Acho que um erro fundamental de quem defende o militarismo no Brasil é a ideia de que a instituição militar representa uma espécie de lei e ordem contra o caráter relativista do brasileiro. É justamente o contrário... O militar é a institucionalização do que há de pior no Brasil.
Vou começar com um exemplo pessoal. Pegando uma estrada de terra em uma serra, eu vi uma placa "obrigatório o uso de correntes no pneu". Vendo que todos os locais entravam na serra sem corrente e que havia um posto policial no início da estrada, fui me certificar se as correntes eram obrigatórias ou não. O oficial me deu a seguinte resposta esclarecedora: "é obrigatório mas não é necessário"! Quer dizer: o encarregado tinha poder para aplicar ou não a lei conforme julgasse conveniente segundo seu arbítrio no momento...
A ditadura militar não foi o império da lei e da ordem. Foi isso aí: você podia combrar Marx na banca, com a coleção Os Pensadores, mas se tivesse atividades políticas "subversivas", se tivesse comido a mulher do policial ou simplesmente se um militar não fosse com a sua cara, ele poderia invadir a sua casa e te prender pela posse do livro.
O mesmo vale hoje em dia, quando a polícia e o exército recebem um "mandato de busca e apreensão coletivo" para entrar nas favelas do Rio de Janeiro e invadir a casa de quem quiserem (o que não tem nenhum fundamento jurídico). Quero ver o juiz que daria um mandato desses no Leblon!
A "fundada suspeita" do Código Penal segue a mesma lógica.
Enfim, o militarismo é a forma institucional do arbítrio elitista que é o pior autoritarismo do Brasil (e do mundo ibérico). É por isso que atrai tanta gente maluca: é a chance do miserável se sentir um coronel (no sentido político, não militar do termo), mesmo que seja apenas diante de um classe média panguá como eu ou de milhares de irmãos miseráveis na favela!
No mundo protestante e puritano (EUA, Inglaterra e Alemanha), os militares são ridículos, pois representam a obsessão com a ideia de ordem. No Brasil, a "ordem militar" é a caricatura de nossa "falta de ordem" e, se você se identifica muito com ela, devia autorrefletir um pouco em vez de querer impô-la sobre os outros.
Vou começar com um exemplo pessoal. Pegando uma estrada de terra em uma serra, eu vi uma placa "obrigatório o uso de correntes no pneu". Vendo que todos os locais entravam na serra sem corrente e que havia um posto policial no início da estrada, fui me certificar se as correntes eram obrigatórias ou não. O oficial me deu a seguinte resposta esclarecedora: "é obrigatório mas não é necessário"! Quer dizer: o encarregado tinha poder para aplicar ou não a lei conforme julgasse conveniente segundo seu arbítrio no momento...
A ditadura militar não foi o império da lei e da ordem. Foi isso aí: você podia combrar Marx na banca, com a coleção Os Pensadores, mas se tivesse atividades políticas "subversivas", se tivesse comido a mulher do policial ou simplesmente se um militar não fosse com a sua cara, ele poderia invadir a sua casa e te prender pela posse do livro.
O mesmo vale hoje em dia, quando a polícia e o exército recebem um "mandato de busca e apreensão coletivo" para entrar nas favelas do Rio de Janeiro e invadir a casa de quem quiserem (o que não tem nenhum fundamento jurídico). Quero ver o juiz que daria um mandato desses no Leblon!
A "fundada suspeita" do Código Penal segue a mesma lógica.
Enfim, o militarismo é a forma institucional do arbítrio elitista que é o pior autoritarismo do Brasil (e do mundo ibérico). É por isso que atrai tanta gente maluca: é a chance do miserável se sentir um coronel (no sentido político, não militar do termo), mesmo que seja apenas diante de um classe média panguá como eu ou de milhares de irmãos miseráveis na favela!
No mundo protestante e puritano (EUA, Inglaterra e Alemanha), os militares são ridículos, pois representam a obsessão com a ideia de ordem. No Brasil, a "ordem militar" é a caricatura de nossa "falta de ordem" e, se você se identifica muito com ela, devia autorrefletir um pouco em vez de querer impô-la sobre os outros.