Nazrudin escreveu:Esse é o problema do mundo como ele é e do mundo idealizado. Não existe imprensa imparcial por que não existe humano imparcial. E Democracia é também mercado. Meios de comunicação podem e devem ser comparados a empresas de outros ramos. Tem funções sociais diferentes? Tem. Empresas de setores diferentes tem funções sociais diferentes. Mas sem o lucro, vai acabar se vendendo ao Estado para sobreviver, aí lá se foi liberdade de imprensa.
Fortim, já que vc. acompanha a Veja Virtual recomendo a entrevista do Ex-Ministro Ayres Brito na TV Veja de hj. Ele fala de modo muito contundente e apropriado sobre a liberdade de imprensa.
E "veja" como vc. foi parcial. Escolheu focar em alguma publicidade do Governo do Estado de São Paulo, que não deve representar nem 10% (chutando alto) da publicidade da Veja. Até por que a Veja que vende aqui em SC vem com propaganda do governo estadual daqui. Empresas públicas Federais compram muito mais espaço, e empresas particulares MUITO mais ainda.
E vc. menciona a Folha como um modelo mais interessante. Mas então vamos só ler esse veículo? Que bom que podemos escolher e melhor ainda que são opções bem distintas.
O que percebo é que os que criticam a Veja no fundo o fazem por ela ser um veículo de grande sucesso. Por ter sucesso, tem alcance e por isso tem influencia... Mas se ela tem sucesso, tem também a ver com a escolha de sua linha editorial. Boa parte dos que a consomem se identificam com ela... Democracia.
http://veja.abril.com.br/multimidia/vid ... nte-do-stf
Nazza, não tenho nada contra o lucro. Gosto de dinheiro tanto quanto você ou qualquer outro forista. A prosperidade e o êxito comercial da revista não me causam espécie. Não acho que teríamos um cenário jornalístico mais interessante se veículos como Veja e Estadão não existissem e tivéssemos apenas Folhas e Caros Amigos à disposição. Acredito que, como em tudo na vida, a diversidade apenas enriquece a cena toda.
Quando mencionei os contratos vultosos da Veja com o Alckimin, o fiz em uma linha de raciocínio que se enveredava pelo lado da sua ética seletiva e de uma pauta mais seletiva ainda. A minha crítica à Veja é dirigida aos que a constroem, nãos aos que a consomem, até porque não posso me dissociar deste universo. E, se já fui mais ácido nesta crítica, procuro agora fazê-lo de forma mais respeitosa, porque percebo que muitos assumem uma menção negativa à Veja como algo relativo a si na qualidade de leitores da mesma.
Dito isto, foco neste trecho de seu post: "E Democracia é também mercado. Meios de comunicação podem e devem ser comparados a empresas de outros ramos. Tem funções sociais diferentes? Tem. Empresas de setores diferentes tem funções sociais diferentes. Mas sem o lucro, vai acabar se vendendo ao Estado para sobreviver, aí lá se foi liberdade de imprensa. "
Concordo que democracia também é mercado. Mas não é só mercado. Daí a necessidade de se organizar algumas atividades, algo afeito às agências reguladoras, porque acho que concordaremos que o mercado não tem essa capacidade. É preciso que uma força exterior atue para que
excessos não deformem a livre iniciativa e a porra toda.
Neste sentido, discordo que meios de comunicação devam receber o mesmo tratamento de outras empresas, de ramos diversos. Aliás, cada qual deve receber um tratamento de acordo com a sua função social; se este for similar aos que outros meios receberem, isso é do jogo. Meios de comunicação exercem uma função muito importante na sociedade: eles não apenas entretem, mas informam e moldam opiniões. Se você pensar nesse troço com mais vagar, vai perceber que uma família como a Civita tem um poder absurdo nas mãos. E, quando um grupo como esses decide participar do jogo como se fosse um membro de um partido político, temos algo que , me parece, foge completamente do escopo ideal. O mesmo pode e deve ser dito sobre as publicações de viés excessivamente governista.
E, como diria o tio do Peter Parker, "grandes poderes sempre devem vir acompanhados de grande responsabilidade". Esse é o ponto mais importante na minha opinião: como impedir que grandes corporações do meio das comunicações ajam como atores do cenário político quando, na verdade, eles não o são? Veículos como Veja e CartaCapital estão na contramão do jornalismo, uma vez que não se limitam a informar e , em muitas ocasiões, demonstram uma intenção de manipular fatos para induzir a opinião pública em uma direção que lhe é conveniente enquanto empresa comercial, não como um meio de comunicação cujo fim social é a busca da verdade e da imparcialidade.
E quando a coisa descamba para o lado da manipulação de dados e fatos, temos aqui algo completamente distinto da função social a que um veículo de informação digno desse nome possui. Assim, em que pese o quão bem sucedido um empreendimento jornalístico, ele deve , na minha opinião, focar a busca da verdade e da imparcialidade, sob pena de não atender ao fim social a ele destinado. E deve focar nisso sem pesar, em momento algum, o lado comercial da coisa; se tiver de descer a lenha no seu melhor cliente, ele deve fazê-lo. Caso contrário, não teremos mais um veículo de uma imprensa livre, mas apenas um meio de comunicação que age de acordo com o seu próprio interesse comercial.