Procurando contribuir com os colegas que fizeram apontamentos lúcidos, adiciono...
Vida fácil?
A comparação sobre a rotinas das GPs, e, do outro lado, de médicos, bombeiros, policiais, taxistas, etc não é totalmente infundada quando leva em conta o desgaste físico. Entretanto o maior dano que vi em meus anos de putaria é o desgaste pscicológico. Veja bem:
Um médico ou policial, por mais complicada que seja sua rotina, tem sua vida, nome, identidade, relacionamentos e respeito preservados. A GP não tem!
É aqui que a porca torce o rabo! Estas meninas vivem uma vida paralela, sendo elas mesmas em determinados momentos do dia e encarnando personagens muito dissociados de si mesmas em outros - isto gera, com o passar dos anos, uma séria crise emocional onde o luxo e o glamour da personagem pouco se refletem na apatia e depressão da pessoa real. A GP de luxo, na maioria dos casos, que frequenta restaurantes caros apenas coloca os pés lá com seus clientes, ou no máximo, com outra amiga GP - ela não se vê vivendo aquela situação naturalmente, com sua família por exemplo.
Este desgaste deve ser incomensurável!
Sim, há GPs de família de classe média... porém destas, 99% estão "na vida" por desvirtuamente total de valores ou situações totalmente adversas. A maioria das meninas que optam pela prostituição sem dúvida tem uma história muito, muito triste e de pobreza para contar. História essa que precisa ser constantemente deixada de lado no momento em que ela encara uma lingerie nova, um sorriso novo e um novo nome para agradar o Sr. Cliente que sobe para fodê-la. E ela sabe que para ele, ela é apenas mais uma modelo. Um corpo - e só!
Voltando ao exemplo do médico e do policial, dois profissionais com rotinas complexas, comparo: onde um médico se envergonha junto à família ou amigos de sua atividade? Um policial lida com o pior da sociedade, mas ao voltar para casa toda sua família e círculo o conhecem e sabem se vida e atividade - inclusive tendo todo o apoio da corporação, sem precisar criar personagens ou dissociar sua identidade.
Além dos danos psicológicos óbvios acima, devemos levar em conta também a total carência de possibilidade de um relacionamento afetivo saudável na vida das GPs. Todos nós, com maior ou menor intensidade, em algum momento da vida buscamos alguém para nos fazer companhia. Onde uma GP, que já possui um histórico pessoal e familiar complicado, somado aos traumas e danos da prostituição, arruma um namorado/marido bacana? Isto nos leva a outro fator - o dano é feito, mas diferente de outros profissionais, não é cicatrizado - a ferida só aumenta, nunca fecha. Não vejo nas GPs muitas oportunidades de desfrutarem de válvulas de escape. Há relatos de meninas que atendem sábado, domingo, de manhã, de tarde, de noite... em qual horário elas são elas mesmas? Suas vidas acabam se voltando quase que integralmente à atividade de acompanhante. Não há clubes, não há alguém em casa que as aconchega depois, não há congratulações... A solidão então se abate, limitando muitas de suas interações sociais às rotinas da prostituição - é um círculo vicioso.
Acredito que estas são as questões que melhor definem o quão difícil é a prostituição para a mulher.
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Aposentadoria...
Sobre aposentadoria... acho que depende muito da formação pessoal da mulher. Algumas, bem ou mal, no decorrer do amadurecimento acabam aprendendo algo que pode ser usado como atividade profissional - provavelmente menos rentável que a prostituição, mas imagino que chegue num ponto onde a mulher prefere limpar fossas a se prostituir, então, qualquer trabalho é válido.
Para as meninas de melhor padrão, que conseguem investir em cursos universitários e manter a sanidade frente à atividade de acompanhante - a maioria acaba entrando no mercado de trabalho e superando parte dos dramas da labuta, levando uma vida plenamente normal. Marido, trabalho, filhos... talvez, imagino, por terem vivido por um período um lado mais escuro da vida dêem mais valor a um bom marido e uma vida estável.
Na outra ponta, das GPs de baixo ou baixíssimo nível. Sem dúvida a tendência é a piora constante de sua condição física, social e moral. Provavelmente acabam preenchendo as páginas de jornais policiais, virando domésticas ou outras funções onde não é necessário treinamento específico. E nunca, nunca mesmo, deixam a miséria.
No meio do caminho estão as GPs de oportunidade - garotas que não exercem a profissão full time. Sendo algo esporádico, como um complemente de renda... acho que pouco influencia no fim das contas.
Ufa... depois filosófo mais a respeito. Agora preciso eu ir trabalhar.
Abs!