A Casa das Belas Adormecidas – Yasunari Kawabata
Yasunari Kawabata é um dos escritores japoneses contemporâneos de maior sucesso no mundo. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1968 e quatro anos depois cometeu suicídio. A solidão, a angústia da morte e a atração pela psicologia feminina foram seus temas constantes. E uma das obras em que ele mais explora o erotismo feminino é A Casa das Belas Adormecidas.
Eguchi é um senhor de 67 anos que visita um hotel no qual moças são dopadas e pagas para passar a noite com velhos que “deixaram de ser homens”, nas palavras do prórpio personagem. Todas as meninas eram virgens, e a condição da casa é que nenhuma delas poderia ser corrompida pelos visitantes. Elas dormiam nuas e profundamente no quarto enquanto os senhores gozavam do prazer de estar ao lado delas.
Ao todo Eguchi tem contato com seis “belas adormecidas”, cada qual deixando uma marca diferente no velho. Ao longo do romance o personagem passeia por suas lembranças, além de encontrar-se com a alma feminina, com todas as mulheres de sua vida.
Ao ler A Casa das Belas Adormecidas, o leitor terá a impressão de estar diante de uma pintura da qual extrairará alguma interpretação, mas nunca uma resposta exata. A conclusão, ao contrário do que estavamos acostumados na cultura ocidental, é muito mais subjetiva do que certeira, digamos assim.
Acredito que exista uma beleza latente e incômoda nos textos do Kawabata, como se estivéssemos diante de um irrealizável constante. Como se fadados ao nada. E é exatamente por isso que vale muito a pena ler.
García Márquez: o solitário olhar de saudosismo e adeus
"Memória de Minhas Putas Tristes", na verdade, melhor seria enquadrado como uma novela do que como um romance propriamente dito. O enredo é simples, e a habilidade narrativa de García Márquez salta aos olhos a cada capítulo. O livro conta da passagem de noventa anos de um jornalista solitário e melancólico, cujo desejo maior em tão importante ocasião foi se dar de presente uma noite com uma prostituta virgem.
A partir da realização do desejo (ou sua não-realização, dependendo do ponto de vista), García Márquez traça belas linhas de reflexão sobre a velhice e sobre a solidão, e volta a um de seus temas preferidos, aquele velho tema dos amores frustrados.
Numa primeira análise, a obra traz vários pontos de contato com uma das obras-primas do colombiano, o clássico romance "Amor nos Tempos do Cólera", uma verdadeira ode às relações amorosas. Impossível não compará-las. O velho ancião de Memória tem algo, de fato, de um Florentino Ariza já mais calejado, e bem menos romântico.
Provavelmente bem mais próximo do verdadeiro eu do autor. Ambos os livros tratam com delicadeza do tema do amor na velhice, mas aí acabam as semelhanças. García Márquez mostra agora um texto bem mais cético, amargurado, que vê a relação idoso/ninfeta sem traços moralistas (o que teria sido bem fácil, nos tempos atuais) e com ares nostálgicos. Como um lamento pela perda da inocência, pela fábula infantil incompleta. Não da menina, diga-se, mas do próprio narrador.
O talento de García Márquez continua inquestionável. E é sempre um prazer ler o gênio latino-americano da literatura fantástica, ou realista, em busca de algo maior que o simples estalar de dedos; afetuoso como só ele sabe ser em meio ao solitário olhar do personagem, que reconhece a iminência da morte.
Yasunari Kawabata é um dos escritores japoneses contemporâneos de maior sucesso no mundo. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1968 e quatro anos depois cometeu suicídio. A solidão, a angústia da morte e a atração pela psicologia feminina foram seus temas constantes. E uma das obras em que ele mais explora o erotismo feminino é A Casa das Belas Adormecidas.
Eguchi é um senhor de 67 anos que visita um hotel no qual moças são dopadas e pagas para passar a noite com velhos que “deixaram de ser homens”, nas palavras do prórpio personagem. Todas as meninas eram virgens, e a condição da casa é que nenhuma delas poderia ser corrompida pelos visitantes. Elas dormiam nuas e profundamente no quarto enquanto os senhores gozavam do prazer de estar ao lado delas.
Ao todo Eguchi tem contato com seis “belas adormecidas”, cada qual deixando uma marca diferente no velho. Ao longo do romance o personagem passeia por suas lembranças, além de encontrar-se com a alma feminina, com todas as mulheres de sua vida.
Ao ler A Casa das Belas Adormecidas, o leitor terá a impressão de estar diante de uma pintura da qual extrairará alguma interpretação, mas nunca uma resposta exata. A conclusão, ao contrário do que estavamos acostumados na cultura ocidental, é muito mais subjetiva do que certeira, digamos assim.
Acredito que exista uma beleza latente e incômoda nos textos do Kawabata, como se estivéssemos diante de um irrealizável constante. Como se fadados ao nada. E é exatamente por isso que vale muito a pena ler.
García Márquez: o solitário olhar de saudosismo e adeus
"Memória de Minhas Putas Tristes", na verdade, melhor seria enquadrado como uma novela do que como um romance propriamente dito. O enredo é simples, e a habilidade narrativa de García Márquez salta aos olhos a cada capítulo. O livro conta da passagem de noventa anos de um jornalista solitário e melancólico, cujo desejo maior em tão importante ocasião foi se dar de presente uma noite com uma prostituta virgem.
A partir da realização do desejo (ou sua não-realização, dependendo do ponto de vista), García Márquez traça belas linhas de reflexão sobre a velhice e sobre a solidão, e volta a um de seus temas preferidos, aquele velho tema dos amores frustrados.
Numa primeira análise, a obra traz vários pontos de contato com uma das obras-primas do colombiano, o clássico romance "Amor nos Tempos do Cólera", uma verdadeira ode às relações amorosas. Impossível não compará-las. O velho ancião de Memória tem algo, de fato, de um Florentino Ariza já mais calejado, e bem menos romântico.
Provavelmente bem mais próximo do verdadeiro eu do autor. Ambos os livros tratam com delicadeza do tema do amor na velhice, mas aí acabam as semelhanças. García Márquez mostra agora um texto bem mais cético, amargurado, que vê a relação idoso/ninfeta sem traços moralistas (o que teria sido bem fácil, nos tempos atuais) e com ares nostálgicos. Como um lamento pela perda da inocência, pela fábula infantil incompleta. Não da menina, diga-se, mas do próprio narrador.
O talento de García Márquez continua inquestionável. E é sempre um prazer ler o gênio latino-americano da literatura fantástica, ou realista, em busca de algo maior que o simples estalar de dedos; afetuoso como só ele sabe ser em meio ao solitário olhar do personagem, que reconhece a iminência da morte.