Frio muda visual até de garota de programa
Mulheres cobrem as pernas e evitam decotes. Boates têm movimento fraco.
Carregadores de gelo usam 3 calças, 3 meias, 3 camisetas, agasalho, gorro e 2 luvas.
Sérgio Lorena Do G1, em São Paulo entre em contato
ALTERA O
TAMANHO DA LETRA
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Foto: Sergio Lorena / G1
Sergio Lorena / G1
Letícia e Vanessa deixam trajes provocantes em casa. (Foto: Sergio Lorena / G1)
O frio de rachar da terça-feira (31) mudou o hábito de quem vive da noite na capital. Garotas de programa, porteiros de boates, carregadores de gelo na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), entre outros personagens da madrugada, passaram a se proteger com roupas pesadas para enfrentar as geladas ruas da cidade.
A temperatura oscilou entre 7ºC e 10ºC, segundo os termômetros de rua espalhados pelo município, e entre 7ºC e 11ºC, de acordo com a previsão dos principais institutos e portais meteorológicos.
Cachaça
As garotas de programa andam desanimadas, pois os clientes sumiram do mapa. Elas estão tremendo de frio nas ruas de São Paulo e partindo para qualquer bebida alcoólica para driblar o inverno que agora anda pesado em todo o estado. “Numa terça-feira com temperatura boa, eu faria pelo menos R$ 500. Hoje (terça), não tenho dinheiro nem para o café”, reclamou Malu, que trabalha na Rua Matias Aires, no bairro da Consolação, região central de São Paulo.
“O movimento caiu 90% nesta noite”, contabilizou Malu, que para enfrentar o vento gelado da madrugada tomou cachaça. Acompanhada de mais duas amigas, Mara e Cris, lamentava a falta de uma boa e rentável noite de trabalho.
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Pernas cobertas
As garotas de programa de São Paulo estão em desvantagem nas ruas, pois a prostituição exige uma propaganda peculiar, que elas estão impossibilitadas de fazer durante o frio: uma imagem sexy. Em uma temperatura agradável, estariam abafando com as pernas de fora e enormes decotes. Mas os shortinhos e as saias curtas ficaram em casa. O visual provocante está distorcido pelo uso de roupas mais pesadas.
“Não é possível andar com trajes menores ou provocantes com esse frio”, lamentou Letícia, de 21 anos, que trabalha na Rua Augusta, no Centro. Diferentemente de outras épocas, ela foi trabalhar coberta dos pés à cabeça. “Conto com os clientes costumeiros”, contou ela, adotando como novo uniforme: blusa, jaqueta, calça jeans, gorro e cachecol. De ninfeta, não tinha nada.
'Tortura'
Vanessa, de 25 anos, que também usa a Rua Augusta como ponto, admitiu que anda difícil agüentar o expediente nesses dias de frio congelante. “É uma tortura!”, confessou.
Ambas asseguraram que, por R$ 150, esquentam qualquer festa. “O trabalho é maior e demora mais tempo do que o normal até o clima chegar à temperatura ideal no trabalho”, brincou Letícia, que encara programas das 21h às 5h todos os dias.
Foto: Sergio Lorena
Sergio Lorena
Carlos Garcia usa roupa sóbria na porta da boate para não assustar cliente. (Foto: Sergio Lorena)
Boates
As boates não estão vazias. Entretanto, o entra-e-sai de homens nos “inferninhos” da capital diminuiu por causa das baixas temperaturas. “O movimento de todas as casas noturnas está fraco ultimamente. O frio inibe o nosso público”, explicou o porteiro Carlos Garcia, de 43 anos e há dez anos trabalhando na calçada, faça frio ou calor. “Mais da metade dos freqüentadores sumiu. Num dia normal, estaríamos atendendo a 150 clientes. No máximo, chegaremos a 50”, disse ele.
Segundo Garcia, os shows de stripteases também estão escassos. “Agora, são no máximo três exibições das garotas até o amanhecer. Com movimento normal, esse índice varia entre 12 e 15 por noite”, afirmou. Para tirar a roupa num palco climatizado ou não uma mulher cobra até R$ 30,00.
Garcia arranjou um jeitinho para não alterar muito o visual no inverno. “Gorro e luva de lã, nem pensar. Isso assusta o cliente. Temos de usar um traje sóbrio: um palitó bem apanhado, um sobretudo bonito, calça bem alinhada, gravata e o sapato social. Por baixo, escondido, uma calça de lã que ninguém vê”.
Fonte: Globo.com