Pior. Collor e Sarney resignam-se a ser meros deputados. O Nefasto insiste em buscar os holofotes.Carnage escreveu:Pior que o Collor ou o Sarney??Tricampeão escreveu:FHC é, sem dúvida alguma, o pior ex-presidente da história do Brasil.
DESMISTIFICANDO FHC
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Re:
Entendi...Tricampeão escreveu:Pior. Collor e Sarney resignam-se a ser meros deputados. O Nefasto insiste em buscar os holofotes.Carnage escreveu:Pior que o Collor ou o Sarney??Tricampeão escreveu:FHC é, sem dúvida alguma, o pior ex-presidente da história do Brasil.
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
E falando em holofotes:
http://brasiliaeuvi.wordpress.com/2010/ ... ldo-x-fhc/

http://brasiliaeuvi.wordpress.com/2010/ ... ldo-x-fhc/
Guerra anunciada na ABL: João Ubaldo x FHC
Leandro Fortes
João Ubaldo sobre FHC: "sociólogo medíocre"
Guardei, por 12 anos, em meio à minha papelada imunda de recortes de jornais e revistas velhas, numa caixa de papelão em frangalhos, um artigo de João Ubaldo Ribeiro datado de 25 de outubro de 1998, porque esperava justamente esse momento: a hora em que Fernando Henrique Cardoso, alijado da política e na iminência de cair no esquecimento público, se candidatasse a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. O artigo, intitulado “Senhor Presidente”, foi escrito logo depois da vitória de FHC, no primeiro turno das eleições de 1998, graças ao Plano Real e à aprovação, no Congresso Nacional, da Emenda Constitucional da reeleição, conseguida à custa de um escandaloso esquema de compra de votos. O texto é pau puro e, surpreendentemente, foi escrito numa época em que a mídia nacional era, praticamente, uma assessoria de imprensa do consórcio PSDB/PFL. Não por outra razão, foi inicialmente censurado em “O Estado de S.Paulo”, para onde o cronista escrevia, embora o jornal tenha sido obrigado a publicá-lo, uma semana depois, para evitar se envolver em um escândalo de censura justo com um dos mais respeitados escritores do país. Num tempo de internet incipiente, a repercussão do artigo foi mínima, ficando restrita às redações e ao meio intelectual, de resto, também acovardado pela força do pensamento único imposto à sociedade pela imprensa e pelo governo de então.
Esse retalho jornalístico ficou comigo tanto tempo porque, no fundo, eu tinha certeza que a vaidade intelectual de FHC iria levá-lo, em algum momento, a pleitear uma vaga na ABL, como agora se noticia em notas discretas de colunas de jornal, certo de que se trata de uma confraria historicamente vulnerável a influências políticas, quando não à bajulação pura e simples, como qualquer um pode constatar, embora abrigue grandes escritores, como o próprio João Ubaldo Ribeiro. Contudo, lá também estão escribas do calibre de José Sarney e do cirurgião plástico Ivo Pitanguy. No passado, também circulavam entre os imortais o general Aurélio de Lira Tavares (codinome “Adelita), eleito em 1970, com o apoio do ditador Emílio Médici, e Roberto Marinho, das Organizações Globo. A presença de FHC, que pelo menos escreveu uns livros de sociologia não seria, portanto, um escândalo em si. O problema é o artigo de João Ubaldo.
No texto, o escritor baiano, entre outras considerações, refere-se assim a Fernando Henrique Cardoso: “(…) o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico”. Mais adiante, relembra um dos piores momentos da vida de FHC: “(…) o senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo”.
E por aí vai, até se lembrar, a certa altura do texto, que FHC, em algum momento da vida, poderia se interessar pela vida imortal da ABL. João Ubaldo, então, cospe uma fogueira de brasas para cima de Fernando Henrique: “(…) E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais”.
Eu posso estar errado, já se passou mais de uma década, a ira de João Ubaldo pode ter se perdido na poeira do tempo, mas a julgar pelo teor do imortal artigo do escritor e jornalista baiano, FHC vai ter que pensar duas vezes antes de se candidatar a uma vaga na ABL. Ou considerar o fato de que só vai entrar lá por cima do cadáver de João Ubaldo Ribeiro. A conferir.
Abaixo (e aqui, retirado do ótimo site Alma Carioca), o artigo completo, para quem quiser se deleitar:
Senhor Presidente
João Ubaldo Ribeiro
25 de outubro de 1998
Senhor Presidente,
Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito. O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu recadinho.
Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu, assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas, como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.
O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo. Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e, como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem mais macho que o senhor.
Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto escrevo, estou chorando.
Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável, com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa, a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes. Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor, numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o senhor chamando os aposentados brasileiros de vagabundos. Claro, o senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que seu antecessor que hoje vive em Miami.
Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais.







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Re: DESMISTIFICANDO FHC
http://www.blogcidadania.com.br/2010/08 ... oi-dormir/
Histórias do PIG para boi dormir
Posted by eduguim on 11/08/10 • Categorized as Opinião do blog
Por vezes incontáveis a grande imprensa repisou uma história sobre que uma maioria expressiva da sociedade rejeita mesmo depois de tanto tempo sofrendo esse bombardeio opinativo que visa reverter-lhe a percepção. Tendo as Organizações Globo, o Grupo Folha, o Grupo Estado e a Editora Abril à frente, esse movimento “jornalístico” tenta convencer os brasileiros de que o governo anterior do país, presidido por Fernando Henrique Cardoso, tem a maior parte do mérito pelos sucessos deste governo.
Em mais um entre os milhares de textos, em mais uma entre as muitas versões que essa mídia produziu para a mesma história a colunista de economia de O Globo e da TV Globo Miriam Leitão tenta conseguir o que gente muito mais hábil do que ela tentou e jamais conseguiu, ou seja, vender a mais popular das histórias da imprensa golpista para boi dormir, a de que o governo Lula tem o único mérito de ter continuado a fazer na economia, no social, enfim, em tudo que dá certo, apenas o que FHC começou.
Quando digo que a grande maioria dos brasileiros não engole essa tese, digo com base em fatos como a pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) encomendada ao Instituto Sensus no fim do ano passado e que pediu aos entrevistados uma comparação entre o atual governo e o anterior.
Para 76% dos pesquisados, o governo Luiz Inácio Lula da Silva é melhor do que o de Fernando Henrique Cardoso. A rejeição a FHC é tanta que a pesquisa CNT/Sensus revelou que 49,3% dos dois mil entrevistados afirmaram que não votariam em um candidato indicado pelo ex-presidente. Ao mesmo tempo, a rejeição a um nome indicado por Lula era de 16%. Agora deve ser menos…
Não obstante o insucesso monumental que a mídia tem tido em vender essa tese, não desiste. E cada uma das suas tentativas de “fechar” a venda encerra certa peculiaridade marcante: o otimismo aparente e a intenção clara de apresentar aquela versão velha como fato novo que, finalmente, vem a público. É o que faz Miriam Leitão no texto que reproduzo a seguir, sobre o qual faço algumas considerações ao final desta postagem.
É profunda a fragilidade dessa versão dos fatos em nome da qual Leitão pretende se manifestar. Até no texto dela é possível ver elementos que mostram toda distorção espertalhona que está sendo praticada.Em nome dos fatos
Miriam Leitão em O Globo de 11/08/2010[/b]
Inflação fora de controle quem enfrentou foi o Plano Real. O acumulado em 12 meses estava em 5.000% em julho de 1994. Quando a inflação subiu em 2002, no último ano do governo Fernando Henrique, pela incerteza eleitoral criada pelo velho discurso radical do PT, ficou em 12%.
Ela foi reduzida pelo instrumental que o PT havia renegado. Isso é a História. O resto é propaganda e manipulação.
O PT e o governo Lula têm dito que receberam o país com descontrole inflacionário e a candidata Dilma Rousseff repetiu isso na entrevista do Jornal Nacional. O interesse é mexer com o imaginário popular que lembra do tormento da inflação.
A grande vitória contra a inflação foi conquistada no governo Itamar Franco, no plano elaborado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, como todos sabem. Nos primeiros anos do governo FH houve várias crises decorrentes, em parte, do sucesso no combate à inflação, como a crise bancária.
Foi necessário enfrentar todas essas ondas para garantir a estabilização. Nada daquela luta foi fácil. A inflação havia derrotado outros cinco planos, e feito o país perder duas décadas.
Todos sabem disso. Se por acaso a candidata Dilma Rousseff andava distraída nesta época, o seu principal assessor Antonio Palocci sabe muito bem o que foi que houve. Ele ajudou a convencer os integrantes do partido a ter uma atitude mais madura e séria no combate à inflação.
O PT votou contra o Plano Real e fez oposição a cada medida necessária para consolidar a nova ordem. As ideias que o partido tinha sobre como derrotar a alta dos preços eram rudimentares.
Em 2002, a inflação subiu principalmente nos dois últimos meses, após a eleição. A taxa, que havia ficado abaixo de 6% em 2000, subiu um pouco em 2001 e ficou quase todo o ano de 2002 em torno de 7%. Em outubro daquele ano, o acumulado em 12 meses foi para 8,5%. Em novembro, com Lula eleito, subiu para 10,9% e em dezembro fechou em 12,5%.
É tão falso culpar o governo Fernando Henrique por aquela alta da inflação — de 12,5% repita-se, e não os 5.000% que ele enfrentou — quanto culpar o governo Lula pela queda do PIB do ano passado, que foi provocada pela crise internacional.
Recentemente, conversei com um integrante do governo Lula que, longe dos holofotes e da campanha, admitiu que essa aceleração final foi decorrente do fato de que a maioria dos empresários não acreditava que o governo Lula fosse pagar o preço de manter a estabilização.
Esse foi o mérito do PT. Foi ter contrariado seu próprio discurso, abandonado suas próprias propostas, por ter percebido o valor da estabilização.
Esse esforço foi liderado por Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A inflação entraria numa rota de descontrole que poderia até ter destruído o esforço feito durante os oito anos anteriores se o governo Lula tivesse persistido nas suas propostas.
A História foi essa e não a que a candidata Dilma Rousseff apresentou.
Ela diz, a certa altura, que, “Em 2002, a inflação subiu principalmente nos dois últimos meses, após a eleição. A taxa, que havia ficado abaixo de 6% em 2000, subiu um pouco em 2001 e ficou quase todo o ano de 2002 em torno de 7%. Em outubro daquele ano, o acumulado em 12 meses foi para 8,5%. Em novembro, com Lula eleito, subiu para 10,9% e em dezembro fechou em 12,5%.
Ora, o que Leitão acaba de descrever nada mais é do que um processo inicial de descontrole inflacionário, de inflação ascendente, iniciado em 1999, quando a maxidesvalorização do real, imposta ao país pela retenção irresponsável da desvalorização da moeda por FHC – que não tomou as medidas necessárias no momento certo visando as eleições de 1998 –, gerou inflação ao encarecer os insumos importados na economia.
Claro que a ascensão de Lula nas pesquisas e a probabilidade de ele vencer a eleição presidencial provocaram, sim, intranqüilidade na economia e, sobretudo, entre o capital estrangeiro. Isso, no entanto, ocorreu não só por idéias pretéritas do PT que assustavam os mercados, mas devido a um terrorismo feito pelo PSDB, com Regina Duarte e tudo, enquanto que o então partido oposicionista tentava convencer sociedade e aqueles mercados de que mudara sua visão.
Outra versão absurda dos fatos é a de que, como diz Leitão, o plano Real tenha sido “elaborado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, como todos sabem”. Conversa. O mesmo Plano já tinha sido imposto por Ronald Reagan a boa parte da América Latina. Países como Argentina, Bolívia ou México, entre outros, já tinham adotado o modelo que se baseava em âncora cambial e privatizações para quebrar a dinâmica inflacionária.
A candidata Dilma Rousseff faria um bem enorme ao país se repetisse os argumentos que exibo aqui da próxima vez que o candidato José Serra vier mentir na cara de todo um povo que, como revelam as sondagens da opinião pública da natureza da que reproduzi, não crê em uma única palavra que conste de versões dos fatos como a descrita por Miriam Leitão no texto acima.
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
O FATO é que o Plano Real nunca debelou a inflação.Carnage escreveu:Ora, o que Leitão acaba de descrever nada mais é do que um processo inicial de descontrole inflacionário, de inflação ascendente, iniciado em 1999, quando a maxidesvalorização do real, imposta ao país pela retenção irresponsável da desvalorização da moeda por FHC – que não tomou as medidas necessárias no momento certo visando as eleições de 1998 –, gerou inflação ao encarecer os insumos importados na economia.
Claro que a ascensão de Lula nas pesquisas e a probabilidade de ele vencer a eleição presidencial provocaram, sim, intranqüilidade na economia e, sobretudo, entre o capital estrangeiro. Isso, no entanto, ocorreu não só por idéias pretéritas do PT que assustavam os mercados, mas devido a um terrorismo feito pelo PSDB, com Regina Duarte e tudo, enquanto que o então partido oposicionista tentava convencer sociedade e aqueles mercados de que mudara sua visão.
Outra versão absurda dos fatos é a de que, como diz Leitão, o plano Real tenha sido “elaborado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, como todos sabem”. Conversa. O mesmo Plano já tinha sido imposto por Ronald Reagan a boa parte da América Latina. Países como Argentina, Bolívia ou México, entre outros, já tinham adotado o modelo que se baseava em âncora cambial e privatizações para quebrar a dinâmica inflacionária.
O Plano Real apenas conteve a inflação por cerca de 5 anos, com base no arrocho salarial, na venda de patrimônio nacional, numa freada geral da economia e no abandono dos investimentos em infraestrutura. FATO.
Depois que o modelo se esgotou, em 1998, o Brasil quebrou. FATO.
E a inflação voltou logo depois disso. Em 1999 já estava fora de controle de novo. FATO.
O governo de Luís Inácio Lulalá da Silva encontrou o país no bagaço e teve que reconstruí-lo. Não podia diminuir mais os salários e não havia mais nada que vender. Não tinha como frear mais a economia, que já estava parada. Não tinha como sucatear ainda mais a infraestrutura, porque ela já estava se desmanchando. FATO.
Foram muitos anos de ajuste até atingirmos a situação atual. Pode-se dizer acertadamente que a política econômica do governo de Luís Inácio Lulalá da Silva é uma continuação da política econômica do governo FHC. Afinal de contas, os salários continuaram baixos e a economia continuou se arrastando, além de a moeda continuar com o mesmo nome; foi parte do custo do combate à inflação. Mas nenhuma outra estatal foi presenteada aos estrangeiros e a infraestrutura começou a ser recuperada. Paulatinamente, os salários foram aumentando e a economia se aquecendo. O FATO é que hoje estamos 180 graus afastados do Plano Real.
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
http://www.escoladegoverno.org.br/artig ... a-sem-povo
Presidente Fernando Henrique: Democracia sem Povo?!
Maurício Piragino / Xixo
Assistindo a reprise do programa de TV 'Canal Livre' da Rede Bandeirantes, do dia 18/04/2010 e que tinha como entrevistado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, fiquei intrigado.
O professor universitário, sociólogo, ex-senador e ex-Presidente da República, ao ser indagado por José Paulo de Andrade (participavam da entrevista também os experientes jornalistas Joelmir Beting, Boris Casoy e Fernando Mitre) quando falavam da Reforma Política, afirmou literalmente. Vejam a transcrição de trecho da entrevista:
“E esta discussão nova sobre democracia direta? Não é um perigo?”, questionou José Paulo de Andrade.
O ex-presidente respondeu: “Ela não é nova. É antiga e esta sempre beirando o facismo, a manipulação...”.
O jornalista insistiu: "É um perigo?”
O ex-presidente sociólogo respondeu: “É perigo! Uma coisa é em certas questões você consultar o povo. Outra coisa é a população participar mais de decisões. Tudo isto é justo e é necessário. Agora quando se fala em democracia direta é outra questão. Ela supõe o líder que tem capacidade de falar, de manipular, de usar os meios de comunicação e depois vem a consulta para responder... e a resposta vem o sim. Isto não é democracia.”
José Paulo: “Seria uma espécie de direitos humanos, do plano nacional de direitos humanos que deu tanta polêmica? Seria uma espécie de democracia direta?”
Pres.FHC: “Acho que tem uns equívocos..... eu não li o Plano Nacional de Direitos Humanos em seus mínimos detalhes pra saber, acho que não, não chegaria neste ponto. Acho que...”
José Paulo interrompe: “...A história da invasão de terras. O Sr. acabou sendo vítima até?"
Pres.FHC: “Aquilo é um equívoco. Chamar.... imagina, primeiro consultar para decidir se pode ou não pode pedir pra desalojar. Isto é um equívoco. Isto não é nem democracia direta, isto é bagunça, né!?”
Joelmir Beting: “O Sr. tem chamado isto, este fenômeno que agora está presente no Chavismo plebiscitário e que agora está querendo virar moda na América do Sul; o Sr. tem chamado isto de autoritarismo popular ou burguesia de Estado”
Pres.FHC: “ É, burguesia de Estado,... engraçado,... esta foi uma expressão do tempo do regime militar, que era pra fazer a crítica do que estava acontecendo, que era a formação das grandes empresas estatais, que na verdade substituíam as empresas privadas, e as pessoas confundiam como se fosse um avanço socialista. Digo não, isto é uma burguesia de Estado. Isto é uma contradição dos termos, mas é pra chamar a atenção deste fenômeno.”
A entrevista seguiu e a minha indignação também (acessem o vídeo ou vejam abaixo).
Fiquei sem respostas, pois os experientes entrevistadores não cumpriram seu papel, isto é, de o questionar. Portanto, indago:
* Como pode um professor universitário de sua experiência, distorcer desta maneira a ideia de democracia direta?
* A única iniciativa de plebiscito/referendo no mundo é a da Alemanha nazista de 80 anos atrás?
* Os povos venezuelano, equatoriano e boliviano, estão sendo todos manipulados e em tudo?
* A Suíça, que a cada 3 meses consulta seu povo, 'beira o facismo'?
* Os países como Espanha, Estados Unidos e Itália são facistas porque promovem plebiscitos e referendos (nos EUA 'Direct Legislation')?
* Estes povos estão também sendo manipulados?
* Será que o ex-presidente está desinformado?
* Partindo de sua própria 'tese': Será que não é possível impedir que o 'líder manipulador' chame plebiscitos e referendos, guardando esta prerrogativa para o povo soberano e o Congresso Nacional?
* Como um ex-presidente que esteve a frente do poder por dois mandatos, dizer que em algumas questões deve-se ouvir o povo e isto é justo e necessário e, não defendeu ou propôs nenhuma consulta em nenhum momento, durante todos os seus 8 anos de governo?
* Por exemplo: a reeleição dos cargos executivos (presidente, governadores e prefeitos), estabelecida em seu governo (não entrarei no mérito de como ela se estabeleceu); não era uma matéria para ouvir o povo?
* Outro exemplo: as privatizações da Vale do Rio Doce e de dezenas de estatais, ocorridas em seu governo, não eram questões justas e necessárias para ouvir o povo, verdadeiro dono daquelas empresas, por mais que o Sr. chamasse aquilo de 'burguesia de Estado'; já que o Sr. se diz democrata?
* O ex-presidente que foi um exilado e ajudou a construir a Constituição Federal de 1988, foi chamada de 'Constituição Cidadã', inclusive por seus pares. Isto quer dizer que a Constituição Brasileira vigente é perigosa, por estabecer em seu artigo 14, a democracia direta (plebiscito, referendo e iniciativa popular)?
* O que é democracia para o ex-presidente sociólogo?
* Se o entendimento mínimo por democrata significa aquele que respeita o soberano e o Estado de direito, é possível ter democracia no Brasil com o soberano silenciado, isto é, o povo brasileiro amordaçado?
* Ou será que a Constituição Federal vale só em termos?
* O medo de ouvir o povo em algumas questões foi o medo de 'trair' a oligarquia que o sustentou no poder?
Vivemos um momento muito curioso na história brasileira: hoje todos somos democratas, inclusive os que sustentaram a ditadura militar por 21 anos, que estão também alojados na sigla partidária “DEMOCRATAS”. Por coincidência, era o grande partido (na época PFL) aliado do ex-presidente.
Será que é isso que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz quando se intitula democrata?
Democracia sem povo é o que vivemos. A democracia representativa está no Brasil com seu modelo esgotado e a nossa democracia continuará sendo uma kitchenette enquanto a 'mentalidade democrática' não ouvir o povo soberano em questões fundamentais.
Urge a necessidade de equalizarmos a democracia representativa com a democracia participativa e direta. Para isso precisamos desobstruir estes instrumentos de democracia direta com a aprovação de nova lei complementar.
O ex-presidente e os experientes jornalistas nesta entrevista deseducaram a população brasileira.
Afinal, manipular o povo é tentar fazê-lo acreditar em uma verdade distorcida, única e obtusa, tentando fazê-lo crer, que nós cidadãos brasileiros, podemos muito menos, por mais que tentem nos iludir com o contrário. Como sempre lembramos na Escola de Governo:
Viva a soberania do povo brasileiro!
http://www.youtube.com/watch?v=YXpXR_en ... r_embedded
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
FHC e a CIA
Publicado por Maria Dirce em 7 setembro 2010
O comentário sobre o livro consta na coluna do jornalista Sebastião Nery, na edição deste sábado do diário carioca Tribuna da Imprensa. “Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas: “Consistente e fascinante” (The Washington Post). “Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA” (Spectator). “Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente” (The Times).
Dinheiro da CIA para FHC
“Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap”. Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro “Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível”, da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano de 1969″ era fevereiro de 69.
Fundação Ford
Há menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos. E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.
Agente da CIA
Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.
Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma “personalidade internacional” e passou a dar “aulas” e fazer “conferências” em universidades norte-americanas e européias. Era “um homem da Fundação Ford”. E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.
Milhões de dólares
1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas” (pág. 153).
2 – “O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça…” (pág. 152). “A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria” (pág. 443).
3 – “A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares… Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos… com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos” (pág. 147). FHC facinho
4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág. 123).
5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil” (pág. 119).
6 – “A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana” (pág. 45). Fernando Henrique foi facinho.
A obra da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editada no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro), ao mesmo tempo em que pergunta, responde: quem “pagava a conta” era a CIA, a mesma fonte que financiou os US$ 145 mil iniciais para a tentativa de dominação cultural e ideológica do Brasil, assim como os milhões de dólares que os procederam, todos entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do país no período de 1994 a 2002.
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
Sempre Alerta escreveu:FHC e a CIA
Publicado por Maria Dirce em 7 setembro 2010
O comentário sobre o livro consta na coluna do jornalista Sebastião Nery, na edição deste sábado do diário carioca Tribuna da Imprensa. “Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas: “Consistente e fascinante” (The Washington Post). “Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA” (Spectator). “Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente” (The Times).
Dinheiro da CIA para FHC
“Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap”. Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro “Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível”, da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano de 1969″ era fevereiro de 69.
Fundação Ford
Há menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos. E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.
Agente da CIA
Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.
Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma “personalidade internacional” e passou a dar “aulas” e fazer “conferências” em universidades norte-americanas e européias. Era “um homem da Fundação Ford”. E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.
Milhões de dólares
1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas” (pág. 153).
2 – “O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça…” (pág. 152). “A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria” (pág. 443).
3 – “A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares… Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos… com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos” (pág. 147). FHC facinho
4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág. 123).
5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil” (pág. 119).
6 – “A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana” (pág. 45). Fernando Henrique foi facinho.
A obra da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editada no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro), ao mesmo tempo em que pergunta, responde: quem “pagava a conta” era a CIA, a mesma fonte que financiou os US$ 145 mil iniciais para a tentativa de dominação cultural e ideológica do Brasil, assim como os milhões de dólares que os procederam, todos entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do país no período de 1994 a 2002.
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Eu nunca entendi como o Serra, que era um conhecido subversivo de esquerda, presidente da UNE, conseguiu em plena ditadura militar, escapar do Brasil e depois na bárbara ditadura Pinochet, fugir do Chile e ser recebido de braços abertos nos EUA, onde recebeu o “green card”, e viveu por vários anos graças a uma bolsa de estudos de mestrado numa caríssima universidade privada americana, sem ser sequer formado.
Artigo muito esclarecedor.
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
http://www.advivo.com.br/sites/default/ ... anos_1.pdf
http://www.youtube.com/watch?v=wZ8DTdVJ ... r_embedded
Ciro Gomes sobre o governo FHC:Mitos Tucanos 1
Ricardo Carneiro
(Professor Titular do Instituto de Economia da UNICAMP)
Os dados relativos ao desempenho da economia brasileira diante das crises internacionais que constam do documento da ABDIB “DOIS ANOS DEPOIS: O impacto da crise financeira no PIB, nos investimentos e na produção de bens de capital” põem por terra uma das mais caras teses tucanas, a de que o crescimento econômico foi medíocre durante a era FHC por conta dessas crises. Nunca é demais lembrar que o PIB cresceu em média 2% a.a na era FHC contra 4% a.a. na era Lula.
Como se pode ver nos dois gráficos abaixo, a crise de maior impacto foi a de 2008, como seria de esperar, pois ela é sabidamente a maior crise do capitalismo desenvolvido desde a Grande Depressão.. Mas, dada a sua intensidade, chama a atenção a rapidez com a qual a economia brasileira se recupera: tanto no PIB quanto no investimento, são apenas dois trimestres de queda seguida de recuperação com o nível pré crise sendo atingido em pouco mais de um ano no caso do PIB e em um ano e meio no do investimento. A amplitude e sucesso da política anticíclica posta em prática pelo Governo Lula são, à luz desses dados, indiscutíveis. O uso adequado da política econômica, com menor importância da política cambial, fiscal e monetária mas com apelo maior à política creditícia por meio dos bancos públicos, jogou um papel decisivo.
Em contraste com a crise de 2008, tanto a crise da Ásia quanto a crise sucedânea da Rússia têm efeitos bem menos relevantes sobre a economia brasileira. Assim, a crise da Ásia que se inicia no quarto trimestre de 1997, faz declinar o PIB em 2% apenas em um trimestre, com impacto quase nulo no investimento. Na seqüência, a crise da Rússia tem efeito menos pronunciado ainda sobre o PIB, embora mais intenso duradouro sobre o investimento. De qualquer modo, a recuperação do Investimento se faz após quatro trimestres do início da crise e de maneira muito lenta a despeito da melhoria das condições internacionais, e da mudança do regime cambial. Aliás, cabe recordar que a retomada do crescimento observada em 2000 (um ano e meio após a crise) é interrompida, em 2001, pelo apagão. Diante desses fatos as conclusões são inescapáveis: fatores domésticos, dentre eles a política econômica posta em prática na era FHC foram muito mais importantes para explicar o medíocre desempenho da economia naquele período do que fatores internacionais.
Ver gráficos no link acima
http://www.youtube.com/watch?v=wZ8DTdVJ ... r_embedded
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
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Os anos FHC e a morte da alma nacional
Neste momento em que se discute o futuro do Brasil e que o país está colocado diante de dois caminhos, a Carta Maior relembra a obra de um grande brasileiro, o jornalista Aloysio Biondi, que, durante a década de 90, foi uma das raras vozes a se levantar contra a abertura econômica sem freios e a condução das privatizações pelo governo Fernando Henrique Cardoso. No primeiro artigo desta série, Biondi escreve sobre como FHC não destruiu apenas a economia nacional, tornando-a dependente do exterior. "Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional, o sonho coletivo. Com o jogo perverso de estimular a busca de pretensas vantagens individuais, o governo FHC destruiu a busca de objetivos coletivos".
Aloysio Biondi
(*) Artigo publicado na revista Bundas, em 7 de agosto de 1999
Para conhecer a vida e a obra de Aloysio Biondi: http://www.aloysiobiondi.com.br/
**********************************************************
Reverencialmente, peço licença ao mestre Celso Furtado para repeti-lo:
“Nunca estivemos tão longe do país com que sonhamos um dia”.
Uma pequena frase. Capaz, porém, de detonar um turbilhão de lembranças, das emoções e expectativas, dos dias em que o Brasil era um país e tinha sonhos. Um povo que sonhava virar Povo. Estudantes, intelectuais, empresários, trabalhadores, agricultores, classe média envolvidos no debate pelo desenvolvimento, conscientes, todos, de que havia um preço a pagar, resistências a enfrentar. Inimigos, interesses externos a vencer. Um país com alma, sonhos.
Durante 40 anos, 45 anos, houve crises de todos os tipos. Mas havia o amanhã, a promessa do amanhã. A busca do amanhã. Um lugar no mundo. Na década de 50, com a economia resumida praticamente ao café, açúcar, algodão e outros produtos agrícolas, o país lançou-se à loucura de buscar a industrialização. Sem dólares para importar máquinas e equipamentos, pois os preços dos produtos agrícolas estavam de lastros no mercado mundial, estrangulando países pobres como o Brasil. Mesmo assim, o país ousou. Era a época em que os intelectuais e formadores de opinião escreviam livros, artigos, teses sobre e contra as políticas de estrangulamento que os países ricos impunham a países como o Brasil. Ou faziam músicas, peças teatrais, filmes sobre a realidade brasileira. Reforçavam a alma brasileira. O sonho realizável. Será que dona Ruth Cardoso se lembra disso?
Chegou a década de 60, e com ela o golpe militar inspirado pelos EUA, desvios de rota que, no entanto, não conseguiram enterrar de vez os sonhos de construção de um país... A alma nacional resistia. Veio a crise do petróleo, no começo dos anos 70, e o país, que produzia 130 mil barris por dia, mergulhou novamente no abismo da falta de dólares, na recessão, no avanço da miséria. Um país “quebrado”, com total falta de dólares, mas que insistia em sonhar com um amanhã.
Em nome desse sonho, novamente, a população pagou a conta. O governo contraiu dívidas fabulosas, criou impostos, apertou o cinto e o crânio dos brasileiros, para canalizar o dinheiro disponível, dos impostos ou empréstimos, para montar indústrias capazes de fornecer produtos que ainda eram importados, de aço a alumínio, de celulose a petroquímicos, de máquinas a sistemas de telecomunicações. Substituir importações para economizar dólares, necessários para a compra do petróleo, ainda não descoberto em grande escala no território brasileiro.
Para atender a todas essas novas indústrias, era preciso também construir usinas, as Itaipus, rodovias, ferrovias (o Brasil chegou a produzir 5.000 vagões por ano, com encomendas do governo), sistemas de telecomunicações. Mais aperto de cinto, mais impostos, menos dinheiro para as questões sociais, nunca esquecidas nem mesmo nos debates e escritos dos economistas, ou de empresários. Mas havia a esperança do amanhã. O sonho, de que fala mestre Furtado, de um país economicamente forte, exatamente por dispor de todos os recursos naturais para isso, mas também capaz, ao atingir esse estágio, de maior justiça social, de extinção da miséria. Habitado por um Povo. Orgulhoso de si. Solidário, porque se reconhecendo no outro.
No começo dos anos 90, o sonho estava ao alcance da mão, o amanhã chegava. O Brasil conquistara uma posição entre as dez maiores economias do mundo. Melhor ainda: o Brasil nadava em dólares, porque era capaz de realizar exportações muito maiores do que as importações. Poucos se lembram disso hoje, mas o Brasil tinha um dos maiores saldos comerciais positivos (exportações menos importações) do mundo, na casa dos 10 a 15 bilhões de dólares por ano. Tinha dólares seus, não precisava mais de empréstimos ou de capital das multinacionais para realizar investimentos e manter a economia em expansão, para criação de empregos e solução dos problemas do seu povo. Foi ontem, e está tudo tão distante.
A serviço de outros países, o governo escancarou o mercado às importações e às multinacionais. Feiticeiros malditos transformaram o saldo positivo da balança comercial em um “rombo” permanente, deram vantagens na cobrança de impostos sobre a remessa de juros e de lucros estimulando o envio de dólares para o exterior, elevaram os juros para cobrir os rombos criados, “quebraram” assim a União, Estados, Municípios. Destruíram a indústria e a agricultura. Em cinco ou seis anos, clones malditos dos intelectuais de ontem destruíram o que havia sido construído ao longo de décadas. Destruíram mais. Destruíram o sonho, a Alma Nacional.
O que somos hoje? Um quintal dos países ricos? Não. Somos um curral. Bovinos ruminando babosamente enquanto o vizinho do lado, o trabalhador, o funcionário público, o aposentado, o agricultor, o empresário, todos, um a um, são arrastados para o grande matadouro em que o país se transformou, com suas mil formas de abate como o desemprego, os cortes na aposentadoria, as falsas reformas do funcionalismo, a falência, as importações. Bovinos ruminando no curral, enquanto empresas de todos os portes são engolidas por grupos estrangeiros e até o petróleo, ou os campos mais fabulosos de petróleo do mundo, com poços capazes de produzir 10.000 (dez mil) barris por dia, em um único poço, são entregues a preço simbólico às multinacionais.
Em cinco anos, o governo Fernando Henrique Cardoso não destruiu apenas a economia nacional, tornando-a dependente do exterior. Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional, o sonho coletivo. Para isso, e com a ajuda dos meios de comunicação, jogou o consumidor contra os empresários nacionais, “esses aproveitadores”; o contribuinte contra os funcionários públicos, “esses marajás”; o pobre contra os agricultores, “esses caloteiros”; a opinião pública contra os aposentados, ”esses vagabundos”.
No governo FHC, o brasileiro foi levado a esquecer que, em qualquer país do mundo, a sociedade só pode funcionar com base em objetivos que atendam aos interesses, necessidades de todos – ou, mais claramente, não se pode por exemplo ter uma política de importação indiscriminada, a pretexto de beneficiar o consumidor, sem provocar desemprego e quebra de empresas. Ou, a longo prazo, desemprego generalizado.
Com o jogo perverso de estimular a busca de pretensas vantagens individuais, o governo FHC destruiu a busca de objetivos coletivos. Destruiu a Alma Nacional, o Projeto Nacional. A violenta desnacionalização sofrida pelo Brasil, em sua economia, vai eternizar a remessa de lucros, dividendos, juros para o exterior. Isto é, vai torná-lo totalmente dependente da boa vontade dos governos de países ricos em fornecer dólares e, portanto, de ordens e autorizações desses governos de países ricos. Uma espécie de colônia, mesmo, como alertou o economista Celso Furtado em palestra que ele encerrou com sua frase, arrasadora para quem viveu o Brasil de 50 para cá, “nunca estivemos tão distante do Brasil com que um dia sonhamos”.
Mesmo sem tê-lo consultado a respeito, uma sugestão: escreva a frase de Furtado em um pedaço de papel, e a releia todos os dias. Ou faça decalques com ela. Sugira que seus amigos façam o mesmo.
E comece a agir. Ainda há tempo de ressuscitar a Alma Nacional, antes que o Brasil vire colônia.
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
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Mitos Tucanos 2
Ricardo Carneiro
(Professor Titular do Instituto de Economia da UNICAMP)
Embalados pela campanha eleitoral, os tucanos resolveram ressuscitar um tema polêmico: o das privatizações da era FHC. A tese é a de que elas foram benéficas à economia e ao povo brasileiro e precisam ser defendidas. Os argumentos têm sido poucos e simplistas, recorrendo-se amiúde à ampliação do número de telefones celulares como exemplo do sucesso das privatizações. Claro, esse é o segmento no qual os resultados mais aparecem em grande medida, impulsionados pela revolução tecnológica havida no setor. Contudo, a questão é bem mais complexa e envolve variados aspectos. No balanço dos prós e dos contras esses últimos se impõem na maioria dos casos. Vejamos um deles, o dos preços dos serviços.
Não se pode afirmar que a qualidade dos serviços nas empresas privatizadas melhorou de forma generalizada – a lembrança do apagão é indelével. Porém, mesmo que isto fosse verdadeiro haveria que se considerar o que ocorreu com os seus preços. O gráfico abaixo traz as informações relativas à evolução do índice amplo de inflação e dos preços administrados. Esses últimos envolvem um conjunto variado de serviços*, cujo peso no IPCA é de cerca de 30%. Desses, o conjunto produzido pelas empresas privatizadas abrange 15% do índice ou metade do total respondendo assim por uma parcela significativa da variação de preços no Brasil.
Os dados do gráfico são impressionantes e mostram uma verdadeira revolução nos preços relativos. Ao longo dos últimos quinze anos houve um significativo encarecimento dos bens e serviços públicos: para o período como um todo, enquanto a inflação geral ao consumidor foi de aproximadamente 150% acumulados, este sub-grupo subiu o dobro, cerca de 300%. Esses números apenas traduzem o que é sentido no dia a dia pelo cidadão: o peso no orçamento dos pagamentos das contas de luz, água, telefone, pedágio, etc.
Há ainda nos dados do gráfico um aspecto que merece ser destacado. O grande aumento de preços relativos, ou o encarecimento desses bens públicos ocorre durante os anos 1996 a 2002. A recomposição tarifária imediatamente antes e após as privatizações e as regras de indexação das tarifas por um índice de preços que reflete com maior proximidade a variação do dólar (o IGP-DI), foram os responsáveis por essa trajetória.
O Governo Lula herda esses contratos, mas logra obter um melhor resultado na evolução desses preços, por uma negociação dos seus termos, nas suas revisões periódicas, mais favoráveis ao cidadão. Isto para não falar da administração de preços cruciais como os dos combustíveis, que tiveram no passado recente uma alta significativa decorrente do contexto internacional favorável. Ou seja, prevaleceu no Governo Lula, a despeito da herança recebida, uma gestão que colocou os interesses da cidadania em outro patamar.
Ver gráfico no link acima
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... de-externa
Mitos Tucanos 3: A vulnerabilidade externa
Ricardo Carneiro*
Dentre os vários mitos alardeados pelos tucanos nos últimos anos está aquele que afirma que o Governo Lula recebeu como herança uma economia sólida e sem fragilidades, sobretudo no front externo. Nada mais falso. Há vários indicadores que podem mostrar isto. Escolhemos o mais sintético deles, o das reservas internacionais possuída pelo país.
O gráfico abaixo reconstitui o valor das reservas desde 1998. Faz uma distinção importante entre o que de fato eram reservas próprias e disponíveis e aquelas reservas que correspondiam aos empréstimos do FMI – as reservas emprestadas. Essa distinção era, aliás, uma exigência do Fundo com base no argumento de que na prática esses recursos deveriam ser devolvidos a curto prazo.
Como se pode constatar o volume de reservas é relativamente baixo, para uma economia aberta como a brasileira durante todo o segundo mandato de FHC. O dado mais significativo, porém é que essas reservas são declinantes. Elas eram de US$ 34,4 bilhões em 1998 e caem a menos da metade ao final de 2002. Ou seja, o Governo Lula herda desse ponto de vista uma situação crítica: reservas de US$ 16,3 bilhões, além de um acordo com o FMI.
A recuperação das reservas se faz de maneira continuada e significativa desde o primeiro ano do Governo Lula. Foi isto que permitiu já no terceiro ano do primeiro mandato pagar o empréstimo do FMI e, mesmo assim, manter um nível muito mais elevado de reservas próprias de cerca de US$ 53, 8 bilhões. Apenas para ficar mais claro o significado desses números, o Brasil pagou em 2005 cerca de US$ 25 bilhões que devia ao FMI e ainda ficou com US$ 53, 8 disponíveis, cerca de quatro vezes mais do que o herdado de FHC.
De lá para cá as reservas internacionais só tem aumentado; os últimos números apontam um valor em torno de US$ 270 bilhões. Elas constituem um importante seguro contras as turbulências externas como, aliás, se pode observar em 2008 e 2009. Não só inibiram um ataque especulativo contra o real como possibilitaram a reconstituição das linhas de financiamento do comércio exterior brasileiro. A conclusão desses números é portanto inequívoca: o Governo lula herdou uma economia fragilizada do ponto de vista das suas relações com o exterior e, reduziu substancialmente essa fragilidade.
Ver gráfico no link acima
http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... na_id=4832
“Vídeo bomba” mostra o que está em jogo no segundo turno
Não seria nada mal se eleitores e eleitoras dedicassem alguns minutos de seus dias para conversar um pouco sobre o assunto exibido em um pequeno vídeo que fala sobre o presente e o futuro do país. Considerando a quantidade de baixarias que circula na internet e fora dela, esse vídeo é, como gosta de dizer nossa imprensa, uma bomba. Feita para pensar.
Marco Aurélio Weissheimer
Link do vídeo no Youtube: http://www.youtube.com/watch?feature=pl ... g9pE6qwzxw
O Brasil está entrando na reta final da disputa eleitoral. Uma disputa eleitoral que deveria estar sendo marcada por um grande debate público sobre qual caminho o país deve seguir nos próximos anos. Infelizmente, a candidatura de José Serra (PSDB) decidiu enveredar por um caminho sombrio e introduziu no debate político uma agenda fundamentalista de extrema-direita, detonando uma brutal campanha de difamação contra Dilma Rousseff (PT).
Em um certo sentido, é compreensível que esta tenha sido a escolha da campanha de Serra. Trata-se de uma escolha que tem como motivação a necessidade de desviar a atenção da população brasileira para o verdadeiro debate que devia estar sendo feito. O debate sobre as idéias e propostas do candidato para o presente e o futuro do país.
Entre tantos vídeos que vêm circulando pela internet, vale a pena destacar um que mostra claramente um dos principais debates que devia estar sendo feito, a saber, o debate sobre as propostas econômicas dos candidatos. Considerando a quantidade de baixarias e mentiras que vem circulando na internet e fora dela, essa pequena produção aparece como algo bombástico: vídeo-bomba mostra o que está em jogo no segundo turno! – poderia ser a manchete no medíocre tom sensacionalista que viceja em nossas redações.
Afinal de contas, é isso que vai, em grande medida, decidir como será a vida de milhões de brasileiros e brasileiras nos próximos anos. Não é pouca coisa. Portanto, é preciso atenção sobre o que as duas candidaturas representam. O vídeo acima traça uma cronologia da crise mundial (2008-2009) sob a ótica da imprensa brasileira e da oposição ao governo Lula. Além disso, mostra como o governo de FHC e Serra (1995-2002) conseguiu quebrar o Brasil três vezes, a despeito de ter vendido quase todas as empresas públicas lucrativas. Essa retrospectiva adquire atualidade redobrada no momento em que Serra, finalmente, sai em defesa das privatizações, ainda que o faça de um modo envergonhado, tentando esconder o que realmente pensa sobre o assunto.
Também é compreensível. As idéias de Serra levaram o Brasil à estagnação e agravaram o quadro de desigualdade social no país. Aliás, não levaram apenas o Brasil à estagnação. São as mesmas idéias, filhas da ideologia do Estado mínimo e da supremacia dos mercados, que levaram a economia mundial à beira do precipício. Neste momento, milhares de pessoas saem às ruas em diversos países da Europa para protestar contra os efeitos perversos dessa crise.
A imprensa brasileira, é claro, fiel à sua indigência política e cultural, não estabelece nenhum nexo entre o que está acontecendo na economia mundial e a situação brasileira. Acha mais importante debater aborto e questões religiosas. E tem muita gente boa embarcando nesta canoa furada. Então, vale a pena gastar alguns minutos do dia para ver esse vídeo e pensar. Não dói.
Os diagnósticos e previsões que aparecem nele sinalizam o que seria um governo Serra no Brasil. No vídeo, apesar da auto-proclamada “sólida formação” em economia, as profecias e diagnósticos de Serra e seus aliados sobre a economia brasileira acabam se revelando totalmente furadas. Quando estourou a crise mundial, economistas e políticos tucanos remetiam o mesmo discurso: o governo precisa cortar gastos, não há outra coisa a fazer, repete Serra. Pois havia outra coisa a fazer. E o governo Lula fez.
O conteúdo desse vídeo é um ótimo tema para o segundo turno da campanha eleitoral. Deveria ser ao menos. A população brasileira tem o direito (e o dever, me atreveria a dizer) de conhecer a “sólida formação” do economista Serra que, no auge da crise, disparou a dar entrevistas em que apontava os “graves erros” do governo Lula. O Brasil, lembre-se, foi um dos primeiros países a sair da crise e hoje ostenta taxas de crescimento acima da média mundial. A sólida formação de Serra errou todas suas previsões e suas receitas, felizmente, não foram aplicadas pelo governo Lula. São essas idéias e propostas que estarão em disputa no dia 31 de outubro.
Não seria nada mal se os eleitores e eleitoras dedicassem alguns minutos de seus dias, daqui até lá, para conversar um pouco sobre o assunto.
Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: ******)
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
Engraçado como ninguém se anima a fazer um único comentário sobre o que é postado neste tópico.
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... cionalismo
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Mitos Tucanos 4. Gastos com o funcionalismo: uma comparação entre Lula e FHC
Guilherme Santos Mello [1]
Talvez o maior mito eregido acerca do governo Lula ao longo de seus 8 anos seja o de que teria expandido os gastos do setor público de forma descontrolada através do crescimento indiscriminado dos gastos com pessoal. Para melhor nos contrapormos a este mito, faremos uma análise acerca da pretensa elevação dos gastos com pessoal, que levaria a deterioração das contas públicas e a degradação da composição dos gastos públicos. Concentraremos esforços em demonstrar que o governo Lula, ao invés de elevar os gastos com pessoal, na realidade logrou reduzi-los como proporção do PIB, além de realizar a expansão do investimento público, que se elevou em todo o período, alterando positivamente a composição dos gastos totais.
Conforme pode-se observar no gráfico 1, o governo FHC inicia sua gestão com os gastos com pessoal e encargos sociais em torno de 5,1% do PIB. Com o fim da inflação, a retomada de taxas de crescimento econômico ainda baixas porém mais elevadas e uma política deliberada de arrochos salariais para o funcionalismo público, os gastos com pessoal e encargos/ PIB se reduziram para algo em torno de 4,3%. A partir de 1997, no entanto, com as consecutivas taxas baixas de crescimento do produto somados a um recrudescimento dos gastos com pessoal, esta relação volta a se elevar para a casa dos 4,81% do PIB em 2002, último ano de gestão tucana. Onde esta o pretenso “ajuste fiscal” tão propalado pelos tucanos? Certamente não nos gastos com pessoal.
O governo Lula, que tem inicio em 2003, logra reduzir rapidamente esta relação para novamente algo em torno de 4,3% do PIB, mantendo este patamar até 2008, ano da crise financeira internacional. A manutenção dos gastos de pessoal como relação do PIB em níveis mais baixos demonstra não apenas o contrário da tese difundida pelos tucanos de que o governo do PT teria sido “gastador e irresponsável”, como também denota a conciliação entre a preservação do peso relativo desses gastos e a recomposição dos salários do funcionalismo, arrochados desde o primeiro governo FHC. Ou seja, temos a preservação da participação de Pessoal e Encargos no PIB, mas esse último cresceu cerca de 37% em termos reais durante o período permitindo a recomposição dos primeiros.
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Gráfico 1 – Evolução dos gastos com pessoal e encargos sociais / PI
A partir de 2008, verificou-se uma elevação substancial da relação em questão, decorrente da manutenção do ritmo de crescimento dos gastos com pessoal e encargos apesar da queda acentuada do PIB, compondo assim uma estratégia contra os efeitos deletérios da crise econômica. Com a retomada do crescimento em 2010, pode-se observar novamente uma queda no patamar desta relação para a casa dos 4,6%. Mais uma vez, onde esta a tão propalada gastança do dinheiro público com pessoal e encargos, tese tão cara à oposição?
Por fim, é fundamental frisar que, além de realizar uma redução da relação gastos com pessoal/PIB, o governo do presidente Lula também conseguiu ampliar em 1,2% do PIB os investimentos públicos totais, capitaneados pelo crescimento dos investimentos das empresas estatais (esta modalidade de investimento elevou-se significativos 0,8% no período de 2002/2010), denotando uma melhoria substancial na qualidade do gasto público e crescentemente retomando o papel do Estado como gerente e investidor na estrutura econômica nacional. Com programas como o PAC 1 e o PAC 2, a recomposição de diversas carreiras e setores de planejamento no serviço público, além de diversos investimentos produtivos das estatais, o Estado Brasileiro vêm retomando sua capacidade de planejar e investir, gerando emprego e renda e servindo como um incentivador e direcionador para o crescimento do setor privado, sem com isso perder o controle das contas públicas. Isso denota que, sob o ponto de vista estrutural, estaríamos passando por uma alteração substantiva na qualidade do gasto público, mantendo os gastos com pessoal sob controle e elevando a participação do investimento público.
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... smo-tardio
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... -o-creditoMitos Tucanos 5 : o populismo tardio
Ricardo Carneiro*
Já se disse alhures que o papel agüenta tudo e, podemos acrescentar, campanha eleitoral também. O candidato José Serra nessas últimas semanas da campanha não se fez de rogado: contrariando o seu passado de economista obcecado pelo equilíbrio das contas públicas e de crítico contumaz da política fiscal do Governo Lula, tem desfiado um conjunto de promessas das quais até Deus
duvida. O mais surpreendente, no entanto, é constatar que as promessas do candidato “arrombam portas abertas” ou seja, procuram refazer um caminho já percorrido e que já produziu seus resultados.
Vale a pena recordar as principais promessas; quem sabe virão outras no calor da luta: 1) Elevar o valor do salário mínimo para R$ 600; 2) Reajustar as aposentadorias acima do mínimo em 10%, 3) dobrar o atendimento do Bolsa Família; 4) Criar o 13º para esse benefício. As estimativas preliminares dão conta de que o custo das promessas alcançaria algo em torno de 1,3 a 1,5% do PIB.
Também corresponderiam a algo como de 4 a 4,5% do orçamento fiscal e da seguridade social ou aproximadamente a 20% das transferências de previdência e assistência. Por fim, equivaleria a um valor superior ao do investimento da administração pública (União) estimado em 1,2% do PIB em 2010. De fato, um promessão.
O questionamento maior que se tem feito às promessas do candidato diz respeito à origem dos recursos para cumpri-las. Afinal, de onde eles virão? Certamente, não do aumento da carga tributária. Tampouco da redução dos investimentos. Por favor, esses não, eles já são muito baixos e precisamos ampliar a infra-estrutura! Quem sabe, talvez, da diminuição da carga de juros; uma origem nobre, mas que não pode ser imediata. Reduzir os juros, uma meta importante do futuro governo, certamente estimulará o gasto privado – o que requererá uma política fiscal contracionista e não expansionista. Descartadas essas fontes improváveis resta apelar para raciocínios mágicos como a racionalização do orçamento ou a redução de desperdícios. Nesse caso, * Professor Titular do Instituto de Economia da UNICAMP como diz o ditado, é “fácil de falar e difícil de fazer”. O verdadeiro problema da proposta do candidato Serra é que ela pede mais do mesmo quando isto não é mais possível nem recomendável. Durante o Governo Lula, sob o impulso do aumento
do salário mínimo, as transferências de Previdência e assistência ampliaram-se em 1,5 p.p do PIB em oito anos. (ver gráfico abaixo (ver gráfico no link acima)), financiadas pelo aumento da arrecadação.
Os resultados alcançados com a ampliação das transferências foram importantes, sobretudo no que tange à redução da pobreza e da desigualdade. Contudo, o seu valor já é elevado e representam hoje cerca de 15% do PIB, dos quais 8,3% com o Regime Geral, Loas, RMV e Bolsa Família, e seria recomendável que caísse, em percentagem do produto, ao longo do tempo, como, aliás, ocorreu com a parcela relativa ao funcionalismo público, que cai 1 p.p. do PIB entre 2003 e 2008. Na realidade, o verdadeiro desafio de um novo governo no que tange à composição dos gastos públicos parece ser abrir espaço para o aumento dos gastos com Saúde (2,0% do PIB) e Educação (1,8% do PIB ), ainda muito baixos, além da ampliação dos investimentos em infra-estrutura. O resto é populismo.... tardio
Mitos tucanos 6 e as razões do dinamismo: o crédito
André M. Biancareli
(professor do IE-Unicamp)
Além de pautar a sua campanha no segundo turno por discussões e práticas políticas com as quais o Brasil não imaginava (e não merecia) ter que conviver, a candidatura de oposição tem contornado o debate econômico. Quando este aparece, é na forma de propostas eleitoreiras que devem (ou deveriam) fazer corar os seus apoiadores na comunidade de economistas e analistas econômicos. Principalmente os muitos deles que passaram os últimos oito anos alertando para o descalabro e o descontrole nas contas públicas. Outras discussões poderiam vir à tona. Por exemplo, acerca dos motores da elevação do crescimento econômico conquistada pelo governo Lula. Sobre isso, de vozes tucanas, ouve-se apenas a repetição do mantra da “continuidade” da política econômica anterior e/ou do ambiente internacional melhor. O crescimento (ou não) da economia certamente é um fenômeno complexo, com muitas causas – e que por isso mesmo não deveria ser objeto de explicações tão simplistas. É amplamente reconhecido o fato de que, depois de um início muito beneficiado pelas contribuições do setor externo, o dinamismo da economia brasileira no governo Lula passou a se apoiar essencialmente no seu mercado interno – o que propicia enormes vantagens, cabalmente comprovadas na rápida reação do país depois da mais grave crise econômica internacional desde os anos 1930. O aquecimento dos grandes componentes da demanda doméstica – o consumo e, em menor medida, o investimento – está vinculado a alguns processos complementares. Entre esses, chamam a atenção os fenômenos ocorridos no mercado de crédito e na distribuição de renda.
Tratemos do primeiro deles. Não há capitalismo, nem muito menos capitalismo dinâmico, sem crédito. Para financiar o consumo, o funcionamento e principalmente os investimentos das empresas, a existência de uma oferta ampla e barata de crédito é pré-requisito essencial. Estamos ainda longe desse cenário ideal, mas não há como negar as notáveis melhoras. O Gráfico 1 mostra, de forma eloquente, o contraste entre os períodos Lula e Fernando Henrique no que se refere a esse aspecto fundamental do desenvolvimento. O governo tucano, tendo assumido o país com a relação crédito/PIB em quase 37% (que representava um pico decorrente dos efeitos do Plano Real recém-lançado), assiste ao declínio, com solavancos, desse indicador até os 26% de dezembro de 2002. Já o registro da gestão petista – depois de uma perda adicional de quase dois pontos percentuais até o primeiro trimestre de 2004 – é o da elevação praticamente contínua durante mais de seis anos, até o nível recorde de 46,2% do último dado disponível. Para que não reste dúvida: o contraste é entre uma perda de 11 pontos percentuais do PIB e um ganho de mais de 20 pp.
Gráfico 1: Total das operações de crédito do sistema financeiro, % do PIB, jan/1995-ago/2010 (ver no link acima)
As causas dessas trajetórias distintas são múltiplas, mas nenhuma delas referenda a fábula do “colheram o que nós plantamos”. No governo FHC, a longa queda pode ser atribuída inicialmente ao arrocho creditício que se seguiu à euforia do início do Plano Real, seguida por uma onda de inadimplência. As dificuldades de algumas instituições em lidar com o cenário de baixa inflação também têm alguma importância no princípio. Mas a causa mais duradoura é mesmo a instabilidade macroeconômica que marca o período até 2002: apesar dos preços sob controle, juros e câmbio apresentam fortes oscilações e patamares pouco propícios à concessão do crédito. O sistema bancário seguiu então, como é praxe no país, preferindo a combinação de segurança, liquidez e altíssima rentabilidade dos títulos públicos. No governo Lula, apesar desse problema de fundo (a atratividade da dívida pública) ainda continuar presente, mudanças importantes nas variáveis macro e iniciativas de política são os determinantes da evolução vista no gráfico acima. Começando pela radical redução da vulnerabilidade externa, passando pela manutenção da inflação sob controle e chegando na redução (ainda que lenta e muito insuficiente) das taxas de juros básicas, o ambiente macroeconômico foi se tornando mais favorável e incentivou os bancos a ampliarem suas operações de crédito. Claro que para isso também foi pré-requisito a elevação da massa de rendimentos, a queda do desemprego e o aumento da formalização do mercado de trabalho.
Mas nem só de melhorias macro se alimentou a expansão do crédito. Inovações financeiras e mudanças microeconômicas como o crédito consignado para pessoas físicas, as alterações no patrimônio de afetação e na forma de viabilização de empreendimentos que
catapultaram o crédito imobiliário também foram ações importantes. Além disso, a atuação da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e do BNDES – em marcado contraste com o período FHC – ajudam a compor o quadro. Sobre esse último fator, aliás, as intenções e práticas ficaram mais patentes na reação da política creditícia no auge da crise financeira internacional, que no mundo todo (e também aqui, entre os bancos privados) significou abrupta paralisação dos empréstimos. De maneira decidida e anti-cíclica, os bancos públicos ampliaram suas operações e ganharam participação no mercado (principalmente no crédito à pessoa jurídica), atenuando a queda dos investimentos e contribuindo para a suavização da recessão de 2009. É óbvio que os 46% do PIB ainda são valores bem menores do que os observados em outras economias e insatisfatórios: em quase todos os países desenvolvidos tal indicador supera, em muito, a marca de 100%. As perspectivas nesse campo, até por esses níveis ainda baixos, são boas. Igualmente, os custos desse crédito são bastante problemáticos e envolvem não apenas a taxa básica de juros, mas em especial os spreads muito elevados praticados no Brasil. Certamente há muito que fazer ainda nesse campo.
Porém, não se pode ignorar o movimento descrito pelo crédito no Brasil nos últimos anos e a importância das ações de política para tais resultados. Nem, muito menos, atribuí-los a uma “continuidade” que nesse caso não encontra qualquer correspondência na realidade.
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
CARTA ABERTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.
Meu caro Fernando
Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete contudo este debate teórico. Esta carta assinada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependência: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).
Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.
O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartir com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.
No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?
Conclusões: O plano real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.
Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.
E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. UM GOVERNO QUE CHEGOU A PAGAR 50% AO ANO DE JUROS POR SEUS TÍTULOS, PARA EM SEGUIDA DEPOSITAR OS INVESTIMENTOS VINDOS DO EXTERIOR EM MOEDA FORTE A JUROS NORMAIS DE 3 A 4%, NÃO PODE FUGIR DO FATO DE QUE CRIOU UMA DÍVIDA COLOSSAL SÓ PARA ATRAIR CAPITAIS DO EXTERIOR PARA COBRIR OS DÉFICITS COMERCIAIS COLOSSAIS GERADOS POR UMA MOEDA SOBREVALORIZADA QUE IMPEDIA A EXPORTAÇÃO, AGRAVADA AINDA MAIS PELOS JUROS ABSURDOS QUE PAGAVA PARA COBRIR O DÉFICIT QUE GERAVA. Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou drasticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. VERGONHA FERNANDO. MUITA VERGONHA. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identifica com o seu governo...te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.
Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.
Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa. Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este pais.
Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entrou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.
Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o verdadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.
Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.
Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço
Theotonio Dos Santos
Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimento sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro
http://theotoniodossantos.blogspot.com/
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Re: DESMISTIFICANDO FHC
Caro Sempre Alerta, eu também ia postar esse texto!
Ele é uma resposta a carta de FHC a Lula, que o Clinton postou em outro tópico, e que eu mesmo já havia postado, agora não me lembro exatamente onde, acho que neste aqui mesmo.
Muito grave e intrigante a afirmação do cara que escreveu, de que não foi o Plano Real que derrubou a inflação! Dá pano pra muita discussão!
Pena que não tenho base suficiente pra discutir isso. E pena também que vejo que o pessoal continua absolutamente desinteressado de discutir o que é postado neste tópico aqui...
http://www.advivo.com.br/sites/default/ ... os_7_0.pdf
http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=17109
http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=17110
Ele é uma resposta a carta de FHC a Lula, que o Clinton postou em outro tópico, e que eu mesmo já havia postado, agora não me lembro exatamente onde, acho que neste aqui mesmo.
Muito grave e intrigante a afirmação do cara que escreveu, de que não foi o Plano Real que derrubou a inflação! Dá pano pra muita discussão!
Pena que não tenho base suficiente pra discutir isso. E pena também que vejo que o pessoal continua absolutamente desinteressado de discutir o que é postado neste tópico aqui...
http://www.advivo.com.br/sites/default/ ... os_7_0.pdf
Mitos Tucanos 7 : o salário mínimo
Ricardo Carneiro
Professor Titular do Instituto de Economia da UNICAMP
Com freqüência, economistas e próceres tucanos afirmam que as políticas sociais do Governo Lula – aquelas que deram certo, claro – bem como a política de aumento expressivo e continuado do salário mínimo teriam tido suas origens no governo FHC . Assim, o Governo Lula teria simplesmente dado continuidade ou, no máximo, aperfeiçoado essas iniciativas. Há enorme literatura a respeito das políticas sociais que desmentem esse mito. Nesse artigo, mostraremos o equívoco dessa tese no que se refere ao salário mínimo.
A análise da evolução do salário mínimo deveria ser trivial mas não é. Ela envolve a escolha de um conjunto de critérios, tais como períodos de comparação e deflator, que são capazes de produzir resultados distintos. O mais acertado, para realizar a análise da evolução do salário mínimo, é considerar o seu valor médio real ao longo dos anos como consta da tabela em anexo. Como a inflação não é nula, esse critério nos permite verificar o progresso do poder de compra desse salário ao longo do tempo.
Uma segunda escolha refere-se ao período de comparação, que de novo parece simples, mas não é. Comecemos por uma alternativa padrão que é a de comparar os mandatos presidenciais: FHC x Lula. Essa alternativa é a que mais favorece FHC. A despeito disso, o aumento real do salário mínimo que ocorre durante o Governo Lula é o dobro daquele do Governo FHC, 58,7% contra 29,8%. Há ainda em favor do Governo Lula o fato dos aumentos incidirem sobre um valor médio que já é bem mais alto do que aquele do início do Governo FHC. Ademais, todos que vivem de salário sabem exatamente o que significa o dobro de aumento. A segunda comparação é um pouco mais complexa. No exemplo anterior, para calcularmos a variação, utilizamos como base de comparação os últimos anos de cada mandato contra os últimos anos dos mandatos anteriores.
Assim, por exemplo, no primeiro mandato de FHC tomamos o salário médio de 1998 e comparamos como o valor do último ano do governo Itamar/Collor e assim sucessivamente. Ocorre que esta forma de fazer o cálculo termina por obscurecer o real aumento do salário mínimo no primeiro mandato de FHC, por conta do ocorrido no governo Collor/Itamar. Note-se que no último ano desse governo, o valor do salário mínimo real é o mais baixo de todo o período em razão da aceleração da inflação imediatamente antes do Plano Real.
Como a inflação no Governo Collor/Itamar foi ainda muito alta e variável, o critério mais correto para se realizar a comparação seria o de considerar um salário mínimo médio de todo esse governo, o que daria o valor de R$ 270,72,. Esse critério não faz sentido para os períodos seguintes pois a inflação baixa não implica em variações negativas do valor real deste salário. Usando esse dado como base de comparação, a variação do salário mínimo ocorrida no primeiro mandato de FHC cai de 11,2% para 2,4%. Para o período integral o aumento real cai de 29,8% para 19,6%. Ou seja, a vantagem que já era muito expressiva para o Governo Lula com a adoção do primeiro critério, se amplia mais ainda. O mito tucano se desfaz com o uso dos dois critérios, apenas mais intensamente no segundo.
Período - Salário mínimo real*
Itamar/Collor (1990-1994) - -7,4 %
1990 - 269,11
1991 – 255,17
1992 - 275,80
1993 - 304,16
1994 - 249,33
FHC 1 (1995-1998) - 11,2% ou 2,4% ?
1995 - 249,19
1996 - 259,92
1997 - 266,53
1998 – 277,25
FHC 2 (1999-2002) - 16,8%
1999 - 279,81
2000 - 289,39
2001 - 315,68
2002 - 323,74
FHC (Dois mandatos) - 29,8% ou 19,6% ?
Lula 1 (2003-2006) - 27,4%
2003 - 326,00
2004 - 338,13
2005 - 361,67
2006 - 412,51
Lula 2 (2007-2010) - 24,5%
2007 - 437,44
2008 - 450,90
2009 - 483,46
2010** - 513,70
Lula (Dois Mandatos) – 58,7%
Fonte: IPEADATA
* Média anual a preços constantes de Julho de 2010 - Deflator:
INPC
** valores até Julho de 2010
http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=17109
Educação superior em Lula x FHC: a prova dos números
Um jornalista que se apresenta como um dos mais acessados do Brasil pretendeu "desmontar" a política do governo Lula na educação superior. Fiquei interessado no tema. Fui reitor de uma universidade federal durante quatro meses no governo FHC e quase todo o tempo do Governo Lula, o que me permite a rara situação de, na condição de gestor público, poder comparar os distintos cenários de política de educação superior. Minha área de pesquisa é a Epidemiologia. Nessa condição, trabalho com modelagem numérica e técnicas quantitativas de análise, num campo onde exercitamos uma quase obsessiva busca de rigor, validade e credibilidade. O artigo é de Naomar de Almeida Filho.
Naomar de Almeida Filho (*)
Um jornalista escreveu em seu blog, auto-apresentado como um dos mais acessados do Brasil: “Provei com números que o que ele [o Governo Lula] fez mesmo foi aumentar o cabide de empregos nas universidades federais, aumentar a evasão e o número de vagas ociosas.”
Fiquei muito interessado no tema, por dois motivos: Primeiro, porque fui reitor de uma universidade federal durante quatro meses no governo FHC e quase todo o tempo do Governo Lula, o que me permite a rara situação de, na condição de gestor público, poder comparar os distintos cenários de política de educação superior. Segundo, porque minha área de pesquisa é a Epidemiologia. Nessa condição, trabalho com modelagem numérica e técnicas quantitativas de análise, num campo onde exercitamos uma quase obsessiva busca de rigor, validade e credibilidade. Isto porque uma eventual contrafação ou fraude estatística pode custar vidas, produzir riscos ou aumentar sofrimentos.
Assim, procurei, no blog do jornalista, a prova dos números. Encontrei, numa postagem de 24/08/2010 – arrogantemente intitulada “A fabulosa farsa de ‘Lula, o maior criador de universidades do mundo’. Ou: desmonto com números essa mentira” – três blocos de questões: aumento de vagas e matrículas; evasão na educação superior; empreguismo na rede federal de ensino. Analisarei cada uma delas, demonstrando que essas “provas de números” são refutadas em qualquer exame sério de validade técnica ou metodológica.
No primeiro bloco, referente a aumento de vagas e matrículas, achei as seguintes afirmações:
“A taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais entre 1995 e 2002 (governo FHC) foi de 6% ao ano, contra 3,2% entre 2003 e 2008 - seis anos de mandato de Lula. [...] Só no segundo mandato de FHC, entre 1998 e 2003, houve 158.461 novas matrículas nas universidades federais, contra 76.000 em seis anos de governo Lula (2003 a 2008).”
Aqui o jornalista comete erros primários (ou de má-fé) de análise de dados. Qualquer iniciante em análise estatística, demográfica ou educacional sabe que não faz sentido comparar um período de oito anos com outro de seis anos, ou este com outro de quatro anos; mais ainda se usarmos médias aritméticas ou números brutos; e pior ainda se considerarmos (como ele bem sabe) que o principal programa de expansão das universidades federais, o REUNI, começa a receber alunos justamente depois de 2008.
Além disso, usa dados errados. Eis os dados corretos de matrículas nas IFES:
2001 - 502.960
2002 - 531.634
2003 - 567.850
2004 - 574.584
2005 - 579587
2006 - 589.821
2007 - 653.022
2008 - 720.317
2009 - 917.242
2010 - 1.010.491
(fonte: INEP e ANDIFES)
Não precisamos questionar os indicadores do governo FHC; consideremos a credibilidade destes como de responsabilidade do jornalista. Mas, com os dados da pequena tabela acima, podemos demonstrar que, considerando todo o período do governo Lula, o volume total de matrículas nas federais aumentou 90,1%. Portanto, a taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais, entre 2003 e 2010, não foi de 3,2% e sim de 11% ao ano.
Também, no que concerne à segunda afirmação, em seis anos de governo Lula (2003 a 2008), de fato ocorreram 188.683 novas matrículas nas universidades federais, e não, como afirma o jornalista, apenas 76.000 (aliás, números redondos são em geral suspeitos: sugerem ausência de fonte). Uma comparação tecnicamente mais correta será entre os dois segundos mandatos: entre 1998 e 2003, segundo mandato FHC, houve 158.461 novas matrículas; entre 2007 e 2010, segundo mandato Lula, foram exatas 478.857 novas matrículas registradas nas universidades federais. Ou seja, contrastando períodos equivalentes, o operário Lula abriu 200% mais vagas novas em universidades federais que o intelectual FHC.
No segundo bloco de questões levantadas pelo jornalista, o assunto era evasão na educação superior. Ele escreveu:
“O que aumentou brutalmente no governo Lula foi a evasão: as vagas ociosas passaram de 0,73% em 2003 para 4,35% em 2008. As matrículas trancadas, desligamentos e afastamentos saltaram de 44.023 em 2003 para 57.802 em 2008. [...] A Universidade Federal do ABC perdeu 42% dos alunos entre 2006 e 2009.”
O jornalista confunde evasão com ociosidade. Aliás, não sei de onde ele tirou os dados que indicariam um aumento “brutal” de evasão nas universidades federais no governo Lula. Não tenho conhecimento de nenhuma base de dados que recolhe e computa informação sobre “vagas ociosas” que, a propósito, tem definições variadas e divergentes dentro da autonomia das diferentes instituições. Sobre trancamentos, desligamentos e afastamentos, novamente o jornalista comete erros primários (ou de má-fé) na análise de dados.
Qualquer iniciante em análise estatística, demográfica ou educacional sabe que um aumento bruto de 44.023 para 57.802 afastamentos nada significa sem comparação das proporções relativas. Ocorreram mais afastamentos simplesmente porque o sistema recebeu mais matrículas, de 567 mil para 720 mil no período considerado. Usemos os percentuais respectivos: entre 2003 e 2008, a taxa de afastamentos passa de 7,7% para 8,0%, uma variação insignificante. Onde está o “salto”?
O estudo mais abrangente sobre o tema evasão na educação superior no Brasil foi realizado pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia. De acordo com essa pesquisa (Silva Filho et al 2007), a evasão anual média do Brasil, entre 2000 e 2005, foi de 22%. Essa taxa foi mais de duas vezes menor nas instituições públicas, em torno dos 12%, que nas instituições privadas, quase 26%. No que se refere às áreas, a maior evasão média anual ocorreu na formação em Serviços, com 29%; seguida por Ciências Naturais, Matemática e Computação, 28%, e Ciências Sociais, Negócios e Direito, 25%. A menor evasão foi em Ciências da Vida, com 17%. Os cursos com maiores taxas anuais de evasão foram: Matemática, 44%, Marketing e Publicidade, 36%, Educação Física, 34%. Os cursos com menores taxas foram Medicina, com 5% e Odontologia, 9%. Notem que essas são taxas médias anuais.
Outra coisa são as estimativas de evasão no tempo do curso, ou seja, complemento matemático da taxa de sucesso. Estudo da USP (2004) avaliou que apenas 32% de seus alunos concluíram o curso no tempo previsto. Os restantes retardaram, mudaram ou desistiram do curso, nesse caso configurando uma taxa bruta de evasão que, no Brasil, entre 2000 e 2006, situou-se em 49%. Esse indicador é mais difícil de calcular e comparar, dada a diversidade na duração mínima dos cursos (no Brasil, de dois a seis anos), e na própria arquitetura curricular, muito distinta entre os diferentes modelos de universidade. Não obstante, para efeito limitado de comparação internacional, alguns dados da Unesco, no período de 2002 a 2006, mostram o Brasil numa situação intermediária: Coréia do Sul 22%, Cuba 25%, Alemanha 30%, México 31%, EUA 34%, França 41%, Brasil 49%, Colômbia 51%, Suécia 52%, Venezuela 52%, Itália 58%.
Com esses dados, analisemos a situação da UFABC, precursora do REUNI e, talvez por isso, posta no pelourinho. O jornalista e, em certo momento, a imprensa paulista, consideraram alarmante uma evasão de 42% em quatro anos. Puro desconhecimento do assunto. Se ajustarmos essa medida num parâmetro temporal preciso, encontraremos uma taxa anual de 11%, abaixo, portanto, da média nacional para instituições públicas e metade da taxa referente ao setor privado de ensino superior.
No terceiro bloco de questões, o jornalista denuncia a rede federal de ensino superior como “cabide de empregos”:
“Também cresceu espetacularmente no governo Lula a máquina ‘companheira’. Eram 62 mil os professores das federais em 2008 - 35% a mais do que em 2002. O número de alunos cresceu apenas 21% no período. [...] No governo FHC, a relação aluno por docente passou de 8,2 para 11,9 em 2003. No governo Lula, caiu para 10,4 (2008). É uma relação escandalosa! Nas melhores universidades americanas, a relação é de, no mínimo, 16 alunos por professor. Lula transformou as universidades federais numa máquina de empreguismo.”
O jornalista insiste em parar o tempo em 2008, desconhecendo o efeito do REUNI. Nesse aspecto, o conjunto das universidade federais começou a fazer investimentos a partir de 2008 (e isso incluiu naturalmente contratação de docentes e funcionários) para dar conta do crescimento do alunado no ano seguinte. Já em 2008, foram realizados concursos públicos para mais de 6.000 professores e 4.000 funcionários, para receber os 196.725 alunos novos que entraram nas 56 universidades federais em 2009. Com a matrícula dos dois semestres deste ano de 2010, o sistema federal ultrapassou 13 alunos por docente, mantendo a razão 18 alunos/docente como meta pactuada do REUNI para 2012. De fato, enquanto o corpo docente da rede universitária federal aumentou 35% de 2002 a 2008 e crescerá em 50% até 2012, nesse período, o alunado triplicará.
Apenas como exemplo concreto, posso apresentar o caso da UFBA: neste ano, matriculando 34.516 alunos de graduação, nossa instituição alcançou 16,4 alunos/docente. Passamos de 55 cursos de graduação em 2002, para 113 cursos em 2010, com aumento de vagas de quase 120%. Em 2002, oferecíamos 40 vagas em 01 curso noturno; em 2010, são 2.610 vagas em 22 cursos noturnos. Em relação à pós-graduação, os patamares efetivamente alcançados são ainda mais expressivos, com aumento de 150% em vagas e matrículas, sendo mais de 300% no doutorado. Fizemos tudo isso com apenas 416 novos docentes contratados em três anos.
A prova dos números com dados completos, tanto no sentido temporal (quando inclui matrículas até 2010) quanto no sentido político (apesar de o jornalista insistir em esconder o sucesso do REUNI), destrói seus argumentos enganosos. Resta-lhe o exercício da retórica raivosa. Máquina de empreguismo? Cabide de empregos? Essas grosserias insultam a todos nós, dirigentes, professores, servidores e alunos de universidades federais que, com grande esforço, estamos tornando a educação superior pública brasileira flagrantemente mais eficiente, competente, socialmente responsável.
Tendencioso, mal-informado, sem competência técnica em análise elementar de dados, o jornalista não passa na prova de números que ele mesmo propõe. Ainda bem que ele foi reprovado pois, nos planos macroeconômico e político, uma contrafação ou fraude estatística pode reduzir investimentos, desviar prioridades, suspender programas de governo, fazer retroceder estratégias, destruir políticas e atrasar o desenvolvimento social e humano do país.
(*) Pesquisador I-A do CNPq, Reitor da Universidade Federal da Bahia no período 2002-2010. Professor Titular de Epidemiologia, Instituto de Saúde Coletiva e do Instituto Milton Santos de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA
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O exterminador do futuro (II): o PSDB e o governo Collor
A não ser por Covas, o PSDB estava pronto a uma adesão total a Fernando Collor. Fernando Henrique, na posse, ofereceu sua imagem televisiva aos milhões de telespectadores brasileiros no lugar de honra junto ao empossado. Covas segurou a barra, praticamente sozinho. Não me consta, da época, uma única palavra de Serra contra o plano ou contra Collor. Falo do tempo em que Collor estava politicamente forte, não quando milhões se apresentaram nas ruas para depô-lo. Em razão disso, quando denuncia Dilma por receber o apoio passivo de Collor e Sarney, e se vangloria de ter o apoio de Fernando Henrique e Itamar, Serra apela para um simbolismo vulgar e se esquece da verdadeira política ativa que ele apoiou. O artigo é de J.Carlos de Assis
J. Carlos de Assis (*)
Fui o primeiro economista brasileiro a deixar registrado em artigos – tinha uma coluna diária de economia política em “O Globo” – a inevitabilidade do fracasso do Plano Collor. Como era também assessor da presidência da CNI, tentei convencer o presidente, Senador Albano Franco, a mobilizar a cúpula empresarial para consertar o que me parecia o lado mais estúpido do plano, a saber, o congelamento da moeda circulante junto com a poupança. Era difícil fazer isso sem desmontar o plano inteiro, mas era, a meu ver, a única alternativa para salvá-lo.
Albano não conseguiu convencer seus pares. Ao contrário, o então presidente da Fiesp, Mário Amato, intimidado pela demonstração de poder que Collor exalava por todos os poros, chefiou uma comitiva de empresários ao Planalto para um beija-mão vergonhoso ao recém-empossado. A propósito, como haviam dito que o plano era contra os ricos e a favor dos pobres, a caravana empresarial de Amato foi ao Planalto de ônibus, para não parecer que seus participantes eram ricos. Este é o Brasil real, um Brasil que apenas uns poucos conhecem!
Havia um outro caminho: convencer o PSDB a emendar o plano na direção que havia sugerido. Junto com Raphael de Almeida Magalhães e Carlos Lessa, procuramos os próceres do PSDB (então nosso partido) no Congresso, para tentar articular uma emenda. O único que ficou realmente impressionado com nossas ponderações foi Mário Covas. Fez um discurso dramático apontando as falhas do plano. Estava programada uma reunião da bancada do partido na Câmara, e Covas cuidou para que me dessem a palavra, embora, obviamente, eu não fosse parlamentar.
Fiz uma exposição exaltada, talvez mais do que devesse, para chamar a atenção sobre a fragilidade do plano. Paulo Renato falou em seguida, e defendeu a tese oposta: o plano, a seu ver, era muito bom, e o PSDB deveria aprová-lo como estava, sem emendas. José Serra não esteve nessa reunião, pelo menos durante o tempo em que permaneci nela. Mas Raphael foi procurá-lo pessoalmente, e sua posição foi exatamente a de Paulo Renato. Não havia muita saída, mas assim mesmo insisti: fui encontrar-me com Bresser Pereira, único economista integrante da Executiva.
Consegui tirar Bresser da reunião da Executiva para uma conversa rápida. Repetindo o que havia proposto em artigo, disse a Bresser que, já que era inevitável o congelamento do meio circulante junto com a poupança, que se fizesse a restauração da circulação monetária liberando depósitos segundo as folhas de pagamento das empresas. Isso não era nenhuma novidade. Em 1948, acontecera na Alemanha e no Japão. Bresser me respondeu que não podia, porque a folha salarial correspondia a 36% do PIB, e isso estouraria com o plano. Aliás, a ministra Zélia ou alguém de sua assessoria fizera a mesma alegação em face da minha sugestão.
“Bresser, argumentei, 36% do PIB é a acumulação anual de um fluxo mensal de, no máximo, 3%”. “Ah é, redargüiu Bresser. Então a gente propõe liberar 1,5%”. “Mas por que, Bresser, não os 3%”. “Porque é mais fácil para a equipe econômica aceitar”. Claro que não houve liberação de nada, nem de 3% nem de 1,5%, e em dois ou três meses o plano tinha ido para o espaço, determinando uma contração da economia no ano de mais de 4%, com imenso desconforto social por causa do congelamento – algo que, a meu ver, seria uma motivação decisiva no movimento do impeachment.
Essa longa história é para dizer que, a não ser por Covas, o PSDB estava pronto a uma adesão total a Fernando Collor. Fernando Henrique, na posse, ofereceu sua imagem televisiva aos milhões de telespectadores brasileiros no lugar de honra junto ao empossado. Covas segurou a barra, praticamente sozinho. Não me consta, da época, uma única palavra de Serra contra o plano ou contra Collor. Falo do tempo em que Collor estava politicamente forte, não quando milhões se apresentaram nas ruas para depô-lo. Em razão disso, quando denuncia Dilma por receber o apoio passivo de Collor e Sarney, e se vangloria de ter o apoio de Fernando Henrique e Itamar, Serra apela para um simbolismo vulgar e se esquece da verdadeira política ativa que ele apoiou.
É bom dizer que não tenho nada pessoalmente contra Serra. Ao contrário, acho que é um político honrado e limpo, e um administrador público eficiente. A razão porque temo sua eleição é estritamente política: em matéria de política econômica, ele tem certezas erradas. Além disso, se tem havido desvios éticos graves na “turma” do PT, houve desvios ainda piores no PSDB, inclusive em relação a um programa de privatização nefasto aos interesses nacionais e de favorecimento aberto aos amigos do rei, conduzido por pessoas controversas como Ricardo Sérgio de Oliveira, Luís Carlos Mendonça de Barros (demitidos) e – às vezes fora, às vezes dentro da máquina pública – André Lara Resende, todos eles do círculo íntimo de Serra.
Relativamente ao programa de privatização conduzido por Serra no governo FHC, devo dizer que nunca tive uma posição doutrinária ou ideológica contrária a ele. Critique sobretudo a forma, desde Collor. A privatização fatiada da siderurgia foi uma estupidez. A privatização da Telebrás era desnecessária: bastava liberar suas tarifas, como se fez para os privados que a compraram. A privatização de distribuidora elétricas, desde Itamar, sem prévia regulação do mercado, foi um acinte ao consumidor. A privatização da Vale privou o setor público de um agente estratégico do desenvolvimento (coisa que os chilenos não fizeram com seu cobre). Por tudo isso Serra, junto com FHC, pode ser associado a um exterminador do patrimônio público. É impossível tirar dele esse rótulo para a história. Mas que não seja um exterminador do futuro.
(*) Jornalista, economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPA, autor de mais de 20 livros sobre Economia Política brasileira e mundial, entre os quais “A Chave do Tesouro” e “Os Mandarins da República”, e, mais recentemente, “A Crise da Globalização”, sobre a crise mundial em curso.
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