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Os boatos sobre o apagão de energia
Luis Nassif
Coluna Econômica
Na Folha de ontem, a jornalista Eliana Cantanhede forneceu a manchete, ao anunciar uma reunião de emergência do setor elétrico. Segundo a matéria, “a reunião foi acertada entre Dilma, durante suas férias no Nordeste, e o Ministro das Minas e Energia Edison Lobão”.
“Dirigentes de órgãos do setor tiveram que cancelar compromissos para comparecer”, dizia a matéria. Mais: “Dez dias depois de dizer que é "ridículo" falar em racionamento de energia, a presidente Dilma Rousseff convocou reunião de emergência sobre os baixos níveis dos reservatórios, para depois de amanhã, em Brasília.
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Segundo a jornalista, “oficialmente, estarão presentes ao encontro de quarta-feira os integrantes do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), que é presidido pelo ministro das Minas e Energia e é convocado, por exemplo, quando há apagões de grandes proporções, como ocorreu mais de uma vez em 2012”.
Existe um órgão denominado de Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) que reúne-se mensalmente para analisar o setor. Participam da reunião o Ministro, o Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Agência Nacional de Petróleo (ANP), a Agência Nacional de Águas (ANA), entre outras.
As reuniões são mensais e agenda do ano é definida sempre no mês de dezembro do ano anterior. Portanto, desde o mês passado a tal reunião “extraordinária” estava marcada.
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O mercado de energia elétrica é dividido em dois segmentos. Há os contratos de longo prazo, firmados entre grandes consumidores (entre os quais as distribuidoras) e fornecedores; e o chamado mercado spot, com compras de curto prazo.
Uma informação incorreta, como esta, poderia provocar oscilações de monta nas cotações do mercado spot. Poderia fazer empresas suspenderem planos de investimento, montarem planos de contingência.
Não afetou o mercado porque as grandes empresas, os grandes investidores dispõem de canais de informação específicos. E a própria Internet permitiu a propagação do desmentido do MME acerca do caráter “extraordinário” da reunião.
Mas a falsa notícia levantou até o argumento de que os problemas eram decorrentes da redução da conta de luz – que sequer ocorreu ainda.
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De concreto, existe a enorme seca que assola o nordeste, que reduziu as reservas do sistema. Atualmente os reservatórios da Região Nordeste operam com 31,6% da sua capacidade, e os da Região Norte com 41,24%.
Limitações ambientais, além disso, obrigaram a uma mudança na arquitetura das novas usinas hidrelétricas, substituindo os grandes lagos pela chamada tecnologia de “fio d’água”.
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Mas o modelo prevê um conjunto de usinas termoelétricas de reserva. Sempre que há problemas no fornecimento, elas são autorizadas a operar até que o sistema convencional volte a dar conta do recado.
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O episódio mostra, em todo caso, a dificuldade, hoje em dia, de se dispor de informações objetivas. Na Internet, há um caos informacional; nos jornais, uma sobreposição diária das intenções políticas sobre a objetividade das matérias.
http://www.viomundo.com.br/denuncias/he ... idade.html
Heitor Costa: Falar em racionamento é “irresponsabilidade”
publicado em 8 de janeiro de 2013 às 9:27
Risco de um novo racionamento de energia elétrica?
por Heitor Scalambrini Costa, via e-mail*
2001/2002 ficará marcado como o período em que o Brasil mergulhou no racionamento de energia devido ao desabastecimento ocorrido. Regiões do país não puderam ser atendidas nas suas necessidades de energia elétrica, pela “barbeiragem” do governo federal da época, que não planejou bem, não fez os investimentos necessários, além de implantar um modelo mercantil no setor elétrico, que contribuiu de maneira decisiva ao colapso energético. Quem afinal “pagou o pato”, digo a conta de energia mais cara, foi o consumidor final.
2011/2012 ficará marcado com os anos das tarifas astronômicas (mesmo a geração sendo mais de 70% de hidrelétricas), e dos “apagões”, denominação das interrupções temporárias no fornecimento de energia elétrica, resultando na baixa qualidade do serviço oferecido. Responsabilidade do governo federal, cujos gestores do setor elétrico aprofundaram o modelo mercantil, e cometeram erros crassos na política energética, optando por ofertar energia, com a construção de usinas termelétricas a combustíveis fósseis, usinas nucleares e mega hidrelétricas na região Amazônica. E não priorizaram a diversificação da matriz energética com as novas fontes renováveis, e nem a eficientização no uso da energia.
2013 inicia-se diante de declarações e ameaças sobre a possibilidade de um risco iminente de um novo desabastecimento de energia elétrica, principalmente pela situação de estiagem prolongada, resultando no baixo nível dos reservatórios, e com chuvas previstas insuficientes para recompor os estoques.
É necessário que se diga, alto e em bom som, que a curto prazo não existe possibilidade de risco de faltar energia para atender a demanda atual. O pífio desempenho da economia nacional, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), favoreceu a que o país não sofresse uma nova crise energética nos moldes da ocorrida em 2001/2002. Se o PIB tivesse sido de 4,5%, como previsto inicialmente para o ano de 2012, o consumo da indústria estaria bem maior, e ai sim haveria risco iminente de faltar energia. E em 2013, as previsões do crescimento econômico já estão abaixo das previsões sempre otimistas e super dimensionadas do governo federal. E são nestes previsões governamentais que se baseia o planejamento energético na oferta de energia.
O que ocorrerá sem dúvida será um aumento nas tarifas devido ao repasse dos custos da energia elétrica bem mais cara das usinas termelétricas, que estão funcionando desde o final do ano passado a todo vapor (literalmente). Logo, os aumentos que ocorrerão nos próximos anos vão absorver toda a redução da tarifa obtida com a medida provisória – MP 579. Dá-se ao consumidor com uma mão, e retira com a outra.
Já a médio prazo, a situação não é tranqüila para o setor elétrico, desde que continuem os erros serem cometidos. E a situação somente mudará se houver uma guinada de 180º na política energética em nosso país.
O que se pode extrair da conjuntura atual, com declarações e ameaças de um novo racionamento de energia, é que a sucessão presidencial começou. Não se deve politizar uma coisa tão séria para o país, como a questão da energia. Com risco de criar o descrédito da população em um setor estratégico, que vai além dos governos de plantão, e mesmo levar o pânico com a possibilidade de faltar energia.
A irresponsabilidade é tanta, que pouco importa o país. O principal é a desconstrução de quem esta no poder. E ai vale tudo. Já vimos esta estória em anos recentes.
Por sua vez o “deus mercado” começa a responder ao jogo político. As bolsas de valores começam a impor o sobe e desce dos papeis das companhias elétricas. Onde vai parar esta histeria provocada?
É hora da sociedade civil se apropriar deste setor até então “monocraticamente” dominado por alguns “especialistas” iluminados, e apadrinhados políticos ungidos a cargos decisórios; e fazer valer sua força quando organizada. Já que tanto o governo, como setores da oposição não têm mais credibilidade junto à sociedade, vale o que disse o poeta “Quem sabe faz a hora. Não espera acontecer”.
*Professor da Universidade Federal de Pernambuco
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Folha: Dilma trata de risco de apagão que está descartado
Luis Nassif
É complicado esse malabarismo para não admitir a "barriga" jornalística.
A Folha noticiou a reunião de emergência, supostamente convocada pela Dilma Rousseff para tratar do risco do racionamento. Era uma reunião normal da Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, que ocorre todo mês. Autoridades, empresários do setor (como o presidente da CPFL) descartaram o risco de racionamento.
Mas como não se podia admitir a "barriga", comete-se esse primor de malabarismo. O título afirma que Dilma tratou de risco de apagão. A matéria inteira diz que não existe o risco de apagão. Se não existe o risco, a discussão foi sobre um não-fato?
"No mesmo dia em que voltou das férias, a presidente Dilma Rousseff discutiu com representantes do Ministério de Minas e Energia o risco de racionamento de energia no país --que, por ora, é prontamente descartado por integrantes do governo. (...) "O sistema hoje está equilibrado, não existe perspectiva nenhuma de racionamento nesse horizonte que se trabalha, então não tem sentido [falar em racionamento]", disse o secretário do MME, que se reuniu com a presidente no Palácio do Alvorada. "Temos geração suficiente para atender ao mercado."
Da Folha
Dilma trata de risco de apagão com Ministério de Minas e Energia
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
No mesmo dia em que voltou das férias, a presidente Dilma Rousseff discutiu com representantes do Ministério de Minas e Energia o risco de racionamento de energia no país --que, por ora, é prontamente descartado por integrantes do governo.
Depois de apresentar à presidente um relatório sobre a situação do sistema elétrico, o secretário-executivo do ministério, Márcio Zimmerman, disse na noite desta terça-feira (8) que não faz sentido falar em risco de racionamento e que o sistema está preparado para atender à demanda.
"O sistema hoje está equilibrado, não existe perspectiva nenhuma de racionamento nesse horizonte que se trabalha, então não tem sentido [falar em racionamento]", disse o secretário do MME, que se reuniu com a presidente no Palácio do Alvorada. "Temos geração suficiente para atender ao mercado."
Dilma estava em férias na Bahia e voltou à Brasília nesta terça, um dia antes da reunião com membros do setor elétrico.
Amanhã, o CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) se reúne e, a pedido da presidente, vai tratar do baixo nível dos reservatórios. O encontro será presidido pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que hoje conversou com Dilma e mandou Zimmermann ao Alvorada para tratar diretamente com a presidente.
Como a Folha revelou ontem, a situação requer atenção na avaliação do governo porque os níveis dos reservatórios estão até 62% abaixo dos registrados no ano passado e a situação tem piorado por causa do intenso calor, sobretudo no Sudeste.
Além da falta de chuvas, o consumo de energia com ventiladores e ar-condicionado tem disparado devido às altas temperaturas, que chegam a 40 graus em cidades como o Rio.
Dados da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica indicam que os reservatórios das hidrelétricas do Centro-Oeste e do Sudeste estão no mais baixo nível para o mês de janeiro desde 2001, ano em que o Brasil foi obrigado a racionar energia por conta dos riscos de apagão.
A capacidade armazenada nos lagos das usinas, atualmente, é de 28,9%.
"Hoje no Brasil temos equilíbrio estrutural. Não tem sentido [previsões de apagão], não existe, não tem essa hipótese", minimizou Zimmermann, dizendo que não tratou do assunto com Dilma.
Além de conversar com Lobão e se reunir com Zimmermann, Dilma também recebeu no Alvorada o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça).
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As grandes jogadas em cima do boato de racionamento
Enviado por luisnassif, qui, 10/01/2013 - 07:58
Do Valor
Ações de elétricas se recuperam e Bovespa fecha em alta
Por Aline Cury Zampieri
SÃO PAULO - A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve um dia de recuperação nesta quarta-feira, após três pregões de perdas. O setor de energia elétrica continuou sendo foco dos investidores e as ações foram destaque, mas dessa vez de valorização. O Ibovespa, principal índice da bolsa, fechou em alta de 0,73%, para 61.578 pontos. O volume financeiro foi de R$ 7 bilhões.
Cesp PNB liderou as maiores altas do Ibovespa e subiu 6,71%, para R$ 18,90. No setor, foi seguida por Cemig PN (5,57%, para R$ 21,76), Light ON (4,55%, para R$ 20,88), Eletrobras PNB (4,33%, para R$ 10,11), Copel PNB (2,82%, para R$ 29,80) e Eletrobras ON (2,81%, para R$ 6,58).
As atenções estiveram voltadas para a reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. No meio da tarde, os negócios chegaram a arrefecer e o índice diminuiu os ganhos, com operadores travados à espera de comentários sobre o encontro.
Na entrevista coletiva após a reunião, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, descartou risco de racionamento e disse que a redução de 20% na conta de luz está garantida a partir de fevereiro. As transações mostraram o alívio dos investidores e o Ibovespa melhorou os ganhos.
O J.P. Morgan afirmou, em relatório, que o risco de racionamento no país é de 10%, mesmo com o nível reduzido de chuvas. “A energia deve ficar mais cara, mas a oferta não está tão apertada e o Brasil está mais bem preparado para evitar a chance de um apagão do que em 2001”, afirmam os analistas Gabriel Sales e Pedro Manfredini.
Segundo o banco, Cesp e Copel, que têm volume de energia excedente e que pode ser vendido no mercado por preços mais altos, podem se beneficiar e elevar receitas.
As ações ON da BRF-Brasil Foods subiram 3,21%, para R$ 45,25. Os papéis reagiram à notícia divulgada pelo Valor de que Abilio Diniz, sócio fundador e presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, está articulando com investidores para assumir a presidência do conselho da empresa.
Na ponta negativa, Cielo caiu 3,35%, para R$ 56,15. A equipe de análise do Credit Suisse reduziu as projeções de lucro líquido da companhia para 2012 e para este ano. “Os lucros mais fracos no curto prazo e um potencial nível mais baixo de divulgação de resultados podem eliminar um pouco o desempenho positivo das ações visto nas últimas semanas”, avaliam os analistas Victor Schabbel, Marcelo Telles e Daniel Sasson, em relatório.
Para Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos, no primeiro trimestre o Ibovespa deve ficar travado, oscilando ao sabor das divulgações de números macroeconômicos, mas com tendência de se manter acima dos 61 mil pontos. Ele lembra que vários indicadores da economia sobre 2012 vão sair até março e a bolsa seguirá presa a essas divulgações de números ruins da indústria e do Produto Interno Bruto (PIB).
O especialista continua acreditando que o Ibovespa, a exemplo de 2012, não será a melhor opção para quem quer investir em ações. “Acredito no conceito de escolher ações livres, ou seja, que não estejam atreladas a nenhum índice. Minha preferência é por papéis que pagam bons dividendos.”
Nesse caso, ele reconhece que a situação ficou mais difícil, depois do baque sentido pelas comapnhias elétricas. Mas diz que ainda segue o conceito de fluxo de caixa, e vê muitas empresas do setor, como a Cemig, entregando bons resultados.
Entre as ações mais negociadas, Vale PNA subiu 0,49%, para R$ 40,30; Petrobras PN avançou 0,92%, para R$ 19,68; OGX ON caiu 0,20%, para R$ 4,82; Itaú PN teve valorização de 1,60%, para R$ 35,40; e Bradesco PN subiu 1,28%, para R$ 37,90.
(Aline Cury Zampieri | Valor)
Risco de racionamento de energia no Brasil é baixo, avalia J.P. Morgan
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Após reunião com Dilma, empresários descartam racionamento
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http://www.brasil247.com/pt/247/economi ... 3%A7ou.htm
O apagão já começou?
O Brasil vive uma situação inusitada. Embora não haja qualquer confirmação sobre um racionamento de energia, a crítica foi antecipada e a presidente Dilma Rousseff entrou no corredor polonês antes mesmo do fim do jogo. Segundo Merval Pereira, desde que ela deixou de ser ministra de Minas e Energia para se tornar presidente da República, o quadro do setor elétrico só fez "agravar-se" e nada de bom foi feito desde 2001. Miriam Leitão sugere que o governo reconheça seus erros e corra atrás do prejuízo
10 de Janeiro de 2013 às 05:14
247 - A leitura dos grandes jornais continua transmitindo uma falsa impressão: a de que o Brasil já enfrenta um apagão generalizado no setor elétrico. Embora as autoridades do setor contestem o risco de racionamento e garantam a redução de 20% nas contas de luz, novos especialistas em energia, como Merval Pereira, até recentemente um notório constitucionalista, anteciparam a crítica. E descem o sarrafo na presidente Dilma como se o País já estivesse às escuras.
Na sua coluna desta quarta-feira, chamada "Tateando no escuro", Merval fala de um país que vive hoje na escuridão. "Pois Dilma deixou de ser ministra para assumir a presidência da República, e a situação só fez agravar-se desde que, em 2008, começaram a acontecer os primeiros apagões de energia no país, e ela, primeiro como porta-voz do governo Lula no setor, e agora como responsável máxima pelas ações do governo, só fez garantir que não existe perigo de racionamento", diz ele. "O fato é que, dez anos à frente do setor elétrico de maneira direta, como Ministra de Minas e Energia, ou indireta, como chefe da Casa Civil, nada foi feito por Dilma para melhorar o sistema energético brasileiro, que volta a ter os mesmos problemas que teve em 2001".
Merval é definitivo, peremptório. Nada, N-A-D-A, foi feito nos últimos dez anos. Portanto, não se abriu uma nova fronteira hídrica na Região Norte, com as usinas do Madeira, não se retomou o projeto de Angra 3, que dormia há mais de uma década, não se fez a licitação de Belo Monte e nem de dezenas de projetos de térmicas, eólicas e PCHs. Nesse quadro de inação total dos últimos dez anos, em que o Brasil cresceu bem mais do que nos oito anteriores, é espantoso que tenha havido energia. Mas isso é outra história.
Também no Globo, Miriam Leitão antecipa a crítica ao apagão que supostamente se aproxima, mas o faz de forma mais honesta. Segundo ela, o governo deve "deixar de lado a atitude de negação e encarar de frente os riscos que existem na área do suprimento de energia". De fato, uma dose a mais de humildade não faria mal a ninguém. Mas não custa lembrar que Miriam Leitão, que, além de especialista em economia é também ambientalista, se opôs à construção das usinas na Amazônia e a toda forma do que chama de energia suja – como as térmicas, por exemplo.
Diferentemente de Merval, ela não chega a ponto de dizer que nada se fez. Mas cobra um reconhecimento dos erros. Merval quer mais. Ele diz que o que impede que o Brasil esteja hoje no escuro são as medidas emergenciais tomadas por FHC em 2001. Depois disso, N-A-D-A se fez.
Há uma certa escuridão no País. Mas talvez o apagão tenha começado na grande imprensa e nos seus principais porta-vozes. O que há, de maneira mal disfarçada, é uma torcida pelo quanto pior, melhor, como na ocasião em que Ricardo Noblat, também do Globo, espalhou pelo Twitter a notícia de um falso apagão (leia mais aqui).
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O mercado de capitais e o jogo da notícia
Luis Nassif
Atualizado às 12:45
A Folha corrigiu o erro da sua manchete, conforme se confere no post "Folha admite o erro sobre o suposto apagão energético"
Coluna Econômica
O mercado de capitais é aquele em que se aplicam as regras mais severas visando resguardar a isonomia das informações. Em países modernos, pune-se o uso de informações privilegiadas, a disseminação de informações falsas e todos os fatos que possam provocar manipulação de cotações.
No Brasil, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) é incumbida da fiscalização do mercado e das informações. É eficaz quanto à identificação e punição de vazamentos de informações privilegiadas e de manipulações do mercado em geral. Mas absolutamente omissa em episódios que envolvam a mídia.
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Dias atrás, a Folha divulgou que o governo havia feito uma convocação extraordinária do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), devido ao risco iminente de racionamento de energia.
Era notícia falsa. Mas foi repercutida durante todo o dia, apesar dos desmentidos que constavam do site do Ministério das Minas e Energia e das informações prestadas pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
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No mercado de energia, em que atuam apenas profissionais, não houve mudanças nas cotações. Na bolsa de valores, onde há maior heterogeneidade dos investidores, as cotações das elétricas oscilaram bastante. Ainda mais depois das perdas sofridas pela Eletrobrás com as decisões do governo em relação à renovação das concessões.
As ações caíram e ontem, dois dias depois da escandalização, voltaram a subir.
Papéis da CESP subiram 3,49%, da Eletropaulo PN 2,53%, da Eletrobras PNB 2,27%.
Nesses movimentos, muita gente ganhou muito dinheiro, à custa dos que perderam.
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Ontem foi a vez do portal da Veja divulgar uma notícia sem pé nem cabeça: a da suposta fusão entre o Bradesco e o Santander, que já teria sido comunicada aos funcionários.
A diferença do primeiro episódio é que, no caso da Veja, reconheceu-se o erro e providenciou-se a devida correção vinte minutos depois. O que não impediu oscilações de monta no mercado.
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É mais um capítulo complicado na perda de referencial pela mídia.
Permitiu-se que a politização passasse a interferir em todo o noticiário. Não existem mais filtros adequados. Em outros tempos, “barrigas”, informações falsas, eram punidas, ou pelo próprio jornal ou pelos concorrentes. Hoje em dia, desde que se atinja o objetivo político proposto, tudo é tolerado.
Em países mais modernos, existem modelos de auto-regulação. E as instituições reguladoras de mercado mantem uma fiscalização severa sobre abusos de informações que possam acarretar distorções de preços de ativos.
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Trata-se de um movimento terrível não apenas para o país como para a própria mídia. Na economia, a informação é essencial para alocação de recursos, decisões de investimento, planejamento estratégico.
Cabe ao jornalista o papel de intermediar os fatos, transformando-os em notícias. Por sua condição, o público supõe que tenha acesso a fontes inacessíveis para os mortais comuns, que trate as informações com discernimento, especialmente quando mexem com a poupança do público.
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No entanto, por aqui varre-se tudo para baixo do tapete. O álibi político deu autorização para o jornalista matar, não apenas reputações mas os fatos. E tudo impunemente e às claras.
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Folha admite o erro sobre o suposto apagão energético
Enviado por luisnassif, sex, 11/01/2013 - 12:55
Sobre um post do Eduardo Guimarães
Folha de São Paulo
10 de janeiro de 2013
Eliane Cantanhêde.
Aos 45 do segundo tempo
BRASÍLIA – Como previsto, o governo tentou desmentir a manchete de segunda da Folha sobre a reunião de emergência do setor elétrico marcada para ontem para discutir o nível preocupante dos reservatórios, ou o que o setor privado vem chamando, talvez com exagero, de “risco de racionamento”.
Desmentir notícias desconfortáveis, aliás, é comum a todos os governos: “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”.
Por isso, guardei uma carta, literalmente, na manga: o e-mail enviado por um dos órgãos participantes às 17h56 da última sexta-feira: “A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE informa aos agentes que a 53ª Assembleia Geral Extraordinária foi transferida para o dia 14 de janeiro [...]. O adiamento deve-se à coincidência da data anterior [9/1] com a reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), convocada pelo Ministério de Minas e Energia”.
Não se desmarcam assembleias gerais do dia para a noite, porque elas custam um dinheirão, envolvem dezenas de pessoas na organização, centenas de convidados e deslocamentos. A CCEE só fez isso porque foi convocada de última hora, cinco dias antes, para a reunião de Brasília.
O governo, porém, insiste que é coincidência que a reunião ocorra no meio do turbilhão -e da assimetria das chuvas. O ministro Lobão até me disse que estava marcada havia “um ano”. Para comprovar, me remeteu para o cronograma de reuniões no site do ministério.
Sim, estava lá, mas o cronograma foi postado no site precisamente às 15h14min30s de segunda, dia 7, horas depois de a manchete da Folha sacudir o governo, o setor, talvez o leitor/consumidor.
Há muito o que discutir: as falhas do sistema, a falta de planejamento, a birra de são Pedro, os custos das térmicas e, enfim, como ser transparente com indústrias, concessionárias e usuários. Aliás, uma obrigação de qualquer governo.
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Nem seria necessário mais nada para entender que a tese salvacionista de Cantanhêde não se sustentava, pois bastaria ver o cronograma de reuniões do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico para saber se, como a colunista insinuou, tal cronograma fora composto às pressas para desmentir a tese da “reunião de emergência”.
O Ministério das Minas e Energia, porém, antecipou-se ao que este blog iria publicar e enviou carta ao jornal provando que nunca houve reunião de emergência alguma, conforme a “barriga” que o veículo cometeu sob influência de sua colunista. Sem remédio, a Folha publicou a carta em sua edição desta sexta-feira. Veja, abaixo, a manifestação do Ministério.
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Folha de São Paulo
11 de janeiro de 2013
Painel do Leitor
Energia
No dia 7/1, a Folha publicou a seguinte manchete de capa: “Escassez de luz faz Dilma convocar o setor elétrico”, com o subtítulo “Reunião de emergência discutirá propostas para evitar riscos de racionamento”. O texto remetia para reportagem em “Mercado” sob o título “Racionamento de luz acende sinal amarelo”.
Tratava-se de uma desinformação. Na mesma data da publicação, preocupado com a repercussão da reportagem, principalmente nas Bolsas, o ministro Edison Lobão, em telefonema à autora da reportagem, a jornalista Eliane Cantanhêde, esclareceu que a reunião em referência não fora convocada pela presidenta da República, nem tinha caráter de emergência. Tratava-se, conforme relatou, de reunião ordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), marcada desde o ano passado.
Além desses esclarecimentos não terem sido prestados na reportagem sobre o assunto publicada em 8/1 (“Lobão confirma reunião, mas descarta riscos”, “Mercado”), a jornalista, na coluna “Aos 45 do segundo tempo” (“Opinião”, ontem), põe em dúvida a veracidade das informações do Ministério de Minas e Energia. Para que não reste dúvida sobre o assunto, consta na ata da 122ª Reunião do CMSE, realizada em 13/12/2012, precisamente no item 12, a decisão de realizar no dia 9/1/2013 a referida reunião ordinária.
Antonio Carlos Lima, da Assessoria de Comunicação Social do Ministério de Minas e Energia (Brasília, DF)
—–(...) O Ministério das Minas e Energia também entendeu que a matéria tinha, se não objetivo, ao menos potencial para tumultuar a economia, do que decorreu queda do valor das ações das empresas geradoras de energia, as quais, desfeita a farsa, recuperaram-se na última quinta-feira.
O mais engraçado mesmo, porém, foi a tréplica de Eliane Cantanhêde. Leia abaixo.
—–
Folha de São Paulo
11 de janeiro de 2013
Painel do Leitor
RESPOSTA DA JORNALISTA ELIANE CANTANHÊDE – De fato, a reunião foi marcada em dezembro, mas, diante dos níveis preocupantes dos reservatórios, ganhou caráter emergencial – evidenciado pela intensa movimentação do governo. A Folha contemplou no dia 8/1 a versão do ministro de que não havia risco de racionamento.
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É piada, não é mesmo? A matéria de Cantanhêde na Folha do dia 7 não disse que a reunião “ganhou caráter emergencial” devido aos “níveis preocupantes dos reservatórios”; disse que era de emergência, convocada às pressas. Não foi por outra razão que a própria Folha retificou a matéria mentirosa e alarmista logo abaixo da resposta de sua colunista, na seção “Erramos”.
Veja, abaixo, a retratação da Folha – obviamente que sem o destaque que o jornal deu à “barriga” que cometeu por obra e graça de uma “jornalista” cujo trabalho, há muito, pauta-se por motivações político-partidárias, para dizer o mínimo.
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Folha de São Paulo
11 de janeiro de 2013
Seção “Erramos”
MERCADO (7.JAN, PÁG. B1) A reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico havia sido marcada em 13 de dezembro de 2012, e não neste ano, conforme informou a reportagem “Racionamento de luz acende sinal amarelo”, de Eliane Cantanhêde
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