esta é a versão correta do itaquerão ou apenas intriga da oposição?
Sanchez é um personagem central na confusa história do Itaquerão. Filiado ao PT desde 2009, ele convenceu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a abraçar o projeto. Quando a Copa foi confirmada no Brasil, em 2007, a hipótese de que um estádio do Corinthians fosse usado era tratada como um devaneio. A opção óbvia era o Morumbi, pertencente ao São Paulo, que precisaria de reforma. Mas, quando Lula entrou em campo, o jogo virou. Ele convenceu a Odebrecht, que hoje financia suas viagens internacionais, a construir o estádio. Acompanhou de perto a obtenção do empréstimo do BNDES. E pressionou o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a emitir títulos municipais que ajudaram a bancar parte da obra. Procurou financiadores para a parte provisória do estádio, que será paga pela cervejaria Ambev. Lula, na prática, foi o fiador do Itaquerão.
Havia ainda uma barreira a ser transposta. A legislação impede que bancos emprestem dinheiro a times de futebol. Por isso, Odebrecht e Corinthians fizeram uma manobra financeira: criaram um fundo imobiliário para separar o Itaquerão dos demais bens corintianos. O Corinthians é cotista majoritário do fundo, mas a construtora tem participação até que a obra seja quitada pelo clube, o que tem prazo máximo de quinze anos. Quando o estádio começar a funcionar, parte da receita da bilheteria e do lucro do clube estará atrelada por contrato ao fundo, que é responsável pelo pagamento da dívida. Assim, caso o clube tenha seus ativos bloqueados judicialmente em algum processo, a arena não será afetada — e o pagamento do empréstimo continuará acontecendo, pois estará associado à bilheteria dos jogos. O BNDES aceitou essa garantia para emprestar 400 milhões de reais ao fundo. Mas, pelo seu regimento, era necessário que um banco intermediasse a negociação.
O Banco do Brasil foi o primeiro a se interessar, mas acabou considerando as garantias insuficientes. Lula entrou em campo novamente e ajudou a convencer a Caixa Econômica Federal a atuar como intermediária. No contrato assinado na semana passada, foram dados como garantia do empréstimo metade do Parque São Jorge (a sede do Corinthians), imóveis e investimentos da Odebrecht. Além, claro, da força política do ex-presidente. A demora para a liberação do financiamento oficial com taxas camaradas obrigou a construtora a fazer dois empréstimos a juros de mercado, com Santander e Banco do Brasil, o que gerou um custo extra de 80 milhões de reais, elevando o orçamento do estádio a 900 milhões de reais.
Há problemas ainda com a outra fonte de financiamento do Itaquerão, os certificados de incentivo ao desenvolvimento (CIDs), títulos emitidos pela prefeitura de São Paulo, que podem ser usados para quitar impostos municipais. Dos 420 milhões de reais prometidos em CIDs ainda na gestão Kassab, apenas 95,7 milhões já foram liberados. Esses títulos são vendidos a outras empresas com um deságio de 3% a 8%. O prejuízo será de ao menos 20 milhões de reais para o fundo. “Se começar a desconfiança sobre a obra, os títulos vão valer menos”, preocupa-se Andrés Sanchez. Por fim, o Corinthians ainda não conseguiu vender o naming rights do estádio — o direito de batizar a arena, que poderá render até 400 milhões em vinte anos.