ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

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ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

#1 Mensagem por Carnage » 20 Nov 2011, 14:06

Engraçado, o acidente lá nos EEUU chamou tanto a atenção... Um aqui e não quase não se fala a respeito.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?op ... e&id=49536
ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

Enquanto o vazamento de petróleo de um campo operado pela empresa americana Chevron polui o litoral norte fluminense há dez dias, em terra firme, órgãos governamentais — como ANP, Ibama, Polícia Federal e Marinha — e a sociedade civil apertam o cerco em torno de um acidente que pode ser até 23 vezes maior que o estimado pela petrolífera. Oficialmente, a Chevron calcula que a mancha de óleo localizada a 120 quilômetros da costa era ontem de 65 barris na superfície, e que o total vazado ao longo dos dias teria chegado a 650 barris. O geólogo americano John Amos, da ONG SkyTruth, estima, contudo, com base em imagens captadas pela Nasa, um vazamento de 3.738 barris por dia entre 9 e 12 de novembro. Isso daria um total de, pelo menos, 15 mil barris despejados no oceano.

A reportagem é do jornal O Globo, 18-11-2011.

[ external image ]
Reprodução de imagem captada pela NASA da área do vazamento de óleo do campo do Frade, na Bacia de Campos, destacando a macha no oceano Reprodução

Devido a problemas meteorológicos, os sobrevoos de helicóptero à região do campo de Frade foram suspensos nos últimos dias. Nesta quinta-feira, a Marinha do Brasil uniu-se à ANP e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para formar um grupo de acompanhamento do vazamento. Os sobrevoos serão retomados hoje e só após a visita os três órgãos devem se pronunciar.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, acredita, no entanto, que em uma semana o derrame de óleo seja interrompido. Ao adotar um discurso para minimizar o acidente, Lobão disse que a empresa "está fazendo de tudo e que a Chevron não foi punida ainda porque há trâmites a seguir".

Para ANP, acidente é cinco vezes maior

Em conversas com parlamentares do Partido Verde, o presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Haroldo Lima, teria calculado que o derramamento de óleo atinge 3,3 mil barris desde o dia 7 de novembro — cinco vezes maior do que afirma a Chevron. Em conversas com o deputado Sarney Filho (PV-MA) e a diretora da ANP, Magda Chambriard, Lima teria dito que houve erro da Chevron na prestação de informações à ANP. Lima informou a Sarney Filho que a Chevron deverá ser punida também por isso, além de multas pelo crime ambiental.

O delegado kkkkkkkkk Scliar, da Polícia Federal (PF) e autor do inquérito aberto contra a Chevron, afirmou que vai levantar dados e informações para apurar as responsabilidades. Ele pretende ouvir funcionários diretamente ligados à operação e, num segundo momento, convocará executivos da empresa:

— Se a trinca no fundo do mar não for fechada, vai continuar vazando. O responsável por fechar essa rachadura disse à minha equipe que não tinha previsão de quando ia conseguir parar o vazamento. O acidente é uma catástrofe.

O secretário estadual de Ambiente do Rio, Carlos Minc, também estuda cobrar reparação à Chevron:

— Não estamos querendo nos sobrepor ao Ibama. Mas como o acidente ocorreu no Rio, podemos cobrar reparação aos danos ambientais e, sobretudo, as perdas para os pescadores que atuam na região.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, ainda não se pronunciou sobre o acidente. A Petrobras, parceira da Chevron no campo, também não vai falar sobre o assunto. Assim como o Ministério do Meio Ambiente, que alega ter repassado a tarefa ao Ibama. O presidente do órgão, Curt Trennepohl, passou boa parte do dia de ontem no Rio, reunido com representantes da Chevron.

Executivos da Chevron devem ser convocados pelo presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, deputado Giovani Cherini (PDT-RS), para uma audiência pública na próxima semana. No Senado, o presidente da Comissão de Meio Ambiente, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), também disse que tomará providências. Na segunda-feira, pretende por em votação um requerimento para convidar a empresa, a ANP, o Ministério Público e o secretário Minc.

O geólogo John Amos, da ONG SkyTruth, um dos primeiros a dimensionar o acidente da BP no Golfo do México, acredita que o vazamento da Chevron na Bacia de Campos tenha começado antes mesmo da data divulgada pela empresa (dia 9).

— Estimamos o ritmo do vazamento entre 9 e 12 de novembro em 3.738 barris por dia. Após o dia 12, a vazão pode ter aumentado ou diminuído. Não há como sabermos, porque o tempo ficou nublado — disse Amos, em entrevista ao GLOBO, por telefone.

A Chevron, em nota oficial, informou que a operação de cimentação para vedar o poço continua em andamento. Não informou, no entanto, a previsão para término dos trabalhos.

O motivo do vazamento ainda está sendo investigado. Na avaliação da ANP, a causa "parece ter sido as operações realizadas pela Chevron". A empresa, por sua vez, alega a existência de uma falha geológica na região atingida.

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Re: ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

#2 Mensagem por Gilmor » 20 Nov 2011, 19:39

Meu caro Carnage,
Parece que o furo era, literalmente, mais embaixo.


PF investiga se Chevron tentou atingir pré-sal ao perfurar poço que vazou

Suspeita também é levantada por técnicos da ANP; vazamento no Campo de Frade já dura 11 dias
A Polícia Federal está investigando a possibilidade de a petroleira norte-americana Chevron estar tentando indevidamente alcançar a camada pré-sal do Campo de Frade. Na tentativa, teria ocorrido a ruptura de alguma estrutura do poço perfurado, dando origem ao vazamento de petróleo na Bacia de Campos (RJ), que já dura 10 dias. Técnicos da Agência Nacional do Petróleo (ANP) admitiram nesta sexta-feira, 18, que discutem internamente essa possibilidade.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... ir-pre-sal

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Re: ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

#3 Mensagem por MrNatural » 20 Nov 2011, 21:45

Eu fico imaginando se esse vazamento fosse feito pela PETROBRÁS!!!

As imagens da mancha ficariam passando 24HS non-stop em todos os canais possíveis e imagináveis.

Como é erro de corporação não-brasileira então a grande,velha e podre mídia não dá destaque (são parceiros)

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Re: ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

#4 Mensagem por Capitao » 21 Nov 2011, 10:01

Mas discutir o vazamento é normal , agora quem deu autorização para exploração veirificou se : A empresa tinha ou tem plano de contenção de vazamento ? Tem equipe preparada para atuar em casos assim....as perguntas pipocam.... :doubt:

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Re: ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

#5 Mensagem por Compson » 21 Nov 2011, 10:35

Um absurdo! Se vamos mesmo explorar o pré-sal, temos que criar mecanismos muito mais fortes de fiscalização!

Eis um tema bom para a oposição... Só que disso ninguém quer saber...

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Re: ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

#6 Mensagem por Carnage » 22 Nov 2011, 21:24

http://www.tijolaco.com/premio-chevron- ... copiativo/
Premio Chevron de “jornalismo copiativo”

14 de novembro

Sai o Prêmio Esso de Jornalismo, entra o “Prêmio Chevron-Texaco” de copiação de press-releases.

Foi preciso que a agência Reuters furasse toda a imprensa nacional e publicasse a declaração do diretor da ANP Florival Carvalho de que a Chevron é a responsável pelo vazamento de petróleo no Campo de Frade e que o derrame é consequência direta de um poço que estava sendo perfurado pela Chevron-Texaco e que ele deverá ser cimentado e vedado.

Muito bem, já é alguma coisa.

Mas falta muito ainda para saber.

A começar por sabermos qual deles será lacrado, pois são três poços que sendo simultaneamente perfurados pela mesma plataforma Sedco 706 – aquela que o Wall Street Journal chamou de obsoleta e “motel marítimo” em 2008.

Como assim, três poços simultâneos?

É que a Chevron-Texaco, para fazer economia, está fazendo perfurações “de batelada”. Isto é, cava uma seção de um poço, tampa, cava a seção inicial de outro, faz o mesmo e vai para um terceiro, para voltar, na mesma sequência, para cada fase posterior de perfuração.

Não tenho condições técnicas de afirmar se isso agrega risco, posque o equipamento de perfuração é retirado e movido. Mas que, nos mapas da ANP não encontramos nenhuma outra petroleira que use este método é algo que você pode conferir aqui. E, da mesma forma, como no destaque que a gente reproduz, pode-se ver que são atribuídas quatro perfurações à Sedco 706, uma concluída e três em andamento simultâneo, segundo dados do dia 3 de novembro passado.

Continuamos não sabendo qual foi o poço, a que profundidade estava, se tinha tido contato com petróleo antes e, sobretudo, se foi a injeção de fluidos pressurizados que provocou a fissura no solo e se o simples tamponamento do solo irá fazer com que pare de vazer óleo pela rachadura.

Então a rachadura se deu a partir da parede do poço? Neste caso, não tem nada a ver com falha geológica. E como, se o povo deveria estar revestido e cimentado entre a rocha e o tubo de aço, conforme está previsto no plano de exploração da Chevron Texaco?

Aliás, além da assessora Heloisa Marcondes que disse na quinta-feira que o vazamento era “um fenômeno natural”, a imprensa ouviu algum diretor da Chevron?

A falta de empenho da empresa brasileira na apuração do acidente é um acinte ao jornalismo e ao interesse público.

Há cinco dias, só se publicam press-releases.

http://www.tijolaco.com/obrigado-pelo-v ... o-chevron/
Obrigado pelo vazamento, Chevron

14 de novembro

O título é apenas uma versão mais radical do comportamento da imprensa brasileira, até agora, em relação ao vazamento de petróleo junto à plataforma de perfuração da Chevron-Texaco no Campo de frade, ao largo de campos, no Rio de Janeiro. Mesmo com a determinação da presidenta Dilma Rousseff para que fosse investigado, na sexta-feira, o assunto, quando não é ignorado pela mídia, é abordado em matérias que se parecem press-releases de um empresa que, além de demorar mais de 24 horas para tornar público o problema, chegou a dizer que o fenômeno era “natural” e que, até agora, não deu infomações básicas sobre as circunstâncias do acidente.

Não deu, reconheça-se, porque aparentemente nenhum jornal o pediu.

Ao contrário, reproduzem assim os releases da companhia:

“Chevron mobiliza equipe global para conter vazamento”.Este é o título da matéria do Estadão, reproduzida pela Exame (Abril), enquanto o G1, do grupo Globo, destaca: Frota de 17 navios tenta controlar mancha após vazamento no RJ.

Para colaborar, este Tijolaço ajuda com uma lista de perguntas à empresa, que não foram feitas desde quarta feira passada.

1- A que profundidade (na lâmina d´água e no solo marinho)estava sendo feita a perfuração próxima ao vazamento?

2-Esta perfuração já tinha registrado depósitos de óleo? A que profundidade?Em caso positivo, houve injeção de fluidos pressurizados para testes de vazão?

3- Até que profundidade o poço seria perfurado?

4- A perfuração era revestida e cimentada, como prevê o estudo de impacto ambiental apresentado pela companhia em seu plano de exploração?

5- O mesmo estudo, elaborado pela consultoria Ecologus, refere-se à presença de muitas falhas geológicas no campo de Frade, inclusive ao fato de três poços perfurados pela Chevron-Texaco terem sofrido desvios por conta de existência de fraturas no subsolo. Havia falhas geológicas detectadas junto a este poço nos estudos sísmicos efetuados?

6- Considerando que a empresa prevê a a perfuração em “batelada”, onde os poços são perfurados até um determinado ponto, tampados e abandonados para perfuração de outro, próximo, para que todos estejam em etapas semelhantes e os custos sejam reduzidos, havia outras perfurações próxima, revestidas e tampadas, como prevê o estudo apresentado pela empresa ao Ibama?

7- Em que condições a plataforma Sedco 706, construída em 1976 e que já foi chamada pelo Wall Street Journal de obsoleta e aproveitável apenas como “motel marinho” foi reaproveitada no campo de Frade? Qual a razão de seu aluguel ser de US$ 315 mil dólares dia, cerca de 50% menor que o cobrado pelo aluguel de sondas ultraprofundas no mercado internacional? Porque a contratação de uma sonda capaz de perfurar até 7.600 metros, quando as ocorrências de óleo no Campo estão todas à metade desta profundidade?

8- Porque a empresa, que afirma ter detectado no fundo oceânico a “exsudação” de petróleo não libera as imagens do vazamento ou da mancha por ele provocada? Como foi estimada a quantidade de petróleo vazada?

9- A frota alegadamente enviada para deter o vazamento é composta de que embarcações? Qual a sua finalidade, apenas espalhar bóias de retenção? Aspergir diluidores sobre a mancha? Alguma delas tem equipamento para selar a fenda de onde brotaria o óleo? Em caso negativo, como a empresa espera que o vazamento cesse? Se ele pode parar naturalmente, isso tem relação com a paralisação dos trabalhos de perfuração?

Certamente estas e outras perguntas não foram feitas à Chevron por incompetência dos jornalistas, que as teriam feito – e muitas outras – se o poço fosse da Petrobras.

Mas, como é da Chevron, só falta nossos jornais, além de louvarem o esforço da empresa em parar um “desastre natural”. como chegou a dizer a empresa, agradecerem pelo acidente que mostra como a petroleira americana ainda nos faz o favor de tampar, embora não possamos apressá-la, não é?

http://www.tijolaco.com/a-mancha-mental/
A mancha mental

18 de novembro

Passamos uma semana discutindo se o avião era Sêneca ou King Air. Se o Carlos Lupi conhecia o “Senhor Aldair” ou se não o conhecia. O “eu te amo” do Ministro e outras histrionices canhestras que produziu ocuparam minutos e minutos nas redes de televisão e legiões de repórteres foram mobilizadas para levantar cada pormenor de sua atuação.

Muito bem.

Nada contra a imprensa mobilizar todos os seus esforços e abrir todos os seus espaços para investigar irregularidades no serviço público, ainda que não tenha esteja evidente senão um comportamento pouco cuidadoso e austero de sua parte.

Dia 10, quando toda a mídia nacional se voltava para o depoimento do Ministro na Cãmara, uma pequena nota da Agência Estado registrava:

“A unidade brasileira da petroleira norte-americana Chevron informou que está trabalhando para conter um vazamento no campo Frade, na Bacia de Campos. “O vazamento se deve a uma rachadura no solo do oceano. É um fenômeno natural”, disse Heloisa Marcondes, porta-voz da Chevron Brasil. “

Nos dias seguintes, toda a imprensa nacional empenhou-se a fundo para provar que o Ministro mentira.

E ninguém se mobilizou para saber o tamanho e a causa do vazamento da Chevron e a investigar o que se provou uma mentira – e escandalosa – da Chevron.

Ninguém da grande imprensa, porque a blogosfera, sem os meios e as facilidades que ela tem, lutou contra este encobrimento.

Não é possível que os editores de jornal, diante da notícia de que a Presidenta Dilma Rousseff, na sexta-feira, determinou uma investigação rigorosa do caso, achassem que o acidente era uma “porcariazinha” que vinha de “uma rachadurazinha” no fundo do mar.

Não foi, nos primeiros momentos, por ordens “de cima” que o caso foi, na prática, abafado. Foi, o desinteresse – e existiria furor se fosse o vazamento fosse da Petrobras - que deriva de uma deformação mental que considera o público necessariamente corrupto e incompetente, enquanto o privado é limpo e eficiente. Mais ainda, é claro, quando se trata de uma grande multinacional.

Formou-se uma espécie de “mancha mental”, com uma capa impermeável de obtusidade, que aceita como verdades incontestáveis o que dizem as grandes corporações privadas e a lógica do mercado. Nem mesmo as ONGs ambientalistas, na sua maioria, se agitaram. A imprensa publicava “releases”, nada mais.

Durante dias, sem piar, reproduziram-se os comunicados da Chevron, sem contraditório. A foto (única) do vazamento distribuída pela Chevron e a tirada hoje pela fotógrafa Márcia Foletto, de O Globo, mostra bem a diferença entre os faos e a versão da empresa.

Aliás, a Chevron não deu a mínima nem para a imprensa, nem para o Ibama e nem para a ANP.

Não ficaria supreso que seus funcionários tenham ficado sentados na sala de espera, aguardando para serem atendidos.

Aliás, o panorama só mudou porque entrou a Polícia Federal na história.

É curioso – e ao mesmo tempo terrível – que estejamos vivendo tempos de dupla moral e ética. Ao Estado e seus agentes – corretamente – é exigido um comportamento exemplar. Aos grandes grupos privados muito mais poderosos, é o vale tudo.


http://www.viomundo.com.br/denuncias/fe ... rensa.html
Fernando Brito: ‘Omissão criminosa da Chevron-Texaco, cumplicidade escandalosa da mídia’

por Conceição Lemes


No dia 10 de novembro, quinta-feira, a Agência Estado publicou esta nota:

“A unidade brasileira da petroleira norte-americana Chevron-Texaco informou que está trabalhando para conter um vazamento no campo Frade, na Bacia de Campos. “O vazamento se deve a uma rachadura no solo do oceano. É um fenômeno natural”, disse Heloisa Marcondes, porta-voz da Chevron-Texaco Brasil.

O campo de Frade, operado pela petroleira estadunidense Chevron-Texaco, fica a 350 km do Rio de Janeiro. O acidente, sabe-se só agora, aconteceu na segunda-feira, 7 de novembro. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) tomou conhecimento no dia 9, mas só o tornou público no dia 10. O primeiro alerta público foi dado pelo Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro) ainda na quarta-feira, 9.

Nos dias 11, 12, 13, 14 e 15, a mídia se limitou a reproduzir as notas oficiais da Chevron-Texaco e da Agência Nacional de Petróleo (ANP). E, ainda assim, em matérias pequenas, em pé de página, escondidas. Nenhuma cobrança maior. Aliás, nenhum grande veículo se empenhou para saber o tamanho e a causa do vazamento.

O jornalista Fernando Brito, do blog Tijolaço, do deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ), não engoliu a versão da empresa e desde o dia 11 começou, solitariamente, a questioná-la. De lá até hoje foram 21 artigos, denunciando o desastre ambiental, o comportamento da mídia e as mentiras da Chevron-Texaco.

“Desde o princípio, achei algumas coisas estranhas, a começar pelo fato de que não houve um tratamento escandaloso do assunto pela mídia, como certamente haveria se o campo em questão fosse operado pela Petrobras”, ironiza Fernando Brito. “Ah, se fosse a Petrobras, já no dia 11, até os peixes do oceano estariam dando declarações contra a empresa.”

“Além disso, a Chevron-Texaco demorou a admitir o problema e, quando o fez, foi por uma nota marota, dizendo que se tinha detectado o vazamento ‘entre o campo de Frade e o de Roncador – que é operado pela Petrobras”, prossegue Brito. “Na verdade, o problema se deu bem próximo de uma de suas plataformas de perfuração, a Sedco706, da Transocean, a mesma proprietária da Deepwater Horizon, que provocou o acidente no Golfo do México.”

No dia 15, a Polícia Federal entrou no caso e a expectativa era de que a mídia não varreria mais para debaixo do tapete o óleo derramado. Realmente, não deu mais para a grande imprensa ignorar. Porém, não foi a fundo nas circunstâncias que o causaram, apesar de ter todas as condições e facilidades para fazê-lo.

A Sedco 706, plataforma de perfuração da mesma empresa do acidente do Golfo, nas proximidades da qual ocorreu o acidente da Chevron

O Tijolaço “furou” toda a imprensa. Foi quem primeiro duvidou da história contada pela Chevron-Texaco de que o derramamento de petróleo no mar era “fenômeno natural” e se devia a uma falha geológica. Foi também quem, com base nos cálculos feitos pelo geógrafo John Amos, do site SkyTruth, especializado em interpretação de foto de satélites com fins ambientais, alertou que o vazamento de petróleo no campo de Frade era muito maior do que a Chevron-Texaco afirmava. Foi ainda quem, ainda no dia 11 de novembro, levantou possibilidade de a empresa pretender fazer uma prospecção na camada do pré-sal , pelo fato de haver um pedido de perfuração até 5.200 metros, quando as ocorrências de petróleo em Frade se situam na faixa dos 2,5 mil metros abaixo do leito marinho.

Por isso, o Tijolaço começou a pedir que se apreendessem os diários de perfuração e os relatórios de cimentação, que mostram os locais e a qualidade da vedação que se faz pelo lado externo da coluna de tubos do poço.

“É como um canudo [desses de doce] que você coloca numa tijela cheia de doce de coco molinho. Quando pressiona, o líquido sobe pelo canudo, mas também vaza pelo lado de fora dele. A cimentação, além de dar firmeza à coluna de tubos, faz essa vedação, de baixo para cima”, traduz Brito. “Mas é um procedimento caro e toma tempo. Tempo, quando você tem uma sonda que custa centenas de milhares de dólares de aluguel diário, é dinheiro, e muito dinheiro. Lá no Golfo do México, a BP [British Petroleum], por economia, ‘pulou’ a verificação de uma dessas cimentações.”

Na última sexta-feira à noite, 18, ficou comprovado que Brito estava correto desde o começo, apesar de estar falando sozinho, contra a maré midiática. O presidente da Chevron-Texaco no Brasil, Charles Buck, revelou ao portal Energia Hoje que a empresa foi culpada pelo vazamento, por não aplicar técnicas adequadas de cimentação do revestimento da coluna de perfuração:

“O presidente da Chevron-Texaco no Brasil, George Buck, afirmou nesta sexta-feira (18/11) que a petroleira foi responsável pelo acidente que provocou o vazamento de óleo na última semana no campo de Frade, na Bacia de Campos. Segundo o executivo, a companhia subestimou a pressão do reservatório, provocando o acidente.

“É nossa culpa. Nós subestimamos a pressão do reservatório”, afirmou Buck. “O problema é que a pressão na formação foi maior do que a lama de perfuração poderia suportar. A modelagem do reservatório nos deu a informação incorreta sobre a pressão”.

“Um dia depois, a Petrobras informou à Chevron-Texaco que havia identificado uma mancha, confirmada na noite seguinte pela companhia norte-americana. A petroleira levou três dias para identificar o vazamento abaixo do revestimento e, no dia 13, fechar o poço com lama de perfuração de alta densidade. No dia 14, começou a cimentação”.

“A Chevron-Texaco cometeu erros técnicos básicos, perfurando uma extensão grande demais antes de nova cimentação. A razão principal desse erro é a redução de prazos e custos da operação”, denunciou Brito, nesse sábado, 19, no Tijolaço. “Mas o erro mais grave, imperdoável, é que a Chevron-Texaco sabia a razão do vazamento desde o dia em que foram avistadas as manchas de óleo. Se é que não sabia antes, porque as manchas foram avistadas pelo pessoal da Petrobras e, aí, não dava mais para ter segredo.”

Em bom português: a grande imprensa “papou mosca”, de novo, num assunto de imensa gravidade. E a blogosfera, graças ao trabalho excelente, bem-feito, do jornalista Fernando Brito, colocou a Chevron-Texaco no mapa da mídia brasileira. Leiam a seguir a íntegra da entrevista que fiz com ele.

Viomundo – Enquanto a mídia se limitava a reproduzir os releases da Chevron-Texaco e da ANP [Agência Nacional de Petróleo], você desde o início denunciou que a história do vazamento do poço estava mal-contada. Alguma fonte o alertou para essa possibilidade? O que o levou, sozinho, ir contra a maré midiática?

Fernando Brito – Não tinha fonte privilegiada tampouco uma “gravação” caiu no meu colo (risos). O que eu fiz foi jornalismo. Apenas isso. Sou do tempo em que o jornalista não era a notícia, ele buscava a notícia, diferentemente do que acontece hoje, muitas vezes. Na hora em que li a nota da Agência Estado, fiz vários questionamentos. Fenda natural? De três mil metros de profundidade? Isso é coisa de filme de ficção. E como é que isso não apareceu nos estudos sísmicos e ecossonográficos?

Já estava escrevendo, quando veio a notícia que a presidenta Dilma tinha mandado investigar. Pensei: aí tem, a presidenta não ia botar polícia com um derrame de “um baldinho” de óleo. Era o óbvio.

Mas não tinha ainda maiores informações. Então, registrei essa estranheza e fiquei, essencialmente focado no tratamento mais do que discreto do assunto pela mídia brasileira. Porque, se o campo fosse operado pela Petrobras, já no primeiro dia, até os peixes do oceano estariam dando declarações contra a empresa. Aliás, mesmo com o vazamento da Chevron-Texaco, o destaque nos jornais do dia 11 foi para a queda de 26% no lucro da Petrobras, mesmo sabendo que essa queda é essencialmente contábil, pela desvalorização cambial ocorrida desde agosto e que não se repetirá no último trimestre, dando à empresa um lucro recorde em sua história.

Como eu tinha muitas perguntas para as quais eu não tinha respostas, comecei a pesquisar no Google. Hoje em dia grande parte dos documentos vai parar na internet. Se os colegas souberem fazer as perguntas certas, vão descobrir muita coisa, muita mesmo.

Viomundo – Estranhou mais alguma coisa?

Fernando Brito – Várias. Primeira: a Chevron-Texaco demorou para admitir o problema e, quando o fez, foi por uma nota marota, dizendo que havia sido detectado vazamento “entre o campo de Frade e o de Roncador – que é operado pela Petrobras - quando, na verdade, ele se deu bem próximo de uma de suas plataformas de perfuração, a Sedco706, da Transocean, a mesma proprietária da Deepwater Horizon, que provocou o acidente no Golfo do México.

Segunda: a história de que falha geológica seria a causa. É improvável que falhas geológicas capazes de provocar um derramamento no mar não tivessem sido detectadas nos estudos sísmicos que precedem a perfuração.

Terceira: mesmo depois de a presidenta Dilma Rousseff ter determinado em 11 de novembro a investigação rigorosa do caso, a nossa imprensa, tão zelosa e meticulosa quando se trata da Petrobras, continuou a dar quase nenhuma importância ao caso da Chevron-Texaco, uma multinacional com boas relações com o senhor José Serra. Segundo o Wikileaks, lembra-se?, Serra havia prometido à senhora Patrícia Pradal, diretora de relações de governo da Chevron-Texaco, que iria rever a legislação brasileira do pré-sal.

Conversei sobre isso com o Brizola Neto e a gente decidiu mergulhar na história, com todos os riscos que isso trazia, porque nossos conhecimentos são, evidentemente, limitados.

Viomundo – E como descobriu que a plataforma Sedco 706, alugada pela Chevron-Texaco-Texaco para o campo de Frade, foi usada como “hotel marinho” para outra plataforma no Mar do Norte, em 1999?

Fernando Brito – É o Wall Street Journal que o diz, numa matéria de 2008. Lá fiquei sabendo que a plataforma Sedco 706, que opera na área do acidente em Frade, tem hoje 35 anos de idade e que o equipamento “não era adequado para modernas perfurações em águas profundas. E não deveria ser utilizado mais para perfuração. Ela estava atracada no Mar do Norte, ligada a outro equipamento por uma passarela. Foi um quarto de dormir flutuante para os trabalhadores do petróleo, uma espécie de motel marinho”. Depois, sofreu um upgrade, que a gente não sabe quanto teve de “guaribada”, porque o custo do aluguel dela – segundo o WSJ - ficou em 50% do que custa uma sonda de igual capacidade no mercado internacional.

Viomundo – Ontem, sábado, 19 de novembro, começou a circular a informação de que a Polícia Federal está investigando se a Chevron-Texaco tentou atingir pré-sal, ao perfurar poço que vazou. Você, já no dia 11, levantou essa suspeita. Por quê?


Fernando Brito — No campo de Frade, um dos mais produtivos do Brasil, todas as ocorrências de petróleo estão numa faixa – que os técnicos chamam de “play” — inferior a três mil metros. Por que a Chevron-Texaco contratou uma sonda para perfurar até 7.600 metros de profundidade – que é, em tese, mais cara – senão para chegar ao pré-sal?

O registro de profundidade na ANP sugere que a empresa pretendia prospectar a camada do pré-sal. E fica a pergunta se a Chevron-Texaco tinha ali estudos e equipamentos adequados para perfurar o pré-sal, como provavelmente pretendia fazer? Se isso tem ou não relação com o acidente é outra história. Não necessariamente tem. Mas é fácil de saber, com o diário de perfuração. É só ver o diâmetro do furo para saber o quão longe pretendiam ir.

Viomundo – Durante quantos dias a mídia praticamente ignorou o acidente no poço da Chevron-Texaco?

Fernando Brito – Cinco dias, 11 a 15 de novembro, quando então a Polícia Federal passou a investigar, aí não dava mais para esconder o óleo derramado embaixo do tapete. Nesses dias, ou o assunto era ignorado pela mídia ou se reproduzia os press- releases da companhia.

“Chevron mobiliza equipe global para conter vazamento”. Esse foi o título da matéria do Estadão no dia 13, reproduzida pela Exame (Abril), enquanto o G1, do grupo Globo, destacou: Frota de 17 navios tenta controlar mancha após vazamento no RJ

Ou seja, saiu o “Prêmio Esso de Jornalismo”, entrou o “Prêmio Chevron-Texaco” de cópia de press-releases. A falta de empenho da imprensa brasileira na apuração do acidente nos primeiros cinco dias foi um acinte ao jornalismo e ao interesse público.

Aliás, na primeira semana após o vazamento não havia uma ONG, um ambientalista, ninguém protestando, ninguém – além da presidenta Dilma – exigindo apuração completa do acidente.

Viomundo – Alguém da Chevron-Texaco falou sobre o acidente?


Fernando Brito – No primeiro dia, 10 de novembro, falou apenas Heloisa Marcondes, assessora de imprensa da Chevron-Texaco, e ainda falou besteira, dizendo que o vazamento era um “fenômeno natural”. Existir uma fenda marinha, em plena plataforma continental, capaz de, por si só, alcançar a profundidade de um depósito petrolífero não é natural, é , quando muito, sobrenatural.

Depois disso, somente nessa sexta-feira, dez dias após o problema vir a público, o presidente da Chevron-Texaco no Brasil, senhor Charles Buck, subordinado ao senhor Ali Moshiri, presidente da empresa para a África e América Latina, deu uma entrevista coletiva. Até então, nenhum diretor da empresa havia dado entrevista. A empresa falou o tempo inteiro por meio de comunicados, reproduzidos fielmente pela mídia, sem qualquer aprofundamento ou dúvida.

O Energia Hoje, um site especializado registrou na sexta à noite, 18, com todas as letras que Buck disse ser culpa da empresa o vazamento. O restante da mídia — acredite! – omitiu esta declaração vital, falou apenas num erro de cálculo.

Como assim, erro de cálculo? Alguém não sabia tabuada? Reduzir os pontos de cimentação é parte do cálculo de custos. Isso tem que ficar bem claro e deveriam ter sido ouvidos os engenheiros de petróleo para saber se é normal apenas uma cimentação num poço que já tinha 2.300 metros. Não houve, entre os 567 metros da primeira cimentação, nenhuma parada para colocação de sapatas intermediárias, quando da redução de diâmetro do furo, momento em que se faz a parada para cimentação e, depois, a análise de sua adequação?

É o oráculo de Houston falando aos pobres tupiniquins, incapazes de formular uma única pergunta. Veja, só na entrevista de Buck, finalmente, soubemos a que profundidade estava o poço! Houve uma cumplicidade escandalosa entre a nossa imprensa e a multinacional estadunidense. Tanto que, em determinado momento, eu perguntei: será que vamos ter que esperar que coloquem uma mensagem na garrafa, para que a nossa imprensa publique algo além de notas oficiais? (risos)

Curioso é que os colegas tenham ido perguntar sobre o vazamento à Petrobras, sócia minoritária e sem poder operacional sobre o campo.

Outra curiosidade: finalmente hoje,20 de novembro, os sites dos grandes jornais publicam o que já tinha acontecido na sexta à noite, 18, e não quiseram publicar com todas as letras como o portal Energia Hoje: a Chevron-Texaco assumiu ser a responsável, a culpada, pelo vazamento de petróleo no campo de Frade.

Viomundo – Como você chegou ao geógrafo John Amos, do site SkyTruth especializado em interpretação de foto de satélites com fins ambientais?

Fernando Brito – Na verdade, primeiro cheguei a estas duas fotos, publicadas pelo SkyTruth, que registram em dois momentos o que é identificado como sendo a mancha de óleo provocada pelo vazamento no poço da Chevron-Texaco. Cheguei até elas no dia 14 pela dica do leitor Henrique, que foi mais eficiente que toda a imprensa brasileira reunida.

Viomundo – E como chegou ao próprio John Amos? Como conseguiu que ele fizesse os cálculos sobre o tamanho do vazamento?


Fernando Brito – O deputado Brizola Neto enviou para Amos, pelo twitter, as coordenadas dos poços constantes do relatório oficial da ANP sobre as perfurações em andamento e concluídas. Amos, um ativista ambiental que mantém há dez anos o site SkyTruth, trabalhou em cima delas e publicou esta imagem sobre a mancha causada pelo vazamento de petróleo do poço da Chevron-Texaco no campo de Frade, ao largo do Rio de Janeiro.

Junto com essa imagem, Amos postou a seguinte conclusão:

“A imagem de satélite MODIS / Aqua da NASA, acima, foi tirada há três dias. Ela mostra uma mancha de óleo aparente originária do local de perfuração e que se estende por 2.379 quilômetros quadrados (o extremo sul da mancha fica aprisionado em um redemoinho no sentido horário interessante nas correntes oceânicas). De 1 micron de espessura, representa um volume de 628 mil galões (14.954 barris) de petróleo.

Supondo que o vazamento começou ao meio-dia em 8 de novembro (24 horas antes de termos observá-lo em imagens de satélite), estimamos uma taxa de vazamento de pelo menos 157 mil galões (3.738 barris) por dia. Isso é mais de 10 vezes maior do que a estimativa da Chevron-Texaco de 330 barris por dia”.

Viomundo – A foto e conclusão foram publicadas por Amos exatamente quando?

Fernando Brito – A foto foi tirada pelo satélite da Nasa em 12 de novembro, sábado, e publicada no dia 15 com a conclusão. No dia 15, por sinal, a ANP finalmente divulgou que uma reunião de emergência realizada no dia 13, domingo (por que só veio a público na terça?), aprovou-se o plano de emergência apresentado pela Chevron-Texaco para deter o vazamento e que a diretora da ANP, Magda Chambriard, esteve na Sala de Emergência da Chevron-Texaco acompanhando os trabalhos para conter o vazamento.

O site Skytruth provou que o vazamento não era de “umas gotinhas” inofensivas mas provocava uma mancha imensa. Portanto, a Chevrou mentiu inicialmente sobre a dimensão do vazamento de petróleo. O Skytruth, vale lembrar, foi um dos primeiros a anunciar a dimensão do vazamento do Golfo do México em 2010.

Viomundo — Num dos artigos de 14 de novembro, você disse que a mesma plataforma Sedco 706 estava perfurando três poços simultaneamente no campo de Frade. Como assim, três poços ao mesmo tempo?

Fernando Brito – É que a Chevron-Texaco, para fazer economia, está fazendo perfurações “de batelada”. Isto é, cava uma seção de um poço, tampa, cava a seção inicial de outro, faz o mesmo e vai para um terceiro, para voltar, na mesma sequência, para cada fase posterior de perfuração. Isso está registrado no Estudo de Impacto Ambiental apresentado pela empresa e que o Ibama coloca na internet.

Não tenho condições técnicas de afirmar se isso agrega risco, porque o equipamento de perfuração é retirado e movido. O que eu posso dizer é que, nos mapas da ANP, não encontrei nenhuma outra petroleira que use este método. Também que até o momento a Chevron-Texaco não disse em qual dos três poços ocorreu o problema.

Viomundo – A Chevron-Texaco estava usando mesmo 17 embarcações para conter o vazamento?

Fernando Brito – Não, pelo que disse o delegado kkkkkkkkk Scliar, da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia Federal. Em entrevista publicada pelo G1 em 16 de novembro, o delegado Scliar afirmou:

“(…)técnicos da PF estiveram na plataforma nesta quinta-feira (15) e encontraram divergências sobre o que foi informado pela Chevron-Texaco sobre o vazamento. Entre elas estão a quantidade de navios que recolhem o óleo no local (a empresa afirmou que são 17 e a PF encontrou apenas um, de acordo com o delegado), o tempo para a selagem do poço e o tamanho da mancha de óleo. “Eles disseram que a mancha vem diminuindo e ela vem aumentando”.

Engraçado que ninguém perguntou à empresa quais eram os barcos. Se ela tivesse dito que eram 50, daria no mesmo.

Viomundo – No dia 15, o vazamento do poço da Chevron-Texaco virou caso de polícia, passando a ser investigado pela Polícia Federal. E a mídia, como passou a agir?

Fernando Brito — Com a entrada da Polícia Federal no assunto, o escândalo do vazamento de petróleo começou a aparecer. E, com ele, as dimensões da mancha de vergonha que cobriu a grande imprensa brasileira.

Aliás, cada vez mais acontecem coisas estranhas neste caso do vazamento de petróleo no poço da Chevron-Texaco, no Campo de Frade. No dia 16, o Jornal Nacional da Rede Globo publicou uma extensa matéria sobre o assunto.

Ouviu o delegado xxxxxxxxx Scliar, titular da Delegacia de Meio Ambiente da Polícia Federal, dizendo que investiga a possibilidade de que tenha havido erro na perfuração. Ouviu o geógrafo John Amos, da SkyTruth, que revelou – como havia antecipado três dias antes ao Tijolaço – que o vazamento podia ser dez vezes maior que o anunciado, e cobria uma área maior que o município do Rio de Janeiro.

Contava que a empresa responsável pela perfuração da Chevron-Texaco, a Transocean, era a mesma que perfurava o poço que causou o acidente no Golfo do México. A matéria terminava com um sobrevôo da área, em um avião da Chevron-Texaco, na companhia do diretor de meio-ambiente da empresa, que não quis gravar entrevista, mas disse ao repórter que a quantidade de óleo que vazava “era muito pequena”.

Estranhamente, porém, a matéria que foi colocada no site do Jornal Nacional foi cortada. Na verdade, decepada.Dos quatro minutos originais, ficaram dois. O delegado, o ambientalista, a foto de satélite com a mancha e a comparação com a área do Rio de Janeiro foram para o lixo.

Não dá para entender o que aconteceu. Não pode ser o tamanho do vídeo, porque a reportagem sobre o depoimento de Lupi [Carlos Lupi, ministro do Trabalho] teve quatro minutos e está lá, na íntegra.

Será que “alguém” se distraiu e só viu a matéria depois de ir ao ar? E aí, furioso, mandou cortar os hereges que ousaram colocar um delegado e um ambientalista dizendo que uma petroleira americana pode ter culpa no cartório por um grande desastre ambiental.

Por sorte, a gente estava gravando o JN com uma câmera manual, e postamos os dois vídeos. O “decepado” e o trecho que eliminado do original.

Edição cortada na internet

E o trecho que foi eliminado do original veiculado pelo JN na TV

Viomundo – Ontem, eu li no Tijolaço o que você observou um pouco antes, ou seja, que a Chevron-Texaco assumiu a responsabilidade pelo vazamento. O que aconteceu finalmente? Já se sabe que poço estava perfurando e a que profundidade?

Fernando Brito – Você leu no Tijolaço, porque a imprensa continuou derivando para assuntos laterais. Ontem, quis até reproduzir a imagem da home da Folha, para mostrar que essa notícia havia saído no “pé” da página. Era tão no pé, mas tão no pé que nem reduzindo a página ao mínimo e virando a tela do computador para poder caputrar uma extensão maior dava para reproduzir.

O senhor Charles Buck, presidente Chevron-Texaco no Brasil falou o que quis, sem ser perguntado de nada. Não explicou porque o imenso intervalo de cimentação. Não foi perguntado se os outros poços da Chevron-Texaco têm um intervalo tão grande de vedação. Não foi perguntado sobre se há outras perfurações da Chevron-Texaco na área, como registra a ANP.

Sobretudo, não foi perguntado sobre a razão, uma vez que houve o “kick” – que é uma elevação de pressão e a subida de óleo ou gás pela coluna de perfuração – no dia 7 de novembro, a empresa só tornou isso público na noite do dia 18. Aliás, no mesmo dia, a empresa soltou uma nota dizendo que “reitera que não houve vazamento na cabeça do poço”.

Claro, ali tem um sistema que impede vazamento do que vem pelo tubo. Do que vai por fora do tudo, é a cimentação que veda. A cimentação que ela sabia estar muito distante do ponto onde a cabeça da sonda perfurava. E isso tem uma básica razão: redução de prazos e custos da operação.

Mas, no meu entender, o erro mais grave, imperdoável, é o fato de que a Chevron-Texaco sabia a razão do vazamento – a narrativa do presidente da empresa mostra claramente isso –, desde o dia em que foram avistadas as manchas de óleo. Se é que não sabia antes, porque as manchas foram avistadas pelo pessoal da Petrobras e, aí, não dava mais para ter segredo.

Em outras palavras. Houve um erro técnico que deve ser avaliado pelos peritos. Mas há um crime indiscutível de omissão de informações – com a indulgência da nossa mídia – crime que é imperdoável, porque evidencia má-fé.

Viomundo – O que mais te marcou nessa cobertura?

Fernando Brito – A dupla ética de nossa imprensa. E o seu despreparo, que somado à marotice política, desvia o assunto. O tema agora é o “despreparo” do país para a exploração de petróleo no mar. Isso é uma mentira deslavada, que se prova com um só argumento: temos mais de 30 anos de exploração marinha e nunca houve um grande acidente, apesar de termos milhares de poços perfurados. O acidente da Petrobras na Baía da Guanabara foi num duto, não num poço. Grave, gravíssimo, porque se deu em águas abrigadas e junto do litoral. Mas vazamento em duto tem limite, o limite do que o duto contém, depois de fechadas as válvulas. No leito oceânico o limite, em tese, pode ser o da jazida de petróleo inteira.

Falam que não existe plano de emergência nacional, mas que plano pode funcionar se a empresa que está lá esconde o vazamento? Se os técnicos da Petrobras não tivessem visto o vazamento, quando íamos saber que existia? A Chevron-Texaco sabia do “kick” e que não havia revestimento de cimento na coluna senão bem na superfície. Sabia que tinha subido petróleo e ficou na moita, torcendo para ele não permear a camada superior do solo.

Mas eu concordo que não temos fiscalização, porque a ANP é valente com a Petrobras e ronrona quando se trata de outras petroleiras. Nem sempre por má-fé, mas também por saber que as multinacionais têm aqueles privilégios “Daniel Dantas”: nada de algemas, por favor.

Mas sabe qual é a maior fiscalização possível? É a imprensa. Você viu que, depois que ela entrou no assunto, mal ou bem, tudo se esclareceu. Um desastre destes custa milhões de indenização e muitos milhões mais em imagem. Aliás, tem de ficar claro que Chevron é Texaco.

Como cidadão, eu estou feliz que o vazamento tenha parado. Como profissional, tenho vergonha de termos ficado parados por tanto tempo.

E pior, cedendo à manipulação política e, agora, caminhando no sentido errado. Nós temos segurança, e boa, na perfuração de petróleo. Muito maior, aliás, do que a de países desenvolvidos, como provou o vazamento do Golfo. E temos porque a Petrobras investe muito, em lugar de colocar o lucro “uber alles”, acima de tudo. Mas a nossa elite obturada reclama, porque as outras petroleiras dão mais lucro e, portanto, são mais eficientes. Ninguém associa isso ao fato de a Chevron-Texaco economizar no cimento e ter por lá um robô cegueta, que não viu nada, ao ponto de a Petrobras ter emprestado os seus, para socorrê-la.

Mas está aí um bom mote para a nossa imprensa “defensora da segurança”. Que tal a empresa que for negligente como a Chevron-Texaco perder a concessão do campo? Taí uma boa campanha para a mídia, tão zelosa.

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Re: ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

#7 Mensagem por Carnage » 22 Nov 2011, 21:29

Compson escreveu:Um absurdo! Se vamos mesmo explorar o pré-sal, temos que criar mecanismos muito mais fortes de fiscalização!

Eis um tema bom para a oposição... Só que disso ninguém quer saber...
Tá, só que não dá pra oposião espicaçar o governo neste assunto, já que a oposição tem rabo preso com o principal prejudicado nessa história...
Aí eles ficam de mãos atadas!

http://oglobo.globo.com/economia/agenci ... es-3284796
Agência Nacional de Petróleo multa Chevron em R$ 100 milhões
Empresa pode ser proibida de explorar pré-sal
Ibama estuda multa adicional


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1312201002.htm
Petroleiras foram contra novas regras para pré-sal

Segundo telegrama do WikiLeaks, Serra prometeu alterar regras caso vencesse
Folha de S.Paulo - 13/12/2010

Assessor do tucano na campanha confirma que candidato era contrário à mudança do marco regulatório do petróleo


JULIANA ROCHA
DE BRASÍLIA
CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO


As petroleiras americanas não queriam a mudança no marco de exploração de petróleo no pré-sal que o governo aprovou no Congresso, e uma delas ouviu do então pré-candidato favorito à Presidência, José Serra (PSDB), a promessa de que a regra seria alterada caso ele vencesse.

É isso que mostra telegrama diplomático dos EUA, de dezembro de 2009, obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch). A organização teve acesso a milhares de despachos. A Folha e outras seis publicações têm acesso antecipado à divulgação no site do WikiLeaks.

"Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta", disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.

Um dos responsáveis pelo programa de governo de Serra, o economista Geraldo Biasoto confirmou que a proposta do PSDB previa a reedição do modelo passado.

"O modelo atual impõe muita responsabilidade e risco à Petrobras", disse Biasoto, responsável pela área de energia do programa. "Havia muito ceticismo quanto à possibilidade de o pré-sal ter exploração razoável com a mudança de marcos regulatórios que foi realizada."

Segundo Biasoto, essa era a opinião de Serra e foi exposta a empresas do setor em diferentes reuniões, sendo uma delas apenas com representantes de petroleiras estrangeiras. Ele diz que Serra não participou dessa reunião, ocorrida em julho deste ano. "Mas é possível que ele tenha participado de outras reuniões com o setor", disse.

SENSO DE URGÊNCIA

O despacho relata a frustração das petrolíferas com a falta de empenho da oposição em tentar derrubar a proposta do governo brasileiro.

O texto diz que Serra se opõe ao projeto, mas não tem "senso de urgência". Questionado sobre o que as petroleiras fariam nesse meio tempo, Serra respondeu, sempre segundo o relato: "Vocês vão e voltam".

A executiva da Chevron relatou a conversa ao representante de economia do consulado dos EUA no Rio.

A mudança que desagradou às petroleiras foi aprovada pelo governo na Câmara no começo deste mês.

Desde 1997, quando acabou o monopólio da Petrobras, a exploração de campos petrolíferos obedeceu a um modelo de concessão.

Nesse caso, a empresa vencedora da licitação ficava dona do petróleo a ser explorado -pagando royalties ao governo por isso.

Com a descoberta dos campos gigantes na camada do pré-sal, o governo mudou a proposta. Eles serão licitados por meio de partilha.

Assim, o vencedor terá de obrigatoriamente partilhar o petróleo encontrado com a União, e a Petrobras ganhou duas vantagens: será a operadora exclusiva dos campos e terá, no mínimo, 30% de participação nos consórcios com as outras empresas.

A Folha teve acesso a seis telegramas do consulado dos EUA no Rio sobre a descoberta da reserva de petróleo, obtidos pelo WikiLeaks.

Datados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2009, mostram a preocupação da diplomacia dos EUA com as novas regras. O crescente papel da Petrobras como "operadora-chefe" também é relatado com preocupação.

O consulado também avaliava, em 15 de abril de 2008, que as descobertas de petróleo e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderiam "turbinar" a candidatura de Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil.

O consulado cita que o Brasil se tornará um "player" importante no mercado de energia internacional.

Em outro telegrama, de 27 de agosto de 2009, a executiva da Chevron comenta que uma nova estatal deve ser criada para gerir a nova reserva porque "o PMDB precisa de uma companhia".

Texto de 30 de junho de 2008 diz que a reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA causou reação nacionalista. A frota é destinada a agir no Atlântico Sul, área de influência brasileira.
Aí fica difícil usar isso, né?? :lol:

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Re: ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

#8 Mensagem por Carnage » 09 Dez 2011, 22:13

http://www.tijolaco.com/carta-a-ombudsman-da-folha/
Carta à ombudsman da Folha

Prezada Suzana Singer,


Na sua primeira coluna como ombusdsman, este blog criticou a declaração – já não me recordo de quem – que, de alguma forma, ali encampava-se: a de que blogueiros seriam “trogloditas” políticos. Com o mesmo proceder, registramos o seu diagnóstico de que a mídia tradicional tomara um “olé” na blogosfera.

É possível que alguns sejam, como há trogloditas em qualquer atividade e em qualquer posição do espectro político. Nos blogs e também nos jornais, rádios e televisões.

Mas há algo que está acima disso, para jornalistas, dentro ou fora de blogs: os fatos.

E houve um fato. Grave, gravíssimo.

Com toda a razão, você critica o papel da grande imprensa em apenas reproduzir, durante muito tempo, as declarações da Chevron, ANP e Ibama – feitas, em geral, por meio de nota oficial – e não haver investigação jornalística.

Dias depois de sua coluna apontar isso, tudo continua igual.

Ontem, este blog publicou um documento – oficial e público – que descrevia o plano de perfuração da Chevron. Nele, indicava-se claramente a previsão de instalação de uma sapata de sustentação e vedação a uma profundidade entre 2050 e 2600 metros de profundidade. E que esta não fora construída e, claro, testada, como previa o plano.

Na audiência realizada pela Câmara dos Deputados, o deputado Brizola Neto os reproduziu e indagou ao representante da Chevron a razão de não existir uma estrutura que estava prevista e é essencial para que, em caso de elevação da pressão do poço por tocar numa formação de petróleo ou gás, não haja derrame de fluidos.

O representante da Chevron, diante de toda a imprensa, disse duas coisas inacreditáveis. A primeira, que a cimentação de sapatas se dá depois do poço ter atingido o seu alvo. Qualquer engenheiro de poços dirá que isso não existe. A segunda, que o plano não havia sido seguido por tratar-se de um “poço pioneiro” e não de um poço de produção ou injeção (feitos para injetar fluidos no reservatório e aumentar a recuperação da jazida pelos poços produtores).

Ora, o representante da ANP, logo a seguir, disse que o poço era o 12° dos doze que compõem o projeto autorizado pela Agência para a Chevron explorar o campo do Frade.

Pioneiro, o último?

Como fica evidente, não é preciso ser jornalista especializado em petróleo para que se acenda um alerta ao ouvir um dirigente de petroleira, em meio a um acidente grave, dizer que o último poço da série era o “pioneiro”. E, aliás, poços pioneiros, exatamente por desconhecer-se o terreno que ele irao cruzar, são feitos com mais cuidados, vagar e precauções. Aliás, por isso mesmo, custam muito mais caro.

Tudo isso ocorreu diante de vários jornalistas profissionais.

Exceto na blogosfera, nada disso foi publicado.

Creio, portanto, que – diante disso e de sua crítica interna e pública- a redação da Folha deveria se sentir obrigada a, ao menos, expor esta contradição e, ouvindo especialistas em petróleo, esclarecer se é ou não procedente o que foi noticiado.

Não se trabalha, aqui, em busca de “furo”. Não há razões profissionais ou comerciais para pretender ser melhor ou mais rápido que qualquer colega ou publicação. Nada foi obtido através de fontes privilegiadas, apenas por documentos públicos e publicados na internet. Não fomos além de nossos modestos chinelos.

Numa época em que toda a imprensa se debruça, como deve fazer, sobre os “malfeitos” públicos, é decepcionante ver como um poço malfeito – e é por serem mal-feitas, no projeto ou na execução, que obras de engenharia provocam desastres - não desperta nenhum interesse na grande mídia, que prefere derivar para temas consequentes: a poluição e o preparo do país para a exploração marinha de óleo.

Não pode, portanto, soar ofensivo ao jornalismo que se desenvolvam visões sobre a cumplicidade da mídia.

Outra vez, os fatos aparecem na blogosfera antes dos jornais, tal como aconteceu com a foto da mancha de petróleo. Um plano de perfuração pode não ser tão eloquente como uma foto de satélite, mas é ainda mais preciso e inquestionável.

Não pode ser normal que blogs – sem estrutura, sem pessoal e sem o poder de ligar para fontes e dizer que “é fulano, do jornal tal” – possam ter dado um “olé” na mídia tradicional e, mesmo depois de ela ter sido alertada, continuar a mesma situação.

E não se diga que se publicou sem responsabilidade, porque tudo o que se informou foi referenciado em informações comprovadas, que acabaram sendo citadas pela mídia: o Skytruth, o Wall St. Journal e, agora, o Estudo de Impacto Ambiental realizado a mando da Chevron.

Vou mostrar, no próximo post, como estamos sendo tratados como um bando de botocudos pela direção mundial da Chevron. E, em grande parte, o devemos isso à omissão de uma imprensa que depende de releases e de declarações espontâneas para dizer qualquer coisa.

Não investiga, não apura.

Nem mesmo quando os dados e documentos estão colocados publicamente, como o fizemos.

Se utilizarmos o mesmo critério de classificar como trogloditas aqueles que não se interessam pelos fatos e ficam aferrados a suas simpatias políticas – no caso, às petroleiras – não que tipo de adjetivo mereça o comportamento da mídia.

A menos que o sr. Ali Moshiri, boss da Chevron para a Botocúndia - como disse ao Valor e reproduzirei a seguir, tenha razão e seja um erro “fazer tanto barulho” por um vazamento “tão pequeno”.

Graças à nossa imprensa, sim, será sempre pequeno, qualquer que seja seu tamanho.

Foram 2.400 barris, ou 380 mil metros cúbicos, segundo a Chevron. Mas poderiam ser um, dois, cinco ou dez mil, de acordo com qualquer coisa que a petroleira diga, porque não temos ninguém, a não ser os blogueiros, para contraditar, exceto a blogosfera e um delegado de polícia.

A mídia dá às informações da Chevron algo que lembra a frase do contrabandista de um antigo comercial de TV:

- La garantía soy yo!

Um dos pioneiros – pioneiros de verdade – da luta pelo petróleo no Brasil, Monteiro Lobato, dizia que um país se faz com homens e livros. Não seria demais acrescentar: também com jornalistas e jornais.

PS. Como desde o primeiro momento, mesmo sob críticas de muitos comentaristas, sustentei e sustento o velho adágio gaúcho de que a luta não nos deve quitar a fidalguia, registro a atenção e a resposta rápida de Suzana Singer, agradecendo as informações e comunicando que estava repassando-as à redação. Ainda que possam, como já o fizeram, chamar de ingênuo, creio que é um bom princípio conservar o tratamento liso, sincero e franco. Em primeiro lugar, porque se trata de interesse público: há muita riqueza material e ambiental em jogo na questão de nosso petróleo marinho. Em segundo lugar, se criticamos a grande mídia por partidarismo não assumido (não há nada de errado no partidarismo assumido, no que não se traveste de neutralidade), não podemos agir de outra forma senão a apontar os seus erros e registrar quando, nela, alguém os reconhece. Por último, porque escolhi uma profissão, há mais de 30 anos, por considerá-la socialmente útil. E que, por ser assim, nos obriga a ir além de disputas políticas e defender, acima de tudo, a informação que permita à população formar os seus juízos e conceitos. O mais importante neste caso é que os brasileiros saibam porque ocorreu este acidente e possam responsabilizar aqueles que o causaram.

http://www.tijolaco.com/sr-moshiri-o-br ... u-quintal/
Sr. Moshiri: o Brasil não é seu quintal

O Sr. Ali Moshiri, vicepresidente para América Latina e África da Chevron, está de volta às páginas.

Hoje, numa entrevista ao Wall Street Journal, ele reclama da severidade (?) com que a Chevron está sendo tratada. Diz que a Polícia Federal atrapalhou o combate ao vazamento chamando executivos da empresa para depor. E que nunca viu “um vazamento tão pequeno gerar tamanha reação”.

Não gerou, senhor Moshiri, a não ser muitos dias depois de começar, quando finalmente a blogosfera fez a imprensa tradicional começar a revelar que o vazamento não era de umas gotinhas.

A sua empresa é quem tratou o Brasil com desrespeito.

Descumpriu o projeto de perfuração apresentado às autoridades brasileiras.

Mentiu desavergonhadamente, três dias depois do acidente, dizendo que a saída de petróleo pelo fundo do mar era “um fenômeno natural”

Sua empresa foi condenada judicialmente por um destes “pequenos” vazamentos, no Equador, por prejuízos humanos e ambientais, no valor de US$ 8 bilhões e luta para proibir a exibição do filme onde isso é narrado, que a gente reproduz aí em cima.

Os senhores já não podem mais controlar tudo, governos e imprensa.

Acabam de ser flagrados com depósitos de gás sulfídrico, um produto letal, em outra plataforma, com grave risco aos trabalhadores.

Os senhores não estão sendo honestos desde o princípio. Não estão cumprindo as regras a que se comprometeram.

O seu poço não vazou por “razões ideológicas”, vazou por razões técnicas, econômicas e pela arrogância que o senhor dá como exemplo ao tratar o Governo e as leis brasileiras, chamando de “exagero” o que é uma reação dentro da lei e das regras administrativas e comerciais que sua empresa aceitou e prometeu cumprir.

O senhor, além de irresponsável, arrogante e desrespeitoso é, com o devido respeito, um burro rematado. Não percebeu que seus chefes – o senhor é uma pecinha de terceira no comando da empresa – no board da Chevron entregam a sua cabeça com muito mais facilidade do que entregariam um cento de barris de óleo.

Aliás, encerrar as atividades de exploração da Chevron no Brasil pode vir a ser sua última tarefa no cargo.

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Re: ANP, Ibama e PF cobram explicação sobre vazamento, que pode ser 23 vezes maior

#9 Mensagem por Carnage » 07 Jan 2012, 01:37

http://www.tijolaco.com/nova-multa-come ... a-chevron/
Nova multa começa a revelar dolo da Chevron

O plano apresentado pela Chevron ao Ibama - certamente igual ao apresentado ao Ibama, na imagem previa uma sapata e vedação entre 2050 e 2600 metros, o que não foi cumprido.

Hoje, último dia do ano, a Agência Nacional de Petróleo anunciou nova multa - de valor ainda não divulgado – à petroleira americana Chevron pelo vazamento de petróleo no campo de Frade, ao largo da costa do Rio de Janeiro.

A multa, decidida ontem, deveu-se ao fato de que “técnicos da ANP identificaram não cumprimento das premissas do Plano de Desenvolvimento do campo de Frade, aprovado pela Agência, durante a perfuração do poço, dando origem à exsudação de hidrocarbonetos para o assoalho marinho”, segundo a lacônica nota divulgada hoje.

Embora a ANP continue devendo informações claras à sociedade – sobre o que não foi cumprido pela Chevron, possivelmente a não implantação da sapata e da vedaçãoprevistas para aquele estágio da perfuração, como a gente mostrou aqui – a informação oficial de que a empresa não cumpriu o plano de perfuração oficialmente aprovado já começa a demonstrar que a responsabilidade da petroleira vai além da culpa.

É dolo, porque é considerado dolo eventual aquele em que o agente, em seu comportamento e seus atos, assume o risco de produzir determinado resultado.

E o resultado, no caso, foi uma imensa mancha de óleo.

E, para dolo, o castigo não pode ser meramente administrativo, pela multa.

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