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...CONVERSA FIADA...

#1 Mensagem por Primo preto » 26 Jan 2006, 08:21

...CARÍSSIMOS...

...EXTRAÍDO DE UM ENSAIO QUE ACABEI DE LER...NÃO É DE MINHA AUTORIA...MAS É MUITO INTERESSANTE...

...BOA LEITURA...


Conversa fiada

Um encontro na antecâmara do inferno entre Karl Marx, John M. Keynes e Roberto Campos.


Primeiro Ato: Cena 1. Na antecâmara do inferno encontram-se Karl Marx, John M. Keynes e Roberto Campos. (Curiosamente, os três conversam em português).

Marx: Onde eu estou? Quem são os cavalheiros?

Roberto Campos: Se o cavalheiro for quem eu estou pensando ser... nós devemos estar no inferno.

Keynes: Isto parece mais uma sala de espera ou uma espécie de antecâmara. E eu creio que o cavalheiro seja Karl Marx, autor de “Das Kapital”, estou certo?

Marx: Certíssimo, sou Karl Marx autor de “Das Kapital” e pai da revolução comunista.

Roberto Campos: Eu sempre tive curiosidade de perguntar quem foi a digníssima senhora, mãe de tal revolução. Porém, ocuparei melhor meu tempo cumprimentando o outro cavalheiro, John Maynard Keynes, de quem por muitos anos fui discípulo mas que, com o passar do tempo, nossas ideologias se divergiram abruptamente.

Keynes: Cavalheiros divergem em ideologias mas convergem em propósito.

Roberto Campos: (fitando Karl Marx): Quisera eu que assim sempre fosse.

Marx: Esperem um momento, ambos estão a falar como se me conhecessem, mas não os conheço.

Keynes: Eu nasci no trágico ano que o cavalheiro pereceu.

Roberto Campos: Um data cômica, pois foi muito longa para que o cavalheiro empestiasse o mundo com suas idéias mal elaboradas e suas previsões bizarras. Todavia, foi muito curta para que pudesses enxergar as falhas tremendas de suas idéias e conceitos.

Marx: Estás a dizer que a revolução finalmente ocorreu no mundo e que o proletariado é por fim a classe dominante? Se assim for, esquecerei a tragédia deste ano nefasto. Só tenho a dizer que empestiado estava o mundo de parasitas exploradores que se nutriam na trágica configuração do sistema capitalista.

Roberto Campos: Na verdade obtivemos uma boa parcela de evolução, este conceito que o senhor nunca conseguiu entender baseado numa suposta dialética hegeliana da História. A economia de mercado proporcionou ao trabalhador uma melhoria exponencial de vida e uma maior qualidade no trabalho. Obtivemos maior produtividade, maior produção, menores custos e maiores salários. Os trabalhadores também obtiveram inúmeros benefícios (alguns até um pouco exagerados). Hoje o capitalismo é o único sistema mundial de condução da riqueza e os países que ainda são pobres, o são por não se enquadrarem numa configuração capitalista.

Keynes: Permita-me concordar em gênero mas discordar em grau. O sistema de mercado é eficiente apenas através da intervenção governamental. O senhor está elogiando o instrumento mas esquecendo de elogiar aquele que o toca magistralmente: a economia guiada pelo Estado. O Estado é o farol da economia. Ele a torna social, ele corrige suas contradições, algumas até mesmo apontadas pelo digníssimo cavalheiro aqui presente, Karl Marx.

Marx: O Estado controlando a economia? O Estado é superficial! Com a revolução do proletariado o sistema atual do Estado – que apenas favorece a exploração das classes – se dissolve automaticamente.

Keynes: Desta vez eu concordo em grau, mas discordo em gênero. No sistema utópico do comunismo – que passa necessariamente pela social-democracia guiada pelo Estado – o Estado pode vir a ser um órgão de limitada função. Mas na economia de mercado – que é o modelo econômico que se tornará universal nos próximos trinta ou quarenta anos – o Governo funciona como órgão regulador e, ao mesmo tempo, como catalisador de investimentos que favoreçam o desenvolvimento privado.

Roberto Campos: Acho que nós estamos passando por um fundamental problema de comunicação aqui. A economia de mercado já é universal; não há nenhum outro modelo. Os países do antigo bloco socialista estão mais do que ávidos para se integrarem nessa economia.

Marx: Esperem um momento cavalheiros: em que época estamos? Que época pode ser essa que o capitalismo é o sistema universal, que o Estado guia a economia capitalista? Que espécie de Sodoma é essa? Que segundo o que o cavalheiro fala, o proletariado se aburguesou? Eu vejo a religião como o ópio das massas mas creio que isto se parece com o apocalipse da bíblia cristã.

Roberto Campos: Creio que ficamos perdidos na História. Estamos tomando o ano de nossas mortes como se fosse o presente. Eu vim a falecer em 2001 e posso assegurar que vi a teoria dos dois cavalheiros caírem por terra diante da maciça lógica dos mercados.

Marx: Não!!! Isto é improvável! A lógica capitalista é a lógica da autodestruição, é mais um subproduto da eterna luta de classes no que se constrói a História. As grandes indústrias com mais de cem funcionários são aberrações da célula social e geradores endêmicos de pobreza.

Roberto Campos: As grandes corporações multinacionais atualmente possuem milhares de funcionários espalhados por todos os cantos do mundo. Eles desenvolvem produtos com insumos naturais de uma região, com tecnologia de outra, com funcionários de outra, para outros mercados. Agora me diga o cavalheiro: como acontecerá a revolução do proletariado em tais circunstâncias?

Keynes: Se as multinacionais já atingiram tal complexidade, o que era previsível à triste época de minha morte, creio que temos que pensar em mecanismos reguladores de nível internacional.

Roberto Campos: Este realmente é um grande desafio mas não creio que seja necessário regular multinacionais. Na verdade, o que o cavalheiro não percebe é que o Governo não regula nada, nem a si próprio; a tentação da burocracia e do dirigismo é muito forte para o Estado. O que temos que fazer é promover a expansão do liberalismo, integrando os países aquém do sistema baseado em sua vantagem comparativa.

Marx: Esperem um momento cavalheiros: se a economia está mundialmente interligada, como está sendo afirmado, ainda assim, deve haver uma diferença fundamental entre os países industrializados, à minha época Alemanha e Reino Unido e aqueles que fornecem insumos. Na verdade, creio eu que a nova face severa do capitalismo, muito mais corruptiva e contraditória, deve caracterizar-se por um centro mundial produtivo e uma periferia geradora de insumos. Se essa tal vantagem comparativa que o cavalheiro se refere baseia-se na “vocação produtiva das nações”, o conflito de classes se expande em nível internacional, projetando as mesmas falhas dos antigos sistemas como o feudalismo e do capitalismo industrial?!

Keynes: O cavalheiro possui um ponto interessante. Sempre focalizei duas falhas fundamentais do princípio da vantagem comparativa. A primeira, no tocante aos termos de comércio. Insumos básicos possuem demanda inelástica em longo prazo e menor valor agregado; países que se especializam em tais fatores tenderiam ao empobrecimento se relegados à margem de uma planejamento governamental de longo prazo. Ao mesmo tempo, eu acreditava (ou pelo menos possuía alguns insights) que com a especialização do sistema produtivo, os países ricos não apresentariam diferenças fundamentais no tocante ao sistema produtivo. Assim, o liberalismo econômico, se não planejado adequadamente, poderia gerar uma crise no futuro muito similar à crise de 1930.

Roberto Campos: Ai está, com todo respeito, o grande erro. O senhor parece basear-se na premissa Smithiana (à época extremamente oportuna) de que o mercado, numa economia liberal, atingiria um grau de amadurecimento e conseqüente estabilização. Essa percepção desconsidera a descontinuidade tecnológica que transforma os produtos de valor agregado de hoje, nas commodities de amanhã. Quanto à posição marxista, tenho que admitir, sempre me surpreendi com a capacidade do cavalheiro em fazer previsões “meio certas”. As suas colocações, não coincidentemente, são as colocações dos neo-marxistas e dos estruturalistas. Por muito tempo meu país baseou-se nessas visões e as conseqüências foram sempre desastrosas, pois elas preconizam o hermetismo e a auto-suficiência em uma economia aberta e interdependente.

(Repentinamente, um estrondo ensudercedor ecoa pela sala. Ante a perplexidade dos cavalheiros, a porta central se abre e Woody Allen entra no recinto).

Woody Allen: Desculpem pela demora; o trânsito estava infernal!

Karl Marx: E quem é o senhor? Um outro herege do capitalismo? Pelo menos vejo que tens a chave desta porta; até o momento me achava aqui preso com esses dois lunáticos discutindo as virtudes do impossível e as vantagens do improvável.

Keynes: Como diziam os seus biógrafos, o cavalheiro nunca foi reconhecido pela delicadeza ou tato. De todo modo, também me sentia preso aqui, se bem que considero a companhia do outro cavalheiro aqui presente bastante enriquecedora do ponto de vista técnico, ainda que ideologicamente, pelo visto, permaneceremos distantes.

Woody Allen: Meu nome é Woody Allen. Eu fui escolhido para ser o mediador do debate entre os cavalheiros. Pelo visto cheguei tarde e o debate já está em seu ápice.

Roberto Campos: O senhor é aquele comediante americano? Quando foi que morreu?

Woody Allen: Eu não estou morto. Na verdade fui escolhido mediador e trazido para cá porque o autor gosta de minhas peças. Creio que Jean Paul-Sartre deveria ser o mediador mas ele está muito ocupado num congresso sobre “O existencialismo no plano sexual etéreo”.

Roberto Campos: Sartre? Então realmente estamos entre a obsolescência econômica e o mal gosto filosófico!

Woody Allen: A escolha de Sartre não tem nada a ver com filosofia. É porque estamos na antecâmara do inferno, baseado em sua obra Huis Clos, que de acordo com o autor dessa peça é uma das mais brilhantes que ele já leu. Ainda segundo o autor, Sartre é um grande novelista escondido num filósofo medíocre.

Marx: Não acredito no inferno; isto é apenas uma invenção burguesa para manter o status quo da classe dominante mas a revolução é o reflexo da inevitável marcha da História.

Roberto Campos: De minha parte acredito muito no inferno. Fui ex-seminarista e pensei que, devido à minha juventude devota, eu teria acumulado um certo crédito em termos de pecado. Maldita hora que eu votei em Paulo Maluf!

Keynes: Também não acredito no inferno e, se é para escolher uma peça, por que não Oscar Wilde?

Woody Allen: Os cavalheiros terão que se contentar com Huis Clois como pano de fundo e comigo como mediador. Assim como o governo, não é o ideal mas é o possível. E no final de tudo, fiquem calmos, pois cada um dos senhores voltará para o seu respectivo lugar.

Keynes: E qual seria o nosso respectivo lugar?

Woody Allen: A História, onde mais?

Marx: Estamos mortos e tudo me leva a crer que a História é um desconfortável cemitério de idéias.

Roberto Campos: Sendo assim, os idealistas não passam de ladrões de túmulo. Agora me vem à mente: por quantas vezes nossos túmulos não foram violados por uma maioria insana, enquanto uma minoria racional se ocupava em plantar sementes?

Keynes: Estranhamente, todos plantamos algo. Mas nossas sementes foram ou estão sendo esquecidas enquanto alguns buscam expor nossos corpos. O fato de a idéia ser maior do que o homem o torna um animal volátil e perigoso.

Roberto Campos: Perdoe-me cavalheiro, mas não acredito que as idéias sejam maiores que os homens ou, para tanto, mais importantes. Sempre me guiei na crença de que o homem, o indivíduo, é maior do que qualquer idéia ou qualquer entidade coletiva; preservar o indivíduo é preservar a própria humanidade.

Woody Allen: O debate parece interessante, cavalheiros, mas estamos aqui para discutir economia; filosofia ficará para o próximo ato.

Karl Marx: De nada vale discutir, economia ou filosofia, se do âmago você conseguir notar alguma real diferença. Não creio que seremos entendidos de forma alguma. Prever o futuro é um exercício de ignorância tanto maior quanto mais precisa for a previsão. Maldição! Aqueles que buscam mudar a História, jamais a compreenderão...

Woody Allen: O senhor está apenas triste porque a revolução comunista não ocorreu. Mas não fique assim! O senhor escreveu uma das mais lidas obras do século XX, em quatro volumes que...

Karl Marx: Quatro volumes?! Eu publiquei apenas um em vida e não deixei nada mais coerente escrito! Oh, não... maldito Engels!

Roberto Campos: Cavalheiros, não nos desgastemos mais. Tenho um “convite triste” para fazer-lhes baseado na obra de um dos maiores poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade: “Meus amigos, vamos sofrer/ vamos beber, vamos ler jornal/ vamos dizer que a vida é ruim/ meu amigo vamos sofrer. Vamos fazer um poema/ ou qualquer outra besteira.../ vamos beber uísque, vamos...”

Keynes: Belíssimo e digno de fazer inveja a Shakespeare. Aceito o convite de bom grado; vamos falar de tudo, menos economia, a não ser que o cavalheiro tenha alguma boa opinião a respeito do mercado de capitais do ano 2000.

Marx: Já que estamos na antecâmara do inferno, deve haver algum lugar por aqui em que possamos nos inebriar não apenas com idéias mas, quem sabe, até com algumas mulheres...

Woody Allen: Esperem um momento: e quanto ao debate?

Roberto Campos: Por que você não se apressa um pouco e tenta pegar o congresso sobre Existencialismo e sexo? Se o ser humano for tão previsível como eu penso que é, Freud e Jung vão começar a trocar tapas a qualquer momento. Ainda assim, acredito num futuro melhor, mesmo que distante, pois como dizia o grande filósofo francês Raymond Aron: “Perdemos o gosto das profecias, mas não esqueçamos o valor da esperança”.

Fim do Primeiro Ato.

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conversa (?) fiada

#2 Mensagem por General » 26 Jan 2006, 09:09

Muito interessante Primo. Remete à reflexão...
A propósito qual é a fonte, já que não é de sua autoria?
Ou vc é da vertente que quem revela a fonte é água mineral?
:lol:

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