O flat da guria , uma tal de Brida Macallister, ficava nas proximidades do trampo. Chegou pontualmente, as 13 horas, mentalizando o tempo do programa, aproximadamente 90 minutos, ou seja, a pelada acabaria lá pelas duas e meia. Levaria mais uns vinte minutos para comer um sanduba na padoca mais próxima, no máximo. Nessa brincadeira, já seriam dez pra três. Uns quinze minutos mais e estaria sentado em sua mesa, atendendo telefones , respondendo emails , sendo interrompido de cinco em cinco minutos pelo inseto do chefe. E lá se ia mais um dia de sua vida besta...
Esse parágrafo acima foi visualizado por ele no ínterim em que aguardou a porta do apartamento da quenga se abrir. “Três horas da tarde não é horário que se apresente para quem saiu às 12:30”. Certamente isso renderia reprimendas por parte do seu Zéfiro. Foda-se .
A porta então é aberta, lentamente. De dentro vinha um cheiro suave de incenso e pouca luz ambiente. Janelas e persianas fechadas, mas com aquele reflexo alaranjado da luz do dia lá fora . Uma música tocava bem baixinho, e parecia algo místico, um mantra ou qualquer coisa parecida. Um ambiente aconchegante, enfim.
Brida estava sentada no sofá, numa posição de meditação, olhando fixamente para ele, com uma fisionomia contemplativa e plácida. Na sua frente, um baralho de tarô estava aberto, com algumas cartas na mesa.
“ Olá, Ranulfo.”
Um arrepio subiu de sua espinha até a nuca quando ela o saudou. Alguma coisa lhe dizia para dar uma desculpa qualquer e vazar naquele exato momento.
“ Desculpe, mas quem abriu a porta? E como você sabe meu nome? “
“ Você se refere ao pseudônimo que usou no nosso contato telefônico? Qual era mesmo?... “
“Pedro. Eu me apresentei com Pedro.”
“É verdade... Ranulfo, isso não tem importância alguma . Venha tomar um chá de ervas dos meus ancestrais celtas. Trata-se de uma receita milenar. E, por favor, eu trabalho apenas com pagamento adiantado, my prince charming. “
Ranulfo, mesmo achando aquilo um desaforo e burlando uma de suas maiores convicções putanhísticas, pagou os cento e cinqüenta reais combinados previamente. Sentia-se dominado por algo superior, uma energia cósmica e indefinível, como se uma força maior do que ele o impelisse a isso.
Brida embolsou a gaita e despejou o tal chá em um copo , e o serviu. O chá era delicioso! Ranulfo nunca apreciara tais bebidas (preferia café expresso, já que no coador era mais forte), mas isso mudara a partir daquele dia. Virara um habitué da seção de chás do supermercado. O chá possuía um aroma floral e seu sabor era levemente adocicado. Fez menção de pedir mais um pouco.
“ Apenas uma porção já é o suficiente, my dear”
Aquele modo de falar, ameno, pausado e breve era fascinante e estava deixando Ranulfo bastante excitado.
Brida pareceu ter percebido.
“O tempo é precioso. Cada segundo é uma relíquia sagrada. Vamos até a suíte, por favor, mo cusshla. Siga-me.”
Dizendo isso, Brida levantou-se e foi possível contemplar, pelo menos parcialmente, o conjunto da obra. Era uma morena, de longos cabelos castanhos, com uma pinta entre as sombrancelhas meio fake e olhos verdes muito bonitos. Tinha também um belo sorriso. Mas devia estar abusando um pouco da cerveja escura inglesa, pois estava meio gordaça.
No quarto, em silêncio, Brida tirou a sua túnica transparente e ficou nua.
Na verdade, a situação do corpo da GP não era das piores. Tinha uma barriguinha, mas os seios eram bonitos, firmes, com os mamilos róseos e uma pele clara como a neve. Estava , decididamente, muito a fim de comer aquela cidadã. Em riste, duro como uma pedra.
“ Vou tirar a pica pra fora, tá certo, minha... druidazinha fofucha... – murmurou, salivando, começando a abaixar o zíper da calça.
“Antes da junção de nossas auras e troca de fluídos e energias corpóreas, é preciso que você purifique o seu invólucro carnal, my cat guy.“
Sem questionar, Ranulfo se dirigiu ao banheiro, para tomar o diacho do banho. Tolhas lacradas, sabonete lacrado, tudo bonitinho. Estava se sentindo sereno, leve, excitado, bem consigo mesmo. Nem parecia que acabara de queimar três onças pra traçar uma gordinha mística. Ranulfo nunca tolerou estas coisas de putas metidas com o oculto, com o sobrenatural: wicca, tarot, astrologia, horóscopo chinês e culinária gaulesa. Mas estava curtindo a companhia da fulana e, mais que isso, estava bem ansioso em comer o rabicó transcedental daquela porquinha.
Tirou a camisa e sentiu alguma coisa correndo pelo chão, muito rápido. Que porra era aquela? Ficou estático, olhando para os lados. O banheiro da puta parecia agora estranhamente mais amplo do que quando entrara, instantes atrás. Começou a tirar a calça e, quando a mesma estava no chão, sentiu de novo a mesma coisa: algo correndo rápido só que desta vez atrás dele. Isso se repetiu até ficar completamente nu, com a velocidade diminuindo cada vez mais, a ponto de poder vislumbrar a figura de um humanóidezinho, verdinho, barbudinho, com no máximo uns dez centímetros de altura.
Ranulfo e o gnomo estavam , naquele instante,frente a frente, calados. Coube a estranha criatura romper o silêncio.
“ Cof, cof, cof. Aham. Hum. Hum. “
“Quem ou o quê é você? Nunca viu um cara pelado antes, seu porquera?” , perguntou o nosso herói.
“Sou um leprechown, e meu nome é Severino Macgonorrey , seu criado.” respondeu a minúscula criatura, fazendo uma vênia a ponto de quase tocar a cabeça no chão, derrubando seu chapéu no assoalho.
“ E que porra você está fazendo aqui, no banheiro do flat de uma puta, espiando seus clientes nus e tudo mais , hein ? Cê é bicha, rapá???? “
O duende pediu apenas para que Ranulfo diminuísse o volume de suas reprimendas, colocando o indicador na boca.
“Por favor, fale mais baixo...”
“Pensei que o lar de vocês fosse alguma floresta oculta da Irlanda ou da Escócia. Isso não é lugar pra uma criaturinha como tu, Severino. Onde já se viu uma coisa dessas...”
“ Da minha vida, cuido eu” respondeu, empinando o nariz, o pequeno. “Tenho cá os meus motivos. Tenho cá os meus motivos. “
“ Deve ser uma gnoma, ou coisa do tipo. Cadê a vadiazinha? Se ela não fosse tão pequiquitica, passava a pica nela!”
“Pois fique o senhor sabendo que minha amada, Catien Leighton, minha musa, não é pro seu bico. Não é pro seu bico, meu caro senhor. “ respondeu, com toda a fleuma britânica. “ E trate de falar baixo e tome logo o seu banho, antes que ela nos escute. Ela está dormindo, está bem? Portanto , seja um hóspede educado e tome logo esse banho...”
“Ta certo, ta certo, meu rei.... Só me diz uma coisinha: a vadia ali, a tal da Brida, consegue te ver também?”
“Claro que sim. De onde você acha que ela conseguiu a receita do chá? Aliás, você não deveria falar assim da moça. Ela parece ter gostado de você, não costuma oferecer o chá pra qualquer um.”
“Pode crer, Seva, louco essa chá , hein?
De repente, começou a ver um ponto de luz se movimentar de um lado para o outro, como se fosse um pequeno vagalume.
“Ih, Seva, olha aí, tem um vaga lume aqui no banheiro, doido... péra aí que eu vou dar um jeito nesse bich...”
“ Não faça isso! Não é um vaga lume, cara. É a minha mina, porra!!!!! Chega pra lá , seu psicopata!!!!!”
“ Ahê, não fica nervosinho não, Seva... Eu vou lá saber que isso aí é a sua vadia? Cuida melhor da sua mina, mano, mulher direita não fica espiando homem tomar banho, não...”
De repente, o ponto luminoso diminuiu a intensidade de sua movimentação e foi, aos poucos, descendo até o chão.
“ Catien, por favor... Por favor, não faça isso” , suplicou Severino.
“Que é que ta acontecendo aqui, afinal?” perguntou, Ranulfo surpreso ao ver o gnomo tão aflito e a luminosidade da pequenina Catien ir aumentando gradativamente até a luz tomar conta de todo o banheiro, a ponto de não se conseguir ver mais nada, apenas ouvir os lamentos de Severino e suas contínuas súplicas:
“Por favor, Catien, não faça isso de novo”
Em alguns instantes a luz foi diminuindo em intensidade até desaparecer por completo. E, em sua frente, estava lá, Catien, do tamanho de uma mulher normal, um pouco menor do que Ranulfo. E que gata era a Catien!!!! Loira, rosto angelical ,corpo esguio , coberto por uma roupinha brilhante.
“ Escuta, moça... Me desculpe aí o barulho, eu não queria te acordar nem nada... Olha só, eu só vou tomar uma ducha bem rapidinho, porque a moça ta lá me esperando, peladinha, coitada... Não posso fazer essa desfeita com ela, ainda mais que eu já paguei a bagaça adiantado... estamos falando aí de cento e cinqüenta reais, então, me desc...”
“ É ele, Severino. Dessa vez não há engano. Posso sentir no seu olhar nobre e nos seus trejeitos rústicos. É ele. O Enviado. O Prometido.”
“ Catien , você sempre diz isso, mas a profecia nunca se confirma. O que ele tem que o último não tinha, aquele gordinho careca, peludo que nem um urso? Você disse a mesma coisa e nada! Eu estou esperando por voce já a quase dois mil anos mortais, mas a paciência de um leprechown digno e honrado como eu tem limite!”
“ Que parada é essa aí, hein?Olha só, já passou quase meia hora nessa lenga lenga. Tenho um trampo aí pra fazer, ta ligada ? Por favor, deixe eu pegar a toalha que preciso me enxugar e ir fazer o meu programinha com a porpeta estatelada no quarto, valeu?”
“ Ranulfo, deixe que Catien, filha de Melien, neta de Morwen, seque seu corpo com a própria língua imortal...”
“ Não Catien, não faz isso, sua fada ... safada! Fada safada!!!! E eu?????? E eu, sua puta!!!!!!!!!!!??????????”
Catien, porém, não ouviu as súplicas e as injúrias do minúsculo corno esverdeado, e tratou de cumprir a promessa. Catien secou o corpo úmido de Ranulfo com a sua língua. E , sôfrega, caiu de boca no pau de Ranulfo, fazendo um boquete demorado, molhado, babado; ou seja, um boquete totalmente excelente, sem miséria enquanto suas mãos de fada percorriam ávidas todo corpo de Ranulfo, de pé no box, sem acreditar no que estava acontecendo. Ranulfo ainda tapava o narizinho arrebitado da fadinha, que engolia toda a pica , até o talo, sem lacrimejar. E de que maneira ela o olhava enquanto fazia aquilo!!!!!!
“ Severino” murmurou Ranulfo enquanto recebia a chupeta , “ a sua mina não vale nada....”
Gozou , com os olhos fechados e pareceu ter perdido os sentidos por alguns instantes. Quando voltou a si, estava ainda com a roupa, sentado ao lado do vaso do minúsculo e agora fétido banheiro. Havia uma toalha molhada pendurada no box, um sabonete usado e cheio de pentelhos e uma ducha Lorenzetti bem safada o esperando.
Levantou-se, com o pau dolorido. Parecia que havia metido por umas duas horas e meia, sem parar.
Saiu do banheiro, vestido, e parou na porta do quarto, enquanto Brida, que agora lhe parecia ainda mais gorda e muito mais feia do que a princípio, assistia o programa da Sónia Abrão na TV , pelada, deitada na cama. Não sentia mais tesão nenhum. O que quer que tenha acontecido ali naquele banheiro já fora o suficiente para aplacar a sua libido por muitas e muitas horas.
“ Nossa que rápido o seu banho, gato!!!! Não tem nem dois minutinhos que você ficou lá dentro, gato", comentou, consultando o celular. "Ficou bem cheirosinho pra mim, ficou?” –perguntou, entreabrindo as pernas e deixando a mostra a sua perseguida, peludíssima. Aquilo ali sim é que era uma aranha!!!!!
“ Olha só, lembrei que eu tenho um compromisso, não vou poder ficar mais ...
“ Ahhh... voxe num vai fude a xua buxinha não, bebê?
“ Não... hoje não. Tenho um compromisso inadiável." Hesitou um pouco, antes de perguntar: "Você não vai ficar com raiva de mim, né?” Parecia que essa possibilidade o deixava muito amedrontado.
“ Que é isso, grande. Sem poblemas... “
Foi saindo . Passando pela sala, com as janelas abertas e melhor iluminada, pode ver o moquifo que era aquele flat. Lençóis cobrindo os sofás, várias latas de cerveja vazias e um maço de cigarros Derby extra forte aberto na mesa do centro. Brida vinha andando atras dele, sorrindo, e falando no celular:
- Gato, já estou quase pronta, você pode me dar uns vinte minutos antes de subir?
Mais tarde, no escritório, tentou se lembrar do que realmente acontecera.
Entre um email e outro, uma tarefa e outra, tentava reestabeler a ordem cronológica dos eventos, desde a hora e que entrou até a saída, para tentar descobrir o que de fato acontecera.
Mas não conseguiu, é claro.
Dias depois, tentou localizar o telefone da puta em sua bina, mas não conseguiu. No site de acompanhantes que havia consultado antes, não havia mais sinal de nenhuma Brida Macallister.
Não havia mais nada.