Após o escândalo que se seguiu à revelação, na semana passada, de que uma empresa de seguros alemã organizou uma festa sexual em uma sauna de Budapeste para os seus vendedores de maior sucesso, duas prostitutas de Berlim afirmam que companhias contratam frequentemente garotas de programa para apimentar excursões e festas. Os homens começam acanhados – mas geralmente abandonam as inibições após alguns drinques, dizem elas.
Monique não entende por que tanto barulho. Os jornais têm andado cheios de relatos picantes sobre como a seguradora alemã Hamburg Mannheimer premiou os seus melhores vendedores com uma festa sexual com prostituas em Budapeste quatro anos atrás. “E daí?”, pergunta ela, dando de ombros e fumando um cigarro. “Se os clientes da seguradora tivessem pagado a conta isso realmente teria sido um escândalo. Mas, por favor, não me venham fazer pregações moralistas sobre o que aconteceu!”.
Monique, 32, é uma prostituta de Berlim e diz que foi contratada para festas corporativas similares diversas vezes. O padrão é sempre o mesmo. Primeiro os cavalheiros fingem estar surpresos, riem timidamente, tentam parecer imunes às intenções amorosas das mulheres, e apontam para as suas alianças. Mas depois de mais alguns drinques, essas alianças costumam desaparecer nos bolsos dos casacos. A timidez se desfaz e a festa continua.
“Eles poderiam poupar todo esse teatro no início”, diz Monique, uma profissional dinâmica. Afinal de contas, tempo é dinheiro. “No fim das contas, eles não conseguem tirar as mãos de nós e ficam sempre querendo mais. Aqueles caras que insistem em dizer que têm um casamento feliz são geralmente os que mais tarde se mostram os mais entusiasmado”, diz ela.
Monique não é o único nome de guerra dela. “Às vezes eu me chamo Isabel, outras vezes Vivian – depende de eu estar elegante ou fazendo um tipo 'Pretty Woman'”, diz essa mulher atraente de cabelos negros e uma risada contagiante. Ela tem uma pedra preciosa implantada no dente da frente. Monique admite que tem um toque de cirurgia plástica em algumas partes do corpo. Mas ela ainda é categorizada como “natural” no setor de mulheres de programas, e sente orgulho disso.
Tais categorias são importantes porque os clientes podem ser bastante detalhistas quanto aos seus desejos: baixa ou alta, magra ou voluptuosa, loura ou morena – e natural ou artificial. O principal é que elas tenham o tamanho certo de seios. “Em 90% dos casos é isso o que eles nos perguntam”, diz Monique.
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Festas corporativas são lucrativas
Ela nunca foi a Bucareste para uma orgia corporativa. Mas Monique já foi transportada para vários trabalhos em Postam, uma cidade próxima, ou até à costa do Báltico para hotéis ou casas de férias. Até o momento, Monique nunca se deparou com um cliente que fosse tão feio que ela tivesse que rejeitá-lo. “Esses trabalhos são lucrativos porque os organizadores gastam muito dinheiro nelas e eles se constituem em uma mudança de cenário para nós com um esforço físico relativamente pequeno, em relação ao tempo dispendido”, explica Monique. E tempo é dinheiro.
A festa da Hamburg-Mannheimer foi descoberta na semana passada, mas ela aconteceu há quatro anos. Depois disso a firma foi adquirida pelo grupo de seguros Ergo, que confirmou que pelo menos 20 garotas de programa foram contratadas como parte de uma “viagem de incentivo” a Budapeste ao custo total de 300 mil euros (US$ 423 mil, R$ 689 mil). A companhia está investigando o caso.
Eles usaram a sauna Gellert, do século 17, a mais antiga e famosa da cidade, beberam champanhe e devoraram diversos quitutes antes de irem para quartos com camas de dossel que proporcionavam um clima de privacidade. Os participantes disseram que a festa foi muito bem organizada: as atendentes podiam ser distinguidas das prostitutas pela cor das pulseiras de plástico que usavam no pulso.
As próprias garotas de programa foram divididas em várias categorias. As que estavam destinadas aos vendedores normais usavam pulseiras vermelhas, e as reservadas para os chefes tinham pulseiras brancas. Esse fato específico foi demais até mesmo para a calejada Monique. “Essa atitude de primeira classe versus classe econômica é repugnante! Isso só deixa as pessoas com inveja – e não é algo necessário em um evento desse tipo. A gente trabalha com um cliente que não para de olhar para uma outra mulher. Quem deseja uma coisa dessa?”.
Mas Felicitas Schirow não se incomoda muito com essa prática. Ela é gerente do bordel Café Pssst, em Berlim. “As pulseiras são totalmente sexistas”, diz a empresária de 53 anos de idade. Mas ela acrescenta que acredita que os organizadores desejavam proporcionar incentivos adicionais para a sua equipe, e que a intenção deles não era denegrir as mulheres. “Essa prática encoraja os vendedores a lutar pelas pulseiras brancas na próxima vez”, explica ela.
No entanto, ela acredita que a abordagem foi um pouco equivocada. “Tendo quase 40 anos de experiência eu sei que é impossível saber de antemão que tipo de mulher um homem irá desejar”. Ela se recorda da seguinte situação: “Eu queria me livrar de uma integrante da minha equipe porque eu a achava totalmente feia e ela não se encaixava no meu negócio. Foi então que chegou um cliente. Eu pensei: 'Uau, ele é bonito, esse é meu! Mas o homem foi direto para aquela mulher e subiu para o quarto com ela. Ele só queria ela, e mais ninguém. Eu me senti quase insultada”.
“Muitas grandes companhias possuem um orçamento especial”
Shirow afirma que as festas corporativas com prostitutas são bastante comuns. “Muitas grandes companhias possuem um orçamento extra para financiar tais festas de uma maneira que a despesa não apareça na contabilidade oficial”, diz ela. “Hoje em dia é preciso motivar os seus funcionários”.
Se uma companhia não possui o dinheiro para dar uma viagem ao estrangeiro de presente aos seus funcionários, ela pode, em vez disso, mandá-los para um bordel ou um clube noturno.
“Para mim, esse incidente envolvendo a Hamburg-Mannheimer é inteiramente normal”, diz Schirow. “O setor de seguros em especial gosta de dar festas e de recompensar os seus funcionários com acompanhantes do sexo feminino. A única coisa que me surpreendeu foi o tamanho dessa festa”.
Mas tais festas ilícitas têm um propósito adicional além de aumentar a motivação dos funcionários. “Quem participa compartilha um segredo e uma experiência secreta. Isso une as pessoas e faz com que elas se tornem mais leais à companhia”, explica Monique.
Além do mais, isso dá autoconfiança aos homens. “Sob a ótica da pura sensação de prazer, um homem não precisa de uma prostituta para fazer sexo. Ele pode se aliviar sozinho”, diz Schirow. “O que está em jogo é o bem estar que o homem sente quando uma mulher demonstra que gosta de estar com ele. Isso faz com que ele fique feliz”.
Segundo pesquisas, cerca de 75% dos homens alemães já fizeram sexo com prostitutas.
É bem possível que a festa sexual de Budapeste tenha sido uma completa surpresa para os vendedores que fizeram a viagem de dois dias. Mas eles não deveriam usar isso como desculpa para as suas ações. “Independentemente da dinâmica de grupo, se o cara não quiser participar ele não é obrigado”, diz Schirow.
Monique afirma que os homens podem ter se sentido seguros em Budapeste porque as mulheres não falavam alemão – isso adicionou uma distância entre a excitante experiência estrangeira e as suas vidas domésticas. “Isso é algo que as celebridades que têm uma queda por prostituas procuram”, afirma Schirow. “Eles acreditam que não serão descobertos”.
As prostitutas mantêm um código de silêncio sobre os seus clientes. “As mulheres falam entre si, mas as profissionais no nosso negócio não falam nada para o mundo exterior”.
Na festa de Budapeste, as prostitutas recebiam carimbos nos braços após cada ato sexual – isso teria supostamente facilitado a contagem subsequente e revelado o quanto uma determinada mulher tinha sido “usada”.
“É muito ruim que haja uma lista de nomes que prove quem estava na sauna e quem utilizou quais serviços”, diz Monique. “Eu me pergunto após cada festa para a qual sou contratada: onde estão as funcionárias da companhia? Como elas são recompensadas?”.
Tradução: UOL
Fonte:
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/ ... agina.jhtm