É impossível ninguém nunca ter pensado nisso antes. O homem já foi à lua, quer ir à Marte, inventou a Internet, o celular, mas não conseguiu parar de cagar. Como alguém pode se julgar importante, querer ser levado a sério, se vez ou outra tem que parar tudo o que está fazendo… Para cagar. Que merda é essa (sem trocadilhos)?
Reparem em um cachorro: ele está lá, todo meninão, brincando, latindo, correndo atrás da bolinha, tentando cruzar com a almofada, só alegria… De repente, pára tudo: ele faz uma cara triste, olha para abaixo, ajeita as patas, e pronto, caga. Depois ainda cheira a merda e olha pra você, como se dissesse: “Pô, mal aí, cara, caguei”. Tá vendo, os cachorros têm algo a nos ensinar: o cocô é constrangedor!
Além do que, sem o cocô, finalmente existiram as mulheres que não cagam. O sonho de qualquer homem. Você nunca mais precisaria encarar a realidade de que aquela gostosa também senta no troninho (troninho, quem foi que disse que privada tem alguma coisa a ver com nobreza?) para fazer cocô. Não, ela não faz cocô com cheirinho de flores. Ela simplesmente não faz cocô. O sonho da mulher perfeita estaria perto de se tornar uma realidade.
Sem o cocô, não haveria o risco da sua cueca ter uma freada. Pior, não haveria o risco da calcinha da sua namorada ter uma freada, e você descobrir isso bem na hora em que você está lá, pronto para a batalha. Tá vendo, sem o cocô, diminuem os riscos de você brochar. Aliás, sem o cocô, talvez até aumentasse o número de virgens que só fazem sexo anal: “É limpinho, e eu ainda continuo com o meu selinho. Fantástico, agora só dou o cú!”
Sem o cocô, acabaria aquele constrangimento que rola no mundo corporativo: “cago agora ou espero um poquinho? Ih, o Zé acabou de entrar no banheiro, vou esperar ele sair… Pronto, agora eu vou… Ih, o Almeida entrou, vou disfarçar, fingir que é só xixi… Agora sim. “ Aí você caga, se segurando para não fazer barulhos muito altos, preocupado com o cheiro que está sendo liberado… E quando sai, dá de cara com o Teixeira, aquele cara que você nem é muito chegado na empresa, e que te olha com uma cara de lamentação, como se você tivesse cometido um crime. Você, desolado, responde com a mesma cara do cachorro lá de cima, que diz: “Pô, mal aí, cara, caguei”.
Sem cocô, os banheiros seriam mais simples, só de mictórios. A vida dos deficientes físicos melhoraria muito, eles não iam mais precisar de ajuda para cagar, para se limpar, seja lá o que for. Os cegos não iam mais precisar cheirar o papel para saber se estão limpos (é assim que eles fazem né?). Aqueles shows, aquelas micaretas que você vai, seriam muito mais divertidas, pois, em nenhum momento, você teria a preocupação de ter que usar alguma privada porca, usada, mijada, cagada, para cagar.
A quantidade de papel higiênico ia diminuir drasticamente. Logo, menos árvores seriam derrubadas, e o fim do cocô ajudaria o mundo a acabar com o aquecimento global. Ambientalistas, podem comemorar, a vitória do planeta está próxima, é só a gente parar de cagar! Imaginem, o Rio Tietê não seria mais marrom, ele também iria despoluir. Os especialistas estudando meios e mais meios de se despoluir o rio, com propostas que levariam dez, vinte, trinta anos para funcionar… Porque a gente simplesmente não pára de cagar?
Regular intestino? Comer alpiste para o cagar melhor? Intestino preso? Hemorróidas!!!!! O que são hemorróidas? Diga para uma criança que você tem hemorróidas, ela começa a chorar de medo, sem ter a menor idéia do que isso significa. E, quando tiver, chora ainda mais. Hemorróidas não deveriam existir. Mas, já que existem, porque a gente não acaba com elas?
Cara, e eu já ia me esquecendo deles: os peidos. O fim do cocô acabaria também com os peidos. O campeonato de peidos da criançada que me desculpe, mas os peidos também precisam acabar! É o fim dos ataques de flatulência no escritório, é o fim do peido no meio do rala e rola, é o fim da sua energia sendo gasta ao tentar segurá-los. Imagine sua vida sem aquelas caras incriminadoras, com os dedos apontados em sua direção e dizendo: “Foi você!”. Não seria muito melhor?
Sem contar as fraldas sujas dos bebês, a vontade de cagar no meio da trilha ecológica, o cocô incriminador que não desce de jeito nenhum, a desinteria, a diarréia, a caganeira, o medo de comer maionese, acarajé e pimenta, não ter que levantar no meio da noite para cagar, não suar ao cagar no calor, não ter que sentar na privada gelada ao cagar no frio, a vontade de cagar logo depois que você saiu do banho, assaduras, papel higiênico que acaba quando você ainda não acabou, fazer cabine (tem coisa mais idiota que isso???), forrar a privada com papel higiênico… A gente pode viver sem isso.
Cientistas, por favor, a idéia está lançada, agora vocês que dêem um jeito para ela se tornar uma realidade. E assim, a gente já pode começar a sonhar com o dia em que, nunca mais, o homem vai ter que parar para cagar. Encerro por aqui para ir ao banheiro, no que será, se tudo der certo, a primeira das minhas últimas cagadas!