China dá passo adiante na defesa do Brasil no Conselho de Segurança da ONU
Em visita de Dilma Rousseff ao país asiático, comunicado conjunto trata pleito nacional por assento permanente como 'prioridade'
12 de abril de 2011 | 18h 13
PEQUIM - Na visita da presidente Dilma Rousseff à China, o país asiático deu um passo adiante ao tratar da defesa do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. No comunicado conjunto assinado pelos dois países, a China se posicionou ao lado do Brasil ao assinalar que a representação das nações em desenvolvimento, naquele fórum, é agora uma "prioridade".
"A China atribui alta importância à influência e ao papel que o Brasil, como maior país em desenvolvimento do hemisfério ocidental, tem desempenhado nos assuntos regionais e internacionais, e compreende e apoia a aspiração brasileira de vir a desempenhar papel mais proeminente nas Nações Unidas", diz um trecho do comunicado.
Embora o país de Hu Jintao já tenha, em outras ocasiões, declarado apoio à pretensão brasileira de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, na prática tudo ficou na retórica. Motivo: a China, membro permanente, não quer ajudar o Japão, com quem o Brasil se associa nesse projeto, ao lado da Índia e da Alemanha, o grupo do G-4.
Questionada se a China havia adotado tom mais incisivo do que os Estados Unidos, que declarou ter "apreço" pela entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, Dilma evitou ser taxativa. "Não acho que dê para fazer uma comparação assim", afirmou.
Brasil e política internacional
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Re: Brasil e política internacional
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Re: Brasil e política internacional
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Apostas da política externa brasileira
Sergio Leo
Do Valor
Há um termo em inglês, difícil saber se é wishful thinking ou inside information, para o que pensam integrantes do alto escalão em Brasília: eles acreditam que, em breve, o Brasil pode perder um dos embaixadores com maior trânsito dos últimos anos na cúpula do governo brasileiro e a América Latina ganharia, em Washington, um raro diplomata americano com profundo conhecimento e interesse em relação à região. Com a rearrumação do governo Barack Obama a aposta, em certos gabinetes brasilienses, é de que o atual embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, assumirá o posto de subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, o número três na hierarquia da diplomacia americana.
O anúncio, há dias, da demissão do titular da Subsecretaria de Estado para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, levou o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, a brincar com Shannon, perguntando ao embaixador se ele estaria se preparando para assumir o posto, que já foi dele, antes da nomeação para a embaixada em Brasília. Shannon teria dito a Garcia que é feliz onde está. Deve ser verdade, o diplomata americano, que fala um português bem razoável, adora o Brasil, onde já morou nos anos 80. Mas, aparentemente, a secretária de Estado, Hillary Clinton, tem outros planos.
Como Valenzuela, o secretário de Estado adjunto, James Steinberg, segundo em poder na diplomacia dos EUA, anunciou, em abril, sua saída do governo, para assumir um posto de comando em uma universidade americana. Hillary informou que William Burns, o atual subsecretário para Assuntos Políticos, será promovido. Sai um dos artífices da estratégia de aproximação dos EUA com a China e entra um especialista com intensa atuação recente em questões do Oriente Médio e negociações com o Irã.
Com a promoção de Burns, a ascensão de Thomas Shannon, um dos mais eficientes diplomatas dos EUA, faz todo o sentido. E põe Shannon em posição para influir na substituição de Valenzuela, um posto abaixo ao de secretário de Estado adjunto, e do futuro embaixador americano no Brasil.
Burns, ciceroneado por Shannon, estará no Brasil nesta semana, para contatos de alto nível com autoridades brasileiras (só como curiosidade, Burns exerce a diplomacia com o senso de observação de um romancista: há algum tempo, foi comparado nos jornais "Guardian" e "El País" ao irônico escritor britânico Evelyn Waugh por seu espirituoso e imperdível relato de um casamento na ex-república soviética do Daguestão, vazado pelo Wikileaks (http://wikileaks.ch/cable/2006/08/06MOSCOW9533.html).
É uma visita oportuna, a de Burns. É preciso retomar as conversas iniciadas durante a visita ao Brasil de Barack Obama, de quem o governo brasileiro andou reclamando durante a ida de Dilma Rousseff à China. Obama foi mais simpático, mas os chineses são mais objetivos, criticou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, ao Valor, um comentário que teria sido repetido pela própria Dilma, segundo o colunista de "O Globo", Ilimar Franco. Além de facilitar a retomada de contatos de Brasília com Washington, a elevação funcional de Burns e Shannon ajuda a evitar ruídos de comunicação, já que ambos são diplomatas de grande interlocução abaixo do Equador.
E não faltarão razões para ruídos. Contrariamente ao que se especulou pouco após a eleição de Dilma, a presidente não parece decidida a recolher os tentáculos diplomáticos lançados em direção a regiões minadas como o Oriente Médio, especialmente agora, quando o Brasil ocupa um assento temporário no cobiçado Conselho de Segurança das Nações Unidas, Na semana passada, ao receber no Planalto o presidente da Alemanha, Christian Wulff, Dilma reclamou da política monetária americana, apontadas como uma das razões da inflação mundial, e criticou a ação das forças da Otan na Líbia. O tipo de declaração que, no governo Lula, os críticos da política externa atribuíam a um mal justificado antiamericanismo.
O ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, viajou no fim de semana ao Egito, onde não só teve reuniões com o novo chanceler do país, Nabil al-Araby, como teve um encontro com o secretário-geral da Liga dos Estados Árabes, Amr Moussa, um dos elementos-chave do mundo árabe na discussão sobre a intervenção ocidental na Líbia. Conversas com as autoridades da África do Sul, que vêm chefiando esforços diplomáticos para solução da crise líbia, também estiveram na agenda de Patriota recentemente.
O pretexto e razão da atuação diplomática brasileira na região é o papel brasileiro no Conselho de Segurança. O Brasil está, com China e Rússia, entre os países que se opõem às intenções de membros da Otan de aumentar o envolvimento de governos estrangeiros no ataque ao ditador Muamar Gadafi, com fornecimento de recursos aos rebeldes líbios. O assunto certamente deverá constar das manifestações dos governos do Brasil e da Venezuela, durante a visita, amanhã, do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao Brasil.
Os indícios de que as mudanças na política externa brasileira são bem menores do que previram alguns analistas mais por wishful thinking que por qualquer informação interna da diplomacia de Dilma dão relevo à importância da esperada nomeação de Burns e Shannon para postos mais altos na administração Obama. São, ambos, bons interlocutores do Brasil, e podem contribuir para evitar a escalada de desentendimentos que esfriou o relacionamento bilateral nos últimos anos do governo Lula.
Sergio Leo é repórter especial em Brasília e escreve às segundas-feiras
E-mail sergio.leo@valor.com.br
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Samuel Pinheiro: “Brasil não quer repetir os erros dos impérios”
Contra o estereótipo que vê o Brasil atual como um império, o ex-ministro de Lula e alto representante do Mercosul, Samuel Pinheiro Guimarães, disse ao jornal argentino Página/12 que a realidade é outra: o país pensa em associar-se e cooperar com seus dez vizinhos e com outros países em desenvolvimento. “Temos interesses em comum com os países mais pobres, os países em desenvolvimento, para mudar as regras do mundo. A crise que vivemos mostrou a falência dos modelos neoliberais tanto em nossos países como nos desenvolvidos. As regras financeiras devem permitir espaço para os desenvolvimentos nacionais”.
por Martin Granovsky – Página/12, via Carta Maior
Quando Brasil e Argentina começaram a cooperar com força, no início do processo de redemocratização, Samuel Pinheiro Guimarães já figurava entre os mais ativos. Em novembro passado, os presidentes dos quatro países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) criaram o cargo de alto representante do bloco, deram-lhe funções de construção e negociação e as atribuíram a ele por unanimidade.
Pinheiro Guimarães exibiu seu perfeito espanhol na primeira viagem a Buenos Aires como alto representante. Prometeu visitar cada país seguidamente. Ocupado em ampliar o Mercosul para além do que chamou com ironia “uma burocracia cartesiana”, conversou com o chanceler Héctor Timerman e até teve tempo para reunir-se com um colega: Carlos Piñeiro Iñiguez, ex-embaixador no Equador que acaba de assumir o Instituto do Serviço Exterior da Nação. Por convite de Piñeiro, Pinheiro inclusive deu uma aula de uma hora para os futuros diplomatas que cursam o Instituto.
Página/12: É verdade que o Brasil tem uma ideia imperial de diplomacia ou isso é um mito?
Samuel Pinheiro Guimarães: (Ri.) Não. O Brasil tem um interesse muito forte no desenvolvimento de toda a região apesar das assimetrias entre os distintos países. Não é um império, não quer sê-lo nem quer repetir os erros dos impérios. Ao contrário. Acredita em associar-se, em cooperar, em reformar um sistema internacional que se caracteriza, a meu juízo, pela convivência de potências centrais e de ex-colônias, como nós. Temos interesses em comum com os países mais pobres, os países em desenvolvimento, para mudar as regras do mundo.
Página/12: O que seria preciso mudar?
Samuel Pinheiro Guimarães: A crise que vivemos mostrou a falência dos modelos neoliberais tanto em nossos países como nos desenvolvidos. As regras financeiras devem permitir espaço para os desenvolvimentos nacionais, e o mesmo deve acontecer com as regras sobre comércio e meio ambiente. Na Rodada de Doha, foi a primeira vez que os países em desenvolvimento tiveram uma posição firme e não aceitaram o cardápio tal como lhes foi apresentado.
Página/12: Se tomamos como dado o afeto e a irmandade, por que convém ao Brasil uma relação de cooperação com os vizinhos?
Samuel Pinheiro Guimarães: Temos muitos vizinhos. Se não contamos os Estados Unidos, que acreditam ter 191 vizinhos, estamos logo depois da China e da Rússia. Eles têm 14. Nós temos 10. Com esse número tão grande, está claro que é melhor ter vizinhos estáveis, em boas condições e em paz. Ninguém quer vizinhos turbulentos e pobres, não?
Integrações
Pinheiro Guimarães ficou à vontade no ISEN. Vice-chanceler e depois ministro de Assuntos Estratégicos de Lula, foi o modernizador do Instituto Rio Branco, do Itamaraty. Em sua conversa com os alunos do ISEN, argumentou que é ingênuo querer integrar-se ao mundo sem fazer parte de um bloco. Disse que, em termos comerciais, uma parte da América Latina já optou por acordos de livre comércio com os Estados Unidos: países da América Central, Chile, Peru, Colômbia. “Nós não quisemos a ALCA, em 2005, não somente por razões comerciais”, observou. “A ALCA era uma política econômica completa, que envolvia comércio, investimentos, negócios e propriedade intelectual”.
Indagado sobre a existência de choques entre o Mercosul e a Unasul, negou. “A Unasul é um modo de manter próximos países que, comercialmente, optaram por outras políticas. É bom que todos integremos o Conselho Sulamericano de Defesa. Para mim é motivo de suspeitas quando alguém recomenda que não devemos nos preocupar com nossa defesa, que outro país vai se ocupar disso. Somos pacíficos, mas não temos por que ficar desarmados enquanto outros têm armas e as desenvolvem e quando sabemos também que a indústria militar é chave para o desenvolvimento tecnológico.
Também foi taxativo quando um aluno perguntou-lhe se o Brasil, como parte dos Estados em desenvolvimento intermediário do mundo, não teria subido de posição. “Os que dizem isso querem que abandonemos nossas políticas”, analisou. “Avançamos extraordinariamente, mas no Brasil ainda há 60 milhões de pessoas em situação de pobreza. Uma Argentina e meia. Não, não subimos de posição. Seguimos trabalhando para isso”, disse o diplomata que sempre se sentiu confortável com Lula.
Lula, síntese
Página/12: Como foi ter Lula como chefe?
Samuel Pinheiro Guimarães: Uma experiência extraordinária. O próprio Lula é uma síntese da maioria dos brasileiros. Ele vem do Nordeste. Seu pai era uma pessoa muito violenta. Abandonou a família. Lula saiu do Nordeste para a periferia de São Paulo, com sua mãe e irmãos. Foi vítima de um acidente de trabalho. Sua primeira mulher perdeu a vida em um hospital. É trabalhador. Passou fome. Fez greve. Quando fala de uma inundação sabe do que fala. Viveu isso. Quando fala de greves ou desemprego, sabe do que se trata. Quando fala de discriminação, também. Por isso sua preocupação não é acadêmica. Ele viveu tudo isso.
Página/12: E como enfocava os temas internacionais?
Samuel Pinheiro Guimarães: Lula tinha uma enorme experiência diplomática anterior ao governo. Tinha feito mais de 120 viagens e o primeiro chefe de governo estrangeiro que conheceu, o alemão Helmut Schmidt, pediu para vê-lo em sua casa. Conhecia vários deles antes que fossem líderes. Muitas vezes disse que era extraordinário a América do Sul ter chegado ao ponto de ter um operário presidente do Brasil e um indígena na Bolívia. Ao mesmo tempo, no início de seu governo, posicionou-se contra a guerra do Iraque.
Página/12: O cargo de Alto Representante do Mercosul não existia.
Samuel Pinheiro Guimarães: Não, e agradeço não só ao meu país que me propôs esse posto, mas a todos aqueles que aprovaram minha nomeação, entre eles a Argentina.
Página/12: As funções de Alto Representante são novas.
Samuel Pinheiro Guimarães: Sim. Tenho amplas funções dentro do bloco e também fora, certamente que seguindo as decisões políticas dos presidentes.
Página/12: O Mercosul goza de boa saúde?
Samuel Pinheiro Guimarães: O comércio se ampliou de maneira muito significativa. As taxas de crescimento são altas. Cresceram os investimentos. Ao mesmo tempo, a cooperação política se traduz em reuniões periódicas dos presidentes. Em certos países, há muitas críticas. No Brasil mais que na Argentina, sobretudo se há alguma diferença comercial. Há muito que melhorar do ponto de vista da imagem do Mercosul.
Página/12: Em que isso melhora a vida do cidadão comum?
Samuel Pinheiro Guimarães: A primeira coisa é o emprego. Se há exportação é porque se produziu antes e se criaram postos de trabalho. Nossos países exportam muitos produtos manufaturados aos países sócios do Mercosul. Isso aumenta a escala produtiva e reduz os custos de produção. Os empresários ganham mais e os trabalhadores têm mais e melhores empregos. E a competitividade é maior, comparada a de outros países. Politicamente, aumenta a compreensão mútua entre os países.
Página/12: O ingresso da Venezuela depende só da ratificação do Senado paraguaio.
Samuel Pinheiro Guimarães: Sim. Essa é uma questão política interna do Paraguai. É uma questão de tempo. Antes, a Venezuela era um país que não tinha sequer agricultura. Dependia de uma única matéria prima, o petróleo, que, além disso, era explorado pelos Estados Unidos para os Estados Unidos. É um país riquíssimo, com minerais e energia. Decide reorientar sua política para o Sul com o objetivo de incrementar o desenvolvimento do país. Assim, converteu-se em um mercado potencial importante.
Página/12: Em energia?
Samuel Pinheiro Guimarães: Depois da Arábia Saudita, que é o primeiro produtor, a Venezuela está entre os cinco ou seis principais produtores de petróleo do mundo. Quer diversificar suas exportações.
Página/12: O ingresso da Venezuela no Mercosul traz alguma dificuldade?
Samuel Pinheiro Guimarães: Pelo contrário. O país já vem participando do bloco e traz uma vocação integracionista forte.
Página/12: Como se administra o equilíbrio entre o desenvolvimento e a competição entre as empresas dos quatro países?
Samuel Pinheiro Guimarães: Vivemos em um sistema capitalista. Isso implica a competição entre as empresas que, às vezes, significa baixa de custos e maior tecnologia. Mas não falamos de regimes capitalistas puros e sim de capitalismos reais. Quer maior intervenção que o salvamento que os países centrais fizeram com seus bancos? Ou por acaso os bancos quebraram e o Bank of America se converteu no Bank of Shangai?
Página/12: Como avalia as relações entre a América do Sul e os Estados Unidos?
Samuel Pinheiro Guimarães: Ela varia de país para país.
Página/12: Então restrinjamos a pergunta e falemos de Mercosul.
Samuel Pinheiro Guimarães: Não resolve, mas facilita. Não vejo conflitos. Claro, levemos em conta que os Estados Unidos são, por enquanto, a primeira economia mundial, mas a diferença militar é enorme: cinco mil ogivas nucleares contra 200 da China.
Página/12: Como devemos nos posicionar frente a essa influência?
Samuel Pinheiro Guimarães: A influência das multinacionais estadunidenses no Brasil e na Argentina é um fato. E não há restrições. No passado, o Brasil, por exemplo, aplicou normas para que os investidores tivessem que usar insumos nacionais, peças de automóveis por exemplo. A influência estadunidense em termos de livros, televisão, cinema é acachapante. É um tema industrial, cultural e ideológico. Por isso, os Estados não têm que restringir a empresa estrangeira, mas sim estimular os conteúdos locais, sobretudo na área audiovisual, que é o terreno da divulgação. Inclusive da divulgação do Mercosul e da cultura de cada país. Ao invés de hegemonia cultural, diversificação.
Página/12: Ninguém deve ser dominante?
Samuel Pinheiro Guimarães: Não.
Página/12: Qual a vantagem de diversificar?
Samuel Pinheiro Guimarães: Como é a vida? Diretamente sabemos pouco. O restante conhecemos por meio de algum relato. Bem: diversifiquemos os relatos.
Tradução: Katarina Peixoto
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Re: Brasil e política internacional
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O complexo do beija-mão
O colunista da Folha Sergio Malbergier sugeriu que a presidenta Dilma estaria substituindo o “complexo de vira-lata” pelo de “poodle”, ao fazer exigências à União Européia na cúpula do G-20. Na verdade, a crítica do jornalista é um perfeito exemplar de outro complexo tipicamente brasileiro, o "do beija-mão", ideologicamente de direita e que assola a vida nacional desde os tempos coloniais.
Flávio Aguiar - Correspondente da Carta Maior em Berlim
Berlim - Muito se tem falado recentemente sobre o “complexo de vira-lata”, metáfora do sentimento brasileiro criada por Nelson Rodrigues, para se referir à política externa brasileira. Hoje, de maneira deselegante, o colunista da Folha Sergio Malbergier sugeriu que a presidenta Dilma Rousseff poderia estar substituindo este complexo pelo de “poodle”, ao fazer exigências à União Européia perante a cúpula do G-20.
A esquerda acusa a direita de “complexo de vira-lata” por esta querer que o Brasil se diminua perante as potências ocidentais. A direita acusa a esquerda do mesmo, e o governo brasileiro, por achar que ambos defendem um “terceiro-mundismo mofado”. Para mim, a razão nestas acusações fica com a esquerda, não com a direita, pelo fato de que, entre ambos os argumentos, coloca-se um outro complexo, que assola a direita em matéria de política externa, que é o "complexo do beija-mão".
O complexo do beija-mão é algo que assola a vida brasileira desde os tempos coloniais, e que consiste em pensar que o que se consegue na vida não se deve aos próprios méritos, mas sim ao favor dos poderosos. É um capítulo interessante da ideologia do favor, que tanto governou e nos governa ainda.
Para esse complexo, é um absurdo o Brasil se mostrar ostensivamente independente das potências ocidentais, a ponto de criticar algumas delas em público, como no caso do G-20, em que a presidenta Dilma vai cobrar medidas mais duradouras e anti-recessivas da bancada européia. É também absurdo o Brasil não se alinhar costumeiramente aos Estados Unidos. Por quê? Porque assim perderemos o beneplácito dos poderosos, e não teremos as vantagens comerciais que poderíamos ter. Como se o mundo comercial de hoje fosse regido por esses favores do beija cá dá lá.
Mas não só isso. Devemos adular também os pequenos emergentes. Para esse complexo, o Brasil errou redondamente ao não se alinhar ao neogoverno da Líbia, porque agora, nas prebendas que serão distribuídas como botim depois do bárbaro linchamento de Gadafi (que deveria ter sido julgado em Haia), não teremos parte alguma. Como se as potências bombardeiras deixassem algum espaço espontâneo para quem beijasse as mãos suas ou de seus apaniguados. A diplomacia brasileira – e nisso acerta – aposta em outra coisa, na multilateralidade de sua abordagem da cena internacional, tanto do ponto de vista comercial como do político.
Porque assim é o mundo contemporâneo: multilateral, não mais bi nem unipolar. É claro que existem considerações de natureza ética na política internacional. Apoiar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre uma “no-fly zone” na Líbia que vai servir na verdade para bombardear um dos lados da questão em detrimento de outro, inclusive para matar o líder desse lado em questão, não é ético. Além disso, não é pragmático: o Brasil perderia o perfil que vem laboriosamente construindo num mundo multi-lateral que inclui, além do Ocidente em crise monetária, fiscal, econômica e política, os BRICS, o G-20, a América Latina, a África subsaariana, o Oriente Médio, para dizer o mínimo e o máximo.
Tudo isso remonta a dizer que o mundo íntimo da nossa direita é completamente anacrônico. Ele não consegue visualizar a estatura que o Brasil atingiu na cena internacional. Também não consegue visualizar a própria cena internacional, que é bem mais complexa do que um jogo de mocinho e bandido ou de gato e rato.
Uma última observação. Toda a ironia tem dois gumes, a gente sabe. É bom lembrar que na época em que Nelson Rodrigues criou a metáfora do “complexo de vira-lata” o modelo ideal de cachorro era o pastor alemão, de triste memória (o modelo ideal, não o cachorro que, deixado a seu instinto, é de índole boa e pacífica).
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Re: Brasil e política internacional
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2 ... rania.html
http://noticias.uol.com.br/internaciona ... tanico.htm
Dilma nos EUA: cachaça e soberania
Editorial do sítio Vermelho:
Depois de 12 anos de contencioso comercial com os Estados Unidos, finalmente se pode dizer que “a cachaça é nossa”. Em contrapartida, o uísque bourbon, destilado do Tennessee e também apreciado aqui pelos que têm condições de comprar bebida importada, foi reconhecido pelo Brasil como produto exclusivamente norte-americano.
Também após longos anos de demandas por parte do Brasil, o governo dos Estados Unidos anunciou, durante a visita da presidente Dilma a esse país, a abertura de dois novos consulados – em Belo Horizonte e Porto Alegre – além de determinar a adoção de procedimentos mais ágeis para a concessão de vistos de entrada às centenas de milhares de turistas e negociantes brasileiros que se destinam ao país do Norte. A este respeito, não se pense ingenuamente que se trata de uma democratização das políticas migratórias estadunidenses. Aqui falaram mais alto os interesses financeiros dos Estados Unidos, onde os turistas brasileiros fazem gastos que animam os negócios por lá.
Por incrível que pareça, foram esses os resultados do intercâmbio entre Dilma e Obama que mereceram maior destaque e celebração na cobertura da mídia privada brasileira sobre a visita de Estado da presidente aos Estados Unidos nestas segunda e terça-feira (9 e 10).
Antes da visita, os entreguistas mais notórios do país tropical chegaram a criticar a diplomacia brasileira por não ter conseguido alçar a visita presidencial a um nível de importância tal que a nossa presidente fosse convidada a um jantar na Casa Branca, honraria que os presidentes dos Estados Unidos reservam aos visitantes mais importantes.
Contudo, são dois, principalmente, os aspectos a ressaltar da visita de Estado da presidente brasileira aos Estados Unidos.
Em primeiro lugar, o protesto que a presidente fez com palavras diplomáticas mas firmes contra o protecionismo cambial dos países imperialistas. Nisso, Dilma foi porta-voz não só dos interesses comerciais brasileiros, mas também do Brics. “Queremos reiterar que o Brasil repudia todas as formas de protecionismo, e portanto, inclusive essa que se configura como sendo uma espécie de protecionismo cambial. Nós acreditamos, portanto, que a fragilidade da economia mundial não pode converter-se em pretexto para que a gente reedite o que aconteceu no século passado, na década de 1930, com trágicas consequências”.
Ao condenar o protecionismo cambial dos países ricos, a presidente Dilma também marcou posição sobre a crise econômica internacional, condenando as receitas em voga adotadas pelos conservadores e neoliberais. “Eu tenho convicção de que a saída para a crise não está em políticas recessivas nem na supressão de conquistas sociais (…) Só políticas monetárias não contribuem para a retomada do crescimento”, disse.
Este é o busílis da questão, e não se venderemos algumas doses a mais da boa cachacinha brasileira aos norte-americanos. Num mundo altamente competitivo, em que os gigantes se digladiam e adotam protecionismo de todo tipo, uma nação que ambiciona desenvolver-se e promover a justiça social só poderá fazê-lo antes de tudo afirmando a sua soberania econômica como base da soberania política.
O outro aspecto da visita de Dilma aos Estados Unidos a merecer realce é que, fixando-se no pragmatismo dos interesses comerciais, a presidente mostrou a dimensão das relações bilaterais com os Estados Unidos. Trata-se de relações de igual para igual entre dois países que têm interesses próprios a defender.
A mídia entreguista, órfã da diplomacia de pés descalços, saudosista dos tempos do alinhamento automático orientado pela noção de que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, acalentou nos dias que antecederam o encontro entre a líder brasileira e o presidente Obama a expectativa de que este passaria um “pito”, em face das posições corretas da política externa brasileira sobre os principais conflitos internacionais da atualidade, destacadamente os dossiês Irã e Síria.
São e continuarão sendo diametralmente opostas as posições do Brasil e dos Estados Unidos nesse terreno. O nosso país defende o multilateralismo, o direito internacional, a democratização das relações internacionais, a solução pacífica dos conflitos. Já o imperialismo estadunidense defende as sanções, o intervencionismo, a desestabilização de governos soberanos, a violação da autodeterminação dos povos e nações, o militarismo e a guerra.
Não havendo denominador comum, nem espaço para os imperialistas formularem abertamente suas críticas, o diálogo se circunscreveu às questões comerciais e a outros itens da cooperação bilateral nos terrenos da educação, ciência e tecnologia. E quem tomou a iniciativa de abordar uma questão à margem das relações bilaterais foi a presidente brasileira, ao se referir ao consenso latino-americano e caribenho de que é uma injustiça a não participação de Cuba na Cúpula das Américas.
Yes, temos cachaça para dar e vender. E postura soberana para nos defender.
http://noticias.uol.com.br/internaciona ... tanico.htm
Todos querem falar com Dilma, menos Obama, diz jornal britânico
Do UOL, em Brasília
Sob o título “Todos querem falar com a presidente Rousseff, menos Obama”, o jornal britânico “The Guardian” publicou um artigo que defende mais atenção para o Brasil por parte da principal potência do mundo, dias depois da visita de Dilma a Washington e a Boston.
Em um texto de sua versão online, o diário, um dos mais importantes da Europa, diz que os norte-americanos parecem “presos em outra era” para não admitirem que o vizinho ao sul é um exemplo.
No texto assinado pelo jornalista Jason Farago, baseado em Nova York, Dilma é chamada de “a segunda pessoa mais poderosa no Ocidente”. Enquanto ela chegava aos EUA no início da semana, Obama, o mais poderoso, “passava a maior parte do seu dia embrulhando ovos de Páscoa” na Casa Branca.
Os dois presidentes tiveram uma breve reunião e uma entrevista coletiva conjunta “durante a qual eles nem se olharam no olho”, diz o texto.
“Não apenas o presidente dos EUA desdenhou das arapucas de uma visita de Estado; ele mal deu a Dilma duas horas”, diz o artigo.
A visita de Obama ao Brasil no ano passado tampouco foi de Estado --para isso é necessário visitar as sedes dos três poderes e o cumprimento de uma série de protocolos. Diplomatas norte-americanos afirmaram que isso aconteceu com Dilma porque é ano eleitoral e o presidente é candidato à reeleição.
“Ela chegou acompanhada de meia dúzia de formadores de opinião, de professores a chefes de thinktanks [instituições que difundem conhecimentos e estratégias sobre assuntos importante], todos exaltando seu comando econômico e implorando a Washington que a levasse a sério. As diretoras de Harvard e do MIT (ambas mulheres) a convidaram para ir a Boston. Até a Câmara do Comércio se esforçou --certamente a primeira vez que o grupo de grandes e malvadas empresas se empolgou tanto ao conhecer uma ex-guerrilheira”, diz o texto. “Só Obama deu de ombros.”
Sem respeito
Nos bastidores, diplomatas brasileiros admitem há semanas que os EUA não se dedicaram à visita de Dilma como deveriam. Em sua visita ao Brasil, a presidente o convidou ao Palácio do Planalto, participou de um almoço com ele no Itamaraty, recebeu Obama e sua família no Palácio da Alvorada, antes de ele seguir para o Rio de Janeiro. "Pelo menos um jantar teria sido mais adequado", diz um deles em Brasília.
De acordo com o texto do “Guardian”, “o Brasil é o país dos Bric que não é respeitado, mesmo em 2012”. Ao visitarem aos EUA, os líderes da Índia e da China são recebidos com grandes honrarias. A Rússia, por seus laços com a antiga União Soviética, sempre esteve sob o radar dos norte-americanos.
“O Brasil é o país que impõe a menor ameaça geopolítica significativa e oferece mais vantagens, como os CEOs [diretores-executivos] salivantes já sabem”, afirma a publicação.
“É assim que Washington funciona. Nas aulas de história, a primeira lição que os estudantes aprendem sobre a política externa norte-americana é a Doutrina Monroe – o princípio de 200 anos de que a América Latina é o nosso quintal. Fazemos isso e gostamos de dizer a todos que fiquem fora. A ideia de que um país latino-americano na verdade serve como modelo vai além da compreensão”, conclui o texto.
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Re: Brasil e política internacional
http://noticias.r7.com/blogs/christina- ... ta-brasil/
Debate entre Dilma e Obama projeta o Brasil e causa ciúmes
15/04/12 6 Comentários
De Cartagena, Colômbia
A cena em si foi a comprovação de que algo de novo está acontecendo no cenário mundial. No palco pomposo da Cúpula Empresarial de Cartagena, com bandeiras gigantes de seus países ao fundo, Dilma e Obama pareciam destacados do grupo de 33 chefes de estado e de governo presentes na VI Cúpula das Américas.
Na platéia, a presidente argentina, com o sempre sombrio traje preto, acompanhou com ar de fastio. Os mexicanos citados por Obama de passagem apenas uma vez, viram o Brasil assumir um discurso que jamais ousaram fazer e que pode nao ter tido consenso entre os empresários, mas fez vibrar parte da mídia que acompanhou o evento.
Dilma disse com todos os efes e erres o que pensa do protecionismo disfarçado de política monetária dos americanos, reforçou a necessidade de negociações de igual para igual, sem o ranço arrogante dos ricos.
Obama vestiu a carapuça. Bateu de volta com sutileza, lembrando que é bom para todos que os Estados Unidos vençam a crise, porque lá está o principal mercado dos irmãos latinos. E ainda tentou pespegar em Dilma e nos colegas bolivarianos a imagem de retrógrados, ao mencionar que esquerda e direita não resolveram todos os problemas e que nao dá para culpar os velhos "yankees" por tudo de errado que acontece no mundo.
Obama, mais do que nunca, falou para seu eleitorado em casa, e nao esboçou movimento ao ser cobrado explicitamente pelo anfitrião, Juan Manuel Santos, quanto ao fim do bloqueio a Cuba. O americano estava visivelmente desconfortável na situação de completo isolamento entre seus pares. "O discriminado que discrimina", atirou Evo Morales, da Bolívia, em declaração à imprensa.
A desenvoltura de Dilma surpreendeu. Para alguém que há um ano sequer discursava de improviso, foi um salto vertiginoso. Disse o que pensa sem provocar crise. Concorde-se ou não com o mérito de suas colocações, o desempenho da presidente marcou ponto para o Brasil, agora no papel de interlocutor da "América não-yankee".
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Re: Brasil e política internacional
http://colunas.revistaepoca.globo.com/p ... americano/
Dilma e o porrete americano
08:25, 3/05/2012
Paulo Moreira Leite
É possível que nem todos os leitores já tenham percebido mas a pauta principal dos repórteres que cobrem uma viagem presidencial ao exterior consiste em procurar gafes de nossos chefes de Estado.
A ideia é que os assuntos sérios e graves são uma chatice que não interessa a ninguém – visão que nem sempre é verdadeira mas tem sua base na realidade – e que as gafes são assunto com leitura garantida.
É assim desde os tempos da ditadura militar. Naquele tempo as gafes eram até uma forma de publicar uma notícia negativa sobre um regime que governava com apoio da censura prévia.
Os arroubos de vaidade da primeira-dama Dulce Figueiredo eram um prato tão saboroso que, num esforço para evitar notícias constrangedoras, o SNI cassou o passaporte do cabeleireiro que costumava acompanhá-la em viagens, alimentando os jornalistas de fofocas e episódios divertidos, além de dar um aspecto fútil às visitas.
A pauta prosseguiu nos governos civis e é possível que nenhum presidente tenha sido tratado com tantas ironias como José Sarney, que, com certo pedantismo, costumava ser ironizado por causa de seu portunhol.
No início, o monoglota Lula sofreu com comparações negativas, que procuravam exaltar o poliglota FHC. Depois se viu que mesmo em português Lula conseguia um respeito que nenhum antecessor obteve antes dele.
E Dilma?
Dilma fez uma viagem aos EUA onde não ocorreu nenhuma gafe. Isso explica a pouca atenção que recebeu por parte da maioria de nossos jornais e revistas.
É um erro, já que a visita teve pelo menos um aspecto importante. A presidente tomou iniciativas importantíssimas na área de educação, dando sequência a seu projeto de enviar milhares de estudantes para cursos de pós-graduação nas melhores universidades do planeta.
Mas foi uma viagem morna, que reflete uma realidade que nossos observadores não querem ou não conseguem admitir.
“Todo mundo queria ver Dilma menos Barack Obama,” escreveu o jornalista Jason Farago, correspondente do Guardian na capital americana, num comentário que até hoje repercute na internet.
A tese de Farago é que a viagem serviu para mostrar um vazio da diplomacia americana, que não estava preparada para a emergência de um país que já não se comporta como uma nação subalterna quando tem assuntos a tratar com Washington.
Num esforço para avaliar a visita por um ângulo menos banal, Farago descreve o esforço de várias autoridades americanas para ouvir a presidente, conhecer suas ideias e ter notícias do Brasil.
São sinais de uma nova realidade mundial, escreve, lembrando já se tornou até ridículo falar em países emergentes, considerando que são nações que já emergiram – enquanto as velhas potências ameaçam submergir em sua própria crise.
Avaliando o comportamento de Obama, Farago lembra que há um descompasso entre a realidade do mundo de 2012 e a doutrina imperial americana, que pregava que a América era um quintal dos Estados Unidos, noção que, com poucas nuances, até hoje alimenta a diplomacia de Washington.
“Nós fazíamos o que queríamos e dizíamos aos outros para não se intrometerem. A ideia de que um país latino-americano poderia servir de modelo está além de nossa compreensão. Agora, pela primeira vez, uma segunda grande potência está crescendo no pedaço, mas entre nós, gringos, os velhos hábitos do grande porrete custam a morrer.”
A conclusão não poderia ser mais realista: a grande lição da viagem de Dilma foi mostrar incapacidade do governo americano estabelecer uma política externa de acordo com os tempos atuais.
O comentário de Farago tem um mérito adicional. A postura de muitos analistas diplomáticos brasileiros é tão subordinada aos Estados Unidos que eles não conseguem sequer admitir que Washington possa cometer erros em suas análises e desvios de conduta. Se a viagem foi morna, a culpa é do governo brasileiro. Se foi uma tragédia, mais ainda.
São visões que continuam celebrando os compromissos democráticos dos EUA embora eles tenham patrocinado o grande ciclo de ditaduras militares do continente dos anos 60 a 80. Gostam de elogiar a postura pelo livre comércio sem levar em conta que a economia americana se apóia num protecionismo amplo e vigoroso, dirigido em importações que podem concorrer com seus produtores internos. Nem o bloqueio a Cuba é condenado com a devida veemência. Não se perde uma única oportunidade para cobrar o velho alinhamento automático, sempre que surge algum arranhão no continente.
A partir de eufemismos como “investidores externos,” “imagem no exterior” e outros, as referência dessas análises é sempre uma pergunta: como os EUA vão reagir? Vamos sofrer retaliações?
Sempre que há um desentendimento entre as partes, ou mesmo um conflito, a opinião nunca se modifica. A razão está sempre do lado de lá da fronteira.
Como Obama, muitos observadores não conseguem enxergar uma mudança na realidade.
É por isso que passaram os primeiros meses do governo Dilma anunciando uma grande modificação em nossa política externa. Achavam que ela viria a partir de uma postura menos nacionalista da presidente.
A tese é que, livre do sapo barbudo e de seu ministro Celso Amorim, o Itamaraty iria reconstruir a velha e boa amizade preferencial americana, de acordo com a máxima deixada por um dos civis do regime militar: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.”
A viagem de Dilma mostrou que Obama não tem o que oferecer, não pensou nisso e não consegue entender que isso é necessário.
Na mentalidade do porrete, do outro lado da mesma só pode sentar-se um vira-lata.
Concorda?
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Re: Brasil e política internacional
http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/9 ... om-EUA.htm
Brasil tem nova chance de relação especial com EUA
:
Encontro costurado entre os presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff, nos Estados Unidos, ganha status especial, com direito a tapete vermelho, jantar formal na Casa Branca e cerimônia militar; é a primeira vez que isso acontece em quase duas décadas e pode sinalizar um recomeço nas relações Brasil-EUA, que estiveram congeladas nos últimos anos; na prática, é um reconhecimento do novo peso regional do Brasil e um espaço para reivindicações como a vaga no Conselho de Segurança
12 de Abril de 2013 às 05:40
Por Brian Winter
SÃO PAULO, 11 Abr (Reuters) - A presidente da República, Dilma Rousseff, vai realizar a primeira visita de Estado formal de um líder brasileiro aos Estados Unidos em quase duas décadas, um marco diplomático para uma potência emergente que já entrou em conflito com Washington mas está ansiosa por laços mais próximos e reconhecimento de seu crescente prestígio.
A viagem ocorrerá daqui a alguns meses, provavelmente em outubro, disseram autoridades à Reuters sob condição de anonimato porque a Casa Branca ainda não anunciou a visita. Uma porta-voz da Casa Branca recusou-se a comentar.
Uma visita de Estado, que inclui elaboradas formalidades como um jantar formal e uma cerimônia militar no momento da chegada, é geralmente reservada para os parceiros estratégicos mais próximos de Washington.
"São ótimas notícias, há muito esperadas", disse o diretor do Instituto Brasil do Wilson Center, em Washington, Paulo Sotero. "Mostra que os Estados Unidos realmente valorizam a relação, que é o que o Brasil mais quer ouvir".
A melhora nos laços diplomáticos provavelmente vai reacender esperanças por um tratado amplamente desejado para evitar dupla taxação sobre empresas norte-americanas e brasileiras, além da chance de maior comércio entre as duas maiores economias do Hemisfério Ocidental.
O comércio bilateral totalizou cerca de 59 bilhões de dólares no ano passado, mas a economia brasileira permanece relativamente fechada a importações e sua população de 200 milhões é considerada um mercado de grande crescimento potencial para companhias dos EUA.
A recepção de tapete vermelho também é uma grande vitória para Dilma, uma líder de esquerda porém pragmática. Ela buscou relações mais próximas com os EUA mas sentiu-se esnobada quando o presidente dos EUA, Barack Obama, não a recebeu com uma cerimônia mais elaborada durante uma visita à Casa Branca em abril de 2012.
As relações têm sido cordiais, porém marcadas por desacordos.
O Brasil tem se sentido frustrado pela aparente falta de apoio de Washington em sua campanha por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e outras demonstrações de reconhecimento de sua crescente influência global após forte expansão econômica na última década.
PROBLEMAS SOB LULA
O antecessor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, irritou Washington ao bloquear discussões sobre o comércio no continente e ao tentar alcançar um acordo para dar fim a um impasse global sobre o programa nuclear iraniano em 2010, último ano de sua Presidência.
Dilma, em contraste, tem evitado lidar com o Irã, dando mais ênfase a direitos humanos nas relações estrangeiras brasileiras e também assumiu uma distância relativa da Venezuela, antagonista mais vocal de Washington na América latina.
Sotero disse que a visita de Obama a Brasília em março de 2011 marcou o início de um "recomeço" nas relações.
"Por um tempo, houve muito pouco diálogo", disse Sotero. "Essa (visita de Estado) me dá mais otimismo de que nos afastamos completamente disso".
Não está claro se Dilma será um parceiro mais entusiasmado em questões comerciais do que era Lula.
A recente desaceleração econômica no Brasil e o tensionamento dos laços de Brasília com a Argentina, um importante parceiro econômico, alimentaram especulações de que Dilma pode estar disposta a pressionar por laços comerciais com os EUA ou a União Europeia.
No entanto, ela também implementou aumentos tarifários específicos para proteger indústrias brasileiras do que ela chama de uma "guerra cambial" travada por países ricos para depreciar suas moedas.
O último presidente brasileiro a fazer uma visita de Estado aos EUA foi Fernando Henrique Cardoso em 1995.
(Reportagem adicional de Jeff Mason)
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Re: Brasil e política internacional
John Kerry chama a América latina de 'quintal` dos EEUU
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... de-quintal
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Re: Brasil e política internacional
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A ‘escalada democrática’
Episódios recentes na vida política da América Latina indicam que estamos diante de uma ‘escalada democrática’ .
Em junho de 2012, numa sexta-feira, deu-se o golpe democrático’ contra Fernando Lugo, presidente eleito do Paraguai.
Processado e derrubado pelo Congresso em 33 horas, seu afastamento consolidou-se na eleição deste domingo, que devolveu o poder à direita paraguaia.
Três anos antes, a modalidade já havia sido testada em Honduras.
O Presidente Manuel Zelaya foi ‘impedido legalmente' em 29 de junho de 2009.
Seis meses depois, uma nova eleição dava sua vaga ao conservador Porfírio Lobo, derrotado por Zelaya em 2005.
Enfim, se você perde nas urnas o jeito é afastar quem ganha para liberar o caminho.
Isso lembra alguma coisa chamado 'mensalão'?
Deflagrado em 2005 com o objetivo de levar Lula ao impeachment e impedir sua reeleição no ano seguinte, a AP 470 mantém sua 'funcionalidade eleitoral' e é assim que entra em fase decisiva de recursos esta semana (leia o editorial de Carta Maior: "Mais 250 dias ou Fux vai matar no peito?")
A contrapelo do cerco conservador, Lula foi reeleito em 2006 e repeliu o golpe contra Zelaya, em 2009. A embaixada brasileira em Honduras concedeu asilo ao presidente deposto.
O conjunto foi duramente criticado pelo dispositivo midiático
No caso de Lugo, as emissões conservadoras se alvoroçaram de maneira ainda mais ostensiva.
A frente pró-golpe manifestar-se-ia, primeiro, no Congresso brasileiro.
Expoentes tucanos e emissários do agronegócio brasileiro, que anexou extensões escandalosas de terras do país vizinho, em prejuízo dos camponeses locais, desfraldariam o lobby.
Queriam o ‘reconhecimento imediato do novo governo amigável’ por parte da Presidenta Dilma.
Rechaçados, entrou em campo a cavalaria midiática.
A Folha disparou um editorial sugestivamente intitulado ‘Paraguai soberano’(26-06). Curioso que não tenha produzido título equivalente no caso recente da Venezuela.
O texto esbravejava antecipadamente contra a reunião do Mercosul que ocorreria em Mendoza, três dias depois, para examinar a crise.
O jornal da família Frias recomendava , quer dizer, ordenava: ‘o melhor que o Itamaraty tem a fazer é calar-se e respeitar a soberania do vizinho’.
Como os presidentes do Brasil, Argentina e Uruguai não se pautaram pelos editoriais e, ademais de suspender o Paraguai golpista, incorporaram a Venezuela ao bloco, as cepas e esporões direitistas passaram a reproduzir-se com furor lacerdista no noticiário.
A política externa brasileira foi reduzida à posição de linha auxiliar do chavismo e do kichnerismo.
No caso recente da eleição venezuelana, o diapasão conservador arremeteu direto contra as urnas
A margem estreita que marcou a vitória de Nicolas Maduro contra o direitista Enrique Capriles foi a senha para a contestação do processo democrático.
A ordem unida veio dos EUA: não legitimar Maduro enquanto uma recontagem não ‘esclarecesse melhor o quadro’.
A mesma cautela não se verificou quando dos golpes em Honduras e no Paraguai, imediatamente reconhecidos como legítimos por Washington.
Enquanto o governo Obama dava corda à reação interna venezuelana, o jogral brasileiro disparava obuses na tentativa de acuar o Itamaraty e a Presidenta Dilma.
Não funcionou.
O governo brasileiro foi um dos primeiros a parabenizar Maduro pela vitória e a felicitar a democracia venezuelana.
Não só. Sob a liderança conjunta do Brasil e da Argentina, a Unasul foi convocada e respaldou o processo democrático venezuelano.
Colocou-se mais uma vez como uma pedra no sapato da ingerência norte-americana na região.
A transparência eleitoral na Venezuela é reconhecida por observadores internacionais insuspeitos.
O eleitor venezuelano registra seu voto na urna eletrônica, que lhe fornece um recibo da escolha feita. Depois de conferido, ele o deposita em caixas lacradas.
“Ao final da jornada, 54% dessas caixas são sorteadas e submetidas à auditoria. Prática que, em tamanha porcentagem, não é feita por nenhum outro país do mundo”, informa o enviado de Carta Maior à Venezuela, Vinicius Mansur (leia nesta pág).
O Departamento de Estado norte-americano e o conservadorismo brasileiro sabem desses procedimentos.
De fato, não é a lisura do pleito que os mobilizava. E sim a possibilidade de ampliar ‘a ofensiva democrática’ na região, desautorizando Maduro para conduzir Capriles ao poder.
Nos três episódios, a pronta intervenção da Unasul e do Mercosul atrapalhou a vida do golpismo, seccionando o oxigênio externo fornecido pelos EUA.
Essa capacidade de defender a soberania democrática é uma novidade histórica que incomoda os interesses conservadores na região.
A liderança brasileira é o combustível que injeta coesão a essa nova institucionalidade.
Não incorre em erro quem suspeitar que esse papel incômodo pesará nos arranjos, no financiamento e na intensidade do cerco para afastar o PT do caminho, em 2014.
Postado por Saul Leblon às 18:30
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Re: Brasil e política internacional
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WikiLeaks: Cerra, Mainardi, Ataulfo e Traak
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Por trás da ‘valentia’ midiática contra Dilma, os EUA (?)
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O Brasil precisa se manter vigilante diante da ameaça dos EUA
publicado em 22 de abril de 2013 às 10:40
Na tentativa de desestabilizar Maduro e nos golpes contra Lugo e Zelaya, as mãos dos EUA sobre a América Latina
As mãos dos EUA sobre a região
por Mark Weisbrot, Folha de S. Paulo
Acontecimentos recentes indicam que a administração Obama intensificou sua estratégia de “mudança de regime” contra os governos latino-americanos à esquerda do centro, promovendo conflito de maneiras que não eram vistas desde o golpe militar apoiado pelos EUA na Venezuela em 2002.
O exemplo mais destacado é o da própria Venezuela na última semana. No momento em que este artigo está sendo impresso, Washington está mais e mais isolada em seus esforços para desestabilizar o governo recém-eleito de Nicolás Maduro.
Mas a Venezuela não é o único país vitimado pelos esforços de Washington para reverter os resultados eleitorais dos últimos 15 anos na América Latina.
Está claro agora que o afastamento do presidente paraguaio Fernando Lugo, no ano passado, também teve a aprovação e o apoio do governo dos Estados Unidos.
Num trabalho investigativo brilhante para a agência Pública, a jornalista Natalia Viana mostrou que a administração Obama financiou os principais atores do chamado “golpe parlamentar” contra Lugo. Em seguida, Washington ajudou a organizar apoio internacional ao golpe.
O papel exercido pelos EUA no Paraguai é semelhante a seu papel na derrubada militar, em 2009, do presidente democraticamente eleito de Honduras, Manuel Zelaya, caso no qual Washington dominou a Organização de Estados Americanos e a utilizou para combater os esforços de governos sul-americanos que visavam restaurar a democracia.
Na Venezuela, na semana passada, Washington não pôde dominar a OEA, mas apenas seu secretário-geral, José Miguel Insulza, que reiterou a reivindicação da Casa Branca (e da oposição venezuelana) de uma recontagem de 100% dos votos.
Mas Insulza teve de recuar, como teve de fazer a Espanha, única aliada importante dos EUA nessa empreitada nefanda, por falta de apoio.
A exigência de uma recontagem na Venezuela é absurda, já que foi feita uma recontagem das cédulas de papel de uma amostra aleatória de 54% do sistema eletrônico. O total obtido nas máquinas foi comparado à contagem manual das cédulas de papel na presença de testemunhas de todos os lados.
Estatisticamente falando, não existe diferença prática entre essa auditoria enorme já realizada e a recontagem.
Jimmy Carter descreveu o sistema eleitoral da Venezuela como “o melhor do mundo”, e não há dúvida quanto à exatidão da contagem.
É bom ver Lula denunciando os EUA por sua ingerência, e Dilma juntando sua voz ao resto da América do Sul para defender o direito da Venezuela a eleições livres.
Mas não apenas a Venezuela e as democracias mais fracas que estão ameaçadas pelos EUA.
Conforme relatado nas páginas deste jornal, em 2005 os EUA financiaram e organizaram esforços para mudar a legislação brasileira com vistas a enfraquecer o PT. Essa informação foi descoberta em documentos do governo americano obtidos graças à lei americana de liberdade de informação. É provável que Washington tenha feito no Brasil muito mais e siga em segredo.
Está claro que os EUA não viram o levemente reformista Fernando Lugo como um elemento ameaçador ou radical. O problema era apenas sua proximidade excessiva com os outros governos de esquerda.
Como a administração Bush, a administração Obama não aceita que a região mudou. Seu objetivo é afastar os governos de esquerda, em parte porque tendem a ser mais independentes de Washington. Também o Brasil precisa se manter vigilante diante dessa ameaça à região.
MARK WEISBROT, 58, é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington, e presidente da Just Foreign Policy.
Tradução de CLARA ALLAIN
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Por trás da ‘valentia’ midiática contra Dilma, os EUA (?)
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Re: Brasil e política internacional
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O Paraguai de sempre
Agora tudo voltou aos eixos. Foi eleito presidente um candidato do Partido Colorado, o mesmo que durante décadas sufocou o país em violência, corrupção e fraudes. Ele se chama Horacio Cartes. É um empresário polêmico, muitas vezes milionário, totalmente inexperiente (bem, é verdade que presidiu um clube de futebol, mas na política, nada) e com uma constrangedora lista de denúncias que vão de lavagem de dinheiro a contrabando de cigarros. Aos 56 anos, nunca havia votado na vida. O artigo é de Eric Nepomuceno.
Eric Nepomuceno
Fernando Lugo, defenestrado da presidência paraguaia no ano passo graças a um insólito golpe parlamentar – foi julgado e condenado em 48 horas, sem tempo de defesa –, foi um tão fugaz como inconsistente. Aquilo que parecia, no início, um furacão de esperanças de mudança acabou transformado em brisa. Os frágeis movimentos destinados a mudar, ainda que só um pouco, o rosto deformado de um país injusto e apodrecido, não deram em nada.
Agora tudo voltou aos eixos. Foi eleito presidente um candidato do Partido Colorado, o mesmo que durante décadas sufocou o país em violência, corrupção e fraudes. Ele se chama Horacio Cartes. É um empresário polêmico, muitas vezes milionário, totalmente inexperiente (bem, é verdade que presidiu um clube de futebol, mas na política, nada) e com uma constrangedora lista de denúncias que vão de lavagem de dinheiro a contrabando de cigarros. Aos 56 anos, nunca havia votado na vida.
Esse desnecessário reforço para a imagem negativa do Paraguai obteve ampla maioria de votos, suficiente para assegurar o controle de um Congresso escorregadio. O mais surpreendente disso tudo foi o caudaloso volume de votos que o novo presidente levantou entre o eleitorado mais jovem, e não só no interior mais isolado e menos desenvolvido.
O tempo gasto por Cartes para deixar a presidência do clube Libertad e chegar à presidência do país foi de escassos três anos. Gastou do próprio bolso pelo menos 20 milhões de dólares na campanha presidencial. Para ele, isso significa um ou dois amendoins: sua fortuna é calculada em pelo menos dez vezes mais.
É um conservador puro sangue. Tem um conglomerado de 25 empresas, entre elas um banco poderoso. Foi investigado no Brasil por suspeita de contrabando de cigarros. Durante quatro anos, ainda em tempos de Alfredo Stroessner, foi um foragido da Justiça: vendia no mercado negro os dólares comprados a preços preferenciais para comprar insumos agrícolas. Também foi investigado por Washington, mas não pelas suas relações políticas: havia indícios (não comprovados até hoje) de relações com narcotraficantes. Essa fina flor virou presidente de um país de miseráveis.
Em setembro de 2009 afiliou-se ao Partido Colorado, no impulso de duas de suas características: poder de decisão rigoroso e contas bancárias imensas. Os estatutos do partido diziam que, para ser candidato presidencial, era preciso estar afiliado há pelo menos dez anos. Ele resolveu convocar uma convenção nacional e, ao amparo de forte distribuição de benesses, reformou o estatuto, baixando a exigência para um ano só. Naquela época o ex presidente Nicanor Duarte afirmou, com todas as letras, que com a chegada de Cartes ao partido “começa a era da obscenidade, da pornografia política, e todos os vícios se tornam explícitos”. Hoje, os dois são fortes aliados.
O Partido Colorado volta ao poder, o mesmo poder que Stroessner, um ditador sanguinário, populista e corrupto exerceu com pés de chumbo e botas de lodo durante 34 longos e obscuros anos.
Em muitos aspectos o país que cai nas mãos de Cartes é certamente diferente do de Stroessner e de seu mesmo Partido Colorado. Aquele Paraguai era povoado por um batalhão de funcionários públicos afiliados ao partido, numa corrupção generalizada que se desdobrava em lances absurdos. Claro que ainda existe tudo isso, mas há novidades – e nem sempre para o bem.
Na última década o país viveu um crescimento econômico formidável, ao impulso do agronegócio. Hoje, o Paraguai é o quarto maior produtor de soja do mundo. As previsões para este ano indicam um crescimento de 13% na economia, marca invejável até para os chineses. A inflação não deve passar de 4%. No primeiro trimestre de 2013, e apesar de suspenso do bloco desde a deposição de Lugo, o país viu suas exportações para o Mercosul aumentarem 57%.
Esse é o cenário que não faz mais do que perpetuar o outro lado da realidade: os 10% mais pobres da população recebem 1% do que o país produz, e os 10% mais ricos levam 41%. Outra cifra da desigualdade: 35% dos paraguaios vivem em situação de pobreza e, desses 35%, a metade vive em estado de indigência aguda. Uma parte significativa dos paraguaios se dedica olimpicamente ao esporte do consumo desmesurado. Nunca antes tantos paraguaios viajaram ao exterior, compraram celulares, automóveis e motocicletas de luxo, e o país se tornou um paraíso para os cartões de crédito.
Mas essa bonança extraordinária não chega, nem de longe, a desfazer a realidade: o Paraguai continua sendo um dos países mais pobres da América do Sul, e a pobreza extrema não diminui um milímetro sequer. Há desemprego vasto, e o subemprego atinge 30% da população economicamente ativa.
O Partido Colorado volta ao poder para fazer o que sempre fez: perpetuar esse abismo social, dar brilho novo a essa injustiça atávica. Este ano a colheita de soja deverá chegar a dez milhões de toneladas. Para um pouco mais de dois milhões de paraguaios – aqueles que sobrevivem entre a pobreza extrema e a indigência aguda – isso não vai fazer a menor diferença. Continuarão à míngua e à margem, vultos sem rosto nem voz. Continuarão no mesmo breu de onde jamais saíram: no Paraguai de sempre.
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Re: Brasil e política internacional
Brasil-EUA o romance que morreu antes de nascer
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