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[Costumamos frequentar uma praia perto de casa. É uma praia pequena e nunca fica cheia. Tem um quiosque com ótimos frutos do mar e que não tem som ambiente. Perfeita.
Na praia, há um pequeno condomínio de quatro casas, que o dono aluga para fins de semana e feriados. Dia desses, um grupo de cinco ou seis famílias alugou todas as casas.
Eram famílias jovens. Os pais deviam ter por volta de 30 anos. Todas as famílias trouxeram os filhos. Além das crianças, trouxeram também um batalhão de babás. Contamos oito.
A cena chegava a ser cômica: de um lado, os pais tomando cerveja na praia. A alguns metros, os filhos brincando com as babás, todas vestidas de branco. De vez em quando, um pai se dignava a ir lá, pegar o filhão e tirar uma foto, para logo depois voltar ao papo com os amigos.
Dali a pouco, chega um barco, que eles haviam alugado para um passeio. Todas as crianças foram levadas até uma pequena piscina dentro do condomínio. Ouvi uma mãe comentando com outra: “Se o Fefê vê a gente saindo, abre o berreiro!” Os pais saíram para o passeio de barco, deixando as crianças numa piscina minúscula, atendidas por oito babás.
Essas coisas nunca deixam de me surpreender. Será que os filhos não gostariam de passear de barco? Visitar ilhas? Mergulhar? Um pai não acha divertido fazer isso acompanhado dos filhos?
Também entendo que babás sejam necessárias, especialmente para casais que trabalham fora. Não é só herança cultural e social brasileira, mas resultado também de nossa legislação.
Dia desses, um casal de amigos alemães contou que cada um teve um ano de licença remunerada do emprego quando nasceu o filho. Além disso, a escola da criança era em período integral e os horários casavam com os horários de trabalho deles. Ou seja: eles podiam levar e buscar a criança na escola. No Brasil, o pai tem uma semana de licença-paternidade e a mãe tem de quatro a seis meses.
Independentemente das leis, acho impressionante como as pessoas usam babás como “muletas”. Parece que não conseguem viver sem elas. Tudo bem usar os serviços de profissionais durante a semana, mas num sábado de sol? Na praia?
Quantas vezes não fomos tomar café numa padaria, num domingo de manhã, e vimos mães jovens falando ao celular enquanto a babá passa manteiga no pãozinho da criança? Ou babás levando crianças ao teatro enquanto o pai compra um tênis novo no shopping? Dá para imaginar que tipo de cidadão está nascendo desse distanciamento?