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Este texto é uma continuação da saga de http://www.gp-guia.net/phpbb/phpbb2/view ... hp?t=73183
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"*Ugh, %passar mão bunda sua mãe, viado", ouviram Orlando dizer, antes de arremessar a cadeira na cabeça do padre Ítalo. Que felizmente conseguiu desviar-se a tempo de evitar um choque de lamentáveis consequências. Uma turminha que estava mais próxima assustou-se, ouviu-se um ou outro gritinho de alguma puta, mas a maioria dos participantes voltou à meterola sem dar muita importância ao incidente, talvez padres tomando porrada não fossem muita novidade naquele tipo de evento. Em todo caso, Orlando preparou-se para eventuais agressões, arreganhando os dentes, encolhendo o pescoço, eriçando os pelos e, evidentemente, recolhendo o pau para o interior da cueca, com visível descontentamento da garota que segundos antes estava comendo.
O capitão aproximou-se, conciliador, "%swing é assim mesmo, rapaz, *stuff happens", era inglês o sujeito. Orlando não respondeu nada, era a terceira ou quarta vez que o padreco tinha feito aquilo, não podia ser acidente, mas nosso tosco herói sempre foi de paz, sabemo-lo desde a primeira parte desta incrível saga, largou de mão e foi até o bar tomar uma birita. Situação desconfortável de se enfrentar justo no primeiro swing, hein Orlando velho, mas outros virão, com certeza, vamos esfriar a cabeça, ficar aqui no bar sacando a movimentação do ambiente, olhando as putas, tem muitas bem gostosas, um ou outro bagulho também, elenco escolhido de maneira a satisfazer a todos os gostos. Não se podia negar que era uma suruba de primeiro mundo.
O convite para a festa havia partido do próprio organizador. Uma sorte, Monsenhor não costumava chamar estranhos para os swings. Apesar de ter as costas quentes, devido à sua elevada posição na hierarquia eclesiástica, precisava manter as aparências. Oficialmente, comemorava-se a chegada do navio a Londres, depois de algumas semanas preguiçosas de jornada pelo Mediterrâneo. Orlando nunca veio a saber a razão de abrirem exceção no seu caso, mas eu sei, afinal de contas, sou o que se chama em teoria literária o narrador onisciente, ou seja, aquele que tudo sabe, que tudo vê, aquele que chuta e adivinha, que chega a ler as mentes dos seus personagens e conhece o final das histórias, para proveito e lucro de seus leitores, como em seguida veremos, bem, onde estávamos, ah, Monsenhor chamou o primitivo por achar que os demais participantes iam gostar de ver uma cara nova e exótica, disse cara mas talvez devesse ter dito bunda, pois, como já foi notado, para satisfazer todos os gostos, por mais discrepantes ou revoltantes que fossem, tinha sido organizada a tal festa.
É claro que Orlando tinha sacado de cara que os padrecos eram todos viados, mas ele era um homem das cavernas do século XIX, vivera na Itália e na França, países fashion pra cacete, sabia tolerar essas coisas. O chato é que os carinhas ficavam pegando no pé pra dar pra ele, convidavam pra dar um rolê, pra tomar sol no convés, pra ir à sauna, era daí pra cima, as mulheres não, as mulheres só queriam grana, e ele não tinha porra nenhuma, seus únicos pertences eram a mochila, a cuia de tomar água e um caco de telha pra fazer a barba. Nem os pergaminhos antigos tinha mais, havia deixado tudo no Arquivo da Moderação, nas mãos do curador que abriu a porta.
Aquela viagem ao Arquivo da Moderação tinha sido longa e muito dura. O lugar ficava no meio do deserto, ninguém o havia avisado disso. Qualquer outro teria desistido, mas Orlando dera sua palavra e, tendo recebido uma educação um tanto antiquada, dava muito valor a ela. Mas foi bom, aprendeu a ler e a escrever durante os dias que passou ali, descansando. Achou interessantes os documentos que o moderador lhe mostrou, até pensou em se cadastrar e colaborar, mas não tinha telégrafo em casa, aliás, nem casa tinha. Foi uma sorte ter conseguido um trampo de carregador no navio que os carolas tinham fretado para voltar para a Inglaterra, depois de uma visita aos lugares santos de sua fé, que ficavam por perto.
Apesar de querer sinceramente aproveitar o restante da suruba, o lamentável incidente havia azedado a balada, verdade seja dita, e Orlando decidiu ir para cama, se assim podemos chamar o assento do bote salva-vidas que estava ocupando todas as noites.
No dia seguinte, Monsenhor mandou convidá-lo para uma conversa em seus aposentos, "%Sinto muito pelo que aconteceu ontem à noite, meu jovem, espero que não tenha se aborrecido, o padre Ítalo às vezes se entusiasma e passa um pouco da conta". Orlando não queria polemizar, "%Orlando matuto mesmo, vai acostumar swing e viadagens de padres, não postar esses detalhes forum, ficar tranquilo". "%Ah, você posta no forum, que bom, é uma ótima propaganda para nossos eventos". A tensão inicial desapareceu, quando se fala do forum os putanheiros esquecem suas diferenças. Orlando tentou ser agradável e desenvolver a conversa, "%Qual nick Monsenhor usar?", ooooops, não deu muito certo, Monsenhor pareceu um tanto embaraçado, virou as costas, deu alguns passos muito vagarosamente, parecendo estudar que resposta daria, "%É uma pena que não possamos postar no forum... sabe, não podemos revelar nossas identidades...", "%Para isso ter nicks.", "%É verdade, é verdade, hehehe, bem, mas os fundadores da nossa organização, sabe, não eram favoráveis à fornicação, hehehe, entende, não fica bem contrariamos publicamente...", "%Formigação, que ser?" , "%Fornicação quer dizer manter relações sexuais promíscuas", Monsenhor pareceu ganhar autoconfiança, voltou-se de frente para Orlando e assumiu um ar paternal, "%Ou seja, utilizar-se de serviços de prostituição, hehehe, ou, como você e o capitão diriam (Orlando já tinha percebido que Monsenhor não ia com a cara do capitão), fuder com putas". "%Vocês chupar informações de forum e não contribuir???", Monsenhor virou-se de costas novamente, "%Contribuímos sim, contribuímos, você viu, promovemos festinhas, hehehe, mas não podemos aparecer, infelizmente...".
Orlando era caipira mas não era estúpido. Aos poucos as coisas iam se encaixando na sua mente primitiva. Colocar Monsenhor contra a parede definitivamente não era uma boa idéia. Vai que o cara vira Papa na semana que vem, já havia visto isso acontecer enquanto servia a Leonardo. "%Orlando entender problemas Igreja.", despistou, "%Orlando conhecer muitos padres século XVI, depois contar histórias bacanas Monsenhor", "%Seria adorável, hehehe, mas agora me lembrei que prometi esclarecer algumas dúvidas de teologia do meu assessor, hehehehe, mas insisto em que fique e tome mais uma bebidinha, hehehehe, já volto...". O tal assessor era um tipo mal encarado que chamavam de Ratz, oficialmente era o treinador dos rottweilers de Monsenhor, mas pela sutileza de suas maneiras via-se que tinha mais a aprender do que a ensinar aos cães, essa história de teologia só podia ser cascata.
Orlando entendeu que corria perigo. Monsenhor, apesar de viado, era cruel e vingativo, e pelo visto não tinha gostado de ser repreendido. Obviamente, a porta tinha sido trancada por fora. Em pouco tempo os rottweilers entrariam por ela. A saída possível era pela escotilha. O caco de telha marcou à custo um sulco profundo no vidro, e uma dolorosa mas necessária cabeçada neanderthal fez o resto.
Orlando pulou na água sem hesitar, apesar da altura. Sobreviveria à queda e nadaria os duzentos ou trezentos metros que o separavam do cais. Desapareceria no meio do tumulto dos vendedores de camelos. Não podia ser apanhado. Agora sabia quem eram os Sonegadores.
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Este texto teve uma continuação: http://www.gp-guia.net/phpbb/phpbb2/view ... 577#992577
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Este texto é uma continuação da saga de http://www.gp-guia.net/phpbb/phpbb2/view ... hp?t=73183
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"*Ugh, %passar mão bunda sua mãe, viado", ouviram Orlando dizer, antes de arremessar a cadeira na cabeça do padre Ítalo. Que felizmente conseguiu desviar-se a tempo de evitar um choque de lamentáveis consequências. Uma turminha que estava mais próxima assustou-se, ouviu-se um ou outro gritinho de alguma puta, mas a maioria dos participantes voltou à meterola sem dar muita importância ao incidente, talvez padres tomando porrada não fossem muita novidade naquele tipo de evento. Em todo caso, Orlando preparou-se para eventuais agressões, arreganhando os dentes, encolhendo o pescoço, eriçando os pelos e, evidentemente, recolhendo o pau para o interior da cueca, com visível descontentamento da garota que segundos antes estava comendo.
O capitão aproximou-se, conciliador, "%swing é assim mesmo, rapaz, *stuff happens", era inglês o sujeito. Orlando não respondeu nada, era a terceira ou quarta vez que o padreco tinha feito aquilo, não podia ser acidente, mas nosso tosco herói sempre foi de paz, sabemo-lo desde a primeira parte desta incrível saga, largou de mão e foi até o bar tomar uma birita. Situação desconfortável de se enfrentar justo no primeiro swing, hein Orlando velho, mas outros virão, com certeza, vamos esfriar a cabeça, ficar aqui no bar sacando a movimentação do ambiente, olhando as putas, tem muitas bem gostosas, um ou outro bagulho também, elenco escolhido de maneira a satisfazer a todos os gostos. Não se podia negar que era uma suruba de primeiro mundo.
O convite para a festa havia partido do próprio organizador. Uma sorte, Monsenhor não costumava chamar estranhos para os swings. Apesar de ter as costas quentes, devido à sua elevada posição na hierarquia eclesiástica, precisava manter as aparências. Oficialmente, comemorava-se a chegada do navio a Londres, depois de algumas semanas preguiçosas de jornada pelo Mediterrâneo. Orlando nunca veio a saber a razão de abrirem exceção no seu caso, mas eu sei, afinal de contas, sou o que se chama em teoria literária o narrador onisciente, ou seja, aquele que tudo sabe, que tudo vê, aquele que chuta e adivinha, que chega a ler as mentes dos seus personagens e conhece o final das histórias, para proveito e lucro de seus leitores, como em seguida veremos, bem, onde estávamos, ah, Monsenhor chamou o primitivo por achar que os demais participantes iam gostar de ver uma cara nova e exótica, disse cara mas talvez devesse ter dito bunda, pois, como já foi notado, para satisfazer todos os gostos, por mais discrepantes ou revoltantes que fossem, tinha sido organizada a tal festa.
É claro que Orlando tinha sacado de cara que os padrecos eram todos viados, mas ele era um homem das cavernas do século XIX, vivera na Itália e na França, países fashion pra cacete, sabia tolerar essas coisas. O chato é que os carinhas ficavam pegando no pé pra dar pra ele, convidavam pra dar um rolê, pra tomar sol no convés, pra ir à sauna, era daí pra cima, as mulheres não, as mulheres só queriam grana, e ele não tinha porra nenhuma, seus únicos pertences eram a mochila, a cuia de tomar água e um caco de telha pra fazer a barba. Nem os pergaminhos antigos tinha mais, havia deixado tudo no Arquivo da Moderação, nas mãos do curador que abriu a porta.
Aquela viagem ao Arquivo da Moderação tinha sido longa e muito dura. O lugar ficava no meio do deserto, ninguém o havia avisado disso. Qualquer outro teria desistido, mas Orlando dera sua palavra e, tendo recebido uma educação um tanto antiquada, dava muito valor a ela. Mas foi bom, aprendeu a ler e a escrever durante os dias que passou ali, descansando. Achou interessantes os documentos que o moderador lhe mostrou, até pensou em se cadastrar e colaborar, mas não tinha telégrafo em casa, aliás, nem casa tinha. Foi uma sorte ter conseguido um trampo de carregador no navio que os carolas tinham fretado para voltar para a Inglaterra, depois de uma visita aos lugares santos de sua fé, que ficavam por perto.
Apesar de querer sinceramente aproveitar o restante da suruba, o lamentável incidente havia azedado a balada, verdade seja dita, e Orlando decidiu ir para cama, se assim podemos chamar o assento do bote salva-vidas que estava ocupando todas as noites.
No dia seguinte, Monsenhor mandou convidá-lo para uma conversa em seus aposentos, "%Sinto muito pelo que aconteceu ontem à noite, meu jovem, espero que não tenha se aborrecido, o padre Ítalo às vezes se entusiasma e passa um pouco da conta". Orlando não queria polemizar, "%Orlando matuto mesmo, vai acostumar swing e viadagens de padres, não postar esses detalhes forum, ficar tranquilo". "%Ah, você posta no forum, que bom, é uma ótima propaganda para nossos eventos". A tensão inicial desapareceu, quando se fala do forum os putanheiros esquecem suas diferenças. Orlando tentou ser agradável e desenvolver a conversa, "%Qual nick Monsenhor usar?", ooooops, não deu muito certo, Monsenhor pareceu um tanto embaraçado, virou as costas, deu alguns passos muito vagarosamente, parecendo estudar que resposta daria, "%É uma pena que não possamos postar no forum... sabe, não podemos revelar nossas identidades...", "%Para isso ter nicks.", "%É verdade, é verdade, hehehe, bem, mas os fundadores da nossa organização, sabe, não eram favoráveis à fornicação, hehehe, entende, não fica bem contrariamos publicamente...", "%Formigação, que ser?" , "%Fornicação quer dizer manter relações sexuais promíscuas", Monsenhor pareceu ganhar autoconfiança, voltou-se de frente para Orlando e assumiu um ar paternal, "%Ou seja, utilizar-se de serviços de prostituição, hehehe, ou, como você e o capitão diriam (Orlando já tinha percebido que Monsenhor não ia com a cara do capitão), fuder com putas". "%Vocês chupar informações de forum e não contribuir???", Monsenhor virou-se de costas novamente, "%Contribuímos sim, contribuímos, você viu, promovemos festinhas, hehehe, mas não podemos aparecer, infelizmente...".
Orlando era caipira mas não era estúpido. Aos poucos as coisas iam se encaixando na sua mente primitiva. Colocar Monsenhor contra a parede definitivamente não era uma boa idéia. Vai que o cara vira Papa na semana que vem, já havia visto isso acontecer enquanto servia a Leonardo. "%Orlando entender problemas Igreja.", despistou, "%Orlando conhecer muitos padres século XVI, depois contar histórias bacanas Monsenhor", "%Seria adorável, hehehe, mas agora me lembrei que prometi esclarecer algumas dúvidas de teologia do meu assessor, hehehehe, mas insisto em que fique e tome mais uma bebidinha, hehehehe, já volto...". O tal assessor era um tipo mal encarado que chamavam de Ratz, oficialmente era o treinador dos rottweilers de Monsenhor, mas pela sutileza de suas maneiras via-se que tinha mais a aprender do que a ensinar aos cães, essa história de teologia só podia ser cascata.
Orlando entendeu que corria perigo. Monsenhor, apesar de viado, era cruel e vingativo, e pelo visto não tinha gostado de ser repreendido. Obviamente, a porta tinha sido trancada por fora. Em pouco tempo os rottweilers entrariam por ela. A saída possível era pela escotilha. O caco de telha marcou à custo um sulco profundo no vidro, e uma dolorosa mas necessária cabeçada neanderthal fez o resto.
Orlando pulou na água sem hesitar, apesar da altura. Sobreviveria à queda e nadaria os duzentos ou trezentos metros que o separavam do cais. Desapareceria no meio do tumulto dos vendedores de camelos. Não podia ser apanhado. Agora sabia quem eram os Sonegadores.
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Este texto teve uma continuação: http://www.gp-guia.net/phpbb/phpbb2/view ... 577#992577
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