"Produto de laboratório norte-americano já foi liberado para o uso como lubrificante e passa por testes no Brasil
Empresa quer lançar gel anti-Aids nos EUA
Um laboratório americano anunciou estar próximo de obter autorização da FDA (agência de controle de alimentos e remédios dos EUA) para comercializar um gel vaginal que se mostrou efetivo para impedir o contágio pelo HIV em mulheres. A Instead, empresa com sede na Califórnia detentora da patente do produto Amphoragel, já obteve autorização para comercializá-lo como simples gel lubrificante, mas espera agora autorização para vendê-lo também como droga eficaz no combate ao HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis.
Testes clínicos iniciais foram realizados por cientistas da Unicamp (Universidade de Campinas), após testes em laboratório. O gel, clinicamente conhecido como Acidform, foi desenvolvido pela Rush University, em Chicago. As pesquisas em Campinas mostraram que o produto era seguro para o uso vaginal. O objetivo do teste na Unicamp não era ainda provar sua eficácia contra o HIV, mas sua segurança.
Longa busca
A Instead não é única empresa a tentar produzir um gel vaginal que seja efetivo no combate ao HIV. A busca por esse produto foi intensificada após o aumento de contágio de mulheres em relações heterossexuais. Como o preservativo é o único método 100% seguro para evitar o contágio, as mulheres dependem hoje da cooperação de seus parceiros para se protegerem.
O efeito esperado do gel é manter a acidez da vagina num nível em que o HIV não sobrevive. O pH da vagina varia entre 3,5 e 4,5, o que protege a mulher do contágio. No entanto, como o sêmen tem um pH entre 7,2 e 8,0, a acidez da vagina aumenta para níveis superiores a 6,0 numa relação sexual. O que o Amphoragel faz é manter a acidez da vagina num nível abaixo de 5,0.
O Amphoragel não foi o primeiro produto a ser pesquisado com este fim. Há mais de 60 produtos em estudo. O N9 (nonoxynol-9), por exemplo, um espermicida conhecido e comercializado há muito tempo, não provou ser eficaz em reduzir as infecções sexualmente transmitidas, incluindo o contágio pelo HIV.
Eliana Amaral, pesquisadora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Unicamp, explica que o produto por ela testado em mulheres em Campinas não provocou irritações como o N9.
"Pesquisamos o produto em suas primeiras fases de testes clínicos. O que nossa pesquisa mostrou foi que esse gel era bem tolerado pelas mulheres e pelos casais, não provocando irritação genital que pode aumentar o risco de HIV, em vez de proteger. Há outros géis com formulação semelhante que estão em sua fase final de testes. Mas eles precisam ser pesquisados em milhares de mulheres, nos chamados estudos de fase 3, até serem reconhecidos como eficazes no combate ao HIV", afirma Amaral.
Um desses testes com o Amphoragel está sendo realizado neste ano com mulheres em Madagascar, na África, com apoio do Centro Norte-Americano para Controle e Prevenção de Doenças e pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.
Falsa esperança
Amaral estima, no entanto, que somente em dois anos, pelo menos, esses produtos estarão no mercado. "Por enquanto, não se pode vender uma falsa esperança de que eles já são 100% eficazes sob o risco de as pessoas abandonarem outros métodos de prevenção para usar o gel", diz.
O presidente da Instead, Joseph Pike, esteve na semana passada no Brasil acompanhando o ex-secretário de Estado de Saúde dos Estados Unidos, Thommy Thompson, que é membro do conselho da Instead e veio dar uma palestra no Rio a convite do sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde do Rio.
Pike diz que já se pode afirmar que o Amphoragel é eficaz em manter a acidez da vagina num pH de 5,0. "Essa afirmação nós já podemos fazer porque temos um estudo, ainda não publicado, que mostra que o produto foi eficaz no combate ao herpes, que é mais resistente do que o HIV nessa fase de contágio. Também já sabemos que ele é seguro, tanto que já recebeu autorização da FDA para ser usado como gel. O próximo passo agora é conseguir a autorização para vendê-lo também como um produto que se mostrou eficaz na prevenção ao HIV", diz ele."
Jornal Folha de São Paulo de 06/02/2006
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienci ... 200601.htm