Uma boa entrevista de uma GP sueca.
Pye Jakobsson, ativista: "Há quem queira trabalhar com sexo"
Sueca veio ao Rio participar de debate pelos 30 anos do Movimento Brasileiro de Prostitutas, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ.
"Tenho 48 anos e há 27 sou prostituta. Desde 1990, sou ativista dos direitos do trabalhador sexual. Mas desde 1980, também abraço portadores do HIV. Minha preocupação é garantir os direitos humanos dos marginalizados no mundo. Agora, sou a presidente do grupo Global Network of Sex Work Projects."
Conte algo que não sei.
Ao contrário do que a maioria pensa, nem todas as prostitutas têm essa profissão por falta de opção. Boa parte delas, e eu me incluo, escolheu a função que desempenha. Agora, claro que muitas também entraram na vida exclusivamente para resolver outros problemas, o que também acontece em diversas áreas de atuação.
Quais problemas são esses?
A prostituição, às vezes, é uma solução viável para mulheres que vêm de famílias pobres, que precisam cuidar da família, ou que dependem dessa renda para estudar, por exemplo. Ninguém sonha com esse tipo de trabalho quando criança, mas de fato é uma rápida saída para essas questões.
Ser prostituta é um trabalho como qualquer outro?
E por que não seria? Parece que a sociedade carece de grupos que sejam "inferiores" a ela. Digo entre aspas porque nós não somos inferiores a ninguém. Sejam nós, prostitutas, sejam os que usam drogas, os que vivem na rua, ou seja, qualquer minoria. O conceito "minha vida não é perfeita, mas é melhor que a dela" ainda é bem forte.
Mas por que as pessoas se importam tanto com o trabalho de vocês?
Por várias razões. Primeiro eu acho que muitos cidadãos não são justos, querendo decidir o que as mulheres podem ou não fazer com a sexualidade. Parece ter um cunho tradicional, talvez religioso, com valores antigos. É óbvio que a maioria dos líderes governistas não assumem esses motivos.
Qual seria o caminho para reduzir esse panorama?
Essa criminalização é um absurdo. Garantir direitos trabalhistas seria um bom começo. É isso que nosso movimento revindica. É preciso entender que embora muitas pessoas não queiram trabalhar com sexo, há muitas que querem. Assim como nem todo mundo quer ser faxineiro, ou atendente de lanchonete, por exemplo. Porém, existe quem quer desempenhar essas funções e isso deve ser respeitado. Estabelecendo regras trabalhistas, a população veria minha profissão como veem as outras.
Qual a relação do movimento que defende com a luta contra o HIV?
Nossa ideia é garantir igualdade, sempre. E como essa é uma questão de saúde, e todos deveriam ter acesso a ela, somos bem ligadas a esse movimento. Também acreditamos que falando primeiro em saúde, acaba sendo mais fácil tratar das questões sexuais de uma forma bem mais ampla.
Qual era a sua idade quando fez seu primeiro programa?
Comecei fazendo strip-tease aos 18 anos, em uma boate, em Portugal. Mas só fiz sexo por dinheiro aos 21. No início, sofri muito preconceito, principalmente da minha família, que sempre foi muito conservadora. Mas, para minha sorte, meu pai sempre me apoiou bastante e diz, inclusive, ter orgulho do meu trabalho. Para a minha mãe era mais complicado, porque ela estava preocupada com o que os vizinhos iriam falar sobre mim. Mas eu sinto que para ela mesmo, isso não era um problema.
Você é casada? Tem filhos?
Não, nunca fui casada. E preferi não ser mãe também. Agora namoro com uma mulher, que inclusive é minha colega de profissão. Mas não me considero lésbica. Gosto de pessoas. O sexo acaba tornando-se apenas uma consequência.
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