Turnê Erótica (By Dante)

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Turnê Erótica (By Dante)

#1 Mensagem por -Dante » 01 Jun 2019, 11:25

Comecei minha turnê erótica por um grande bairro do subúrbio e descobri que a existência de vida inteligente na noite de Bonsucesso se resume à entrada da SUAM, uma ilha onde ainda vemos o borbulhar de universitários em clima de esbórnia. O resto do território é silencioso, deserto, sombrio e com aspecto ameaçador. Na região, se concentram três bordéis: todos decadentes. A coincidência é que a decrepitude dos bordéis cariocas é um fato que se alastrou por toda a cidade, a falta de dinheiro no país do desemprego não favorece a luxúria. Soma-se a isso a limitada gestão dos rufiões velhos neste período de severa crise econômica.

As maiores casas de Bonsucesso cobram valores incompatíveis pelo que são e pelo ponto em que se localizam. Faz-se premente que a realidade nacional seja compreendida pelos proprietários de alguns estabelecimentos voltados para o sexo. Se querem continuar alimentando a margem de lucro pelos preços majorados, melhor fecharem antes de morrerem por desnutrição aguda. O mesmo acontece no Centro do Rio, onde os trashs com preços populares ainda conseguem o lupanário clima de euforia que torna esse lazer um vício contagiante. As casas maiores, como Cancun, 44 e outras do mesmo porte padecem diariamente sonhando com um tipo de cliente que não mais existe na quantidade que sustente o modelo de negócio que ainda se quer seletivo, quando deveria abrir as fronteiras para todas as classes sociais. A verdade é que essas casas de maior porte, supostamente de luxo, se tornaram elefantes brancos, com alto valor de manutenção e pouco atrativas para o cliente mediano.

Não há criatividade nos velhos rufiões que ultrapasse a promoção de cerveja. Não flexibilizam o suficiente para sobreviverem. Nesse vácuo, os sobrados onde se instalam os bandejões sexuais prosperam oferecendo instalações mais simples, a possibilidade de que as mulheres possam atender em hotéis próximos, bebidas com valores semelhantes a qualquer bar de rua e uma alegria que contrasta com a depressão generalizada que atingiu as casas de tolerância. Quando cito as “instalações mais simples” dos trashs, não estou dizendo que as alcovas das casas consideradas de primeira linha sejam melhores, a maioria é semiprecária e se diferencia apenas no preço do aluguel. Os trashs fazem o básico e angariam público, principalmente pelos preços acessíveis e até pela maior diversidade de garotas, imagine se fizessem mais. Não possuem lençóis de cetim nem travesseiros de pena de ganso, mas não afetam tanto o orçamento de quem tenta sobreviver às adversidades financeiras atuais.

Não sei o porquê, mas sempre fico com a impressão de que o rufião velho é aquele sujeito que arranja uma loja, abre a porta de ferro, põe uma placa de neon na entrada, manda distribuir panfletos, flyers e espera sentado o dinheiro entrar. Acostumaram-se com o passado próspero e ainda não aceitaram o presente indigesto. Agora, seria necessário trabalhar, usar prioritariamente o cérebro. Pensar em lucro fácil é marcar a data do próprio velório. Hoje, a fórmula mais óbvia é o lucro pelo volume, não mais pela majoração.

Diante da devastação atômica que atingiu o Rio, talvez só sobrevivam os trashs e as baratas. Assim, chegaremos a surpreendente conclusão de que as baratas são mais inteligentes do que muitos dos velhos rufiões. :roll:

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Re: Turnê Erótica (By Dante)

#2 Mensagem por -Dante » 29 Jun 2019, 14:21

É possível nomear os bordeis que irão fechar ou trocar de mãos nos próximos meses, não seria difícil mapear isso. Alguns já estão no último suspiro ou respirando por aparelhos. Por esses dias, conversando com o novo proprietário de uma das antigas e ressuscitadas casas do Centro, sugeri que ele arriasse os preços para tentar formar público até superar a crise, pois o negócio está capengando. A resposta oferecida pelo meu interlocutor foi quase surreal. Primeiro, repudiou a ideia, alegando que não ganhava com programas, o que na minha opinião seria um obstáculo a menos para reduzir os valores, depois soltou a pérola maior:

- E eu prefiro não ter qualquer um entrando aqui – respondeu.

Quando ele disse isso, olhei ao redor e vi um salão vazio. Como alguém ainda pode ter a pretensão de selecionar clientes num espaço sem clientes? Além dos equívocos administrativos, vemos que há um grau de esnobismo no setor do entretenimento sexual que é hilário e com fortes sintomas de dislexia. O Centro do Rio passa por uma fase em que o público que utiliza o sexo pago foi reduzido. Existe público para os trashs e para os privês, área em que ainda há espaço para disputa. No entanto, para casas no estilo termas naquele modelo antigo, para essas casas o mercado no Centro se tornou muito restrito.

O cidadão entra num desses bordéis mais conhecidos e não se anima a beber, pois os preços são proibitivos. Muitas vezes, você pega duas cervejas e faz uma conta de quase 40 reais. Não é razoável, não dá. Ou seja, poderiam cativar um público que entrasse, consumisse e se entusiasmasse para namorar alguma menina, mas o que fazem é afugentar qualquer tipo de público porque ainda imaginam que a ganância é o melhor negócio.

Infelizmente, o mercado sexual do Centro ainda é dominado por ideias velhas e petrificadas. O máximo que fazem, como já dito, é promoção de balde de cerveja (que de promoção não tem nada) e dobradinha de meninas (que não interessa à maioria dos clientes). Talvez, uma boa fórmula fosse transformar as velhas e bolorentas termas numa mistura de boate e bar, onde valores de encontros sexuais fossem negociados direto com as meninas, com permissão de programa fora da casa sem custo para ninguém ou com pagamento de taxa pelo uso dos quartos. Além disso, tornar mais acessível o preço das bebidas, pois não estamos em Saint-Tropez, mas num violento e falido Rio de Janeiro. Mudar e se adequar é o que irá definir o destino de fechar ou sobreviver. O que soa óbvio é que receitas antigas não funcionam mais no século 21.

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Re: Turnê Erótica (By Dante)

#3 Mensagem por -Dante » 20 Abr 2020, 23:08

Afeiçoado forista, estou surpreso por vê-lo aqui, durante estes dias vazios. Talvez, tenha vindo pela nostalgia dos antigos deleites mundanos; quem sabe se não veio em busca de uma ponta raquítica de esperança, imaginando que encontrei algum Éden livre de vírus, onde o sexo ainda é prazer e hino nacional. Infelizmente, não sou profeta nem tenho parentesco com o Doutor Pangloss, o velho e bom otimista de Voltaire. O que seus olhos ansiosos encontrarão ao se arremessarem intrépidos pelas linhas retas destas páginas será o resumo dos meus pensamentos sinuosos, o breve enxerto de um surrado libertino que ousou romper a quarentena. Diante do meu ato temerário, desde já o desaconselho a seguir meus passos.

Se para além de um incansável libertino tivessem os deuses me dotado como vidente, confesso sem pudores que teria recolhido ao meu bravo Sucatão meia dúzia de ninfetas para aguardar, entre orgasmos e sussurros, o fim da pandemia. Seríamos, eu e elas, a edição moderna da arca de Noé enfrentando o apocalipse pornográfico. Não foi assim, pois fantasias são flores vaporosas que só brotam dentro da caixa craniana, raramente fora dela. A única e depurada realidade é que me vesti com todos os aparatos da moda atual (composta por máscara, luva e chapéu), não estamos longe de sair de casa embalados num escafandro. Acionei o motor do Sucatão e nos lançamos ao negrume árido, deserto e desolado do asfalto sob o céu da segunda década do século 21. Sim, forista amigo, a sensação é de estar num misto filme de ficção científica com terror, a jornada de um anti-herói que desejou ver o mundo quando o mundo estava dominado por uma entidade invisível e silenciosa.

Atravessamos a Av. Presidente Vargas, que anunciava numa calmaria opressora que a Terra parou; rompemos a Rio Branco que agora existe num sepulcral repouso inerte. Chegamos à Lapa, onde a boemia vive pelos fantasmas dos que passaram e dos que não podem mais passar por ali. Caminhando pelas calçadas estavam os zumbis desnorteados pelo fenômeno acima da compreensão pragmática das ruas. Sim, forista sem fé, um vírus dominou o planeta.

Eu me perguntei em qual recanto de luxúria ainda poderia encontrar fêmeas da minha espécie, firmei o volante e tracei rumo para Vila Mimosa. Não me pergunte o que encontrei, estimados olhos que me leem, me obrigaria a responder que não encontrei nada. Como nada é palavra que não propicia imagem mental, direi que encontrei uma rua entregue ao vácuo da existência. Ninguém. Até as estrelas do cosmo pareciam estar mantendo mais distância daquele ponto insalubre às margens da bucólica Quinta da Boa Vista.

Este hiato que nos colocou em suspensão, mudará a face da prostituição carioca. Já está mudando. Os velhos rufiões devem estar arrancando os pentelhos e vendendo para fábricas de perucas, na intenção de juntar trocados que os permita comer um pastel com caldo de cana. Não duvido que as grandes termas do Rio sumam do mapa quando isso acabar. Nada será como antes.

Prossegui pela Rua Ceará e ganhei a Av. Francisco Eugênio. Senti meu coração acelerar. A vida pulsa. A Francisco Eugênio revelava-se habitada de várias colônias de amazonas seminuas. Elas resistem, destemidas, valentes, briosas, ávidas por vítimas, gananciosas perante a miséria que as cerca. Você me pergunta quem são? As marafonas, meretrizes, messalinas, cortesãs, as nossas putas imortais. Que visão linda e triste as ver obstinadas como fortaleza humana, a quem restou a única opção de se expor para sobreviver. Dizem que depois do Armagedom somente restarão as baratas. Não aposte nisso.

Girei algumas vezes em torno daquele trecho perdido do universo, na incerteza de arriscar ou não um simples boquete. Não seria ético afirmar que avistei mulheres bonitas naquele corredor libidinoso de São Cristóvão, mas posso dizer que nenhuma das garotas que vi assustavam mais do que o covid-19. Por sinal, covid-19 parece título de uma remota estação espacial ocupada por alienígenas. Provavelmente, por isso, me faça sentir personagem de um filme de ficção científica com fundo de terror.

Foi quando desemboquei na Rua José Eugênio, onde funciona a garagem-motel, que ouvi uma menina gritar meu nome e correr na direção do carro como leoa afiando os dentes sedentos pela jugular do antílope desavisado. Meu pé escapou do acelerador, olhei para o lado e fera se aproximava rápido, tentei raciocinar, respirei fundo. Continua...
Editado pela última vez por tio chota em 21 Abr 2020, 08:00, em um total de 1 vez.

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Re: Turnê Erótica (By Dante)

#4 Mensagem por Kalvin » 21 Abr 2020, 11:05

Dante. Como sempre: espetacular!
Editado pela última vez por tio chota em 21 Abr 2020, 15:32, em um total de 1 vez.

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