'Brasil pode nos ajudar a negociar a paz com israelenses', diz al-Assad
Líder sírio afirma que atuação brasileira na questão nuclear iraniana 'elevou País a um novo patamar'
27 de junho de 2010 | 0h 00
Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo
Críticos e aliados concordam que o presidente da Síria, Bashar Assad, é peca-chave nas principais questões do Oriente Médio. Seu país exerce influência sobre o Líbano por meio do Hezbollah e outros grupos, dá refúgio a 1,2 milhão de iraquianos e 500 mil palestinos, abriga escritórios do Hamas em Damasco, tem uma parte de seu território ocupado por Israel, além de ser hoje o principal aliado do Irã no mundo. Voltando a se aproximar lentamente dos EUA e do Líbano, Assad diz lamentar não ter chegado a um acordo de paz com Israel no fim de 2008. Segundo o líder sírio, o então premiê israelense, Ehud Olmert, havia concordado em se retirar da totalidade das Colinas do Golan, ocupadas na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Mas, dias depois, eclodiu a guerra em Gaza e o acordo, mediado pela Turquia, naufragou (mais informações na página seguinte). Com viagem marcada para o Brasil, onde deve se reunir na quarta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder sírio recebeu o Estado em uma ala residencial de seu palácio em Damasco. Assad elogiou o papel do Brasil como mediador de conflitos e pedirá a Lula para que ajude na negociação de um acordo com os israelenses.
Como o sr. vê o envolvimento do Brasil no Oriente Médio?
No passado, víamos o Brasil como um país amigo. Mas o considerávamos apenas parte da América do Sul. Nos últimos oito anos, começamos a ver o Brasil como uma força emergente no cenário internacional. Na minha visão, o esforço conjunto de Brasil e Turquia na questão nuclear iraniana elevou o papel brasileiro a um novo patamar. Por isso, esperamos que o Brasil possa atuar para estabilizar o Oriente Médio. O exemplo do acordo com o Irã foi uma conquista importante. Como nossa prioridade, na Síria, é o processo de paz, vou discutir isso com o presidente Lula quando eu estiver no Brasil.
Lula e Erdogan (premiê da Turquia) poderiam servir de mediadores entre a Síria e Israel? A Turquia já teve este papel no passado.
O chanceler brasileiro (Celso Amorim) disse que o Brasil está interessado no processo de paz e nós consideramos bem-vinda a ajuda do Brasil. Dependemos de credibilidade nessas negociações e o Brasil a possui na região. Claro, há um obstáculo, que é a distância geográfica do Brasil. Talvez não seja o melhor lugar para termos negociações. O local poderia ser a Turquia, mas o esforço poderia incluir outros países. O Brasil seria importante para convencer os israelenses a aceitarem negociações por intermédio da Turquia. Claro, isso foi antes do ataque contra a flotilha (de Gaza). Não sei se os turcos estariam interessados agora por causa do problema entre eles e Israel.
Há risco de guerra entre Israel e Síria? Um ataque israelense ao Irã levaria toda a região para um conflito?
Sempre há risco enquanto não houver paz. Pode se elevar ainda mais a possibilidade de guerra quando existe um governo (Israel) trabalhando contra a paz, especialmente quando este governo apenas ameaça os outros. Por isso achamos que o risco é muito alto. Não temos evidências porque ninguém sabe quando haverá ou não guerra. Como governo, não podemos dizer que a possibilidade seja 60% ou 10%, porque, mesmo que seja 1%, este 1% significa guerra e pode se transformar em 100%. Portanto, temos de trabalhar como se fosse ocorrer uma guerra porque não temos um parceiro na paz. Esse é o problema. Este governo de Israel é extremista. Não são parceiros na paz. É preciso se preocupar com suas ações, como a realizada contra os turcos quando eles atacaram a flotilha de Gaza. Isso indica que o governo de Israel está se movendo na direção da guerra, não da paz.
A acusação de que a Síria forneceu mísseis Scud para o Hezbollah é verdadeira?
Isso foi para desviar a atenção de seus problemas, especialmente em Gaza. Eles falaram sobre mísseis e têm falado disso há anos. Mas cada vez eles mudam o nome do armamento. E sempre adicionam algo novo, como se fosse algo novo no mercado.
Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, em vez de criticar Israel pelos assentamentos na Cisjordânia ou o bloqueio a Gaza, prefere questionar o Holocausto. O sr. concorda com isso?
Acho que a política deve ser dividida em duas partes - o discurso político e as ações. Claro que as ações são mais importantes. É como quando você diz que eu tenho uma boa imagem, mas uma má realidade. Logo, é mais importante ter uma boa realidade, antes de ter uma boa imagem. Consequentemente, se eu fosse avaliar Ahmadinejad, eu avaliaria as suas políticas, que não trabalham contra a paz. Nos fomos na direção da paz. E sempre tivemos boas relações com o Irã e os iranianos sempre apoiaram a Síria. Na realidade, o Irã apoia a paz. Em segundo lugar, há um sentimento geral na região desde a ocupação da Palestina de que os árabes, especialmente os palestinos, pagam o preço do Holocausto. O Ocidente tem um complexo sobre o que ocorreu na 2.ª Guerra. E acabam ignorando o que Israel faz na região.
Mas, ao questionar o Holocausto, Ahmadinejad não prejudica os palestinos?
Eu disse em discurso no Catar em 2008 que o que está acontecendo em Gaza é um Holocausto.
Obama melhorou a relação dos EUA com a Síria? Afinal, de um lado, envia emissários como John Kerry (senador democrata) e nomeia um embaixador para Damasco. De outro, mantém sanções no Congresso.
Nós podemos sentir uma posição diferente neste governo. Eles não tentam mais ditar as coisas no Oriente Médio. Isso é importante, mas não há nada além de diálogo por enquanto. Tivemos alguns passos triviais, como a nomeação de um embaixador e o fim do veto à inclusão da Síria na OMC (Organização Mundial do Comércio). Estamos no começo da relação. Não sei até onde poderemos chegar com essa administração, porque ela não é apenas o presidente Obama. Existem outras instituições, como o Congresso, que aprovou a lei com sanções à Síria. Não sabemos o que o presidente pode fazer em relação a essa lei.
Podemos dizer que o que vem ocorrendo eh pouco. Levara muito tempo ate falarmos de uma relação normal entre os EUA e a Síria, especialmente com um Congresso que não ajuda o presidente. Como você disse, John Kerry (senador democrata) tem vindo a Damasco e conversamos sobre a paz e relações bilaterais. Mas estamos nos movendo muito devagar.
As relações com o Líbano se normalizaram depois das visitas do presidente libanês, Michel Suleiman, e do premiê, Saad Hariri, a Damasco?
Estamos melhorando. Fizemos grandes avanços com estas visitas. Estamos voltando a normalidade. O único obstáculo e a situação interna no Líbano. Enquanto tivermos divisões entre os libaneses, isto se refletira nas relações com a Síria. No fim, se um lado apoia as relações com a Síria, o outro ficara contra. Nós achamos que quanto mais os libaneses se unirem, melhor ficará a relação com a Síria.
Ainda há risco de mais problemas no Iraque?
Este é um momento crítico por causa das eleições. Se houver um governo com uma mentalidade mais aberta, será bem melhor porque os iraquianos se sentarão para discutir todos os assuntos, até mesmo a Constituição e novas instituições. Mas ainda não é estável porque as mudanças de que falamos ainda não ocorreram. Apenas tivemos eleições e os iraquianos não conseguiram formar um governo. Eles precisam formar um governo e é necessário que seja um bom. Se eles falharem, os iraquianos pagarão o preço.
A Síria recebe ajuda para lidar com 1,2 milhão de refugiados iraquianos no país?
Ninguém ajuda. Eles (os EUA) criaram esse problema e não querem nos ajudar e não permitem que o governo iraquiano nos ajude. Portanto os custos estão com a Síria. Mas este não é apenas um problema humanitário, mas político. Imagine se eles voltassem para seu país sem educação, na pobreza? Iriam diretamente para o extremismo. Portanto temos de recebê-los e fazê-los se sentir num país normal. Não os tratamos como refugiados, mas como hóspedes. No caso dos palestinos, são meio milhão e eles têm todos os direitos na Síria, menos a nacionalidade e o voto.
Sua administração trouxe avanços na economia. Por outro lado, seus críticos dizem que a abertura política foi interrompida. O sr. pretende reiniciar a abertura? Por que é tão difícil?
Nós não começamos algo e depois paramos. Desde o começo, quando começamos a reforma, houve diferentes avaliações sobre a velocidade. Alguns dirão que foi muito rápida. Outros, que foi lenta. Na verdade, nós não interrompemos. Mas abrimos a uma base metódica. Não fazemos as coisas porque somos entusiasmados como pessoas fanáticas ou românticas. Nós sabemos o que estamos fazendo. Começamos a reforma da economia em 2000, mas apenas sentimos a abertura em 2007, 2008. Demoraram sete, oito anos porque foi necessária uma reforma legislativa e o diálogo. Não pode haver reforma sem diálogo. E como começamos o diálogo? Abrimos a mídia primeiro. Depois a internet. Quando assumi (em 2000), havia 30 mil usuários na Síria. Hoje, são 3 milhões e somos o país árabe que registra mais crescimento na área. Temos imprensa privada. Ha diferentes jornais, revistas, canais de TV. Portanto, estamos nos movendo. Se você me perguntar se é rápido, eu diria que não é rápido, mas é difícil medir a velocidade. Diria que vamos o mais rápido possível com a menor quantidade de efeitos colaterais.
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Re: Brasil e política internacional
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Re: Brasil e política internacional
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve ... rante.html
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve ... nidos.htmlToda a estupidez da mídia americana, em breve flagrante
[ external image ]
Quem é esse Evo Morales que o Washington Post inventou?
Tudo indica que o jornal foi buscar a ilustração nesta foto:
[ external image ]
A vida imita a arte: Isso completa meu argumento
por Mark Weisbrot, no jornal britânico Guardian, em 16.07.2010
Tradução do Viomundo
É legal quando você faz um documentário sobre como a grande mídia distorce a realidade e a resposta da mídia ao filme comprova a sua argumentação. Na verdade, a resposta da mídia ao documentário South of the Border, de Oliver Stone, que eu escrevi com Tariq Ali, realmente completa alguns dos argumentos do filme.
O primeiro tem a ver com o desleixo e a falta de conhecimento que caracterizam o debate sobre as relações dos Estados Unidos e a América Latina, problemas com os quais a grande mídia regularmente contribui. Algumas das críticas ao filme foram marcadas pela dificuldade em acertar os presidentes e os países envolvidos. Talvez o exemplo mais relevante foi dado pelo Washington Post, que colocou uma foto do ministro de governo da Bolívia, Sacha Llorenti, identificando-o como “Evo Morales”. Llorenti é desconhecido nos Estados Unidos, mas aparece no filme como tradutor para o presidente Morales. Alguém no Post deve ter visto ambos no filme e deve ter chegado à conclusão que o cara mais branco falando inglês tinha de ser o presidente.
O ataque frontal de Larry Rother ao filme ocupou quase toda a primeira página do caderno de Artes do New York Times, com uma grande sub-manchete que dizia “Surgem questões sobre a precisão [do filme]“. No entanto, ele não conseguiu encontrar nenhum erro factual — apesar de algumas tentativas desesperadas de fazê-lo. Em uma delas Rother usou dados da importação de petróleo [venezuelano pelos Estados Unidos] de 2004 a 2010 para tentar desmentir um analista que aparece em um clipe de TV aproveitado pelo documentário, de abril de 2002. A fala de cinco segundos do especialista não tem nenhuma relevância, mas ainda assim Rother comete um erro.
Aqui, uma resposta detalhada a Rother, em inglês
Os erros cometidos nas resenhas foram muito numerosos para listar aqui. (Você pode votar em seu erro favorito aqui — Nota do Viomundo: no site Daily Kos, em inglês). Muitos críticos reforçaram a análise que o filme faz da mídia ao considerar toda a história em termos ideológicos e não entendendo os pontos mais substantivos. Por exemplo, o filme oferece cinco provas do envolvimento de Washington no golpe de 2002 que derrubou o presidente eleito da Venezuela, Hugo Chávez. Elas incluem um documento do Departamento de Estado reconhecendo que “o NED [National Endowment for Democracy], o Departamento de Defesa [DOD] e outros programas de assistência dos Estados Unidos deram treinamento, apoio institucional e de outro tipo para indivíduos e organizações que sabiam estar envolvidos ativamente na breve derrubada do governo Chávez”.
Isso, e outra documentação apresentada no filme — parte da qual nunca sequer chegou a ser divulgada na grande mídia [americana] — reforça a tese de que Washington esteve envolvida no golpe. Essa conclusão é apoiada por Scott Wilson, do Washington Post, que era editor internacional quando foi entrevistado por mim e que estava em Caracas durante o golpe.
Eduardo Porter, do conselho editorial do New York Times, também aparece no filme e faz referência ao apoio do governo Bush ao golpe: “Este incidente em particular foi a pior decisão possível que os Estados Unidos poderiam ter tomado. Não apenas trancou Washington na posição de inimigo eterno do governo Chávez como tornou difícil para qualquer outra pessoa na América Latina gostar dos Estados Unidos”.
Ainda assim tivemos milhares de artigos e reportagens sobre as relações dos Estados Unidos e da Venezuela nos últimos oito anos e quase nenhum sobre o papel dos Estados Unidos no golpe. Quando muito isso é mencionado como uma “acusação” feita por ninguém menos que Hugo Chávez — uma fonte demonizada — ou descartado como algum tipo de “apoio tácito”. A maior parte dos resenhistas do South of the Border também parece ter considerado essa questão e as provas apresentadas no documentário como irrelevantes.
Quando os resenhistas notaram a crítica que o filme faz à mídia, o problema foi atribuído à [rede de TV de extrema-direita] Fox ou outras emissoras de TV. Mas o documentário enfatiza que toda a grande mídia — não apenas a Fox ou as emissoras de TV — é que deu aos americanos uma impressão distorcida das mudanças históricas que aconteceram na última década na América Latina. Foi o conselho editorial do New York Times que abertamente apoiou a derrubada de um governo eleito democraticamente em 2002 — um ponto importante do filme. Isso também não foi notado, apesar do fato de que é que algo que o jornal mais importante dos Estados Unidos não fazia provavelmente nos últimos 30 ou 40 anos.
Não há surpresa no fato de que o filme atraiu a hostilidade característica dada a quem trata dessa questão [da mídia] (embora também tenha havido críticas positivas). A resenha do Los Angeles Times, que contém vários erros importantes, criticou o filme por não ter substância. Mas parece que a substância que o filme tem foi além do que a maior parte da mídia é capaz de lidar.
A demagogia xenófoba nos Estados Unidos
por Luiz Carlos Azenha
Há quem faça previsões sombrias sobre o futuro dos Estados Unidos, especialmente se enfrentarmos em breve uma recaída da crise financeira internacional (crise em W, como se diz no economês). Uma possível derrota de Barack Obama em 2012 colocaria de volta na Casa Branca um Partido Republicano redefinido pelos padrões ideológicos de Sarah Palin. Muito pior que José Serra, um político que fez carreira na esquerda, incorporando o discurso da extrema-direita brasileira, como temos visto recentemente.
O Viomundo já reproduziu o primeiro dos três artigos em que Sara Robinson avalia o avanço do fascismo nos Estados Unidos. Está aqui.
Hoje trazemos a coluna Borderlines, de William Finnegan, na edição que está nas bancas da revista New Yorker. O título é um trocadilho com a fronteira física entre Estados Unidos e México e a personalidade “borderline” (fronteiriça) de políticos que exploram a xenofobia no país. Fala de como os políticos embarcam na xenofobia para faturar alguns votos.
Borderlines
por William Finnegan
Quando o tópico é imigração ilegal, alguns de nossos líderes políticos produzem mais calor que luz. No dia 28 de abril, em uma carta ao presidente Obama, dezessete integrantes do Congresso, a maioria do Sudoeste, exigiram ação imediata para aumentar a segurança na fronteira, notando que “a violência na vizinhança da fronteira dos Estados Unidos-México continua a aumentar de forma alarmante”. Dois dias antes, o senador John McCain, do Arizona, em um discurso no Congresso em que defendeu a nova lei aprovada em seu estado que exige que a polícia investigue o status imigratório de indivíduos, descreveu “uma fronteira sem segurança entre o Arizona e o México, o que é causa da violência, a pior que já vi”. Ele foi adiante citando os números para imigrantes ilegais apreendidos no ano passado.
De fato alguns desses números são surpreendentes: eles diminuiram, de acordo com a Guarda de Fronteira — cairam por mais de 60% desde 2000, para 550 mil apreensões no ano passado, o número mais baixo em 35 anos. A imigração ilegal, embora difícil de medir, está claramente declinando. A fronteira sul, longe de estar “insegura”, está em melhor situação do que esteve em muitos anos — melhor gerenciada e menos porosa. Foi beneficiada pelos aumentos de orçamento desde o 11 de Setembro, o que ajudou a reduzir as entradas ilegais, talvez menos dramaticamente que o crash econômico. O crime violento, embora esteja aumentando no México, caiu deste lado da fronteira: nos condados da fronteira Sudoeste caiu mais de 30% nas últimas duas décadas. Caiu no Arizona do senador McCain. De acordo com estatísticas do FBI, as quatro grandes cidades mais seguras dos Estados Unidos — San Diego, Phoenix, El Paso e Austin — ficam todas em estados fronteiriços.
O problema da imigração ilegal não é que criminosos violentos estejam derrubando os muros de nossas pacíficas cidades. É sobre o que fazer com os 11 milhões de imigrantes ilegais estimados que já estão aqui. Apesar das fantasias de deportação em massa de alguns, o fato é que a maioria deles está aqui para ficar. Isso é bom, já que eles, para início de conversa, são essenciais para grandes setores da economia, começando com o setor de alimentos — o Departamento de Trabalho calcula que mais da metade dos empregados na colheita dos Estados Unidos não tem documentos. Os líderes empresariais do país não tem ilusões a respeito desses fatos básicos da vida econômica. No mês passado, o prefeito Michael Bloomberg formou uma coalizão de prefeitos de grandes cidades com executivos de grandes corporações — inclusive a Boeing, Disney, Hewlett-Packard e mesmo a News Corporation do Rupert Murdoch — para fazer lobby no Congresso por um plano para reforma da imigração, inclusive com um caminho para dar status legal aos imigrantes não-documentados. Bloomberg chama a atual política de imigração de “suicídio nacional”.
Há razões para descontentamento com a imigração ilegal. Em algumas indústrias, os recém-chegados muito pobres derrubam salários. Os orçamentos estaduais e locais sofrem quando os trabalhadores são pagos por baixo do pano. O fato de que as pessoas não tem status legal é em si perturbador. A grande onda de imigração do fim do século 20 foi a primeira em que muitos, se não a maioria dos imigrantes, entrou no país ilegalmente. Ainda assim as ondas anti-imigração não batem com as ondas de imigração factual. Elas batem com desemprego, ansiedade popular e o medo de perder o lugar para estranhos. Elas dependem das narrativas sobre o declínio nacional, das quais não temos tido falta recentemente. Espantar os outros funciona. Mesmo num momento em que a imigração ilegal está em declínio, recentes pesquisas da rede CBS e New York Times mostram que o número de pessoas que consideram imigração “um problema muito sério” está aumentando — de 54% em 2006 para 65% em maio deste ano.
Alguns dos opositores mais ferozes dos imigrantes ilegais denunciam a presença deles como uma ameaça à segurança nacional. Se esta posição tem mérito — o que se pode debater — então a necessidade de tirar os sem-documentos das sombras e colocá-los ao sol dos registros oficiais e do status legal é ainda mais urgente. Um impressionante número de chefes de polícia tem se posicionado contra medidas como a lei do Arizona porque ela significa, na essência, a discriminação racial, envenenando as relações comunitárias e dificultando a luta contra o crime. Grupos anti-imigrantes, que proliferaram em anos recentes, não são por natureza racistas, mas com certeza atraem racistas e dão a eles um palco.
Ainda assim, os políticos saltam no vagão nativista. Nessa campanha, os candidatos estão se posicionando duramente contra o inimigo imigrante de Massachussets à Georgia, da mesma forma que na Califórnia e no Arizona. Em pequenas cidades da Pensilvânia, do Texas e de Nebraska foram aprovadas leis locais contra a imigração de constitucionalidade duvidosa. Para não ficar atrás, o legislativo do Arizona contempla uma lei que desafiaria a Décima Quarta Emenda que garante cidadania a qualquer criança nascida nos Estados Unidos. Jan Brewer, a governadora, sugeriu que pais mexicanos de cidadãos estadunidenses levem suas crianças para o México. Ela também disse que a maior parte das pessoas que cruzam a fronteira são “mulas da droga” e que houve decapitações em regiões de fronteira — declarações totalmente desprovadas pelos fatos. Existem informes de que residentes latinos, legais e ilegais, estão deixando o Arizona para estados mais hospitaleiros antes que a lei entre em vigor no dia 29 de julho (se não houver alguma ação legal).
Durante a campanha presidencial, Barack Obama prometeu uma profunda reforma da imigração, mas quando ele assumiu o poder tinha questões mais urgentes para tratar. Ele também pode ter pensado na experiência de seu predecessor. George W. Bush tentou, durante seu segundo mandato, uma série reforma da imigração e foi derrotado pela extrema-direita de seu próprio partido. Nesta primavera Obama, depois de passar a reforma do sistema de saúde, parecia em posição forte para fazer a reforma da imigração. Depois de se reunir com senadores republicanos, fez um movimento característico — de repente mandou 1.200 soldados da Guarda Nacional para a fronteira Sul. Ele estava dando um drible para a direita, parecia, antes de buscar a cesta.
O presidente fez seu primeiro grande discurso sobre imigração no início deste mês. Ele fez uma poderosa defesa da reforma, mas teve o cuidado de se distanciar de uma anistia. As pessoas teriam que “se acertar com a lei”, ele disse. Seu governo tem reprimido os empregadores de ilegais e aumentou o número de deportações. Ao mesmo tempo, o Departamento de Justiça foi à Justiça para derrubar a lei do Arizona, argumentando que fazer cumprir as leis de imigração é responsabilidade federal.
O problema da imigração ilegal foi abandonado por décadas. Toda tentativa de enfrentá-lo provocou uma enxurrada de obstrucionismo e demagogia. Pedidos de maior segurança na fronteira agora fazem parte do obstrucionismo. O presidente culpa, com razão, os republicanos por bloquear a reforma, mas muitos democratas, tanto no Congresso quanto em governos estaduais, não tem estômago para confrontar o problema — especialmente em um ano eleitoral. Dadas as emoções que o tópico desperta, a batalha para passar uma reforma da imigração pode fazer parecer a disputa em torno da reforma de saúde algo ameno. É hora, no entanto, de finalmente tentar tirar do escuro milhões de homens, mulheres e crianças.
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Re: Brasil e política internacional
O povo brasileiro encontra, na atual gestão, os fundamentos dos verdadeiros interesses nacionais,inspirando
a crença de que a politica internacional promete ser um dos grandes feitos do governo Lula...
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Re: Brasil e política internacional
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Política Externa: Debate e Balanço
O referencial para a avaliação da política externa brasileira é o conjunto de esforços do país, que possui identidade, prioridades e projeção internacional. A conclusão é de um balanço positivo. Da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) aos G20 comercial e financeiro, ao IBAS, ao exercício da liderança focada em temas sociais (fome, saúde, desenvolvimento) observa-se autonomia e equilíbrio. Fazendo uso dos termos norte-americanos, o Brasil exerce a diplomacia do “poder inteligente” (smart power). O artigo é de Cristina Soreanu Pecequilo.
Cristina Soreanu Pecequilo (*)
Nos últimos anos, a solidez das relações internacionais brasileiras tornou-se evidente no cenário global. Dentre as iniciativas que representam este salto qualitativo encontram-se: a diversificação de parcerias Sul-Sul e Norte-Sul, a consolidação de coalizões de geometria variável como o G20 comercial e financeiro, o Fórum de Diálogo IBAS, o comando da Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH), a mediação de questões sensíveis referentes à proliferação nuclear (Irã) e instabilidades políticas (Honduras, América do Sul), o avanço das nações emergentes (Cúpula dos BRIC), além da ajuda e cooperação técnica a nações mais pobres.
A projeção em questões mundiais, e não somente nas relativas a um espaço ou tema como América do Sul e comércio, retomou uma tradição e patrimônio esvaziado na década anterior e tornou a política externa foco de debate. Estas discussões estenderam-se democraticamente à sociedade, demonstrando que a participação internacional resulta de um contexto político e econômico de estabilidade e recursos, somado ao amadurecimento do Brasil e sua população, que reconhece o país como potência, assim como cada vez mais o fazem outros Estados. Embora em diversas oportunidades este diálogo tenha ocorrido de forma construtiva, buscando elucidar os porquês de prioridades e movimentações, em outras o que se observou foi a crítica fácil.
Esta dinâmica demonstra-se em polarizações ideológicas, avaliações parciais e fabricação de crises que atribuem às escolhas brasileiras resultados como isolamento, perda de credibilidade, enfraquecimento e ausência de legitimidade. Observa-se em certos meios a prevalência de um balanço negativo destas experiências, comparadas a um falso positivo: os anos 1990 e sua postura minimalista. Mesmo quando houve continuidade, característica da política de Estado, apontou-se quebra que levou à suposta radicalização. Neste campo inserem-se a integração sul-americana, o pleito ao assento de membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSONU), a defesa do sistema multilateral justo na Organização Mundial de Comércio (OMC), descontextualizados e avaliados como exercícios de poder. Vitórias em painéis da OMC contra o protecionismo norte-americano, como no caso do algodão, e o direito do Brasil retaliar os EUA foram apresentadas como agressões e não resultado de um julgamento legal no âmbito da organização.
A manifestação mais recente foi a alegação de que o PT possuiria envolvimento com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), e que o Brasil apóia ditadores, visando benefícios comerciais e financeiros em detrimento da democracia. Em Honduras, porém, quando o país defendeu este princípio, apontaram enganos. Similar padrão fora aplicado a situações como as da Venezuela, Bolívia e Equador, existindo alegações de fraqueza ao lidar com o Paraguai sobre Itaipu. A participação turco-brasileira nas negociações referentes ao programa nuclear iraniano permanece alvo de controvérsia, assim como a intermediação nas conversações Israel-Palestina e a presença no Oriente Médio. Para os próximos dias, pode-se aguardar alegações de que o rompimento diplomático entre Venezuela e Colômbia foi resultado do apoio a Chavéz. Alternam-se acusações de excesso as de timidez, que revelam as motivações, a inconsistência e o fator conjuntural das críticas.
Com relação ao acordo nuclear, as diferenças de postura com os EUA trouxeram a tona novamente o tema do anti-americanismo, que surgira devido às posições diante da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) e da Rodada Doha. Devido às divergências das agendas foi atribuída ao Brasil a paralisia de ambos. Todavia, guardadas as tradicionais elevações de retórica para defesa de interesses, em nenhum momento houve rompimento bilateral. Associou-se ao Brasil peso desproporcional na definição do fracasso e/ou sucesso de qualquer uma destas negociações, entendidas como via de mão única, quando muitos obstáculos residiam nos EUA.
Além de relegar o país a uma posição secundária, estas visões revelam uma incompreensão das fragmentações norte-americanas, seus mecanismos políticos-decisórios e do equilíbrio de poder mundial pós-Guerra Fria. Dentre as percepções equivocadas encontra-se a da unipolaridade, obscurecendo a ascensão político-econômica de potências regionais, emergentes ou desenvolvidas, gerando desconcentração de pólos. Estas avaliações subestimam o interesse norte-americano em dividir ônus com aliados que exerçam papel estabilizador em seus espaços regionais. Supõe-se forte unidade nos EUA, ignorando as disputas partidárias pela hegemonia interna e a permeabilidade aos grupos de interesse. O poder de determinados lobbies é elevado, afetando as ações do Executivo.
Isto não significa a eliminação de divergências ou que os EUA não buscariam conter os aliados (não esquecendo de iniciativas como a reativação da Quarta Frota no Atlântico Sul), mas demonstra uma recomposição de forças. Ao longo da história, como parte de sua cultura, a sociedade norte-americana não valoriza políticas de fraqueza, descarta os que não lhe oferecem nem riscos e nem oportunidades. A despeito do que fazem supor os ruídos, a relevância do Brasil somente aumentou e não diminuiu.
Mesmo conscientes que o exercício da justificação é parte da dominação, é fato que nos documentos oficiais os “novos centros de poder” ganharam espaço. A leitura da grande estratégia lançada em Maio pela administração Barack Obama, a NSS-2010, reconhece estas mudanças, algo que ocorre desde o final do governo George W. Bush. Pode ser este apenas um movimento defensivo e não propositivo? Certamente, mas é curioso observar afirmações como
Os EUA são parte de um ambiente internacional dinâmico, no qual diferentes nações estão exercendo maior influência (...) estamos trabalhando para construir parcerias mais profundas e eficientes com outros centros de influência chave- incluindo China, Índia e Russia (...) África do Sul e Indonésia (...)
E sobre o Brasil?
A liderança do Brasil é bem vinda e desejamos nos mover além das ultrapassadas divisões Norte-Sul para alcançar progressos em questões bilaterais, hemisféricas e globais. O sucesso macroeconômico do Brasil aliado aos esforços para diminuir diferenças sócio econômicas, oferecem importantes lições para países por todas as Américas e a África (...). Como guardião de um patrimônio ambiental (...) único e líder em combustíveis renováveis (...) é um parceiro (...) para (...) mudança climática global e (...) segurança energética. E no contexto do G20 e da Rodada Doha, trabalharemos ao lado do Brasil para assegurar que o desenvolvimento e a prosperidade sejam compartilhados (...)
Mais do que reconhecer esta percepção é necessário descolar-se dela uma vez que a avaliação da política externa não pode ou deve ser realizada somente a partir deste prisma. O seu referencial é o conjunto de esforços do país, que possui identidade, prioridades e projeção internacional. A conclusão é de um balanço positivo. Da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) aos G20 comercial e financeiro, ao IBAS, ao exercício da liderança focada em temas sociais (fome, saúde, desenvolvimento) observa-se autonomia e equilíbrio. Fazendo uso dos termos norte-americanos, o Brasil exerce a diplomacia do “poder inteligente” (smart power).
Existem ajustes a realizar? Sim, em questões de sobreposição de projetos, encruzilhadas sócio-econômicas, elementos de infraestrutura e o reforço da base de poder, demandando engajamento contínuo. O interesse nacional, e como parte dele, as relações internacionais, são dinâmicas e para responder aos seus desafios é fundamental o diálogo. As atuais conquistas, das quais se tornaram simbólicas a Copa-2014 e as Olimpíadas-2016, não podem ser encaradas com um fim em si mesmas, mas sim como parte de um projeto, ao qual existem alternativas, inclusive de retrocesso.
(*) Doutora em Ciência Política e Professora de Relações Internacionais
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Re: Brasil e política internacional
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve ... orial.html
Brasil: liderança e soberania
do diário mexicano La Jornada
Tradução: ADITAL
Ontem, ao assumir a presidência pro tempore do Mercado Comum do Sul (Mercosul), em San Juan, Argentina, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, assinalou que a América do Sul é um exemplo de como o mundo pode viver em paz, sem armas nucleares, sem guerra, de forma muito mais harmoniosa e confiou que durante os seis meses nos quais seu país estará à frente do organismo a região possa avançar na construção de um bloco onde todos sejamos amigos. Tal afirmação tem como elemento de contexto as tensões diplomáticas entre a Colômbia e a Venezuela, um ponto sobre o qual o próprio mandatário brasileiro enfatizou, ao assinalar que ambos países têm que entender-se e concretizar uma relação de custo-benefício; indicou que quanto mais rápido se estabeleça a harmonia entre Caracas e Bogotá, mais ganharão os povos de ambas nações; e convocou a uma aproximação entre o mandatário venezuelano, Hugo Chávez, e o presidente eleito na Colômbia, Juan Manuel Santos, a quem pediu que exerça seu mandato de maneira negociada para alcançar a paz.
Por outro lado, o mandatário brasileiro reiterou sua defesa de um diálogo entre o subcontinente e o Irã e se disse decepcionado pela imposição, por parte da ONU, de novas sanções contra o governo de Teerã, apesar do acordo alcançado entre este e os regimes do Brasil e da Turquia: trocar com o segundo desses países urânio pouco enriquecido por porções do metal suficientes para o uso do reator nuclear iraniano. Com relação a esse último, o atual presidente do Mercosul ‘colocou o dedo na ferida’: “Hoje, me pergunto se realmente desejamos a paz ou se queremos manter um clima de instabilidade que existe, para justificar uma teoria de Maquiavel: ‘é necessário dividir para reinar’”.
As declarações formuladas ontem pelo mandatário brasileiro permitem ponderar o peso que adquiriu seu país como um ator cada vez mais importante na diplomacia internacional. Em primeiro lugar, a mediação brasileira no conflito entre Caracas e Bogotá constitui, no momento atual, um elemento duplamente valioso: por um lado, porque ao manter uma equidistância entre ambas partes, o mandatário se apresenta como um interlocutor válido e desejável; por outro, porque ao propor uma via de negociação alternativa à Organização dos Estados Americanos (OEA), contribui para evitar o conflito da esfera de dominação geopolítica dos Estados Unidos, e o coloca em um cenário mais democrático, igualitário e propício para a negociação.
Além do mais, os chamados de Lula ao diálogo com o Irã e sua condenação ante o recrudescimento das sanções contra Teerã constituem indicadores da independência que o subcontinente tem adquirido — salvo os casos da Colômbia e do Peru — com respeito aos desígnios de Washington e de seus aliados. Ao mesmo tempo, as declarações exibem um ponto de encontro entre Brasília e a República islâmica, concordância que não radica na justificação de processos armamentistas — como os que o Ocidente ataca Teerã –, mas na necessária defesa das soberanias nacionais frente à hegemonia dos poderes planetários nos âmbitos econômico, político, diplomático e militar.
Em suma, ante as posturas expressadas por Lula, é claro que o Brasil desempenha, hoje em dia, um papel lúcido e construtivo na solução de tensões no âmbito diplomático. A condição de interlocutor central e crível que o governante brasileiro adquiriu coloca seu país na posição de incidir positivamente em diversos conflitos que se desenvolvem dentro e fora do continente e cabe esperar que o consiga.
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Re: Brasil e política internacional
Não,não vamos parar de beber coca-cola, comer no MC DONALTS, não acessar mais o orkut ou não usar mais os seviços
estrangeiros, mas sim ter a consiência que existe um produto nacional semelhante e não deixar que as nossas empresas
Públicas sejam vendidas como se fossem outra qualquer...Enquanto não formos patriotas para eleger politicos que acabem com essa venda do Brasil, nunca seremos totalmente independentes...
estrangeiros, mas sim ter a consiência que existe um produto nacional semelhante e não deixar que as nossas empresas
Públicas sejam vendidas como se fossem outra qualquer...Enquanto não formos patriotas para eleger politicos que acabem com essa venda do Brasil, nunca seremos totalmente independentes...
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O Tripatriotão não toma Coca-cola há décadas e nunca foi ao McDonalds. E só usa alargador peniano da Positivo.
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Re: Brasil e política internacional
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... to-abdenur
O TRISTE FIM DE UM DISCURSO DIPLOMÁTICO
Marco Aurélio Garcia
Não é fácil poder dar, em um período relativamente curto, duas entrevistas às páginas amarelas da revista Veja. É preciso estar muito afinado com o conservadorismo raivoso dessa publicação para merecer tal distinção.
Sei disso por experiência própria. Há muitos anos, um colunista-fujão de Veja dedicou-me um artigo cheio de acusações e insultos. Ingenuamente, enviei minha resposta a esta publicação, que se proclama paladina da liberdade de expressão. Meu texto não foi publicado e, para minha surpresa, li uma semana mais tarde uma resposta à minha resposta não publicada.
O embaixador-aposentado Roberto Abdenur teve mais sorte que eu. Emplacou uma segunda entrevista à Veja, talvez para retificar o tiro da primeira que concedeu (7 de fevereiro de 2007). Ou quem sabe para "compensar" o excelente depoimento do Presidente Juan Manuel Santos, na semana anterior, que não sucumbiu às tentativas da revista de opor o Brasil à Colômbia na América do Sul. Em sua primeira entrevista o diplomata destilava ressentimento contra o Ministro Celso Amorim que, num passado distante, o havia convidado para ser Secretário-Geral do Itamaraty e, mais recentemente, o havia enviado para uma de nossas mais importantes embaixadas – a de Washington. Abdenur preservava, no entanto, a política externa brasileira e, sobretudo, o Presidente Lula, que o havia designado como seu representante nos Estados Unidos.
Agora, tudo mudou. A crítica é global e dela não escapa nem mesmo o Presidente da República. Em matéria de política externa Lula não passa de um "palanqueiro", a quem o Itamaraty "não sabe dizer não". Faltando à verdade, o intrépito embaixador diz que nosso Presidente "começou a bater em Obama antes de eleito e não cansa de dar canelada no americano". Abdenur desconhece, ou finge desconhecer, as inúmeras manifestações de simpatia – e de esperança – que a eleição do atual Presidente norte-americano provocou em seu colega brasileiro. Ao invés disso, o ex-embaixador escorrega em rasteiro psicologismo ao detectar no Presidente Lula "um elemento de ciúme" em relação a Obama, pois este último lhe teria subtraído "a posição privilegiada no palanque global"...
Abdenur fez vinte anos de sua carreira diplomática durante o regime militar e não sofreu nenhum constrangimento. Até aí tudo bem. Muitos outros de seus contemporâneos tampouco foram perseguidos. Mas essa experiência profissional não lhe autoriza fazer analogias entre a política externa atual e aquela levada adiante nos primeiros anos da ditadura, quando chanceleres proclamavam que o que "é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil" ou patrocinavam o envio de tropas brasileiras para esmagar as mobilizações populares na República Dominicana.
É claro que aquelas inflexões da política externa brasileira foram tomadas por "razões ideológicas" (de direita). Mas a pergunta que não quer calar é: quando não temos motivações ideológicas na política, em particular na política externa?
Durante o Governo Geisel, quando Abdenur integrou o grupo dos "barbudinhos" do Itamaraty, foram resgatados princípios da Política Externa Independente de Santiago Dantas, Afonso Arinos e Araújo Castro, apresentados para a ocasião sob a eufemística denominação de "pragmatismo responsável". Mas aquela política – que tinha conteúdos progressistas, diga-se de passagem – também era expressão do projeto autoritário de "Brasil Potência" propugnado pelos militares. Tanto ela, como a Política Externa Independente do período Goulart-Jânio, tinham fortes componentes "ideológicos", como é normal em qualquer sociedade, democrática ou não.
É igualmente "ideológica" a reivindicação do ex-embaixador de que nossa diplomacia se alimente de "valores ocidentais". Mais do que ideológica, é ultrapassada e perigosa.
Ultrapassada, pois traz à memória os tempos da "guerra fria", quando se falava em "civilização ocidental e cristã" para esconder propósito profundamente conservadores.
Perigosa porque traz à tona e legitima a idéia de choque de civilizações (entre "oriente" e "ocidente") que os neo-conservadores têm defendido com tanta insistência nos últimos anos para justificar suas aventuras belicistas, queima de livros ou interdição de templos religiosos.
O ex-embaixador se alinha com as críticas da oposição brasileira contra a política externa atual. Seletivamente, ataca nosso bom relacionamento com Venezuela, Bolívia e Equador, supostamente motivado por afinidades ideológicas, esquecendo-se de mencionar nosso igualmente bom relacionamento com Argentina, Chile, Peru e Colômbia. Motivado por que?
Escondendo-se detrás de "boa fonte boliviana bem informada", desconhece ou deliberadamente omite, a cooperação militar e policial que se desenvolve com a Bolívia e com outros países para fazer frente ao flagelo do narcotráfico na região.
É próprio do pensamento conservador tentar apropriar-se de valores universais para encobrir interesses particulares – de classe, estamento, grupo ou etnia. A história do Brasil está cheia de exemplos. Nosso liberalismo conviveu alegremente com a escravidão. Nossa República proclamou retoricamente, durante décadas, a cidadania plena e praticou a mais brutal exclusão econômica, social e política. Tudo isso à sombra o Iluminismo, dos ideais da Renascença, do Humanismo ou da Revolução Americana que o embaixador invoca em seu vago projeto diplomático.
O Presidente Lula, assim como quase todos governantes, manteve e mantém relações com Chefes de Estado e de Governo dos mais distintos países: de democráticos, de regimes teocráticos, de partido único ou de responsáveis por graves violações de direitos humanos em nível local ou global. Não será difícil encontrar os nomes dos países na tipologia antes aludida.
Esses relacionamentos não se devem a idiossincrasias presidenciais como, de forma desrespeitosa, pretende Abdenur. Eles se inserem no difícil esforço de construção de um mundo multilateral e, sobretudo, de um mundo de paz.
São muitos os caminhos para atingir esse objetivo. Vão do uso da força militar ao emprego das sanções que golpeiam mais ao povo do que aos governantes dos países atingidos. Mas há também o caminho da negociação, da diplomacia que não renuncia valores, mas que não faz deles biombo por traz do qual se ocultam inconfessáveis opções políticas e ideológicas, particularmente quando a sociedade brasileira é chamada a decidir seus destinos pelos próximos quatro anos.
P.S.: há algum tempo a imprensa noticiou que Roberto Abdenur estava dando cursos de política externa para os Democratas (ex-PFL). Não acreditei. Agora passei a acreditar.
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Re: Brasil e política internacional
França diz que Europa não é 'lixão' de produtos do Mercosul
O ministro francês da Agricultura, Bruno La Maire, afirmou nesta terça-feira que a "Europa não é lixão dos produtos agrícolas da América do Sul", no mesmo dia da viagem que o comissário europeu do Comércio iniciará ao Brasil para retomar as negociações com o Mercosul.
"A Europa não é o lixão dos produtos agrícolas da América do Sul", afirmou Le Maire depois da abertura do 24º Salão Internacional de Pecuária de Rennes (oeste da França), depois de reiterar a oposição "firme" da França à retomada das negociações entre União Europeia (UE) e Mercosul.
O ministro francês fez tais declarações no mesmo dia em que o comissário europeu de Comércio, Karel de Gucht, inicia no Brasil (que exerce a presidência temporária do Mercosul) uma viagem que posteriormente o levará à Argentina para impulsionar as negociações comerciais entre ambos os blocos regionais.
Leia mais aqui
Fonte: AFP
O ministro francês da Agricultura, Bruno La Maire, afirmou nesta terça-feira que a "Europa não é lixão dos produtos agrícolas da América do Sul", no mesmo dia da viagem que o comissário europeu do Comércio iniciará ao Brasil para retomar as negociações com o Mercosul.
"A Europa não é o lixão dos produtos agrícolas da América do Sul", afirmou Le Maire depois da abertura do 24º Salão Internacional de Pecuária de Rennes (oeste da França), depois de reiterar a oposição "firme" da França à retomada das negociações entre União Europeia (UE) e Mercosul.
O ministro francês fez tais declarações no mesmo dia em que o comissário europeu de Comércio, Karel de Gucht, inicia no Brasil (que exerce a presidência temporária do Mercosul) uma viagem que posteriormente o levará à Argentina para impulsionar as negociações comerciais entre ambos os blocos regionais.
Leia mais aqui
Fonte: AFP
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Chegado de Luiz Inácio Lulalá da Silva obtém vitória importante nas urnas:
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior ... cao=Europa
E é instrutivo ver que Portugal também tem sua imprensa lobotomizada.
O fato de as propostas do referendo terem tido origem em demandas da própria Europa não é suficiente para a imprensa lobotomizada portuguesa apoiar a vitória de Erdogan. Afinal de contas, trata-se de um chegado do presidente Luiz Inácio Lulalá da Silva, lume do movimento progressista mundial.
O fato de as modificações corrigirem as distorções introduzidas pelo golpe militar de 1980 não é suficiente para a imprensa lobotomizada portuguesa apoiar a vitória de Erdogan. Afinal de contas, trata-se de um islamista, não é verdade?
O fato de o povo turco ter comparecido em massa ao referendo não é suficiente para a imprensa lobotomizada portuguesa apoiar a vitória de Erdogan. Afinal de contas, trata-se de um líder que costuma peitar os nazionistas isarelenses e americanos.
O fato de o referendo ter sido aprovado com 60% dos votos não é suficiente para a imprensa lobotomizada portuguesa apoiar a vitória de Erdogan. Era preciso ter conseguido 100% de aprovação, se levarmos em conta a opinião do analista devidamente lobotomizado da CNN turca, que não sabe que 100% de aprovação só acontece em pleitos realizados nas ditaduras patrocinadas pelos Estados Falidos.
A independência do Judiciário pode estar ameaçada, acredita a imprensa lobotomizada. O fato de em todos os países do mundo ser o Executivo que nomeia os juízes das cortes supremas parece ser desconhecido por ela.
Para a imprensa lobotomizada portuguesa, Erdogan é um conservador islamista, e a oposição, "laica e nacionalista". O mundo é simples dessa maneira para a imprensa lobotomizada portuguesa.
Mas, no mundo real, as coisas acontecem de forma diferente:
http://noticias.terra.com.br/mundo/noti ... tares.html
A imprensa lobotomizada portuguesa, como toda imprensa lobotomizada, teme que os golpistas sejam punidos.
Por que será, hein?
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior ... cao=Europa
É bom saber que as forças progressistas lograram mais uma acachapante vitória no mundo.'Sim' dos turcos ao referendo reforça posição de Erdogan
por LUMENA RAPOSO13 Setembro 2010
O primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, e a sua força política - o AKP - ganharam ontem novo fôlego político com a aprovação nas urnas do referendo sobre as emendas à Constituição que , desde 1982, geria o país. A nova Lei Fundamental reduzirá o papel dos militares na política, situação exigida pela UE, com que a Turquia está a negociar a sua adesão
Precisamente no dia em que se assinalou o 30.º aniversário do último golpe de Estado militar, os eleitores turcos foram às urnas para decidir sobre a revisão da Constituição redigida na sequência dessa acção. E, na sua maior parte, optaram pelo "Sim" - uma decisão que reforça o poder do Governo islâmico-conservador, liderado por Recep de Erdogan, e constitui uma mensagem da determinação do povo turco para entrar na União Europeia.
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Estes resultados reforçam o poder do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e da sua força política - Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) - que irá procurar, com as legislativas de Julho de 2011, garantir um terceiro mandato no poder. Ao conhecer os resultados, Erdogan garantiu aos seus apoiantes que "o 12 de Setembro é um marco na história democrática da Turquia. O nosso povo ultrapassou uma etapa histórica na via da democracia e da supremacia do Estado de direito". E, a reforçar a legitimidade do resultado, Erdogan sublinhou que "77-78%" dos 49,5 milhões de eleitores foram às urnas.
"Para o AKP, este escrutínio era encarado como um voto de confiança [do eleitorado], e conseguiu-o", afirmou o analista político turco Tarhan Erdem, à televisão NTV. Uma opinião não partilhada por Riza Türmen. Para este ex-juiz do Tribunal dos Direitos Humanos Europeu, o facto de mais de 40% dos eleitores terem votado "não" é um "grande problema" para o Governo. "Uma Constituição deve ser o fruto de um contrato social e é evidente que o novo texto não o é", disse Türmen em declarações à CNN-Turca.
O AKP, partido no poder, insiste em que a revisão da Constituição da época militar reforça as instituições democráticas do país e constitui um trunfo na sua candidatura à UE. A oposição laica e nacionalista contesta-o. Para estes a reforma proposta pelo Governo de Erdogan ameaça a independência da Justiça e põe em causa a separação de poderes, criando, sublinham, um "diktat civil". E vão mais longe nas suas críticas: o "sim" irá significar, na prática, uma espécie de "golpe islamita" ao possibilitar um aumento da influência do Governo nos tribunais.
A proposta revisão constitucional limita as prerrogativas da justiça militar e modifica, em proveito do poder político, a estrutura de duas instâncias judiciais: o Tribunal Constitucional e o Conselho Superior da Magistratura que nomeia os juízes e os procuradores, duas instituições que são bastiões da laicidade e adversários do Executivo.
E é instrutivo ver que Portugal também tem sua imprensa lobotomizada.
O fato de as propostas do referendo terem tido origem em demandas da própria Europa não é suficiente para a imprensa lobotomizada portuguesa apoiar a vitória de Erdogan. Afinal de contas, trata-se de um chegado do presidente Luiz Inácio Lulalá da Silva, lume do movimento progressista mundial.
O fato de as modificações corrigirem as distorções introduzidas pelo golpe militar de 1980 não é suficiente para a imprensa lobotomizada portuguesa apoiar a vitória de Erdogan. Afinal de contas, trata-se de um islamista, não é verdade?
O fato de o povo turco ter comparecido em massa ao referendo não é suficiente para a imprensa lobotomizada portuguesa apoiar a vitória de Erdogan. Afinal de contas, trata-se de um líder que costuma peitar os nazionistas isarelenses e americanos.
O fato de o referendo ter sido aprovado com 60% dos votos não é suficiente para a imprensa lobotomizada portuguesa apoiar a vitória de Erdogan. Era preciso ter conseguido 100% de aprovação, se levarmos em conta a opinião do analista devidamente lobotomizado da CNN turca, que não sabe que 100% de aprovação só acontece em pleitos realizados nas ditaduras patrocinadas pelos Estados Falidos.
A independência do Judiciário pode estar ameaçada, acredita a imprensa lobotomizada. O fato de em todos os países do mundo ser o Executivo que nomeia os juízes das cortes supremas parece ser desconhecido por ela.
Para a imprensa lobotomizada portuguesa, Erdogan é um conservador islamista, e a oposição, "laica e nacionalista". O mundo é simples dessa maneira para a imprensa lobotomizada portuguesa.
Mas, no mundo real, as coisas acontecem de forma diferente:
http://noticias.terra.com.br/mundo/noti ... tares.html
Vemos agora o que é que a imprensa lobotomizada portuguesa temia.Após aprovação de referendo, entidades na Turquia processam militares
13 de setembro de 2010 • 11h24
As emendas constitucionais aprovadas neste domingo pelos cidadãos turcos tiveram uma aplicação prática poucas horas depois: várias organizações civis apresentaram processos para julgar a cúpula militar que, em 1980, derrubou o então Governo democrático e instalou um regime autoritário no país.
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Uma das medidas aprovadas é a supressão do artigo 15 da Carta Magna, que eximia de responsabilidade penal os militares do levante de 1980, acusados de quase duas centenas de mortes por tortura nos anos que estiveram no poder.
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A Bolsa de Istambul recebeu hoje com grandes altas os resultados, vistos como antecipação do apoio que o AKP pode obter para um terceiro mandato, que desde sua chegada ao poder em 2002 conseguiu um grande crescimento econômico com um programa que mistura conservadorismo social e liberalismo econômico.
A imprensa lobotomizada portuguesa, como toda imprensa lobotomizada, teme que os golpistas sejam punidos.
Por que será, hein?
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Re: Brasil e política internacional
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticia ... a_pu.shtml
Lula se despede da África inaugurando fábrica de medicamentos
Pablo Uchôa
Enviado especial da BBC Brasil a Maputo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia nesta terça-feira uma visita de dois dias a Moçambique, a última a um país africano durante seus oito anos de governo.
A programação do presidente em Maputo visa realçar a agenda positiva que o país tem buscado no continente africano sob Lula.
O presidente fará uma aula magna na Universidade Pedagógica de Moçambique, a primeira instituição estrangeira a fazer parte da Universidade Aberta do Brasil, que capacita professores por meio do ensino à distância.
Na quarta-feira, Lula visita as instalações do que será a primeira fábrica de antirretrovirais financiada com dinheiro público em toda a África, instalada com recursos e treinamento brasileiros em cooperação com Moçambique.
Em outras iniciativas, Brasil e Moçambique buscam desenvolver a capacidade agrícola da savana moçambicana através do ProSavana, um programa capitaneado pela Embrapa que, se der certo, pode virar um modelo a ser exportado para outras partes da África.
Oito anos
Após oito anos de uma ativa política de Lula para o continente, se são poucos os sinais de que haverá mudança na linha de atuação a ser seguida por Dilma Rousseff em relação à África, são claras as expectativas para saber qual será a ênfase dada ao continente no próximo governo.
A vinda de Dilma foi noticiada com certa proeminência em Moçambique. E houve um certo desapontamento quando a presidente eleita anunciou que pularia a sua escala na África e encontraria o presidente Lula na reunião do G20, em Seul.
“A expectativa era grande. Mas também era pedir demais que a presidente eleita viesse apenas para ser apresentada”, disse à BBC o ex-diretor do Instituto Superior de Relações Internacionais e especialista na relação Moçambique-Brasil, Jamisse Taimo.
“O presidente Lula está na fase de se despedir. A Dilma está na fase de começar os trabalhos.”
O embaixador do Brasil em Moçambique, Antonio Souza e Silva, afirmou à BBC Brasil que, apesar dos questionamentos, a linha geral da política externa brasileira para a África deve ser mantida no governo Dilma.
“A política externa é uma política de Estado. Os governos podem colocar um pouco mais de ênfase aqui ou ali, privilegiar um aspecto ou outro. Mas as linhas gerais vão continuar”, disse.
“Desde os anos 1960 tivemos três ofensivas em direção à África, mas naquela época o Brasil não tinha a capacidade financeira que tem hoje, nem empresas com a mesma capacidade de internacionalização. A presença internacional do Brasil vai continuar crescendo e não apenas na África; na América Latina, no Caribe, em todo o mundo.”
Diplomacia generosa
Esta é a terceira vez que Lula vem a Maputo. Lula diz que já esteve em 27 países africanos, em 12 ocasiões diferentes, contando com esta.
Moçambique, o país que mais recebe ajuda técnica do Brasil – em recursos totais, só fica atrás do Haiti – é o melhor exemplo da chamada “diplomacia da generosidade” que tem elevado o perfil do Brasil no continente africano.
Em um estudo realizado a pedido do governo moçambicano, a consultoria KPMG elogiou este modelo de cooperação que o Brasil tem desenvolvido aqui.
Diferente dos chamados doadores tradicionais, acostumados a impôr condições muitas vezes políticas aos países receptores de ajuda, o Brasil procura estabelecer uma relação de mais igualdade com os países nos quais atua, diz o relatório.
“Essa diferença na relação doador-receptor tem um grande impacto, porque o governo que recebe se sente menos defensivo, tem mais abertura para pedir coisas a um país como o Brasil do que aos países tradicionalmente doadores”, disse à BBC Brasil a consultura-sênior da KPMG Caroline Ennis.
Menor escala
Mas há ressalvas. Em oito anos de governo Lula, não faltaram momentos em que esta falta de condicionalidades levou o país a cooperar com outras nações problemáticas, sobretudo do ponto de vista democrático.
O Irã é apenas um exemplo e, na África, a visita à Guiné Equatorial em julho foi a mais criticada.
O governo diz que democracia se aprende e que a cooperação com um país democrático acaba contaminando o sistema político do país receptor.
Para a consultora da KPMG, este raciocínio tem validez. “De certa forma, é preciso haver desenvolvimento além de democratização. Não se pode obrigar os países a ter eleições e dizer que por isso ele é democrático. Os doadores tradicionais cobram as estuturas e apenas isso também não é suficiente”, avalia.
É preciso ainda fazer uma diferença em termos de escala. Enquanto a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) tem um orçamento que hoje está em cerca de R$ 52 milhões, isso representa apenas um sexto do que a agência americana de ajuda, a USAID, destina a Moçambique a cada ano.
O total de investimentos previstos na fábrica de medicamentos em Moçambique é de U$ 31 milhões, dos quais US$ 13 milhões correspondem à compra de maquinário que o Brasil já bancou.
Não há estatísticas de quanto custaria o ProSavana, mas, nesta fase de pesquisa e início de implementação, poucos apostam que supere os US$ 10 milhões.
“É verdade que o Brasil não tem grandes recursos, mas a questão é menos o tamanho, e sim as vantagens da cooperação”, diz Caroline Ennis.
A cooperação técnica prestada pelo Brasil no continente beneficia hoje 34 nações. A maior parte dos projetos está nos campos da agricultura, saúde, educação e capacitação.
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Re: Brasil e política internacional
http://www.idelberavelar.com/nonono/2 ... _da_im.php
http://brasiliaeuvi.wordpress.com/2010/ ... istro-x-9/
http://operamundi.uol.com.br/opiniao_ve ... teudo=1307
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve ... ringa.html
Wikileaks: O maior vazamento da história, o embaraço de Hillary com o Cablegate e a cumplicidade da imprensa dos EUA
Liberais e conservadores brasileiros, chegou a hora. Depois do 11 de setembro diplomático desencadeado neste fim de semana pelo mais impactante vazamento da história moderna-- 250.000 comunicações, a maioria secretas, entre o Departamento de Estado e embaixadas estadunidenses ao redor do mundo--, e do completo sufocamento do tema na TV dos EUA, não resta fiapo de credibilidade à ideia da imprensa 'mais livre do mundo', com que tantos brasileiros à direita do espectro político se referem aos conglomerados de mídia norte-americanos. Para quem se lembra da extrema docilidade com que as mídias eletrônica e escrita dos EUA replicaram a patacoada das armas de destruição em massa do Iraque em 2003, esta foi a cereja do bolo. Não importa o partido que esteja no poder (Democratas ou Republicanos), quando se trata dos interesses imperiais estadunidenses, não sobrevive na mídia gringa um farrapo de compromisso com a verdade ou com a pluralidade de pontos de vista. Ponto final. Podemos passar para o próximo assunto? Grato. Continuemos.
Como já tratamos amplamente aqui, os poderosos usam dois pesos e duas medidas nos casos de “vazamento”, “grampo” ou qualquer obtenção de informação que ocorre naquela zona cinza entre o legal e o ilegal. Conforme a conveniência, enfocam-se na forma ou no conteúdo. Assim aconteceu com os dossiês dos aloprados petistas sobre a corrupção realmente existente no Ministério da Saúde de José Serra, do suposto, miraculoso e etéreo grampo sobre Gilmar Mendes e Demóstenes, e da quebra de sigilo da filha de Serra (cuja forma só importava até o momento em que apurou-se que foi tucano mesmo). Inacreditavelmente, aqui nos EUA, tanto o governo como o parlamento só reagiram à montanha de revelações do Wikileaks com ameaças pesadas contra Julian Assange e equipe. Sarah Palin, sem perder a chance de usar o episódio eleitoralmente contra Obama, sugeriu que os EUA "cacem Assange como a Bin Laden". Sobre o conteúdo dos documentos, nem um pio. Para isso, contaram com a sempre dócil imprensa norte-americana que, no pronunciamento de hoje de Hillary Clinton, não fez sequer uma única pergunta que tratasse do conteúdo das revelações.
E revelaram-se coisas para todos os gostos. Os EUA disseram à Eslovênia que lhe conseguiriam uma reunião com Obama caso os eslovenos aceitassem receber prisioneiros de Guantánamo, o que demonstra o tamanho da batata quente em que se transformou o campo de concentração paralegal [pdf] instalado por George W. Bush. Na Alemanha, os EUA ficaram em saia justa. Os vazamentos mostram tentativa de espionagem gringa sobre o Democratas Livres (liberais de centro-direita, uma espécie de DEM desagripinizado) e comentários feitos nos telegramas da embaixada se referem ao Chanceler alemão como “vaidoso e incompetente”. Hillary quis bisbilhotar o histórico de saúde mental da Presidenta argentina Cristina Fernández de Kirchner. Revelou-se que Israel fez lobby incessante, permanente por um (na certa irresponsável e catastrófico) ataque americano ao Irã, embora nem só de lobby sionista viva o interesse bélico anti-persa: também o rei saudita, confirmam os documentos do Wikileaks, fez pressão pelo ataque. Aliás, não são só os EUA que ficam mal na fita com esses cabos. Os governos árabes, com sua tradicional combinação de subserviência ante Israel e obscurantismo e truculência ante suas próprias populações, também receberam algumas boas lambadas com os vazamentos.
Até agora, as duas revelações sobre as quais valeria a pena um exame mais detido, pelo menos do ponto de vista brasileiro, são duas bombas: a primeira, a de que o estado espião e desrespeitoso da lei internacional, que se consolidou com Bush, foi mantido com o Departamento de Estado de Hillary sob Obama. A segunda é de que até os EUA sabiam que o golpe em Honduras, com o qual pelo menos setores de sua diplomacia colaboraram, era uma monstruosa ilegalidade.
Confirmando a primeira bomba, há um espantoso telegrama em que se detalham planos para espionar o Secretário-Geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, que de forma alguma pode ser descrito como alguém hostil aos interesses americanos. Os planos de espionagem incluíam até mesmo o cartão de crédito de Ki-Moon. A ordem veio diretamente do Departamento de Estado de Hillary que, obviamente, em seu pronunciamento de hoje, nada disse sobre o assunto. Nada lhe foi perguntado tampouco.
Sobre a segunda bomba, Cynara Menezes já disse tudo. Durante meses, bizantinos debates sobre a constituição hondurenha serviram para mascarar o fato cabal de que o golpe que depôs Zelaya não tinha um farrapo de apoio na lei internacional ou mesmo na bizarra legalidade estabelecida pela constituição hondurenha. Ancorados principalmente numa retórica da Guerra Fria herdada da mesma diplomacia estadunidense agora desmascarada, os direitecas brasileiros recorreram aos sofismas de sempre para justificar o golpe. Agora, ficou claro: alô, Revista Veja, nem os gringos acreditavam na mentirada.
Sobre o Brasil, até agora, há pouco, a não ser o já conhecido dado de que os EUA tentaram nos impor uma lei antiterrorismo, da qual o governo Lula-Dilma (o cabo faz explícita referência à atuação dela) conseguiu se safar. De novidades nesse front, há a participação de um especialista brasileiro, André Luis Woloszyn, como uma espécie de “consultor” para os estadunidenses interessados em adequar a legislação alheia a seus interesses: “é impossível”, disse ele, “fazer uma lei antiterrorismo que não inclua o MST”. O caso me parece gravíssimo.
As bombas vão se sucedendo com rapidez só comparável à desfaçatez com que a mídia dos EUA as ignora. O Wikileaks repassou seus vazamentos a cinco veículos de mídia: Le Monde, Der Spiegel, El País, Guardian e New York Times. Destes, a cobertura mais tímida e manipuladora, sem dúvida, é a deste último, totalmente focado na punição a Assange e na “legalidade” de seus atos, com pouca coisa sobre o conteúdo embaraçoso para os EUA. Uma manchete no lugar de destaque do site, na noite desta segunda-feira, dizia: “"Vazamentos mostram o mundo se perguntando sobre a Coreia do Norte". Haja óleo de peroba.
PS: Como grande destaque desta segunda-feira, o Presidente equatoriano Rafael Correa ofereceu guarida a Julian Assange, “sem perguntar nada”, para que ele “apresente suas informações não só na internet mas em outros fóruns públicos”. Realmente a Sociedade Interamericana de Imprensa deve ter razão: a “liberdade de imprensa” está ameaçada nos regimes “populistas” latino-americanos. É nos EUA que ela vai bem.
http://brasiliaeuvi.wordpress.com/2010/ ... istro-x-9/
O ministro X-9
Por Leandro Fortes
Uma informação incrível, revelada graças às inconfidências do Wikileaks, circula ainda impunemente pela equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff: o ministro da Defesa, Nelson Jobim, costumava almoçar com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel para falar mal da diplomacia brasileira e passar informes variados. Para agradar o interlocutor e se mostrar como aliado preferencial dentro do governo Lula, Jobim, ministro de Estado, menosprezava o Itamaraty, apresentado como cidadela antiamericana, e denunciava um colega de governo, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, como militante antiyankee. Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, divulgado pelo Wikileaks, Jobim disse que Guimarães “odeia os EUA” e trabalha para “criar problemas” na relação entre os dois países.
Para quem não sabe, Samuel Pinheiro Guimarães, vice-chanceler do Brasil na época em que Jobim participava de convescotes na embaixada americana em Brasília, é o atual ministro-chefe da Secretaria Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). O Ministério da Defesa e a SAE são corresponsáveis pela Estratégia Nacional de Defesa, um documento de Estado montado por Jobim e pelo antecessor de Samuel Guimarães, o advogado Mangabeira Unger – com quem, aliás, Jobim parecia se dar muito bem. Talvez porque Unger, professor em Harvard, é quase um americano, com sotaque e tudo.
Após a divulgação dos telegramas de Sobel ao Departamento de Estado dos EUA, Jobim foi obrigado a se pronunciar a respeito. Em nota oficial, admitiu que realmente “em algum momento” (qual?) conversou sobre Pinheiro com o embaixador americano, mas, na oportunidade, afirma tê-lo mencionado “com respeito”. Para Jobim, o ministro da SAE é “um nacionalista, um homem que ama profundamente o Brasil”, e que Sobel o interpretou mal. Como a chefe do Departamento de Estado dos EUA, Hillary Clinton, decretou silêncio mundial sobre o tema e iniciou uma cruzada contra o Wikileaks, é bem provável que ainda vamos demorar um bocado até ouvir a versão de Mr. Sobel sobre o verdadeiro teor das conversas com Jobim. Por ora, temos apenas a certeza, confirmada pelo ministro brasileiro, de que elas ocorreram “em algum momento”.
Mais adiante, em outro informe recolhido no WikiLeaks, descobrimos que o solícito Nelson Jobim outra vez atuou como diligente informante do embaixador Sobel para tratar da saúde de um notório desafeto dos EUA na América do Sul, o presidente da Bolívia, Evo Morales. Por meio de Jobim, o embaixador Sobel foi informado que Morales teria um “grave tumor” localizado na cabeça. Jobim soube da novidade em 15 de janeiro de 2009, durante uma reunião realizada em La Paz, onde esteve com o presidente Lula. Uma semana depois, em 22 de janeiro, Sobel telegrafava ao Departamento de Estado, em Washington, exultante com a fofoca.
No despacho, Sobel revela que Jobim foi além do simples papel de informante. Teceu, por assim dizer, considerações altamente pertinentes. Jobim revelou ao embaixador americano que Lula tinha oferecido a Morales exame e tratamento em um hospital em São Paulo. A oferta, revela Sobel no telegrama a Washington, com base nas informações de Jobim, acabou protelada porque a Bolívia passava por um “delicado momento político”, o referendo, realizado em 25 de janeiro do ano passado, que aprovou a nova Constituição do país. “O tumor poderia explicar por que Morales demonstrou estar desconcentrado nessa e em outras reuniões recentes”, avisou Jobim, segundo o amigo embaixador.
Não por outra razão, Nelson Jobim é classificado pelo embaixador Clifford Sobel como “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”. Não é difícil, à luz do Wikileaks, compreender tamanha admiração. Resta saber se, depois da divulgação desses telegramas, a presidente eleita Dilma Rousseff ainda terá argumentos para manter Jobim na pasta da Defesa, mesmo que por indicação de Lula. Há outros e piores precedentes em questão.
Jobim está no centro da farsa que derrubou o delegado Paulo Lacerda da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), acusado de grampear o ministro Gilmar Mendes, do STF. Jobim apresentou a Lula provas falsas da existência de equipamentos de escutas que teriam sido usados por Lacerda para investigar Mendes. Foi desmentido pelo Exército. Mas, incrivelmente, continuou no cargo. Em seguida, Jobim deu guarida aos comandantes das forças armadas e ameaçou renunciar ao cargo junto com eles caso o governo mantivesse no texto do Plano Nacional de Direitos Humanos a idéia (!) da instalação da Comissão da Verdade para investigar as torturas e os assassinatos durante a ditadura militar. Lula cedeu à chantagem e manteve Jobim no cargo.
Agora, Nelson Jobim, ministro da Defesa do Brasil, foi pego servindo de informante da Embaixada dos Estados Unidos. Isso depois de Lula ter consolidado, à custa de enorme esforço do Itamaraty e da diplomacia brasileira, uma imagem internacional independente e corajosa, justamente em contraponto à política anterior, formalizada no governo FHC, de absoluta subserviência aos interesses dos EUA.
Foi preciso oito anos para o país se livrar da imagem infame do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer tirando os sapatos no aeroporto de Miami, em dezembro de 2002, para ser revistado por seguranças americanos.
De certa forma, os telegramas de Clifford Sobel nos deixaram, outra vez, descalços no quintal do império.
http://operamundi.uol.com.br/opiniao_ve ... teudo=1307
Por dentro do Wikileaks: a democracia passa pela transparência radical
Fui convidada por Julian Assange e sua equipe para trazer ao público brasileiro os documentos que interessam ao nosso país. Para esse fim, o Wikileaks decidiu elaborar conteúdo próprio também em português. Todos os dias haverá no site matérias fresquinhas sobre os documentos da embaixada e consulados norte-americanos no Brasil.
Por trás dessa nova experiência está a vontade de democratizar ainda mais o acesso à informação. O Wikileaks quer ter um canal direto de comunicação com os internautas brasileiros, um dos maiores grupos do mundo, e com os ativistas no Brasil que lutam pela liberdade de imprensa e de informação. Nada mais apropriado para um ano em que a liberdade de informação dominou boa parte da pauta da campanha eleitoral.
Buscando jornalistas independentes, Assange busca furar o cerco de imprensa internacional e da maneira como ela acabada dominando a interpretação que o público vai dar aos documentos. Por isso, além dos cinco grandes jornais estrangeiros, somou-se ao projeto um grupo de jornalistas independentes. Numa próxima etapa, o Wikileaks vai começar a distribuir os documentos para veículos de imprensa e mídia nas mais diversas partes do mundo.
Assange e seu grupo perceberam que a maneira concentrada como as notícias são geradas – no nosso caso, a maior parte das vezes, apenas traduzindo o que as grandes agências escrevem – leva um determinado ângulo a ser reproduzido ao infinito. Não é assim que esses documentos merecem ser tratados: “São a coisa mais importante que eu já vi”, disse ele.
Não foi fácil. O Wikileaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo.
Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança. Além disso, Assange está sendo investigado por dois governos e tem um mandado de segurança internacional contra si por crimes sexuais na Suécia. Isso significou que Assange e sua equipe precisam ficar isolados enquanto lidam com o material. Uma verdadeira operação secreta.
Documentos sobre Brasil
No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo.
Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo.
O Wikileaks vai publicar muitas dessas histórias a partir do seu próprio julgamento editorial. Também vai se aliar a veículos nacionais para conseguir seu objetivo – espalhar ao máximo essa informação. Assim, o público brasileiro vai ter uma oportunidade única: vai poder ver ao mesmo tempo como a mesma história exclusiva é relatada por um grande jornal e pelo Wikileaks. Além disso, todos os dias os documentos serão liberados no site do Wikileaks. Isso significa que todos os outros veículos e os próprios internautas, bloggers, jornalistas independentes vão poder fazer suas próprias reportagens. Democracia radical – também no jornalismo.
Impressões
A reação desesperada da Casa Branca ao vazamento mostra que os Estados Unidos erraram na sua política mundial – e sabem disso. Hillary Clinton ligou pessoalmente para diversos governos, inclusive o chinês, para pedir desculpas antecipadamente pelo que viria. Para muitos, não explicou direto do que se tratava, para outros narrou as histórias mais cabeludas que podiam constar nos 251 mil telegramas de embaixadas.
Ainda assim, não conseguiu frear o impacto do vazamento. O conteúdo dos telegramas é tão importante que nem o gerenciamento de crise de Washington nem a condenação do lançamento por regimes em todo o mundo – da Austrália ao Irã – vai conseguir reduzir o choque.
Como disse um internauta, Wikileaks é o que acontece quando a superpotência mundial é obrigada a passar por uma revista completa dessas de aeroporto. O que mais surpreende é que se trata de material de rotina, corriqueiro, do leva-e-traz da diplomacia dos EUA. Como diz Assange, eles mostram “como o mundo funciona”.
O Wikileaks tem causado tanto furor porque defende uma ideia simples: toda informação relevante deve ser distribuída. Talvez por isso os governos e poderes atuais não saibam direito como lidar com ele. Assange já foi taxado de espião, terrorista, criminoso. Outro dia, foi chamado até de pedófilo.
Wikileaks e o grupo e colaboradores que se reuniu para essa empreitada acreditam que injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar. E que, com a ajuda da internet, é possível levar a democracia a um patamar nunca imaginado, em que todo e qualquer poder tem de estar preparado para prestar contas sobre seus atos.
O que Assange traz de novo é a defesa radical da transparência. O raciocínio do grupo de jornalistas investigativos que se reúne em torno do projeto é que, se algum governo ou poder fez algo de que deveria se envergonhar, então o público deve saber. Não cabe aos governos, às assessorias de imprensa ou aos jornalistas esconder essa ou aquela informação por considerar que ela “pode gerar insegurança” ou “atrapalhar o andamento das coisas”. A imprensa simplesmente não tem esse direito.
É por isso que, enquanto o Wikileaks é chamado de “irresponsável”, “ativista”, “antiamericano” e Assange é perseguido, os cinco principais jornais do mundo que se associaram ao lançamento do Cablegate continuam sendo vistos como exemplos de bom jornalismo – objetivo, equilibrado, responsável e imparcial.
Uma ironia e tanto.
*Natália Viana é jornalista e colaboradora do Opera Mundi
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve ... ringa.html
Leak ni mim
por Ivna Feitosa
Seja no território nacional, seja no campo internacional, a coisa no Brasil está pegando fogo. O nosso fogo doméstico, diário, já conhecemos. Mas agora o circo pegou fogo lá fora também e o nosso nome está envolvido. Bom, espero que, no que toca ao campo internacional, nada pegue realmente fogo, nacionalmente já temos os nossos. E não acredito que os fogos alheios possam chegar, o mundo já é outro e o Brasil também. Estão chegando, na verdade, gotas americanas para informar, fazer pensar e provar que as políticas estão se modificando. Quem diria!
Desde o México, do outro lado da balança da nossa América, a latina, fica clara a diferença do impacto das gotas. Ou ainda não foram publicados os telegramas mais picantes, ou no México as relações com
o EEUU, como chamam EUA aqui, são tão íntimas que dispensam telegramas. Hoje, no jornal online mexicano mais sério e responsável, o La Jornada, a notícia da US goteira saiu no canto direito, sem nenhum destaque especial, e diz: “‘Embarazosos’ datos revelados por Wikileaks, pero de consecuencias ‘modestas’: secretario de Defensa”. Vou esperar ansiosa por telegramas picantes, mas tendo a acreditar na segunda opção, que as relações entre México e EUA são demasiado intimacionais para serem internacionais.
Morando aqui e sendo brasileira, não conseguia entender muito bem a impressão que me dava esse outro lugar. Era, e ainda é, muito confuso. Quando consegui entender um pouco mais a imagem borrada que eu tinha, percebi uma certa esquizofrenia que vive o território mexicano, com suas leis americanas e seu povo latino. Os sintomas do transtorno psicopoliticosocial crônico mexicano são, para quem é de fora, gritantes, e para quem é de dentro, velhos e cruéis costumes. Não existe saúde pública universal e gratuita, mesmo que a pobreza da grande maioria da população seja alarmante. O México até pouco tempo era o país mais rico da América Latina, perdeu o posto faz pouco para o Brasil; ou seja, não existe justificativa financeira para isso.
O sistema eleitoral existe, mas sua atuação parece uma obra contemporânea, de estilo fantasmagórico, que trama dúvidas e incertezas. A diversidade de opiniões e explicações dos mexicanos sobre a validez das eleições daqui me pinta esse quadro. Os governos são narcogovernos obrigatórios. Quem não aceita a hegemonia da indústria da droga é prontamente executado. A notícia de um governador, prefeito ou chefe de polícia assassinado não é incomum. A cifra de mortes matadas entre jornalistas e defensores de direitos humanos é comprida. Acho muito difícil imaginar o que vive e o que acontece realmente ao povo mexicano em geral. A taxa, nesse ano de 2010, de execuções no México é de 35 pessoas por dia.
Nem sei porque divago tanto sobre o México. Acho que de um lado preciso desabafar a tristeza de ver latinoamericanos tão abandonados e, pelo que parece, fadados a isso. O candidato mais forte à presidência do México, já na disputa faltando ainda dois anos para as próximas eleições, chama-se Peña Nieto. Esse homem tem pouco mais de 40 anos e é suspeito de assassinar sua mulher. Claro, não saiu culpado. Além de ser casado agora com uma super atriz, o último feito desse personagem foi entrar com uma reforma na constituição eleitoral do estado que governa, pela qual a aliança entre partidos fica proibida, se reduz o tempo de campanha eleitoral e as quantias dos financiamentos de campanha são modificadas. A Suprema Corte de Justiça, claro, validou a reforma, chamada de ley “Peña Nieto”. O fato de que a mídia em peso já está fazendo campanha massiva para ele não conta, claro!
De outro lado, estar nessa outra ponta da balança me faz ver o Brasil como um país em seu caminho.
Também temos nossa esquizofrenia, nossos absurdos, guerras e desigualdades, também crescemos debaixo de colonização e hegemonia americana. Brasil e México parecem irmãos estranhos, que não se conhecem. Mas nosso país tomou algumas medidas eficazes contra seu transtorno psicopoliticosocial, medidas iniciais eu diria. Medidas que até aqui são célebres; quando o Brasil aparece em uma conversa, já não é do futebol apenas que se fala, o mexicano fala do Lula e de como o admira.
Estamos no caminho, estamos amadurecendo, mesmo que da gorda e promissora goteira gringa, tenham pingado fatos desconcertantes para o Brasil, como a intimidade de Nelson Jobim com o governo americano. Na verdade, não se pode dar a isso um status de novidade. Sejamos reais, essa é, ou era, a regra do relacionamento externo brasileiro, a ditadura militar é o carimbo desse tratado histórico. Se esse senhor continuar mesmo no Ministério da Defesa brasileiro, vai ficar claro um sintoma perigoso do nosso próprio transtorno, que as medidas iniciais tomadas no Brasil não conseguem resolver.
O louco que criou o Wikileaks molhou o Brasil também com umas informações bem interessantes.
Saber que o EUA vê tendência antiamericana no Itamaraty me dá um certo orgulho. Dando uma olhada no site, descobri que, diante da tentativa de imposição americana de uma lei antiterrorista no Brasil, a Casa Civil, sob comando de Dilma Roussef, se recusou a dar muito ouvido para a coisa. E então já avisou de uma vez que, não, a lei não ia rolar, porque a gente tem muito boas relações, obrigado, e porque essa lei poderia ser utilizada contra a liberdade dos movimentos sociais no país. Isso, de verdade, me deixou feliz! Estamos no caminho!
Gostaria de ver de fato meu país se relacionando mais com os vizinhos da América Central. Lula, em sua invejada entrevista para os blogueiros, disse ser essa aproximação uma das metas que deixará para Dilma.
Gostaria de ver a América Latina se relacionar no melhor sentido do que é ser um vizinho para o povo latinoamericano, da maneira como somos, não como as potências do mundo fizeram. Ser aquele vizinho que te avisa das promoções que valem a pena, que te dá uma boa dica de cozinha, que te dá um açucar quando falta e aproveita para te chamar pra um cafezinho ou para uma cerveja. Lula mencionou alguns países ao contar essa sua vontade de aproximação maior, o país mais ao norte foi a Guatemala. México não estava na lista. Mas algo me diz que muita coisa ainda vai acontecer, que muita coisa pode mudar. Existe uma inquietação no ar, um ruído incômodo que precisa ser estudado, como se fosse uma goteira pingando do teto de casa.
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Re: Brasil e política internacional
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A política externa na era Lula
Ao longo dos últimos oito anos o Brasil criou mais de sessenta novas representações diplomáticas no exterior. Ao mesmo tempo o presidente Lula fez o mais amplo périplo de um presidente brasileiro ao exterior, visitando países onde um chefe de Estado brasileiro nunca estivera antes e dando especial atenção aos países emergentes e aos países africanos. Os resultados positivos de tal politica externa vieram de imediato, no bojo da crise mundial de 2008/09, quando o país – ao contrário, por exemplo, do México – não ficou à mercê de relações comerciais de mão única. O artigo é de Francisco Carlos Teixeira.
Francisco Carlos Teixeira (*)
Estamos há poucos dias do fim do mandato do Presidente Lula da Silva. Assim, já temos espaço para uma avaliação destes oito últimos anos, do papel do Brasil na nova ordem mundial e de previsões para o próximo quadriênio presidido por Dilma Rousseff.
As condições iniciais
O governo Lula começou sob pressão de grandes acontecimentos mundiais, que exigiram, desde logo, atenção, e ação, do Itamaraty e diretamente do próprio Lula. O primeiro deles foi imediato, inusitado e ameaçador: tratava-se do golpe de Estado organizado pela direita venezuelana em 11 de abril de 2002 – incluindo aí altos oficiais das FFAA, o empresariado organizado na Fedecámaras, parte do clero, ligado a organização fundamentalista Opus Dei, e da burocracia da PDVSA (a estatal petroleira do país). Em plena campanha eleitoral no Brasil, com a indústria de boatos e do medo fabricado funcionando a todo vapor, o golpe na Venezuela era uma ameaça e um balão de ensaio assustador.
A ideia de que governos de eleitos de caráter reformista, de esquerda e/ou populares poderiam, mais uma vez, serem derrubados por “pronunciamientos” dos quartéis constituía-se numa nuvem negra sobre os resultados das eleições brasileiras. A forte resposta do PT e seu candidato, e diga-se claramente, do governo FHC, recusando-se a reconhecer o regime “de fato” de Pedro Carmona – presidente da associação de empresários venezuelana denominada Fedecámaras – foi fundamental para isolar o regime golpista. Ao contrário dos Estados Unidos, da Espanha (sob o governo de Aznar, do direitista Partido Popular) e do Vaticano, a maioria dos países americanos recusou-se a reconhecer o golpe. Este acontecimento irá marcar fortemente o governo Lula. Em plena campanha, ficava patente que a direita quando derrotada democraticamente não teria pudores em apelar (como sempre fizera naAmérica Latina) para o golpe.
Lula defensor da legalidade no continente
Assim, logo após eleito, no seu primeiro ato relevante, Lula ordenou o envio de combustível para a Venezuela, ameaçada por um lock out energético pelos opositores de Hugo Chávez.
Embora houvesse, desde cedo, forte solidariedade entre o novo governo do Brasil e as propostas reformistas e populares de Chávez, para Lula – assessorado pelo professor e especialista em América Latina Marco Aurélio Garcia - e o Itamaraty havia, em verdade, uma preocupação maior. Tratava-se de evitar, para sempre, o retorno do golpismo no continente. Durante mais de um século, desde 1810 junto aos nossos vizinhos e especial a partir de 1930 para nós – os golpes – militares ou civis – foram uma triste realidade latino-americana.
O compromisso de Lula foi, desde então, banir a tolerância e mesmo a cumplicidade com tais práticas. Tal situação repetiu-se em claras ameaças no Paraguai, na Bolívia e mais tristemente em Honduras.
A crise em Honduras
Este pequeno país da América Central foi o motivo do mais intenso debate em Relações Internacionais no Brasil durante o governo Lula. Desde a hora zero do evento o Itamaraty caracterizou os acontecimentos em Tegucigalpa como golpe. Em virtude disso, acionou a Carta Democrática das Américas, parte integrante do arsenal jurídico da OEA (assinada por todos os países do continente em 11/09/2001, em alusão ao Golpe de Pinochet no Chile), exigindo firme condenação dos golpistas. A posição brasileira foi endossada pela maioria dos países americanos, como Argentina, Peru, Equador e Venezuela. Entretanto, os Estados Unidos (seguidos por um silêncio complacente do México) recusaram-se a aceitar a natureza evidente dom golpe.
A atuação americana, e mexicana, de tolerância ao golpe foi fundamental para assegurar o sucesso dos grupos oligárquicos hondurenhos. Sendo ambos os países, em especial os EUA (em virtude do envio de divisas dos trabalhadores hondurenhos nos EUA) parceiros estratégicos, a complacência destes assegurava o sucesso e impunidade dos golpistas. Além disso, era uma ótima ocasião para Washington reduzir a projeção externa do Brasil. O Itamaraty manteve-se, entretanto, firme na condenação do golpe e, ao mesmo tempo, na tentativa de evitar radicalizações, em especial por parte de Chávez.
E a WikiLeaks disse...
Hoje se sabe, graças a Julian Assange e a WikiLeaks, que a própria diplomacia norte-americana considerava inequivocamente o evento como golpe. Apenas Barack Obama (com Hillary a tiracolo) não ousava contrariar um punhado de deputados republicanos ultraconservadores, para quem a democracia na América Latina nada importa ou nada vale. Com certeza a atuação de Obama desencadeou o desencanto de muitos intelectuais latinos com a “Obamamania” e, no fundo, nada valeu para as pretensas alianças do presidente norte-americano com os setores conservadores do congresso americano.
Para o Brasil, para Lula e os diplomatas do Itamaraty, tratava-se de criar uma garantia de não retorno ao triste passado latino-americano, no qual muitas vezes Washington foi a “mão invisível” por trás dos acontecimentos.
Infelizmente boa parte da mídia brasileira, valendo-se do comportamento rocambolesco de Zelaya, preferiu ficar ao lado dos golpistas de Washington. O que será que sentiram ao ler os documentos da WikiLeaks dando conto da caracterização golpista feita secretamente pela diplomacia norte-americana? Possivelmente nada!
A desconcentração das relações internacionais:
Ao longo dos últimos oito anos o Brasil criou mais de sessenta novas representações diplomáticas no exterior. Ao mesmo tempo o presidente Lula fez o mais amplo périplo de um presidente brasileiro ao exterior, visitando países onde um chefe de Estado brasileiro nunca estivera antes e dando especial atenção aos países emergentes e aos países africanos.
Claro que este interesse em “desencravar” o país gerou forte crítica, e mesmo deboches, por parte de opositores. Ora, as viagens de um presidente são parte fundamental da politica de um país. No caso de Lula, a maioria das viagens embutia negócios, contratos e a abertura de mercados para produtos e serviços brasileiros. Ou seja, o presidente agia visando aumentar as vendas e trocas brasileiras no exterior e com isso gerar mais emprego e renda no país. Os resultados positivos de tal politica externa vieram de imediato, no bojo da crise mundial de 2008/09, quando o país – ao contrário, por exemplo, do México – não ficou à mercê de relações comerciais de mão única.
Democratizando as relações internacionais
O governo Lula foi, desde o seu início, um forte crítico da concentração do poder mundial. Após o fim a Guerra Fria (1991) os EUA puseram em marcha uma política fortemente “unilateralista”, recorrendo à força, ameaças e mesmo chantagens econômicas para promover seus interesses (Afeganistão, Iraque, denúncia de acordos internacionais, etc...). A postura brasileira foi de buscar parcerias fora do eixo tradicional de poder – em verdade já abalado e depois em crise desde 2008 – visando promover os interesses nacionais e escapar de uma subordinação unilateral aos interesses estrangeiros.
Neste sentido, a recusa brasileira em aceitar a proposta da ALCA foi premonitória. Malgrado a falta de visão de boa parte da sociedade brasileira, incluindo aí até membros do governo Lula, a atuação firme do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, evitou para o Brasil um processo de dependência e subordinação “mexicanizado” nos moldes do NAFTA.
Para atingir esta meta buscou-se uma forte desconcentração da política externa brasileira e do comércio exterior. A velha fixação das elites brasileiras na Europa e nos Estados Unidos foi contrabalançada com a abertura de novos canais com mercados emergentes, grandes comparadores como a China, índia, Países árabes, Rússia e a própria América do Sul. Com outros países, como na África ou o Haiti, praticou-se uma politica de solidariedade e de cooperação, com a doação de esforços, recursos e, no limite, de vidas brasileiras, como dos valorosos homens das FFAA brasileiras no Haiti.
Os novos agrupamentos
Na América do Sul consolidamos, e avançamos na institucionalização do MERCOSUL. Trata-se de um projeto de cooperação e de integração continental que, malgrado os críticos, é altamente vantajoso para o Brasil (que possui superávits com todos os países-membros). A experiência do MERCOSUL permitiu, e criou as condições, para iniciativas mais amplas, como a UNASUL e o Conselho Regional de Defesa da América do Sul.
Avançamos também na transformação do BRIC de simples acróstico em um grupo funcional, com reuniões periódicas e uma disposição clara em ampliar o papel de novos atores no cenário mundial. Da mesma forma, o IBAS – agrupamento formado pela Índia, Brasil e África do Sul desde 2003– começou sua trajetória de institucionalização.
Neste contexto escolheu o Itamaraty ter relações mais estreitas e proveitosas, do ponto de vista da sociedade brasileira, com todos os países do mundo, incluindo aí o Irã. Isto gerou outra polêmica, em vista do caráter antidemocrático daquele regime e de claros atentados contra os direitos fundamentais da pessoa humana, como no Caso Sakineh. Contudo, a diplomacia brasileira foi clara: o chanceler Celso Amorim interveio em favor da vítima, bem como no caso de jovens americanas aprisionadas e do cineasta Jafar Panahi – infelizmente condenado, como outros dissidentes, a seis anos de prisão e impossibilitado, por vinte anos, de trabalhar. Somente a má vontade poderia supor que o governo Lula aceitara a violação dos direitos humanos. O Itamaraty, como em outros casos (vide as relações Brasil-Venezuela conforme os documentos da WikiLeaks) mantém sua preferência em aconselhar e usar seus bons ofícios por canais diplomáticos e não através da mídia.
Contudo, tanto no caso da Venezuela, como do Irã, o Brasil assumiu um papel e moderador, mediador e buscou a solução de conflitos pelos canais diplomáticos.
Claro, certa hipocrisia e a o clima de oposição não permitiram, muitas vezes (como no caso de Honduras) de se ver a questão em seu conjunto. Ou por outra, muitas vezes continua a dominar o duplo jogo de países como os Estados Unidos: primeiro parceiro comercial da Arábia Saudita e da China Popular. Ora, são estes países mais democráticos que a Venezuela ou Irã? No caso do Irã os EUA, através de empresas de fachada estabelecidas no Caribe, é o grande fornecedor de bens e equipamentos para a indústria do petróleo iraniana.
Reequipando o Brasil
Da mesma forma o governo Lula entendeu que um país mais atuante e mais soberano num mundo certamente inseguro necessitava de uma ampla revisão de sua politica de defesa. Assim, de forma democrática (através de um amplo debate coma sociedade civil, com especialistas e, por fim, com o debate e a aprovação do parlamento) o país optou por uma politica de dissuasão de ameaças. Para o governo a integridade e soberania na Amazônia, a defesa da biodiversidade e dos bens naturais, incluindo aí os recursos hídricos e energéticos, são itens fundamentais da segurança do país. Para dar credibilidade o país resolveu modernizar suas FFAA, tanto do ponto de vista técnico, doutrinário quanto de equipamentos. Contudo, para desagrado do tradicional fornecedor brasileiro (os EUA) o Brasil optou pela incorporação/transferência de tecnologia, pelo maior índice de produção nacional e a produção local máxima possível de aviões, navios, submarinos e helicópteros. Tratava-se assim de não só promover o desenvolvimento tecnológico nacional, como ainda de gerar emprego e renda no interior do país.
Por fim, nas conferências internacionais do clima – em Copenhague e Cancun – o Brasil tornou-se um país líder no combate ao aquecimento global, estabelecendo metas autônomas e espontâneas, bem ao contrário dos como EUA e China Popular, que agora sabemos (graças, mais uma vez, ao WikiLeaks), tentaram sabotar as conferências.
Evidentemente ficou muito por fazer, em especial no campo da consolidação do MERCOSUL, na maior identificação com a luta em prol dos direitos humanos e no desarmamento mundial. Estas serão, sem dúvida, importantes tarefas do novo ministro do exterior Antonio Patriota.
(*) Francisco Carlos Teixeira é professor Titular de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Palestinos: Brasil reconhecer Estado é prova de solidariedade
A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) considera a decisão do governo brasileiro de reconhecer o Estado palestino nas fronteiras de 1967 como uma prova de "solidariedade" e uma "resposta não violenta ao unilateralismo israelense".
"Quero agradecer ao meu amigo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por cumprir com sua palavra de pôr a solidariedade em ação e dar uma resposta não violenta ao unilateralismo israelense", afirmou o dirigente palestino Nabil Shaaz em uma declaração.
Shaaz, membro do Comitê Central do Fatah a cargo das Relações Internacionais e ex-ministro das Relações Exteriores palestino, vê também na decisão um "reflexo da histórica amizade e da fraternidade entre os povos brasileiro e palestino". "Trata-se também de uma confirmação do importante papel do Brasil na comunidade internacional", conclui a declaração, divulgada pouco depois que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou o reconhecimento em comunicado.
O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Al Zeben, também comemorou a decisão.“É um momento de alegria para o povo palestino, porque vem em concordância com o justo direito de nosso povo ter nosso próprio Estado e é um reflexo da política justa e equilibrada do governo brasileiro, do senhor Luiz Inácio Lula da Silva e de seu chanceler, Celso Amorim”, afirmou.
Iniciativa coerente
Luiz Inácio Lula da Silva transmitiu a decisão por carta ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, na quarta-feira passada. O reconhecimento foi uma resposta à solicitação realizada por Abbas em 24 de novembro. "A iniciativa é coerente com a disposição histórica do Brasil de contribuir para o processo de paz entre Israel e Palestina, cujas negociações diretas estão neste momento interrompidas", afirmou o Itamaraty em nota.
"A decisão não implica abandonar a convicção de que são imprescindíveis as negociações entre Israel e Palestina, a fim de que se alcancem concessões mútuas sobre as questões centrais do conflito", destaca a nota, que diz ainda que "(a decisão) está em consonância com as resoluções da ONU, que exigem o fim da ocupação dos territórios palestinos e a construção de um Estado independente dentro das fronteiras de 4 de junho de 1967."
Em 1967, após a Guerra dos Seis Dias, Israel ocupou a região oriental de Jerusalém, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza -territórios agora reconhecidos pelo governo brasileiro como parte do Estado palestino.
Palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado independente, mas Israel considera a cidade como sua capital eterna e indivisível.
Amplo respaldo
Com a medida, o Brasil se soma a uma lista de mais de 100 países que reconhecem o Estado palestino que inclui todos os árabes, a grande maioria da África, boa parte dos asiáticos e alguns do leste da Europa. China, Rússia e Índia também fazem parte deste grupo.
O porta-voz oficial do departamento de Assuntos Relacionados com a Negociação da OLP, Xavier Abu Eid, afirmou que outros sete países latino-americanos se mostraram dispostos a reconhecer a independência palestina nas fronteiras de 1967 no momento adequado.
"Esperamos que a decisão do Brasil dê origem a uma onda de reconhecimentos latino-americanos, como a que houve após 1988 (por ocasião da Declaração de Independência Palestina) em outras partes do planeta", afirmou.
Desde 1975, o governo brasileiro reconhece a OLP como "legítima representante do povo palestino". Em 1993, o Brasil abriu sua primeira sede diplomática em território palestino, cujas atribuições foram equiparadas às de uma embaixada cinco anos depois.
As negociações de paz entre israelenses e palestinos foram reiniciadas em setembro com a mediação dos Estados Unidos, mas foram interrompidas pouco depois com o fim da moratória de Israel na expansão de assentamentos judeus em território palestino ocupado.
Fonte: EFE e agências
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SEU PAÍS NÃO É MAIS CAPAZ DE INTERMEDIAR SOZINHO ACORDO NA REGIÃO E MINIMIZA EFEITO WIKILEAKS
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
O Brasil tem capacidade de influir no Oriente Médio, e seu envolvimento crescente na região é bem-vindo.
A opinião é do ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter (1977-1981). Ele elogiou a iniciativa do governo brasileiro de reconhecer o Estado palestino e exortou outros países a fazerem o mesmo.
De Atlanta, Carter conversou por telefone com a Folha sobre o impasse no processo de paz entre palestinos e israelenses. Ele tem experiência no assunto. Seu governo intermediou o mais importante acordo de paz assinado na região, o de Camp David (1978), entre Israel e Egito.
Hoje com 86 anos, Carter continua mergulhado no assunto. É parte do grupo de "sábios" The Elders (mais velhos, em inglês), por meio do qual tenta promover a paz ao lado de personalidades como o bispo sul-africano Desmond Tutu e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
É crítico contumaz da ocupação israelense dos territórios ocorrida em 1967, que comparou ao apartheid -o antigo regime segregacionista da África do Sul. Para o ex-presidente, os recentes fracassos mostram que os EUA sozinhos não são capazes de intermediar um acordo. "Negociações só com o patrocínio dos EUA não funcionarão", disse o ex-presidente, em seu forte sotaque sulista.
Sobre as revelações do site WikiLeaks, Carter está menos preocupado que a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, para quem o vazamento foi um "ataque" à comunidade internacional.
"Nenhum dano permanente foi causado", disse Carter.
[/b]Folha - Washington admitiu que fracassou em convencer Israel a congelar a construção nos territórios ocupados. Foi um erro dos EUA insistir nesse ponto?[/b]
Jimmy Carter - Foi um bom esforço, mas fracassou. Agora, minha esperança é que EUA, UE e ONU unam esforços para reconhecer o fato de que Israel se recusa a cumprir o mandato das resoluções da ONU, as Convenções de Genebra e as decisões das cortes internacionais de Justiça e a Declaração Universal dos Direitos Humanos e que os palestinos estão sofrendo sob a contínua ocupação.
Os EUA ofereceram um pacote de benefícios políticos e militares a Israel, mas tiveram seu pedido rejeitado. Acha que só a pressão sobre Israel pode trazer resultados?
A única forma de obter progresso é com os líderes mundiais apoiando uma solução que honre os compromissos da comunidade internacional e leve ao cumprimento do plano de paz árabe.
Precisamos usar toda a nossa influência para induzir israelenses e palestinos a aceitarem essa proposta.
Temos que buscar o apoio de outros países. Fiquei muito feliz ao ver que o Brasil reconheceu o Estado palestino nas fronteiras de 1967.
Em 1988, a proclamação de independência palestina foi aprovada na ONU com o apoio de 104 países, incluindo o Brasil, mas até hoje não há um Estado palestino. Por que um novo reconhecimento teria efeito diferente?
Tudo depende de haver um apoio maciço. É preciso haver um esforço coordenado na Assembleia Geral para que mais e mais países reconheçam a Palestina. E usar essa alavanca para fazer com que os israelenses aceitem a solução de dois Estados.
Agora, Israel se move para uma solução de um Estado, o que seria um desastre para os próprios israelenses.
A Câmara dos Deputados dos EUA aprovou na semana passada resolução contrária ao reconhecimento da Palestina e que defende o veto americano à iniciativa no Conselho de Segurança. Sem o apoio dos EUA, essa campanha internacional pode avançar?
O Congresso dos EUA apóia a posição de Israel, seja ela correta ou incorreta. A alternativa a isso é levar a questão à Assembleia Geral.
O fracasso dos EUA indica que outros países deveriam participar das negociações, como defende o Brasil?
Concordo com o Brasil. Não se pode contar com os EUA sozinhos para trazer a paz, pois concordam com quase tudo o que Israel faz. O Brasil pode ajudar, porque tem muita influência entre os países em desenvolvimento.
Na verdade, tem muita em todos os países, incluindo os EUA. O Brasil pode ser um dos líderes desse processo.
O sr. ajudou a mediar o acordo de paz de Camp David, que se mantém sólido. Que lições aplicaria para resolver o conflito entre Israel e palestinos?
O acordo de Camp David não só estabelece a paz entre Israel e Egito mas reconhece a aplicação das resoluções 242 e 338. Israel concordou que iria retirar seu controle político e militar dos territórios palestinos e que os palestinos têm o direito de estabelecer seu próprio governo.
Foi o que o Acordo de Camp David declarou e o que o governo de Israel aceitou em 78. Mas não cumpriu seu compromisso.
Os palestinos continuam divididos entre Fatah e Hamas...
[A divisão palestina] é um grande obstáculo. Com mediação do Egito, EUA e Israel tentaram se comunicar com o Hamas. Isso é importante.
O que acha da opinião de Hillary Clinton sobre os vazamentos do WikiLeaks?
Não causaram nenhum dano real à diplomacia mundial. Os diplomatas terão mais cuidado com a linguagem e talvez líderes não queiram compartilhar o que pensam com o Departamento de Estado. Haverá mais cautela, mas não causou nenhum dano permanente.
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Re: Brasil e política internacional
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Para onde vai a política externa?
por Luiz Carlos Azenha
Por mais que o presidente Lula tenha declarado publicamente que a escolha da África como um dos eixos da política externa de seu governo foi consequência do desejo de saldar uma dívida histórica do Brasil com aquele continente, sabemos que por trás de causa tão nobre havia um cálculo político. São 54 os países africanos. Portanto, 54 votos nos organismos multilaterais, especialmente nas Nações Unidas, onde um dos objetivos da política externa brasileira é conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança.
Parece claro que o Brasil mimetizava movimento feito antes pela China. Tirando proveito do saldo politicamente positivo, para a China, de relações bilaterais forjadas no apoio a movimentos de libertação nacional, Beijing contou com apoio decisivo dos países africanos na ofensiva internacional para deslegitimar o regime de Taiwan. A China ingressou no Conselho de Segurança em 1971, surfando nos apoios que conquistou no Terceiro Mundo e tirando proveito do fato de que o governo Nixon já estava inclinado a abandonar Taiwan para fechar com Beijing, consolidando o rompimento entre os comunistas chineses e os soviéticos (Nixon visitaria a China em 1972, para normalizar relações).
Não sabemos, ainda, qual é o grau de mudanças que o governo Dilma fará em relação à política externa dos dois mandatos de Lula. Se haverá mudança, pelo que leio, será num certo ativismo brasileiro em defesa dos Direitos Humanos em fóruns internacionais.
É uma escolha curiosa a da presidenta Dilma. Não acredito que seja uma decisão baseada apenas em convicções pessoais de quem foi vítima do regime militar. Primeiro, porque não se faz política externa baseada em convicções pessoais de um governante, mas nos interesses de um estado. Segundo, porque a escolha dos Direitos Humanos expõe o Brasil a uma série de armadilhas e é contraditória com uma posição histórica da diplomacia brasileira, a defesa do princípio da não intervenção em assuntos internos de outros estados.
Não é contraditório, em si, defender ao mesmo tempo a soberania e os Direitos Humanos. Porém, na política internacional, os Direitos Humanos são frequentemente usados, pelo Ocidente, para extrair concessões de regimes não alinhados. A possibilidade de apedrejamento de uma mulher no Irã gerou muito mais mídia e repercussão que o tratamento bárbaro dado por Israel aos palestinos de Gaza, para ficar em um único exemplo.
Não é preciso ir longe para constatar que os Direitos Humanos das populações que vivem em regimes adversários valem muito mais, quando olhados de Washington, que os de populações submetidas a regimes ditatoriais “amigáveis”. Quantas vezes vocês tinham lido, na mídia, protestos contra o regime ditatorial (pró-ocidental) da Tunísia? Comparem agora com as manchetes que voces leram sobre o “regime autocrata” da Venezuela…
Mais que isso, os Direitos Humanos foram usados para enfraquecer a própria noção de soberania absoluta. O que foram as “intervenções humanitárias” dos Estados Unidos nos anos 90, além do passo anterior às guerras preventivas?
Diz Chalmers Johnson, em The Sorrows of Empire:
“Desde o início dos anos 90, os Estados Unidos alegaram motivações humanitárias em uma série de intrusões armadas na Somália, Haiti, Bosnia e Kosovo. A intervenção humanitária não foi apresentada originalmente como justificativa para nossa invasão do Afeganistão. Depois que estávamos lá, no entanto, o governo Bush alegou que uma de nossas preocupações era o tratamento duro dado às mulheres pelo talibã. Isso não era um problema para nossos líderes durante os anos 80, quando deram grande apoio e armaram as forças que viriam a se tornar o governo talibã [do Afeganistão]. Durante aqueles anos, os Estados Unidos e muitos de seus aliados fracassaram no reconhecimento de suas ‘responsabilidades’ com os ruandenses, chechenos, tibetanos, kashemiris, timorenses e palestinos”.
A política externa do ex-chanceler Celso Amorim era consistente com o objetivo do Brasil de angariar votos em instâncias internacionais: uma atuação de bastidores nas questões de Direitos Humanos, sem as denúncias públicas — em geral unilaterais — que acompanham a atuação da diplomacia dos Estados Unidos.
Qual o motivo, então, da mudança?
O assessor internacional Marco Aurélio Garcia, em entrevista ao jornal Valor Econômico, disse que na questão dos Direitos Humanos o Brasil vai atuar nos fóruns internacionais contra quem quer que seja, mesmo que Estados Unidos ou Suiça. O que ele não disse é que, por motivos óbvios, as denúncias contra estes países raramente chegam aos fóruns internacionais.
O que me parece claro nesta calibragem da política externa brasileira é que ela pode sinalizar uma mudança significativa a longo prazo.
Por que, afinal, o Brasil deixaria de cortejar os eleitores do Terceiro Mundo?
Resposta rápida: pelo apoio dos Estados Unidos à presença do Brasil no Conselho de Segurança, numa futura reforma da ONU.
Operar uma guinada destas seria para um ex-embaixador do Brasil em Washington, por exemplo.
Testando hipóteses: o Brasil adota o receituário de Washington para os Direitos Humanos (vale cobrar Cuba, Venezuela, Sudão, Irã, Zimbábue, Coreia do Norte; não vale cobrar Estados Unidos, Arábia Saudita, Israel, etc); o Brasil desiste de uma política externa independente e de futuras pretensões nucleares (como fez a França, ao optar por ter seu próprio guarda-chuva nuclear, independente da OTAN); o Brasil compra caças americanos F-18 e ganha o papel de gendarme disfarçado dos Estados Unidos na América Latina (ampliando o papel que já desempenha no Haiti, por exemplo); o Brasil ganha um assento no Conselho de Segurança.
Se isso de fato acontecer, virá disfarçado sob o discurso de que o Brasil precisa “assumir responsabilidades compatíveis com sua importância econômica” para se sentar à mesa com “os grandes” e outras platitudes do gênero.
Essa guinada não é, necessariamente, ruim para os interesses nacionais; mas não se pode justificá-la meramente em nome de interesses econômicos conjunturais.
É algo tão importante que não pode ser decidido nos bastidores, sem um debate nacional.
Suspeito, no entanto, que só ficaremos sabendo a conta-gotas, à medida em que mudanças concretas forem postas em prática.
PS do Viomundo: Fiquem de olho, também, nas posições do governo Dilma em relação à proteção da “propriedade intelectual”, que é uma das prioridades de Washington. Trocando em miúdos, a ideia é que a gente financie a transformação dos Estados Unidos em uma sociedade pós-industrial pagando por tecnologia com a exportação de commodities. Mas e se a produção de commodities destruir o meio ambiente? A gente importa tecnologia “verde”, ora. Em outras palavras, seremos sempre subalternos…
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