Fred Melo Paiva - Estado de Minas
O Atlético começou a ganhar do Arsenal ainda no sábado passado, quando Ronaldinho deu aquela histórica entrevista ao Esporte espetacular. Daqui a 50, 100 anos, as novas gerações de atleticanos vão se emocionar vendo o mítico R10 chorar pela Massa do Galo. Eu já disse aqui que é chato esse negócio de dizer que eu disse. Mas, com o perdão pela autorreferência, faz 27 sábados que escrevi aqui neste espaço: “R49 ainda vai chorar por nós”. Chorou. Vinte e sete sábados são quase sete meses. Já tava demorando.
Eu nunca vi o Pelé chorar pelo torcedor do Santos. Nunca vi o Zico chorar por causa do torcedor do Flamengo. Nem o Sócrates por causa do corintiano. Menos ainda Tostão, Dirceu Lopes, Ronaldo Fenômeno, Sorín, Alex. Mas que estranho fenômeno será esse? Eu vi Dadá chorar pela torcida do Galo. Vi o Cerezo chorar. O Marques, naquele momento em que arrancou a bandeirinha do escanteio e levantou na ponta do mastro a própria camisa (eu choro só de lembrar). Até o Júnior César já chorou por nós, sentado no gramado do Independência depois da virada épica sobre o Sport, ano passado. Ninguém suspeitava dele – mas tem hora que a paixão deixa de ser platônica porque o cara não se aguenta.
Uma torcida que leva 3.700 pessoas de Belo Horizonte a Buenos Aires para assistir a um jogo de primeira fase de campeonato não é uma torcida – é uma procissão. Na Libertadores de 2009, 300 cruzeirenses foram à Argentina ver a final contra o Estudiantes. A baixa frequência se deveu ao surto de gripe aviária, que ameaçava se transformar em epidemia global. Com todo o respeito: se fosse o Galo, os mais de 4 mil ingressos à disposição do visitante não teriam dado conta da demanda. O atleticano ia viajar nem que fosse enfiado num escafandro, levando o próprio oxigênio.
O time do Galo que passeou em Sarandí não venceu como venceu apenas porque é um timaço. O que é – um dos melhores do mundo, na minha nada modesta, mas verdadeira opinião. O time do Galo deu o baile que deu, e dará outros, porque tem aquilo que ninguém tem: jogadores que torcem de verdade para o time em que jogam, como havia no passado. Réver, Leonardo Silva, Gilberto Silva, Júnior César, Richarlyson, Pierre, Diego Tardelli, Ronaldinho e Bernard (esses já se pode ter certeza) são atleticanos pra valer, convertidos àquilo que, como bem disse R10, só quem vive sabe exatamente o que é. Não vestem apenas a camisa da firma. Vestem a dor e o amor do atleticano, esse palestino do futebol. Vão pedir pra se aposentar no Galo, como fizeram Marques, Gilberto Silva, Tardelli e até o Mancini. Vão pedir uma camisa do Galo sobre os seus caixões quando estiverem indo para o saco.
Vocês que fazem parte dessa Massa – R10 e Bernard, mas também o Jô, que vem comendo a bola – jogaram em Sarandí um espetáculo para nunca mais se esquecer. Para “tirar o chapéu e contemplar”, como escreveu um jornal argentino. Vocês que fazem parte dessa Massa, e que lá estiveram nas arquibancadas depois de percorrer mais de 2.800 quilômetros, fizeram este atleticano aqui chorar na frente da TV. Eu tava parecendo o Ronaldinho Gaúcho – falou da Massa, a gente chora.