O que esperar para a sucessão do nosso querido "sapo barbudo"?

Começo posto um texto bastante interessante, que pode suscitar comentários também interessantes.
Foi postado no blog do Azenha. Originalmente é do site do Eduardo Guimarães, mas esta versão possuí um comentário introdutório do Azenha.
Concordam com eles?
AÇÃO POLÍTICA DE LULA CONTRIBUI PARA A DESMOBILIZAÇÃO
Atualizado em 09 de novembro de 2008 às 11:15 | Publicado em 08 de novembro de 2008 às 19:50
Eu pretendia escrever a respeito, mas acabei atropelado pelo Eduardo Guimarães. Que resumiu melhor do que eu resumiria. Antes de passar a bola ao Eduardo, no entanto, me permito fazer uma análise que é típica do Partido dos Trabalhadores e sua "correlação de forças".
Dizem alguns comentaristas deste site que o presidente Lula é prisioneiro do sistema político brasileiro, da necessidade de alianças para a governabilidade, do atraso institucional do Brasil. Portanto, tem as mãos amarradas. Para persistir no poder precisa ir levando. Como democrata deve exibir "paciência". Precisa preservar os avanços obtidos. É o melhor que pode fazer.
Acho até que isso seria aceitável, mas não depois de seis anos de governo. Depois de seis anos de governo, com alta taxa de popularidade, um presidente da República tem as mãos quase livres para agir. Não, não estou advogando medidas autoritárias. Até porque, numa sociedade complexa como a brasileira, elas não levam a lugar algum. Com o alto grau de concentração econômica existente no país e com um Congresso poderoso um presidente pode muito menos, de fato, do que parece.
Em sociedades da informação, no entanto, o presidente dispõe do poder de púlpito. Através de discursos, de entrevistas, de comícios o presidente dispõe de um poder de mobilização. Ainda que sob intenso boicote da mídia corporativa, um presidente da República pode e deve participar da vida política nacional. Esse é o papel e a função dele, não apenas o de uma peça decorativa.
Lula é esperto. Espertíssimo. Um sobrevivente. Que colocou o seu gênio político a serviço de uma causa. Provocou avanços históricos em um país abençoado com uma das elites mais retrógradas do universo. Afrikaner, na definição de um internauta. Uma definição perfeita. Desde o "trauma" do escândalo do mensalão, no entanto, o presidente da República joga na retranca. Não fez um movimento sequer no sentido da mobilização política necessária a transformar um país como o Brasil. Nada.
O comportamento de Lula no caso do banqueiro Daniel Dantas é apenas sintoma de uma opção política. Pouco me importa o destino do banqueiro. O que importa é o que o comportamento do presidente da República significa para o Brasil. Lula optou pela acomodação a qualquer custo. Em minha modesta opinião, decidiu disputar com José Serra não a preferência do eleitorado, mas do empresariado. Lula virou as costas para as ruas e se entregou aos conchavos de bastidores.
Com isso, repito, na minha modesta opinião o presidente da República esgotou o seu papel na política brasileira. Já deu o que tinha que dar. Não é de hoje, nem é por causa do episódio do banqueiro. Houve muitos outros, ao longo dos últimos meses. Existe um conchavão nacional em andamento, do qual a candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte é sintomática. Um conchavão entre PSDB e PT.
"Lula, tudo bem; mas o PT", dizia a campanha de Gilberto Kassab em São Paulo. É sintomático. O presidente da República dá as costas ao próprio partido que o elegeu. Não quero crer que seja por algum problema de personalidade, nem de maldade. Acho que é uma questão de sobrevivência. Lula quer sobreviver intacto para 2014. E pelo jeito ele concluiu que essa sobrevivência passa pelo abandono da luta política. Ao não contribuir para a mobilização política dos brasileiros, nem mesmo no plano superficial, o presidente da República contribui para a desmobilização.
Até o Obama, que é o supra-sumo do vaselina, produto político da máquina partidária dos democratas de Chicago, a cidade dos acertos de bastidores, indicou para chefe de gabinete um deputado que é um trator e ganhou o apelido de "Rahmbo". Ou seja, vai tratorar os republicanos. Obama não é um revolucionário. Mas tem coragem política. E coragem política faz a diferença entre o estadista e mais um presidente. Lula vai para a galeria ao lado de FHC. Literalmente.
Vamos agora ao que escreveu o Eduardo Guimarães:
Há uma diferença importantíssima entre governos como o de Lula e os de seus pares sul-americanos que também vêm promovendo avanços sociais e econômicos em seus países: o nível de avanços logrados, que deriva da ambição e das condições políticas e institucionais de cada país.
Lula diminuiu a pobreza, a desigualdade e pôs a economia nos eixos, mas tudo isso pode evaporar se ele for substituído por um representante da elite branca de direita em 2011.
Para que a desigualdade e a pobreza continuem diminuindo – e precisam continuar diminuindo, porque a redução que houve está longe de ter posto as coisas no seu devido lugar, tendo sido apenas um começo – e para que a economia se mantenha sólida, o país precisa continuar sendo bem governado por pelo menos mais uma década.
A candidatura Serra é um projeto de interrupção da distribuição de renda e de devolução do controle do Estado à exígua elite branca brasileira, insuficiente para lotar um pequeno estádio de futebol. E quando um projeto de país atende a grupo social tão pequeno, o desarranjo sócio-econômico é mera questão de tempo.
Quando um governo trabalha para beneficiar tão poucos, a economia, inclusive, é a primeira vítima. Em seguida, a carestia social trata de aumentar os conflitos entre a larguíssima base da pirâmide e seu topo estreito, com reflexos imediatos na segurança pública.
Isso é o que a elite branca de direita brasileira não entende. Seu projeto de interrupção da distribuição de renda e de volta do saque aos cofres públicos ignora que aquilo que chama de criminalidade é apenas um processo insurrecional da ralé contra a burguesia como tantos outros que a humanidade já viu em todas as partes do mundo durante o curso da história.
Os avanços brasileiros são frágeis porque são tímidos. Comparem-nos com os avanços que conseguiram um Hugo Chávez, um Rafael Correa ou um Evo Morales. E, para comparar, vou lhes descrever o que eles conseguiram, o que poderei fazer porque, por conta de minha profissão, preciso visitar periodicamente os países que esses líderes políticos governam.
Em países como Venezuela, Equador ou Bolívia, apesar dos conflitos que a maior vontade política de seus presidentes gerou, os avanços obtidos são milhões de vezes mais efetivos do que os nossos, com as novas constituições e com os processos de politização da massa empobrecida que essa vontade política implementou.
Alguns de vocês sabem que visitei favelas e outras partes paupérrimas desses países que mencionei. Posso lhes dizer uma diferença monumental entre os pobres brasileiros e os venezuelanos, equatorianos ou bolivianos: a consciência política, a compreensão dos direitos e do poder de promover melhoras sociais e econômicas que tem a política.
O projeto mais ousado de todos, sem dúvida, é o de Hugo Chávez. Ele tratou de incutir consciência política no povo. Fez isso enfrentando as elites internas e seu financiador externo, o governo fascista de George Bush.
Vocês querem saber como o presidente venezuelano fez tudo isso? É simples: junto com programas sociais caríssimos, financiados com os recursos enormes do petróleo daquele país que antes eram doados a uma pequena elite étnica, social e econômica, Chávez estabeleceu núcleos de politização em todas as favelas, em todos os guetos em que vive a maioria empobrecida do povo venezuelano.
Para tanto, o líder político atacou primeiro – e com decisão – um impedimento fortíssimo à conscientização política de seu povo: o analfabetismo. Em poucos anos, assim, a Venezuela conseguiu acabar com essa chaga social – e a ONU confirmou isso.
Hoje, o povo venezuelano é um dos mais politizados do mundo. Qualquer cidadão daquele país, por mais humilde e pouco instruído (formalmente) que seja, entende muito de política e tem noções até de economia. Todos os venezuelanos, do mais rico ao mais pobre, conhecem seus direitos hoje em dia.
Governando há bem menos tempo do que Chávez, os presidentes Morales e Correa estão seguindo os passos do homólogo venezuelano. Dessa maneira, também estão promovendo mudanças profundas em seus países ao aumentarem exponencialmente a cultura política dos povos que governam.
Todos os três líderes, no entanto, tiveram a coragem questionável de se valerem de um certo autoritarismo, de um tipo de voluntarismo e com uma coragem que assustou as elites de países vizinhos como o nosso e até povos de países mais distantes, como os Estados Unidos. E não se pode negar o perigo que representa um líder político usar autoritarismo, por melhores que sejam suas intenções
Chávez, Morales e Correa mostraram, no entanto, que não basta vontade de mudar; é preciso coragem.
Contudo – e já me cansei de dizer isso aqui –, esses países têm uma diferença enorme em relação ao nosso: suas forças armadas.
No Brasil, à diferença de Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai e Venezuela, os militares continuam aliados à elite branca de direita e vivem fazendo ameaças a Lula. Nos outros países mencionados, mudaram de lado, ou seja, foram para o lado da democracia. Apóiam governos eleitos legitimamente, como é obrigação das forças armadas nas democracias.
Não culpo Lula completamente, portanto. A democracia brasileira ainda é uma concessão das elites. Não tenho a menor dúvida – e sei que esse meu ponto de vista é polêmico – de que os militares derrubariam Lula se ele enveredasse pela radicalização da democracia, contrariando interesses poderosos com maior decisão. Chávez, Morales e Correa não têm essa barreira.
Os militares e o Judiciário constituem os últimos bastiões da elite branca de direita ou continuam sendo o poderoso bastião de sempre?
Vejam vocês que a elite branca de direita, que usou ontem e continua usando hoje políticos como José Serra e a mídia corporativa, é a mais poderosa das três Américas e uma das mais poderosas do mundo. Para enfrentá-la não basta vontade. Como já disse, é preciso coragem, uma coragem que falta a Lula e ao PT, e estes são só o que tem a massa empobrecida e negra do Brasil.
Querem que eu fale de Gilmar Mendes? Para que? A questão não é ele, mas os que estão por trás dele. Se ele morresse hoje, outro tomaria seu lugar. A questão toda são os militares, para garantirem a vontade da maioria. Enquanto continuarem golpistas, elitistas e direitistas, este país só conseguirá melhoras frágeis como as que Lula conseguiu.
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