Jean_Luc escreveu:Vamos botar meninos maus de 12 anos na cadeia porque caçoam dos colegas na escola... sim, sim, muito boa ideia. (To sendo irônico, só pra avisar).
Curioso, como as pessoas confundem as coisas, apesar do assunto, pelo menos nos últimos meses, estar constantemente nos meios de comunicação. Lembro-me de uma época em que eu fazia um curso técnico numa escola conhecida de São Paulo e, em determinada aula, tivemos que apresentar um seminário sobre um tema previamente escolhido pelo professor. Um dos garotos de um dos grupos, por mais extrovertido que fosse nas fileiras de trás, travou bonito na hora de falar sobre um assunto que pouco conhecia e o pouco que falou ninguém conseguiu entender porque ele gaguejava de nervoso. Todos riram e ele foi zoado por mais alguns dias e depois todos esqueceram ou deixaram pra lá. O próprio idiota entrava na onda e não via nada de mais. Ou seja: foi uma brincadeira esporádica, de pouca duração em que a potencial vítima participou e não se sentiu agredida. Eu, por outro lado, fui vítima de bullying e perseguição durante quase os dois anos que estudei lá; sendo que a direção da escola mesmo depois de informada por mim e por meus pais não tomou atitude alguma, alegando se tratar de brincadeiras comuns no âmbito escolar, inerente à adolescência, e não cabia à direção mas sim aos próprios alunos se entenderem. Sábio conselho. E fui o que fiz, em determinado dia, fazendo uma conciliação entre o nariz de um dos meus agressores e um caderno de 20 matérias e capa dura que tinha comprado uma semana antes. Nunca tinha brigado na vida e não sabia que podia sair tanto sangue do nariz e da cabeça de alguém (o garoto desmaiou e bateu a cabeça no chão!). Só lembro que fora ter apanhado um pouco dos amigos dele antes que um inspetor intervisse, fui expulso do lugar, já que o diretor disse que minha reação foi desproporcional ao ato cometido contra mim (deve ter pesado o fato de eu ser bolsista e o cabeça rachada tinha o papai pra pagar toda a mensalidade) e que eu tive sorte de não acabar preso.
O que quero dizer é que para se caracterizar bullying, a agressão tem de ser praticada por um certo período de tempo, tem de ser repetitiva e, como acontece no assédio moral ou sexual, geralmente há uma desvantagem numérica, física ou social entre agressor e vítima. Agora, desde que devidamente classificado, não vejo porque o bullying não deva ser criminalizado.
Ser humilhado, verbalmente e fisicamente, durante certo tempo pode causar marcas e traumas que ficam para o resto da vida; não importa se cometido por adultos contra adultos ou crianças contra crianças ou adolescentes contra adolescentes; é algo que deve ser investigado e punido.
Engraçado. Agora tem gente que vem dizer que são "agressões de menos importância", que a "pobre e honesta" polícia não tem tempo para apartar briga entre moleques. Até que a coisa acaba em massacre, como em Columbine...
Se a polícia não tem efetivo o suficiente e se vê obrigada a escolher entre atender um crime "insignificante" e outro intolerável, eu e muitos outros, como cidadãos, não temos nada a ver com isso.
Ou alguém vai vir dizer que se alguém tiver um carro roubado não deve fazer B. O. porque a polícia está mais preocupada com quem assalta um banco? O que dizer então de processos de assédio sexual porque o encarregado de uma empresa fez propostas ou cantadas indecorosas a uma funcionária? E daí? A polícia está mais ocupada com mulheres que são de fato estrupadas, e não constrangidas. E daí se um travesti é ofendido e humilhado por um funcionário no metrô? A polícia se preocupa mais com os que são espancados na Avenida Paulista ou mortos em tantos outros redutos paulistas?
E o caso do estudante de medicina que morreu afogado num trote? Foi uma brincadeira entre "garotos de 20 a 24 anos" que acabou mal. A polícia tem coisas mais sérias a tratar. Ou porque considerar o estupro um crime? Afinal, muitas vítimas sobrevivem. E, se não conseguem superar o trauma não é culpa nem do agressor nem da lei; é delas mesmas. Então, por que perder tempo com esses crimes de menos importância?