Quem está dando tom de rebeldias as palavras da Stoya é vc. Em nenhum momento ela se coloca em posição de superioridade ou de enfrentamento em relação a irmã por ser "quadrada". Muito pelo contrário, ao invés de estranhamento ela dá a deixa que se dentifica com alguns dos valores do mundo "quadrado" da irmã mas que também deseja ser respeitada como é.Compson escreveu: Não, mas o texto acha... A oposição é inequívoca: a irmã é americanizada, consumista, fútil, socialmente adequada, bem casada... Assim como todos os outros convidados da festa, para quem a "monogamia é o padrão de tudo".
Como disse anteriormente, só enxerga tentativa de "transgressão" nas palavras da Stoya quem quer enxergar. Não há sequer a tentativa de se passar por transgressora soft, imaginando que isso fosse possível, do tipo morde e assopra. Nada, nadinha de nada. Stoya assume sua condição de "paz e amor" com o outro lado. De início são palavras de conciliação com o outro lado. O enfretamento só ocorre em reação quando Stoya é questionada pelo outro lado e tratada, digamos, com certo preconceito por uns e estranhamento por outros. O casamento serve para mostrar que existem algumas coisas ainda mal resolvidas e que precisam ser ajustadas, nada de transgressão, mas de ajustes finos :Stoya escreveu:Mas ali estava eu, no dia mais especial da vida da minha meia-irmã. Pode me chamar de antiquada, mas acho que o foco de um casamente deveria ficar inteiramente na noiva, no noivo e na felicidade deles. Me parece que, para a maioria das mulheres, seu casamento é o dia em que elas podem ser princesas.
Eu tinha decidido que não era uma boa ideia jogar meu drinque na cara da mulher e já procurava por uma desculpa educada para fugir quando ela jogou a bomba: “a escandalosa meia-irmã atriz pornô da noiva que tinha largado o emprego para fugir com o circo”. Parece que eu tinha me misturado tão bem que ela não percebeu quem eu era e que estava falando merda da minha família bem na minha cara. Ela continuou falando das falhas morais da tal meia-irmã (eu), incluindo a pergunta retórica de como alguém pode convidar uma vadia para o próprio casamento. Quando finalmente ficou sem ter o que fofocar, ela me perguntou de onde eu conhecia a noiva e o noivo. Eu disse que era secretária da tal revista chique, acenei exuberantemente como pessoa imaginária e dei o fora dali.
Acabei me misturando com os amigos de escola do namorado da minha meia-irmã. Todo mundo ali trabalhava de alguma forma com banco de investimentos. Todos sabiam sobre o meu trabalho, e eu tive que responder as perguntas usuais: “Você conhece a Jenna Haze?”, “Você já trabalhou com o Ron Jeremy?”, “Como você tem um namorado se está sempre transando com outras pessoas?”
Compson escreveu:
Enquanto ela, que fica dando entrevista sobre brinquedos eróticos no meio do casamento, é transgressora desses valores, é a exceção, a única que tem "muita sorte de passar boa parte da minha vida em ambientes que me aceitam e me encorajam a ser quem eu sou", enquanto todos os outros se submetem a supostos padrões impostos pela sociedade (mas ser "a exceção" não é justamente o padrão que nossa sociedade mais nos impõe?).
No entanto, sua concepção de relacionamento é a mais quadrada possível, puro contratualismo: "traição é uma falta de respeito às fronteiras discutidas e concordadas pelos parceiros, ou um desrespeito das necessidades do outro que já haviam sido percebidas e expressas".
Ora, qualquer um que já teve relacionamentos de verdade sabe o quanto é difícil expressar (e cumprir) todos os desejos e necessidades... O que seria uma relação verdadeiramente transgressora nos dias de hoje é a capacidade de amar alguém apesar dessa pessoa desrespeitar os contratos e as necessidades. Em poucas palavras: atualmente, o corno manso é muito mais transgressor do que a atriz pornô!
Sobre o texto, é o que eu disse: temática transgressora (ou inconvencional, se preferir) sobre um pano de fundo absolutamente convencional.
Fora o marketing...
Stoya não quer ser exceçao, Stoya quer ser tratada como igual. Ela quer fazer parte do mundo dos limpinhos levando consigo alguma sujeirinha. E isso é bem representativo das minorias de hoje em dia. Eu, particurlamente, prefiro a coisa de gueto, underground, na minha condição de pé sujo. Curto essa coisa de transgressão. Mas hoje isso está tão fora de moda. Transgressão foi substituído por politicamente incorreto. Fazer piadinhas de mau gosto e apontar o dedo na cara é o máximo de "subversão" que se pode admitir hoje em dia. Ao contrário do que vc afirmou, não há espaço para exceções na sociedade mas todos devemos ser iguais, ou seja, vencedores e isso significa jogar o jogo e parecer limpinho. O mundo é dos assépticos. E tudo que os "fora da lei" ou melhor, "fora da heternormatiivdade" querem é ser aceitos na sociedade limpinha como limpinhos também. Stoya deixa isso claro no texto e não é marketing, mesmo que seja essa a intenção da autora, é a realidade de toda uma geração. O que tem de bom nisso? E o que o texto de Stoya tem de especial? Oras! Além de bem escrito, ele trás o santo grall da coisa. "Nós queremos fazer parte da sociedade limpinha mas para isso é necessário que sejamos aceitos e compreendidos com alguns de nosso valores, nem para tudo há conceções." Essa é a grande jogada. Quando Stoya questiona o lance de monogamia.
Foi aí que me ocorreu que, para essas pessoas, a monogamia é o padrão de tudo... Eles fazem de tudo para esconder dos entes queridos seus vibradores e visitas a clubes de striptease. ..Se a vendedora bonitinha da minha loja de lingerie favorita flerta comigo e eu flerto de volta, eu conto para ele. Se quero beijar ou transar com outra pessoa, eu digo isso a ele.
Em outras palavras, é possível ser fiel na relação sendo monogâmico? Se vocês me questionam por ser quem eu sou, eu devolvo questionamento; é possível ser feliz na relação sendo quem vocês são? Foi essa a grande sacada da Stoya. Estamos falando de hipocrisias. Quantos puteiros estão lotados de homens casados e muitas das vezes a esposa faz vista grossa por conveniência?? Não há nada de transgressor em ser corno, Compson. Ser corno é pura conveniência ou estupidez. Não há nada de transgressor em se deixar ser enganado. E ser como Stoya é, fadada a relacionamentos abertos, também não é transgressor, é apenas uma forma mais honesta, transparente e ética de lidar com uma relação. Transgressor hoje em dia é ser virgem, isso sim é transgredir. Agora esse lance de amor livre, isso tem um preço, que é abrir mão do sentimento de posse. Eu não estou preparado para isso, tenho dois pés na heteronormatividade, mas entendo o que Stoya quer dizer. Stoya talvez tenha sido um tanto irônica no seu questionamento da monogamia X fidelidade.