Carnage escreveu:No caso, o problema não são os empresários brasileiros em si, mas como o mercado brasileiro se comporta, o jeito como o consumidor brasileiro se comporta.
É verdade, embora eu tenda a achar que aspectos comportamentais tenham efeito apenas na margem, o que determina as coisas mesmo é a estrutura econômica e institucional. Esse talvez seja o lado de "ideologia barata" do meu argumento, no sentido de ser uma decisão meio arbitrária, uma preferência. Pelo menos é uma "ideologia" otimista e não conservadora: sobre o meio, nós podemos agir, sobre a preferência das pessoas, nem tanto... Resta interrogar a quem interessa que as coisas continuem como estão...
De todo modo, acho que esse comportamento tem uma origem histórica muito clara, que se encontra exatamente no protecionismo e no desenvolvimento voltado para dentro. Lógica simples:
(1) O desenvolvimento voltado para dentro fez com que nossa indústria crescesse de modo muito defasado em relação aos padrões internacionais (ao contrário de Japão e Coreia, que se desenvolveram para exportação);
(2) Isso enfiou na cultura do brasileiro a ideia de que produtos importados são necessariamente melhores do que os nacionais;
(3) Como os importados eram (e são) muito caros por causa das barreiras de proteção (impostos de importação, câmbio desvalorizado), arraigou-se a ideia de que pagar caro é sinônimo de obter qualidade.
Além disso, acho que um fabricante de carros se comporta (ou deveria se comportar) de modo diferente de um dono de padaria. Este tem como clientela apenas o povo besta de seu bairro; portanto, toma suas decisões de preço de acordo com a preferência (e as condições financeiras) dessa gente.
O fabricante de carros precisa decidir seus preços para um país (ou uma macrorregião) inteiro. Além disso, carro é uma coisa que pesa muito mais no orçamento de quem compra do que bolo. De fato, para muitas pessoas (especialmente de bairros de classe alta ou média alta), é indiferente pagar $19 ou $35 no mesmo bolo... Mas pagar $40 mil ou $75 mil no mesmo carro faz toda a diferença! Portanto, o fabricante não vai colocar o preço mais alto possível, mas o preço que lhe permita lucrar mais na relação (quantidade vendida x preço).
É por isso, creio eu, que há padarias (ou cafés ou restaurantes) extorsivas em todo lugar do mundo... Mas não há carros ruins e caríssimos como são no Brasil!