Preconceito racial se expressa de diferentes formas e "níveis de gravidade", por assim dizer. No Brasil, não se tem notícia de algo semelhante à Ku Klus Klan, mas é notório como o negro é desvalorizado em nosso País. Creio que hoje em dia, as mulheres negras são as maiores vítimas do preconceito racial, notadamente quando este provem de seus pares: homens negros que ascendem socialmente invariavelmente desfilam orgulhosos com uma namorada loira de olhos azuis, como se isto simbolizasse o seu sucesso. Séculos de escravidão e depois de discriminação levaram os negros a um dilema que denota a sua baixa auto-estima: eles vão facilmente do complexo de inferioridade (quando "celebridades" como Ronaldo Fenômeno justifica seu "corte de cabelo" com a frase "é porque eu tenho cabelo ruim de preto") para o excesso de auto-afirmação, o que gera as tão comuns quanto odiosas frases do tipo "êta preto metido" ou "preto gosta de aparecer".
Importante dizer que esse "problema" é enfrentado por todos os grupos raciais, regionais ou religiosos que se sentem discriminados. Certamente todos presenciaram situações semelhantes ou ouviram frases equivalentes a respeito de japoneses, judeus, nordestinos, cariocas, gaúchos, evangélicos, etc.
Identificar um dado comportamento como um ato de preconceito (racial, religioso, regional) ou como um "singelo traço cultural inofensivo" é tarefa árdua e às vezes impossível de realizar.
Para ilustrar, resgato aquela ocorrência com o jogador de futebol Grafite, onde, numa partida da Libertadores no estádio do São Paulo, jogadores do time argentino (não me lembro qual) foram presos, acusados da prática de crime de racismo por "xingarem" o Grafite de "negro". A palavra "negro" em si não tem nada de pejorativo ou de negativo, mas o tom utilizado pelos jogadores argentinos fez, sem dúvida nenhuma, lembrar a Ku Klus Klan. No entanto, os jogadores argentinos responderam que "na Argentina, chamar uma pessoa de negra é um tratamento carinhoso" (sic). Sei...Interessante é que aqueles mesmos jogadores argentinos certamente são discriminados em seu país de origem e também "xingados" de negros por serem representantes daquela grande parcela do povo argentino (no interior do País, a maioria) que descende de indígenas. Quem conhece a Argentina sabe bem do que estou falando (Mercedes Sosa e Diego Maradona são exemplos de pessoas que são chamados pejorativamente de "negros", o que é curioso, porque os "negros de origem africana" da Argentina foram quase que totalmente dizimados durante a Guerra do Paraguai em circunstâncias que não valem a pena ser detalhadas, fato histórico quase sempre negado pelos argentinos com quem conversei).
Baixar um decreto no GPGuia proibindo o uso de expressões discriminatórias não teria cabimento se, em contraponto, se se levantasse o argumento da hipocrisia, porque proibir não resolveria o problema, pois quem é racista não deixaria de ser.
Ok, a hipocrisia realmente não é uma "qualidade". Mas nem a falta dela (da hipocrisia) chega a ser uma "qualidade", no sentido de ser positivo ao convívio social numa população de pluralidade étnica. Dizem que os norte-americanos são muito "verdadeiros" a respeito do seu racismo. Com efeito, experimente um branco passear pelas ruas do Harlem às 11h da noite e certamente não sairá de lá vivo. Não preciso falar muito a este respeito, basta ver os inúmeros filmes americanos sobre o assunto. Então, não vejo essa "verdade nos sentimentos" como algo positivo também. Os nazistas sempre foram muito "sinceros" sobre o que sentiam a respeito dos judeus e ciganos na Alemanha.
Sem mais delongas "filosóficas", quero dizer, ou melhor, reafirmar o que já havia dito no meus post anterior, citado pelo Gringo: este fórum é visto por um incontável número de pessoas, dentre e fora do Brasil, então devemos ter a responsabilidade de nos nossos posts não "propagar" idéias discriminatórias nem fazer apologia à preconceito racial, tanto quanto seja isto possível.