Boas, putanheiros amigos que apreciam automobilismo.
"Bem , amigos da Globo..."
Sempre acompanhei a F-1. Minhas lembranças mais antigas remontam a nomes como Fittpaldi, Petterson, Arnoux, Piquet, Roitman, Lauda , Alan Jones, Gilles Villneuve... Desde guri , acordo mais cedo em dia de corrida aos domingos. Se a corrida for das boas, como essa de Xangai, ainda vejo o tape de noite, no Sportv.
Um dos pilotos que que melhor acompanhei sem dúvida foi o Barrichello. Confesso que sempre torci , e ainda torço por ele. Temos a mesma idade, torcemos para o mesmo time, e , por alguma razão insondável, quando o Barrichello fazia um bom trabalho , vencia ou fazia belas ultrapassagens, corridas combativas, tudo o que aparentemente "desaprendeu", ficava realmente satisfeito. Lembro de reportagens dele desde os tempos do kart, dos pegas dele com o Cristian fitipaldi. Eram tempos em que se falava dele com respeito. E com perspectiva. Seria um futuro campeão o gorduchinho que arrepiava no kart e ganhava dos moleques bem mais velhos do que ele?
Lembro-me que a maioria dos especialistas o apontavam como futuro campeão, sim. Até porque esse foi o seu costume por onde passou, antes de estrear, com 21 ou 22 anos, na Jordan. Lá se vai uma década, mais de uma década. Um piloto de longevidade invejável.
Hoje, depois de tudo pelo que passou no automobilismo, na própria F-1, com um currículo acima da média, embora não genial, dois vice campeonatos, quarto ou quinto maior pontuador da história da categoria, rico, bem casado, pai coruja - o que se fala dele?
Rubens é desancado e ridicularizado por muita gente, desrespeitado - e nem sempre sem razão. Seu último ano de Ferrari já foi medíocre, e, após mudar de equipe, esperava-se um recomeço por parte dele. Que voltasse a ser o piloto da Stewart, que era bem quisto e mimado por todos , inclusive pelo velho mito escocês, que o via com muitíssimos bons olhos.
De 2005 para cá, Rubens vem apresentando uma queda impressionante de desempenho. Não parece desinteressado, pelo contrário. No início desse ano, se preparou fisicamente como nunca o fez antes. E nunca , desde seu início de carreira como esportista, teve um desempenho tão sofrível.
Flávio Gomes, um dos melhores, senão o melhor cronista de automobilismo que eu acompanho, chegou a escrever uma crônica cujo título era " Afinal, quem é Rubens", onde apresenta questionamentos que sugerem que a época de pendurar as luvas se aproxima e chega a questionar o seu real valor como piloto. Flávio sempre o teve em boa conta e sempre disse as coisas certas sobre o Rubens, mesmo em momentos em que todos o atacavam. E costumava ter bons argumentos.
Hoje, lembrando do que ele escreveu por causa dessa corrida de ontém, me faço também essa pergunta.
Quem é Rubens Barrichelo?
O Rubinho , da Jordan, que era uma espécie de xodó do Senna? E , de certa forma, do público brasileiro em geral?
Ou o pé de chinello, que , mesmo quando vencia, era sempre a sombra de outro piloto?
Ou o Rubens da Honda, que toma tempo do Button de forma inacreditável? Que não consegue fazer o que se espera dele, que é melhorar um carro ruim? Cadê o acertador de carros ? Cade a sua decantada regularidade? Neste ano, sua única regularidade residiu em andar atrás de seu companheiro de equipe e erros bizonhos de estratégia - cadê a experiência?
Seu primeiro ano de Honda não foi bom , mas alternou pelo menos alguns bons momentos. Mas foi superado pelo bom Jenson Button na maioria das vezes. Em seu segundo ano, o atual, Rubens vem alternando atuações medíocres e outras irreconhecíveis, como o treino de ontém e a corrida de hoje. Enquanto Button encontrou o acerto do péssimo carro rapidamente e fez as escolhas certas, Rubens brigou com o carro e com o clima o tempo todo. O resultado foi andar atrás em uma corrida onde as duas Toro Rossos pontuaram e Button terminou entre os cinco primeiros.
A Honda renovou seu contrato por mais uma temporada, alegando motivos técnicos: trata-se de um piloto experiente, regular e também por uma espécie de mea culpa, pela carroça com a qual obrigou seus dois pilotos a passarem vexames durante a temporada que se encerra em Interlagos daqui a duas semanas.
Se eu fosse um dirigente da Honda, estaria nesse momento me perguntando se não seria melhor dar um cascalho para o Rubens gozar sua merecida aposentadoria - curtir seus filhos, andar na stock, correr de kart - e contratar um jovem piloto, que andasse com a faca nos dentes, como esse Vettel ou o Suttil, por exemplo, ou mesmo o Luca di Grassi, que andou bem na GP2.
O próprio Rubens deve ter tido esse pensamento durante esse ano.
Talvez fosse melhor voltar pra casa.
Ou andar mais um ano e bater o recorde do Patrese, colocar mais uns milhõeszinhos de euros no bolso. Afinal, quem abandonaria por livre vontade um emprego desses?
Essa é a escolha: ou termina logo o seu tormento, ou paga pra ver se , no ano que vem, a Honda consegue colocar nas suas mãos algo parecido com um carro de F-1. O contrato para isso ele já tem.
Mas, quem , em sã consciência, sentiria a sua falta, se levarmos em conta suas últimas corridas?
Seria um fim de carreira amargo. Mas, pelo que vemos, Rubens já se aposentou e ainda não sabe.