicídios só porque sabemos que não podemos impedir que ocorram? Vamos tolerar o estupro, o sequestro, o assedio moral nas empresas? Que tal chamar os assaltantes para entrar em casa, já que não é possível impedir seu trabalho?

Albert O. Hirshman, pensador que está na origem de algumas das melhores idéias de progresso social do pós-guerra, gostava de observar que um dos principais alimentos do conservadorismo contemporaneo reside num conformismo derrotista, que ele chamava de fracassomania.

Funciona assim: quando a convicção de que é necessário promover determinada mudança torna-se um consenso, a reação conservadora passa à defensiva. Começa a trabalhar para convencer os demais de que a posição adversária pode ser bem pensada, bem elaborada e racional — mas não vai adiantar nada. Seria pura futilidade, argumentam.

Com isso, explica Hirshman, o conformismo trabalha de modo permanente pela desmobilização da sociedade. Derrotada no mérito, a fracassomia procura ganha o debate com o argumento de que não vai adiantar nada.

Não é preciso ir muito longe quando se aplica este metodo a democracia brasileira, a construção vitoriosa mas cheia de imperfeições. Se a fracassomania fosse uma boa idéia, poderíamos abolir a Revoução de 30, que eliminou as eleições a bico de pena, já que sempre haverá fraude. Também não se deve dar liberdades aos partidos políticos, como ocorreu no fim da ditadura militar, porque sempre haverá legendas de alguém. Para que escolher bons políticos, se não faltam picaretas?

Indo à ultima pergunta: por que as empresas dariam dinheiro aos políticos, se sempre haverá desvios? A resposta real: ela tem interessse no desvio. Deu para entender?

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Re: Reforma Política

#29 Mensagem por Carnage » 21 Out 2011, 23:53

http://www.cartacapital.com.br/politica ... -e-contras
Financiamento público
Marcos Coimbra 15 de outubro de 2011 às 9:54h


Existem alguns argumentos relevantes contra a adoção do financiamento público exclusivo para as campanhas eleitorais e muitos a favor. Está chegando a hora de decidir a respeito dele.

É uma das principais ideias em debate no Congresso e entre especialistas em legislação eleitoral, desde quando as discussões sobre a reforma política se intensificaram a partir do início desta legislatura. Foi já aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado e está no anteprojeto de reforma elaborado pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados.

Leia também:
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Entre os grandes partidos, o PT é o defensor número 1. Não só fez parte das resoluções de seu último Encontro Nacional como ganhou o envolvimento pessoal de Lula, que se tornou seu paladino. Em reuniões sucessivas com lideranças do PMDB e dos maiores partidos da base, ele tem procurado formar um consenso para viabilizar a proposta.

Seus adversários costumam usar motivos circunstanciais para justificar a posição, especialmente a antipatia da opinião pública. De fato, as pesquisas mostram que a grande maioria da população discorda da hipótese de que as campanhas sejam financiadas com recursos do Orçamento. As pessoas acham que isso significaria diminuir investimentos em áreas “mais nobres” e não resolveria o problema do caixa 2. Seria um sacrifício inútil.

Esse sentimento tem duas origens. De um lado, como nunca tivemos esse tipo de financiamento, não sabemos como seriam as coisas se existisse. Caso o sistema político o aprovasse, seria necessário mostrar suas vantagens à opinião pública, por meio de campanhas informativas, e torcer para todos se convencerem à medida que o novo modelo confirmasse, na prática, ser melhor do que o atual.

De outro, ele se funda no desconhecimento de que o modelo vigente depende fortemente da contribuição de recursos públicos. Ao contrário do que pensam muitos, o que está em discussão não é sair de um modelo “puro” para outro, mas de um modelo misto, onde recursos públicos e privados são combinados, para torná-lo exclusivamente público.

É difícil calcular quanto a mais os partidos teriam de arrecadar com pessoas físicas e jurídicas, caso não tivéssemos o aporte de recursos públicos às campanhas. O que sabemos é que a principal despesa das campanhas modernas, a compra de tempo de veiculação nos meios de comunicação de massa, é, no Brasil, bancada pela sociedade, na forma do “horário gratuito de propaganda eleitoral”. (Na de Obama, por exemplo, metade de tudo que foi gasto – o equivalente a 1,35 bilhão – destinou-se apenas a isso.)

Os partidos ainda recebem recursos públicos do Fundo Partidário, com o qual pagam o dia a dia e fazem face a custos fixos, indiretamente barateando suas despesas nos períodos eleitorais. A Justiça Eleitoral é encarregada de observar o cumprimento das exigências da legislação a respeito do fundo.

O relevante disso é que a possibilidade de controle é maior quando os recursos são públicos. Enquanto sempre pairam dúvidas sobre quanto e como gastam as campanhas dos que arrecadam entre cidadãos e empresas, as coisas são transparentes na parcela que provém do Orçamento.

No acesso aos meios de comunicação, integralmente financiado com recursos públicos, sabe-se tudo: como é a distribuição do tempo entre os partidos, o que é permitido e o que é proibido, em que penalidades incorre quem descumpre as regras. As decisões da Justiça Eleitoral podem ser discutidas, mas são rápidas, claras e tomadas de acordo com a lei.

Se o financiamento exclusivamente público fosse aprovado, teríamos algo parecido nos demais aspectos das campanhas. Antes das eleições, todos seriam informados de quanto cada partido pode gastar, que parte caberá a cada eleição, quanto será gasto em quê. Não só a Justiça Eleitoral, mas qualquer organização ou pessoa poderá acompanhar e fiscalizar o que tiver sido estabelecido.

Isso resolverá os problemas de arrecadação irregular e corrupção? É claro que não. Mas tem tudo para melhorar a situação de hoje.

O financiamento exclusivamente público tem um mérito adicional no seu efeito equalizador, anulando (no mínimo, reduzindo) a vantagem que partidos e candidatos vinculados às elites econômicas têm em relação aos demais. Isso pode ser criticável do ponto de vista da ortodoxia liberal, mas é benéfico para a consolidação de uma cultura política democrática.

Como acontece com o tempo de televisão e o fundo partidário, as legendas dinâmicas tendem a ganhar mais que as declinantes, pois o acesso a recursos públicos é sempre condicionado ao desempenho: mais para quem tem mais votos, ou seja, mais apoio social. É assim que as coisas funcionam nos países onde há algum tipo de financiamento público.

Deve ser por isso que certas lideranças da oposição e alguns comentaristas da mídia conservadora são tão contra a ideia. Acham que ela só é “boa para o PT”. Na verdade, é boa para todos os partidos, desde que tenham vida partidária real e votos.

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Re: Reforma Política

#30 Mensagem por Carnage » 26 Out 2011, 20:25

http://www.reformapolitica.org.br/artig ... mundo.html
Análise crítica dos votos distritais no Brasil e no mundo

Ter, 13 de Setembro de 2011 09:30

Confronto entre republicanos e democratas resulta de radicalismos cultivados no sistema eleitoral.

Voto Distrital e Crise nos EUA


O impasse político na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos que resultou na aprovação, na 25ª hora, de uma proposta (meia-boca) que evitou o calote de dívida em 2011 tem como principal causa política o voto distrital. O conflito e a radicalização entre republicanos e democratas continuará. Há 437 deputados federais e, destes, pouco menos de 400 são eleitos por distritos certos, isto é, distritos nos quais sua eleição está praticamente assegurada. Assim, a principal disputa para um candidato republicano ou democrata não é a eleição, mas a primária que é realizada em seu distrito. Se você for republicano e disputar a eleição em um distrito republicano, sabe que o grande desafio é ser escolhido no dia das primárias. O mesmo vale para um democrata em um distrito democrata. Passada essa barreira, você praticamente pode se considerar eleito muito antes do dia da eleição.

Vale perguntar o que é preciso para vencer nas primárias. Quem escolhe o candidato de um partido são os militantes mais aguerridos daquele partido, as pessoas mais empenhadas, as pessoas que mais participam das atividades políticas, aqueles que estão mais mobilizados. Na maioria dos casos, essas pessoas ou são republicanos radicais ou democratas radicais. Assim, para que você seja o escolhido para concorrer em seu distrito, terá que agradar não aos seus eleitores, mas à maioria radical que vota na primária republicana ou democrata. O grande incentivo, portanto, dos deputados federais -americanos é para a radicalização. Exatamente o espetáculo que acabamos de ver há duas semanas. Não há nada no DNA daqueles representantes que os torne radicais. O que há são instituições políticas que levam a isso, em particular o voto distrital e a manipulação dos limites de cada distrito para diminuir o risco de não serem reeleitos.

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Qualquer americano sabe o que significa "gerrymandering". Originalmente escrito "Gerry-mander", o termo foi utilizado pela primeira vez pelo "Boston Gazette" em 26 de março de 1812, quando o então governador de Massachusetts, Elbridge Gerry, manipulou os limites dos distritos de seu estado com o objetivo de beneficiar seu partido. Um dos distritos ficou com o formato de uma salamandra. Combinando-se Gerry com "salamander" tem-se hoje o consagrado termo "gerrymandering", que é sinônimo de definir o distrito eleitoral de maneira a assegurar a eleição de um determinado candidato.

Não há político que não queira assegurar sua eterna sobrevivência eleitoral. Isso vale para brasileiros e americanos. Quando o sistema eleitoral é distrital, a eterna reeleição é um objetivo bastante fácil de ser atingido. Basta definir o distrito de tal maneira que bem mais do que 50% dos eleitores votem sistematicamente republicano ou democrata. Nos Estados Unidos, o perfil básico de um eleitor republicano é bem conhecido: renda mais elevada, morador de subúrbio e, muitas vezes, de áreas populacionalmente menos densas. O eleitor democrata tende a morar em lugares densamente habitados, tem renda mais baixa e está mais presente nas "inner cities". Adicione-se a isso que, dentro de certos limites jurídicos, são os políticos que definem os distritos nos Estados Unidos.
Os dois principais limites jurídicos nos Estados Unidos são: todos os distritos precisam ter rigorosamente o mesmo número de eleitores e as minorias étnicas não podem estar diluídas nos distritos ao ponto de não conseguirem eleger um representante. É importante mencionar que os americanos precisam redistritalizar todo o país a cada dez anos com base nos dados do censo. Como a população se muda com frequência, há áreas que perdem habitantes e outras que ganham. Assim, a redistritalização é feita a cada década para assegurar ao máximo que seja cumprida a determinação de "um homem, um voto", de que todos os distritos tenham exatamente o mesmo número de eleitores (esse princípio, se aplicado ao caso brasileiro, levaria o Estado de São Paulo a passar dos atuais 70 deputados federais para aproximadamente 120, como demonstrei em artigo aqui publicado).

Aqui estão todos os ingredientes do "gerrymandering". Na figura "a", os três distritos tiveram seus limites definidos de tal maneira que em todos eles venceria um candidato republicano (azul). Três regiões de cada distrito votam sistematicamente em um republicano (como se fosse a região dos Jardins, em São Paulo, votando em um candidato do PSDB, enquanto as outras duas regiões votariam no candidato do PT). A figura "b" tem a mesma distribuição de eleitores, mas os limites dos distritos são diferentes. Neste caso, os republicanos elegeriam dois deputados e os democratas passariam a eleger um deputado. Há ainda outra possibilidade (figura "c"), na qual os novos limites dos distritos levariam a dois deputados democratas (vermelho) e um republicano. A definição dos limites dos distritos é uma questão de força política. De maneira geral, nos Estados onde os republicanos controlam o governo estadual, no ano da redistritalização há a manipulação que leva a mais distritos onde a eleição de um deputado federal republicano é certa. O mesmo vale para governadores democratas.
Há ainda uma terceira possibilidade: deputados federais republicanos e democratas em exercício de mandato, de um determinado Estado, fazem um acordão, de tal maneira que cada um terá seu distrito certo, onde cada um, independentemente do partido, terá a reeleição garantida. Foi assim que, em 2002, de todos os deputados que disputaram a reeleição nos Estados Unidos somente quatro foram derrotados. Algo vergonhoso para o país que mais defende a competitividade econômica. Não há competitividade política. Isso é obra e graça do sistema distrital combinado com "gerrymandering".

Se você for um deputado federal americano e quiser redesenhar seu distrito de maneira a tornar mais fácil ainda sua reeleição, basta comprar, por US$ 7.500, o programa de computador "Maptitude for Redistricting". Trata-se de uma completíssima base de dados georreferenciada: dados eleitorais, de renda, resultados de primárias, população, número de transações imobiliárias e todas as estatísticas que pudermos imaginar. Esse programa facilita sobremaneira a definição de um distrito no qual o deputado com mandato jamais perderá a reeleição. A quantia de US$ 7.500 é muito pequena, quando se pensa no benefício esperado desse programa de computador.
O quarto distrito de Illinois é uma vergonha em termos de "gerrymandering", e manipulação para perpetuação no poder de um deputado federal democrata. Pode-se ver na figura duas áreas verdes, ao sul e ao norte. As duas áreas contêm o voto hispânico, predominantemente democrata, e estão ligadas por uma faixa muito estreita, com dois quilômetros de extensão, que passa exatamente em cima do asfalto da rodovia interestadual 294, ou seja, um trecho onde não existe sequer um eleitor. Trata-se de um "gerrymandering" tão escandaloso quanto o que eu chamaria de "distrito dos surfistas", o 23 ºda Califórnia, que também eterniza no poder um representante democrata. É formado por uma estrita faixa litorânea, densamente povoada por surfistas, que desce de San Luis Obispo até Port Hueneme. Manipulação não é, evidentemente, monopólio dos democratas. O 22º distrito do Texas foi redesenhado, em 2003, para favorecer, o que acabou acontecendo, o republicano Tom DeLay. Graças a vários recortes esquisitos, foi possível retirar da área contígua eleitores tradicionalmente democratas.

O fato é que, na eleição de 2002, em pouco mais de 80 distritos houve somente um candidato, ou seja, quase 20% de toda a Câmara dos Deputados foram conquistados sem competição alguma. Hoje, a Câmara é um local fossilizado e radicalizado. A grande demonstração para o mundo desse fato ocorreu há duas semanas, porque dizia respeito a uma votação que tinha impacto na vida de todos os países. A radicalização, porém, é a regra.
Penso que muitos defensores do voto distrital no Brasil o façam porque ignoram completamente como ele funciona em outros países. A manipulação não é monopólio dos Estados Unidos. Acontece em todos os lugares onde há deputados eleitos em distritos: Alemanha, Canadá etc. Toda vez que se ignora o funcionamento de um sistema político, é mais fácil idealizá-lo como algo perfeito. É preciso enfrentar a realidade: o sistema distrital leva à redução drástica da competitividade do sistema.

É melhor acreditar em Papai Noel do que acreditar que nossos políticos não farão o mesmo no Brasil. Serão escândalos de corrupção para manipular distritos que nos deixarão com saudades do mensalão, do Ministério dos Transportes de Alfredo Nascimento e de outros escândalos considerados inaceitáveis. Afinal, nada mais valioso do que perpetuar-se no poder.

Ecos do Voto Distrital em Londres

Os defensores do voto distrital no Brasil afirmam que ele é bom porque há mais proximidade entre o eleito e o eleitor. Os distúrbios de Londres eclodiram no distrito de Tottenham, cujo representante é um negro de 39 anos chamado David Lammy nascido e criado em Tottenham. Na eleição de 2010, o comparecimento foi de 58,2%, ou seja, 41,8% dos eleitores não foram votar, talvez porque achassem que os candidatos em disputa não os representavam. Adicionalmente, Lammy teve 59,3% de votos. Isso significa que 40,7% de quem foi às urnas no distrito de Tottenham não têm representante no parlamento britânico. Lammy representa somente 34,5% de todos os eleitores de seu distrito, isto é, 65,5% não têm representantes. Assim, não surpreende que os eleitores que não se sintam representados tenham, utilizando seus aparelhos BlackBerry, organizando os distúrbios que vimos. O sistema eleitoral distrital cria as condições dos distúrbios que aconteceram em Londres porque se trata de uma forma de representação que joga no lixo uma enorme proporção de votos, ou seja, esses votos ficam sem representação no parlamento.

Há muitas interpretações acerca das causas do que ocorreu na Grã-Bretanha e nenhuma delas, até agora, associou a turba urbana ao sistema eleitoral distrital. Sem dúvida, distúrbios daquela natureza têm múltiplas causas. Porém, do ponto de vista das instituições políticas, é possível sustentar que o sistema eleitoral distrital é mais suscetível para gerar tais conflitos do que o sistema eleitoral proporcional. Apenas para recordar, os dois últimos grandes distúrbios nos últimos 20 anos em países desenvolvidos aconteceram também em locais que adotam o sistema eleitoral distrital: Los Angeles em 1992 e França em 2009. Não se trata de mera coincidência, ainda mais quando sabemos que o índice de desemprego da Espanha entre os jovens é maior que 30% e nem por isso são vistas cenas como a que vimos em Londres algumas semanas atrás. O sistema eleitoral espanhol é proporcional.

Em 2004 o livro de Steven I. Wilkinson, professor de Yale, intitulado "Vote and Violence" ganhou o prêmio Woodrow Wilson de melhor livro de ciência política concedido pela Associação Americana de Ciência Política (Apsa). Uma das mais importantes conclusões de Wilkinson, sustentada por meio de dados quantitativos, é que sistemas multipartidários são menos sujeitos a distúrbios do que os sistemas bipartidários gerados pelo voto distrital. É bom lembrar que o principal resultado institucional do sistema eleitoral proporcional é o multipartidarismo, ao passo que o bipartidarismo é quase que inteiramente resultado da adoção do voto distrital.

Wilkinson mostra que toda vez que o partido político majoritário precisa do apoio de outros para formar o governo há menos chances de ocorrência de distúrbios do que quando há um partido capaz de governar sem alianças, isto é, um partido que tem maioria parlamentar para dispensar o apoio de outros. Uma medida simples é o número de partidos efetivos. Sempre que há mais do que 3,5 partidos efetivos, ou os distúrbios não ocorrem ou eles são facilmente controlados. Wilkinson fornece vários exemplos dessa situação: a maioria dos estados da Índia a partir de 2002 (por exemplo, Kerala, Bihar, Orissa), a Bulgária depois de 1990 e a Malásia depois da independência. Todavia, quando há entre 2 e 3,5 partidos efetivos, as chances de distúrbios de difícil controle são muito grandes. Os exemplos dados são o estado indiano de Gurajat em 2002, a Romênia em 1990, os governos estaduais e locais no sul dos Estados Unidos entre 1877 e 1960, os governos locais da Irlanda até 1865 e o governo estadual de Selangor, na Malásia, em 1969. Podemos agora adicionar à lista do autor a Califórnia de 1992, Paris de 2009 e Londres de 2011.

O voto distrital resulta no bipartidarismo - esses são os casos de Estados Unidos, Grã-Bretanha e França. O primeiro autor a mostrar como isso acontece foi Maurice Duverger no seu livro clássico "Os Partidos Políticos", publicado em 1951. Duverger mostra no capítulo intitulado "número de partidos" que o sistema distrital leva à sub-representação do terceiro partido mais votado. Sempre o terceiro partido acaba com muito menos cadeiras no parlamento do que votos. Por exemplo, é muito comum que quando se tem 25% de votos acabe-se ficando com 5% de cadeiras. Mais recentemente, em um livro de 1989, "Seats and Votes: The Effects and Determinants of Electoral Systems", Rein Taagepera e Matthew Shugart sofisticaram a análise de Duverger e mostraram que, quanto menor o número de deputados eleitos em um distrito, maiores as chances de que se caminhe para um sistema bipartidário.

A maioria daqueles que defendem o voto distrital no Brasil está defendendo que seja eleito um deputado por distrito. Isso é rigorosamente a mesma coisa que defender o fim de nosso multipartidarismo. Um lema empiricamente verdadeiro para essa campanha em favor do voto distrital poderia ser "voto distrital já, dois partidos já". Um sistema político com somente dois partidos efetivos é menos permeável às demandas dos jovens desempregados (negros e não negros) da periferia das grandes cidades. Não estou afirmando que no sistema multipartidário tais demandas sejam plenamente atendidas, mas certamente esses grupos têm mais oportunidades de estarem representados (o voto é proporcional) ou mesmo de simplesmente serem ouvidos.
Em países que adotam o sistema eleitoral proporcional, aqueles que ficam na oposição também têm alguma voz junto ao governo. Isso é o mesmo que afirmar que, quando o sistema eleitoral proporcional é adotado, o poder é menos concentrado e, quando o voto distrital é a regra, o poder é mais concentrado. Por exemplo, nos países que adotam o sistema proporcional, as comissões das câmaras dos deputados são compostas por parlamentares tanto do governo quanto da oposição: Brasil, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia e Suíça. Porém, nos países que adotam o voto distrital, a oposição não tem assentos nas comissões legislativas: Canadá, Estados Unidos, Austrália, França e Grã-Bretanha. Assim, outros lemas da campanha a favor do voto distrital poderiam ser "voto distrital já, poder concentrado já" ou, sendo mais direto, "voto distrital já, oposição fora das comissões legislativas já".

Pode ser que alguém tenha estranhado eu ter colocado a Alemanha na lista dos países que adotam a representação proporcional. O estranhamento, se houve, deve-se tão somente à falta de informação acerca do sistema germânico. Os alemães o denominam sistema "proporcional personalizado". Na literatura científica especializada, o sistema alemão tem o nome de "mixed member proportional representation". Aliás, a Alemanha não teria hoje um partido verde se o sistema eleitoral do país fosse o distrital. O sistema alemão é proporcional porque a força e o tamanho dos partidos, justamente o que é o mais importante na política, são definidos pelo sistema eleitoral proporcional. Depois de definida a força dos partidos, as cadeiras no parlamento são distribuídas: em torno de metade dos deputados é eleita no distrito e a outra metade pela lista fechada apresentada pelos partidos na votação proporcional. O fato de o sistema alemão ser denominado no Brasil de "distrital misto" induz ao erro, repito, porque se trata de sistema proporcional no que há de mais importante. Cabe, portanto, o esclarecimento: quem hoje defende o distrital misto alemão está, na verdade, defendendo o sistema proporcional personalizado.

Na Grã-Bretanha, na França e nos Estados Unidos dos distúrbios urbanos, a oposição, portanto, não teve como participar das comissões legislativas. Isso significou mais uma porta fechada para que os arruaceiros e baderneiros pudessem ter sido ouvidos antes que tivessem pensando em ir às ruas para roubar e incendiar. Isso não é obra do acaso, é obra e graça do voto distrital. Se a oposição não tem representação formal nas comissões legislativas, é assim que funciona o poder legislativo quando o voto é distrital, então a oposição terá menos chances de influenciar o processo legislativo de maneira institucional.

O sistema eleitoral distrital favorece a participação de uma pequena elite política, tanto à esquerda quanto à direita, mais engajada. Aliás, isso ficou claro no meu último artigo nesta coluna, que mostrou como o voto distrital e seu irmão siamês, o "gerrymandering", podem ser responsabilizados pelo impasse no Congresso americano. Quando o sistema eleitoral é proporcional, essa mesma pequena elite mais participativa está lá e é representada, mas sua força fica diluída pela representação daquilo que Fernando Henrique sabiamente denominou de "a voz rouca das ruas". Na eleição proporcional, todos os votos, sem exceção, entram nos cálculos que levam os partidos a elegerem seus parlamentares. Vale a pena insistir nesse ponto: no sistema eleitoral proporcional todos os votos são contados e têm peso na força de cada partido. Isso não acontece no sistema distrital. Ainda que um partido tenha muitos votos - é o caso do Partido Liberal britânico -, essa votação é desperdiçada, esses votos são jogados no lixo, porque o número de cadeiras não será proporcional aos seus votos. Será bem menor, será ínfimo, não fará desse partido uma terceira força de verdade, não o fará um partido efetivo.

Ora, onde um partido tem muitos votos, mas acaba ficando com poucas cadeiras no parlamento, ou mesmo não elege ninguém no distrito, cria-se o incentivo para que as demandas não sejam vocalizadas pelo parlamento, mas nas ruas ou por outros meios. Eis a lógica dos distúrbios londrinos. Eis o que ocorreu no distrito de Tottenham. Se a proximidade entre o eleito e o eleitor fosse tão grande assim como argumentam os defensores do voto distrital, não teriam acontecido os distúrbios. Eu não quero "blackberry riots" no meu país. Se você também não quer esse tipo de baderna, não precisa esquecer seu BlackBerry. Simplesmente esqueça essa proposta de adoção do voto distrital. É uma proposta que vai contra as evidências empíricas mais elementares.

O Voto Distrital é Excludente

Quem defende o voto distrital no Brasil defende a exclusão da representação de grande parcela de nosso eleitorado. O voto distrital é clamorosamente excludente. Essa exclusão é a mesma coisa que bipartidarismo. Todos os países que adotam o sistema eleitoral distrital tornam-se países governados por apenas dois partidos que se revezam no poder por meio de maiorias esmagadoras. Ninguém em sã consciência admitirá que a Grã-Bretanha, em toda sua complexidade social e demográfica, seja representada apenas por dois partidos. O mesmo vale para os Estados Unidos. Se esses dois países mudassem seu sistema eleitoral, trocando o voto distrital pelo voto proporcional, eles se tornariam, já nas primeiras eleições legislativas com o novo sistema, países multipartidários. O voto distrital é idêntico a uma camisa de força que limita os movimentos da representação.
Para se obter a maioria dos deputados em uma Câmara eleita por meio do voto distrital, basta que um partido obtenha somente 25% dos votos nacionais. Isso porque é preciso ter 50% de votos em 50% dos distritos, o que resulta nos 25% dos votos nacionais mencionados. Resultado: a maioria governa graças a uma minoria de votos, e a maioria dos votos - 75% - fica de fora do governo. É impossível ser mais excludente. No sistema proporcional, um partido só poderá ter a maioria da Câmara dos Deputados se obtiver 50% dos votos nacionais. É evidente, portanto, que o sistema eleitoral proporcional é infinitamente mais justo do que o distrital. Imagine-se no Brasil, onde todos os eleitores acham que todos os políticos são ladrões, um governo majoritário estabelecido com apenas 25% dos votos. Os eleitores vão dizer: além de ladrões, foram eleitos com a minoria dos votos. Seria a mais completa falta de legitimidade. Surpreende-me o fato de haver defensores desse absurdo no Brasil.

Para entender por que o sistema distrital obriga quem o adota a ter somente dois partidos importantes, vale entender o que acontece na eleição dentro de cada distrito. Em um distrito britânico onde há três candidatos, um conservador, um trabalhista e um liberal-democrata, é comum que o candidato liberal-democrata fique na terceira posição em proporção de votos. Somando-se todos os liberais-democratas que ficaram em terceiro lugar nos mais de 600 distritos britânicos, pode-se obter, por exemplo, que esse partido teve um total nacional de 10% dos votos. Porém, como esses 10% de votos não foram para nenhum candidato que ficou em primeiro lugar, foram desperdiçados, jogados no lixo, esses 10% de votos não elegeram deputado algum. Somente os liberais-democratas que ficaram em primeiro foram eleitos, mas, somando-se a votação nacional de todos os primeiros colocados desse partido, tem-se somente 6%. É por isso que o partido fica com 16% dos votos nacionais e somente 7% das cadeiras do parlamento. Isso jamais ocorre no nosso sistema eleitoral, que é o proporcional.
Foi assim que em 1983 os liberais-democratas britânicos tiveram 25,4% dos votos, mas somente 3,5% das cadeiras, um completo absurdo, uma completa falta de proporcionalidade, uma total injustiça distributiva quando se considera a relação entre votos e cadeiras. Em 1987 foram 22,6% dos votos que resultaram somente em 3,4% de cadeiras; em 1992 ocorreu que 17,8% dos votos foram traduzidos em somente 3,1% de assentos no parlamento. Em 1997 a injustiça foi menor, mas permaneceu: 16,7% dos votos os levaram a obter 7% de cadeiras. Daí para a frente, a situação só fez piorar: em 2001, 18,3% dos votos resultaram em 7,9% de assentos parlamentares; em 2005, 22,1% dos votos conquistaram 9,6% das cadeiras, e em 2010 a situação foi ainda pior, quando 23% dos votos resultaram em somente 8,8% de cadeiras. Todos os lugares que adotam o voto distrital punem cruelmente o terceiro partido. Esqueça quarto partido, ele simplesmente não existe na prática.

A consequência prática imediata desse processo é que o eleitor médio percebe que o sistema pune o terceiro partido e assim ele passa a praticar o voto útil, escolhendo preferencialmente candidatos trabalhistas ou conservadores, que são os únicos partidos que realmente têm condições de obter a maioria parlamentar. Ou seja, além de todos os defeitos do voto distrital que venho mostrando nesta coluna, ele tem um defeito adicional perverso: estimula o voto útil. Esse fenômeno foi mostrado a primeira vez por Maurice Duverger nos anos 1950.
Se o Brasil adotar o voto distrital, sobreviverão apenas três partidos, que provavelmente serão o PT, o PMDB e o PSDB. Os demais serão liquidados, extintos, aniquilados. Se alguém tiver dúvidas quanto a essa afirmação, dê-se ao trabalho de ver a composição da Câmara dos Deputados dos países que adotam o voto distrital.
O sistema distrital pune o terceiro partido e premia o partido mais votado. É um sistema perverso, porque fabrica artificialmente a maioria. Não se trata de mágica, é um resultado real e concreto de um sistema que distorce a representação. Mais uma vez o melhor exemplo para demonstrar esse fenômeno é a Grã-Bretanha.

Em 1983, Margaret Thatcher foi eleita primeira-ministra pela segunda vez, com seu partido obtendo 42,4% dos votos. O impressionante é que o Partido Conservador conquistou nada menos do que 61% das cadeiras do Parlamento, praticamente 20% a mais do que sua votação. Em 1987 a desproporção também ficou muito próxima disso: com somente 42,3%, obteve-se 57,9% dos assentos. Em 2001 foi a vez dessa injustiça distributiva favorecer o Partido Trabalhista: foram 40,7% de votos que resultaram na conquista de 62,5% das cadeiras. Em 2005, foram 35,2% de votos para o partido de Tony Blair, e eles conquistaram 55,2% de cadeiras. Isso seria intolerável no Brasil.
O voto distrital elimina o multipartidarismo, aniquila todos os partidos menos três, pune o terceiro partido tornando-o um nanico sem poder de influência nas decisões governamentais, incentiva o voto útil, e por fim cria uma maioria artificial dando mais cadeiras do que votos para o partido mais votado. No voto distrital o vencedor leva tudo ("the winner takes all").

A nossa Câmara dos Deputados tem 513 representantes e o partido mais votado, o PT, ficou com 80 cadeiras. No voto distrital o PT teria ficado provavelmente com 280 cadeiras, isto é, mais do que 50% dos assentos. Hoje o primeiro-secretário da Câmara é o deputado Eduardo Gomes, do PSDB do Tocantins, um parlamentar da oposição. Isso jamais ocorreria se o PT tivesse 280 cadeiras. Ao contrário, toda a mesa da Câmara seria composta por deputados petistas. No sistema distrital, a maioria simplesmente manda e ocupa todos os espaços. Em todos os países com voto distrital, a mesa da câmara é 100% controlada pelo partido que tem a maioria, e o mesmo acontece para todas as comissões legislativas. Funciona novamente aqui o princípio do vencedor leva tudo.
Margaret Thatcher extinguiu em 1986 o Greater London Council, que era a prefeitura da grande Londres, porque seu ocupante à época, Ken Livingstone, era um duro opositor. É impensável esse tipo de medida no Brasil. É impossível que Dilma, insatisfeita com a oposição que lhe fizessem o prefeito de São Paulo ou do Rio, simplesmente extinguisse uma dessas prefeituras. Aliás, como nosso sistema é predominantemente conciliatório, é muito difícil que prefeitos de cidades importantes façam oposição ao presidente.

Nós brasileiros temos preconceito contra nós mesmos. O sistema proporcional que adotamos resulta na existência de um grande partido de centro, o PMDB. O sistema distrital americano resulta na existência de somente dois partidos, Republicano e Democrata. Se formos pensar fora da caixinha, fora do tradicional, veremos que a relação custo-benefício do PMDB é bem mais favorável do que a simples existência de dois partidos como democratas e republicanos. No último mês vimos os prejuízos (de bilhões e bilhões de dólares) causados pelo sistema americano ao seu próprio país e ao mundo. Um sistema que, graças ao voto distrital, não incentiva o consenso, mas somente o conflito. O PMDB, ao contrário, confere total governabilidade ao Brasil.

Aliás, ainda no terreno da comparação, desde 1928 somente os presidentes peronistas cumprem integralmente o mandato na Argentina. Todos os radicais eleitos não tiverem esse destino. Isso aconteceu porque não existe um PMDB na Argentina. É possível que nós brasileiros tenhamos um excelente sistema eleitoral, embora não saibamos disso ou não reconheçamos esse fato. Em suma, não há motivos razoáveis para adotarmos o excludente voto distrital.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" e "O Dedo na Ferida: Menos Imposto, Mais Consumo". E-mail: alberto.almeida@institutoanalise.com www.twitter.com/albertocalmeida

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