A linha tênue que separa uma boate comum de um “inferninho” sofisticado está prestes a se dissolver.
(...)
Os preços de dois locais consultados variavam entre R$ 100,00 e R$ 200,00. Por este valor, o cliente ainda teria liberdade para consumir o churrasco feito na hora e beber quantas canecas de chope seu fígado pudesse suportar em 90 minutos de partida (mais os 15 minutos de intervalo e, quem sabe, a prorrogação, a cobrança de pênaltis...). (...)
O local era imenso, divididos em oito ambientes. A área externa, onde estava o churrasqueiro, tinha uma banda de samba e forró como atração principal. Ficavam por lá os mais interessados pela carne e dispersos em relação ao futebol. As meninas, boa parte delas uniformizada com a camisa da seleção brasileira, sambavam solitárias a espera de um contato.
(...) Os homens, reticentes, beliscavam a picanha enquanto se limitavam a acompanhar com os olhos os movimentos faceiros das senhoritas. Elas, por outro lado, demonstravam um dedinho de recatamento, sem partir para avanços abruptos que pudessem gerar alguma cena constrangedora.
(...) A decoração era inconveniente. A sala principal, equipada com doze televisões de LCD e dois enormes telões, tinha lanternas japonesas (sim, também me perguntei: “por que as japonesas???”), nas cores verde e amarelo, estrategicamente penduradas sob o mezanino. Os enfeites atrapalhavam a visibilidade de quem estivesse sentado próximo ao balcão ou nos sofás laterais.
O DJ comportava-se como um comentarista. A cada chance perdida pelos brasileiros, uma piadinha fora de propósito. “Esse Luís Fabiano...E nós vamos aguentá-lo até o final da Copa”, berrava o DJ. E a cada gol do Brasil, um insuportável grito de vuvuzelas amplificadas pelo equipamento de som local se mesclava ao sopro de outras pequenas cornetas, artefato preferido das meninas.
“Tá muito fácil para o Brasil. Vamos lá, minha gente, vamos torcer! E vocês já sabem! Na próxima sexta-feira, estaremos aqui novamente. Muito churrasco, chope e futebol para vocês”, gritava o DJ, profetizando a classificação brasileira.
Um sujeito (...) com a caneca de chope na mão, dizia: “Cara, no jogo do Brasil contra a Costa do Marfim isto aqui estava muito mais cheio!” Eu não tinha feito nenhuma pergunta, mas preferi responder ao camarada: “Mas está bem cheio hoje! E tinha mais homens ou mulheres?” E ele me respondeu: “Mais homens! Hoje está mais agradável aos olhos!”.
(...)
Durante o intervalo da partida, os garçons circulavam em alta velocidade com seus pratinhos de picanha. Alguns engravatados, mais relaxados, chamavam as garotas para um bate-papo. “Tem cada cara chato”, comentou uma das meninas. “Tem um cara aí que só vai sair comigo depois que receber o telefonema da mulher. Ele disse que 'precisa se garantir antes'! E eu vou ficar esperando!?”
(...) As meninas, animadinhas no intervalo, acabrunharam-se assim que a bola começou a rolar. “Em dia de Copa do Mundo fica mais difícil, né?”, perguntei a uma delas, conhecida como Solange. “Dividir a atenção com a seleção brasileira não é fácil. Quando tem jogo, eu fico no canto até terminar”, ela respondeu.
(...)
A vitória brasileira parecia certa. O Chile não oferecia perigo e os torcedores, entediados com a partida, davam mais atenção às últimas lascas do churrasco. No ar, o forte odor de cerveja ressecada e a fumaça de bife entorpecia os sentidos. O jogo ainda não tinha terminado, mas o clima era de fim de festa. As meninas, na corrida contra o tempo, mudaram de estratégia e partiram para o ataque antes que a casa esvaziasse. (...)
Reportagem completa em:
http://copadomundo.uol.com.br/2010/ulti ... leira.jhtm