TURISMO SEXUAL

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m4rreco
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TURISMO SEXUAL

#1 Mensagem por m4rreco » 24 Abr 2006, 12:52

Peguei a reportagem abaixo de um outro forum do qual participo. Achei interessante e resolvi compartilhá-la com os demais foristas.

http://nominimo.ig.com.br/?publicationC ... tType=html

Nem monstros nem coitadinhas
Bruno Garschagen
24.04.2006

Uma pesquisa feita pelos antropólogos Thaddeus Blanchette e Ana Paula da Silva muda completamente a análise da prostituição no Rio de Janeiro. Em seu trabalho “Nossa Senhora da Help: sexo, turismo e deslocamento transnacional em Copacabana”, eles derrubam quatro mitos disseminados pelas autoridades e assimilados pela sociedade. Segundo o estudo:

O estrangeiro não é o grande vilão na relação com as prostitutas;

A maioria dos turistas estrangeiros que se relaciona sexualmente com prostitutas brasileiras não é, necessariamente, um turista sexual;

Não há relação necessária entre migração de prostitutas brasileiras para outros países e o tráfico internacional de mulheres;

Aprostituição de menores de idade é muito menor do que se divulga e as meninas raramente se prostituem nas ruas, como as garotas de programa.

Durante três anos, Thaddeus e Ana Paula visitaram regularmente a boate Help, em Copacabana, internacionalmente famosa como o local ideal para um turista estrangeiro conseguir uma prostituta sem passar pelo constrangimento e pelos perigos das ruas cariocas. Ou “a Disneylândia brasileira do turismo sexual”, segundo a definição de um turista.

Conversando com clientes e garotas de programa, valendo-se da técnica antropológica de observação e participação, os antropólogos descobriram que, diferentemente do que se imagina, as prostitutas não são vítimas nem os “gringos” são seus algozes. “A relação é muito mais complexa”, explica Ana Paula. “As meninas sabem desenvolver estratégias para seduzir um estrangeiro e, com isso, ascender socialmente ou até conseguir um casamento.”

Os dois antropólogos, que são casados, conseguiram se integrar facilmente ao ambiente da Help graças aos seus biótipos: Thaddeus é americano, louro, de olhos azuis, o protótipo do turista sexual como nos é apresentado; Ana Paula é carioca e negra, tipo físico de boa parte das mulheres que ganham a vida em Copacabana. O casal era regularmente confundido com estrangeiro e garota de programa. Mesmo quando diziam serem antropólogos, muitas garotas não acreditavam.

No estudo desenvolvido para o doutorado em Antropologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e publicado na revista “Pagu”, os pesquisadores observam que a escolha dos gringos pelas garotas de programa é consciente e não tem relação nenhuma com a falta de informações ou baixa estima. “Num mundo onde o acesso ao exterior é cada vez mais restrito, especialmente para brasileiras pobres, estes homens aparecem como meio de abrirem as rotas para a Europa e os Estados Unidos, onde – no imaginário, mas também na experiência de muitas das meninas – as oportunidades existem”, escrevem os pesquisadores.

Soraia, prostituta de 25 anos, justifica: “Estou aqui em Copa porque gringo paga bem melhor pelo programa do que o brasileiro. Gringo tem coração mole, tem muito dinheiro e te respeita mais que brasileiro.”

Cuidado com a sorte

Há outro aspecto, segundo os pesquisadores, que derruba a tese politicamente correta da prostituta como vítima e do estrangeiro como vitimizador. Para as garotas de programa, explicam, o sucesso do casamento com um estrangeiro é importante, mas não encerra a questão. A relação por si só abre a possibilidade para essas mulheres se mudarem legalmente para outros países e, caso o matrimônio não vingue, possam trabalhar no exterior com uma remuneração muito maior do que no Brasil. “Longe de ser fruto de um aliciamento estrangeiro, namoros que resultam em viagens internacionais são cultivados por muitas garotas de programa em Copacabana, precisamente porque podem eliminar a necessidade de procurar a ajuda paga de terceiros na imigração ilegal”, diz o estudo.

Há também aquelas mulheres que vêem nos estrangeiros a possibilidade de deixar a prostituição. Numa atividade profissional de vida útil relativamente curta, na qual as garotas de programas com trinta anos já sentem o peso da idade e do desgaste turbinado por longas jornadas de trabalho e pelo consumo de álcool e drogas, as moças buscam no casamento uma oportunidade de uma vida estável e normal em outro país. Conseguem, assim, renascer socialmente e adotar a reputação de mulher normal. “É uma conduta que derruba a crença de que as prostitutas não tinham desejos nem agiam de forma consciente para conquistar parceiros de outras nacionalidades”, explica Ana Paula.

A possibilidade e a busca por um casamento com os clientes da Help são elementos presentes na vida dessas moças. Numa das primeiras incursões ao banheiro da boate, Ana Paula ouviu a conversa entre prostitutas que falavam de uma conhecida que havia "conseguido” um gringo e se mudado para a Europa. Num outro diálogo, verificou do que as moças são capazes de fazer para fisgar um estrangeiro. Dentro do banheiro da Help, a prostituta Paula conversa com uma funcionária:

- Você acha que minha barriga já está aparecendo?

- Você está ótima! Nem parece que está grávida.

A antropóloga, então, perguntou se a moça estava realmente grávida:

- Sim. Demorei seis meses para pegar aquele americano, mas finalmente consegui. Agora estou esperando ele voltar para os Estados Unidos para eu ir embora junto.

- Mas ele sabe que o filho é dele? Ele vai assumir? - insistiu a antropóloga.

- Lógico! Ele não é nem besta de não assumir. Estou cuidando muito bem do meu americanozinho aqui e vou para os Estados Unidos me casar com o pai dele - respondeu a moça, enquanto a acariciava a barriga.

A camareira, do alto de sua sabedoria marginal, aconselhou, então:

- Cuida mesmo, porque você teve uma sorte de ouro.

Meio fácil e rápido de obter sexo

O segundo mito que os pesquisadores derrubam é o de que o estrangeiro que se relaciona com uma prostituta é, a priori, um turista sexual. Não é. O turismo sexual, grosso modo, é colocado pelas autoridades e por boa parte da imprensa no mesmo caldeirão de iniqüidades de abuso de menores e tráfico internacional de mulheres. O fenômeno, assim, é apresentado de forma equivocada, contribuindo para toda a confusão em torno do tema.

O estrangeiro que se relaciona sexualmente com uma mulher brasileira, mesmo que não cometa qualquer crime, é acusado indevidamente, segundo os antropólogos, de violar as leis pátrias que regulam o comportamento sexual, como a pornografia, sedução, estupro, corrupção de menores, atentado violento ao pudor e tráfico de mulheres.

Apesar de toda a sanha nativa por punição contra turistas vistos nas praias e nos bares do Rio com prostitutas, a prostituição, em si, não é crime, segundo o Código Penal brasileiro. Para se configurar turismo sexual, é necessário um requisito importante, mas tão tênue se analisado com a conduta sexual de um turista “comum”, que explica em parte os equívocos: o sujeito deve necessariamente conduzir suas viagens para esse fim e suas ações violarem as leis locais. Uma olhada nos depoimentos publicados no site World Sex Guide, que reúne turistas sexuais confessos, batizados de mongers, elucida a questão: são homens que fazem de suas viagens turnês exclusivamente de concupiscência, com o agravante de infringir a lei.

Os antropólogos Thaddeus e Ana Paula aceitam, com reservas, a definição de turismo sexual elaborada pela Organização Mundial de Trabalho: viagens organizadas que utilizam as estruturas da indústria de turismo com os fins principais de facilitarem o comércio sexual entre turistas e nativas. Eles acham a definição incompleta por se prender às práticas e objetivos dos turistas e ignorar se suas ações e desejos são ou não ilegais, se contrariam as normas jurídicas do país.

A análise do problema é reduzida ao comportamento sexual dos gringos em sua interação com as nativas e não nas complexas relações que permeiam esses contatos. Dessa forma, segundo os antropólogos, é dificílimo diferenciar claramente os turistas sexuais dos turistas tidos como “comuns”.

Se o senso comum assimilou com ares de verdade a balela de que todo turista estrangeiro é, de fato, um turista sexual, a pesquisa de Thaddeus e Ana Paula derruba essa visão. A maioria dos estrangeiros encontrados na Help e em outros pontos de prostituição do Rio de Janeiro é de empresários, executivos, homens de negócios ou acadêmicos em visita de trabalho à cidade ou de férias. Eles recorrem às prostitutas por se tratar do meio mais fácil e rápido de obter sexo. Apenas de 5% a 10% do total de homens que freqüentam a boate se assumem como turistas sexuais, ou mongers, segundo Thaddeus.

Sem falar português e sem amigos brasileiros, ir a lugares como a Help é o único meio de um turistas estrangeiro ter acesso às mulheres brasileiras. Tantos os turistas sexuais como os turistas comuns concordam que dificilmente um estrangeiro que não fale o português conseguirá se relacionar sexualmente com uma brasileira que não seja garota de programa, embora continuem achando todas as cariocas sexualmente ativas e sempre disponíveis. “Sem falar bem o português ou viver na cidade, pode esquecer namorar uma garota normal. O máximo que vai conseguir é uma garota de programa, a menos que tenha amigos brasileiros que possam apresentá-lo às mulheres normais”, admite o americano, Mark.

Assim, o jeito é mesmo seguir para Copacabana.

Thaddeus acha uma grande bobagem pensar que o turista, de qualquer tipo, possa deixar sua libido no país natal e não queira, então, transar com mulheres nos países que visita. O grande problema, segundo ele, é que qualquer gringo que se envolve sexualmente com uma mulher nativa, mesmo que a prostituição não seja crime, é visto como turista sexual que deve ser combatido ou expulso do país. “Se a prostituição não é crime, por que vira um problema quando envolve um gringo?”

A questão moral tem um enorme peso na construção do conceito sobre os estrangeiros que se envolvem com prostitutas. É como se ainda fôssemos colônia européia e os gringos chegassem ao país para violar nossas nativas. Os antropólogos avaliam que “a preocupação com a legalidade das atividades visadas é menos importante do que o reforço de um código moral que estipula que os estrangeiros não devem ter contatos sexuais promíscuos com as nativas”. Para resolver a questão, é comum ouvirmos que basta reprimir a atividade das prostitutas e expulsar os estrangeiros. Como todo chavão, é ingênuo e ineficaz.

Um exemplo foi a prisão de 110 turistas estrangeiros na madrugada de 31 de março na Praia de Ponta Negra, em Natal, Rio Grande do Norte. Setenta (!) policiais federais cercaram a boate Hollywood numa ação que visava combater o turismo sexual. E o que aconteceu? Turistas portugueses, espanhóis, noruegueses, italianos e franceses foram detidos por não terem consigo o passaporte. Levados para a superintendência da PF, pagaram uma multa de R$ 165,00 e foram liberados. Sim, liberados. Não havia crime em freqüentar a boate, a multa foi por não terem o passaporte em mãos. A prisão causou estardalhaço na imprensa, declarações de autoridades, entrou para as estatísticas oficiais, mas, de concreto, não houve nada além de um grupo de turistas em busca de sexo pago.

Campo de diversões sexuais

Por suas características, a boate Help é evitada por estrangeiros que moram no Brasil há alguns anos. Claro, já freqüentaram o lugar pelo menos uma vez, mas, com medo de serem confundidos com turistas sexuais, só faltam se benzer quando passam por perto ou quando o nome profano é mencionado numa conversa. Richard, também americano, é enfático: “Eu não sou que nem esses homens patéticos que devem ser proibidos de entrar no Brasil; deixam-me com nojo e vergonha e, por causa deles, quase nunca vou a Copacabana, pois não quero ser confundido com eles. Ademais, não preciso ir, né?”

Esse “não preciso ir”, diz o estudo, significa que, depois de aprender a língua de Lima Barreto e estabelecer amizades na cidade, o estrangeiro não precisa mais pagar por sexo. Mesmo assim, os antropólogos notam que esses gringos vêem o Rio de Janeiro “através de uma lente forjada pelas mesmas predisposições anunciadas por homens estrangeiros que são identificados (e que se auto-identificam) como turistas sexuais”. Esses tipos concebem a cidade como um lugar subdesenvolvido no qual as mulheres precisam se prostituir e onde há em abundância a acentuada sexualidade brasileira em oposição à do mundo ocidental, que, para eles, se resume à Europa.

O homem médio, como se vê, é imbecil em qualquer parte do mundo, o que fez o jornalista e escritor Otto Lara Resende, ao voltar de um período na Bélgica em 1960, dizer que a Europa era uma burrice aparelhada de museus.

A idiotice de muitos gringos não acaba aí. Segundo o estudo, há três idealizações dos estrangeiros no que diz respeito às relações sexuais entre gringos e nativos:

As brasileiras são dotadas de uma sexualidade acentuada, que é nata, e não se sentem culpadas em relação ao sexo, como as “ocidentais” (para eles, as européias).

- “Como você sabe, as brasileiras não têm medo de sexo...”

- “Fazer sexo é como comer para as brazilianas [sic]. Vão fazer sexo de qualquer maneira, então, por que não com você?”

- “O Brasil tem uma cultura sexual muito liberal. Já entrou num ônibus lotado no Rio? Muitas vezes, os brasileiros se esfregam numa menina no ônibus e os dois acabam num daqueles motéis…” (os depoimentos foram concedidos por estrangeiros, não identificados nominalmente, aos antropólogos em três anos de trabalho na Help. As frases inseridas nos pontos seguintes são da mesma fonte).

A falsa impressão de que as relações sociais e o papel da mulher na família são parecidas com as que existiam na Europa no passado.

- “Gosto do Rio, pois aqui as pessoas são como eram antigamente em nosso país – no tempo de meus avós. Aqui, as pessoas pensam na família e nos amigos primeiro e no dinheiro só muito depois. Isso foi uma das razões que acabaram me fazendo casar com uma brasileira: elas sabem valorizar a família, que não é algo que a maioria de americanas sabe mais fazer”.

- “Aqui as mulheres são como eram na Europa anos atrás: sabem tratar bem um homem; não competem com ele. Se vou me casar novamente, vai ser com uma brasileira, pois elas são como as mulheres de antigamente. Querem uma família, não uma carreira”.

- “A cultura americana está passando por algumas modificações e estas têm mudado as relações entre os homens e as mulheres (...) O americano hoje busca uma mulher que não vai competir com ele, mas que vai complementá-lo (...) A brasileira é bem simples em seus gostos e desejos e vive mais em função da simplicidade da vida e de sua família...”

A visão, correta, de uma cidade falida social e economicamente que não provê adequadamente a maioria de seus habitantes, particularmente as mulheres.

- “A brasileira quer um americano, pois nós temos mais status e podemos dar uma vida bem melhor a ela”.

- “Existem tantas garotas de programa no Brasil porque, francamente, o país é um desastre. Os políticos corruptos roubam tudo, não tem emprego, está todo mundo pobre... gente morrendo de fome... Então, a maioria das garotas de programa faz o que faz, pois é isso ou a morte. São mulheres normais que fazem programas porque o Brasil é uma merda”.

Essas opiniões revelam, com clareza perturbadora, o grau de idealização perversa dos estrangeiros sobre o Rio de Janeiro, que, segundo o estudo, seria um mero "campo de diversões sexuais", onde “as mulheres são por natureza ‘bonitas, exóticas’ e sexualmente ‘ativíssimas’ e os estrangeiros do ‘primeiro mundo’ são vistos como extremamente atraentes pelo fato de o Brasil ser um país ‘perdedor’ e eles disporem de dinheiro e status”. O que é esquisito é que muitos brasileiros compartilham dessa visão.

Migração versus tráfico

O estudo dos antropólogos mostra que, embora haja uma ponte, não há uma relação necessária entre migração de prostitutas brasileiras para outros países e o tráfico internacional de mulheres. Thaddeus diz que existem casos comprovados, embora sejam poucos, de mulheres traficadas entre um grupo de prostitutas recrutado para trabalhar no exterior. “O problema é que isso está sendo apresentado como um fenômeno rotineiro e não como uma experiência minoritária.”

Ana Paula lembra que, nos três anos de pesquisa e centenas de depoimentos colhidos (e reproduzidos nesta reportagem), ela e Thaddeus constataram que a grande maioria das prostitutas imigra porque quer e não porque é vítima do tráfico internacional de mulheres. É aí que a legislação agrava o problema. O Código Penal brasileiro define como "traficada" qualquer prostituta que sai do Brasil à procura de trabalho no mercado sexual, mesmo que por conta própria.

Texto no site do Ministério da Justiça diz: o “que configura o tráfico de pessoas é a atitude do aliciador de enganar ou coagir a vítima, apropriando-se da sua liberdade por dívida ou outro meio, sempre com propósito de exploração”.

A Convenção de Palermo, que se chama “Protocolo para Prevenir, Suprimir e Punir o Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças” (suplemento à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional) e da qual o Brasil faz parte, diz que o tráfico de seres humanos é o “recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, de rapto, de fraude, de engano, do abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter controle sobre outra pessoa, para o propósito de exploração”, incluídas “a exploração da prostituição ou outras formas de exploração sexual, trabalho ou serviços forçados, escravidão ou práticas análogas à escravidão, servidão ou a remoção de órgãos”.

O grande problema da convenção, já apontado pelos antropólogos, é justamente ignorar a vontade do suposto traficado. O texto diz que “o consentimento da vítima de tráfico é irrelevante para que uma ação seja caracterizada como tráfico ou exploração de seres humanos, uma vez que ele é, geralmente, obtido sob malogro”. Se há consentimento, como pode haver tráfico? O “geralmente” demonstra que isso nem sempre acontece. Então, se não acontece o “malogro”, mesmo assim a ida de uma prostituta para trabalhar no exterior configura tráfico? Pela lei, sim, e seja o que Deus quiser.

“As conversas que tivemos com as prostitutas deixaram claro que elas são contratadas e saem do país sabendo o que vão fazer lá fora. Não são enganadas, como muita gente acha”, afirma Ana Paula. “O que acontece, algumas vezes, é promessas feitas antes da viagem não serem cumpridas, como valor da remuneração e boas condições de trabalho”, complementa Thaddeus. Os dois lembram que os casos de tráficos de mulheres e de abusos existem, obviamente, mas são, afirmam, minoria.

Josene, de 40 anos, garota de programa nascida em Niterói, diz que viaja todos os anos para a Itália no período do inverno, entre dezembro e fevereiro. “Sou uma quarentona e os velhinhos de lá gostam mais de uma mulher da minha idade que os daqui. Tenho um circuito de clientes velhos que visito e também trabalho como dançarina em bares. Só volto para a alta temporada daqui do Rio”.

A definição equivocada e incompleta da lei gera outro problema: as falsas denúncias sobre tráfico internacional de mulheres que viram estatísticas oficiais. Os antropólogos dizem que uma garota de programa brasileira, ao ser presa em outro país, geralmente, para ser libertada, diz que foi vítima de tráfico internacional. Eles ouviram depoimentos de mulheres dizendo que as autoridades de outros países chegam, em alguns casos, a induzir as falsas denúncias para deportar essas mulheres, imigrantes indesejadas, sem enfrentar outros problemas legais ou políticos.

Luana, carioca de Duque de Caxias, de 25 anos, é uma das que confirmam o ardil usado pelas garotas no exterior: "Quando fiquei presa por fazer programa na Europa, acha que fiz o quê? Que falei que era puta e que estava trabalhando ilegalmente? Claro que não! Contamos uma história triste, do tipo: ‘Ai, seu guarda, fui convidada pra trabalhar como empregada, só que quando cheguei aqui descobri que eles me enganaram. Roubaram meu passaporte e me forçaram a trabalhar assim. Não sei o que fazer, pois estou com tanto medo deles. Me ajude, por favor’”.

Thaddeus explica que, ao falarem de tráfico, a prostituta passa a ser tratada como vítima e não mais como puta. “Ao invés de deportação, são liberadas da cadeia e repatriadas. Isso gera uma quantidade absurda de falsas denúncias que entram nas estatísticas oficiais sem representar de forma correta o problema, mas desvirtuando completamente a informação”.

Ana Paula, que, junto com Thaddeus, Anna Marina Madureira de Pinho Bárbara Pinheiro e Gabriela Silva Leite produziu um trabalho específico sobre tráfico de pessoas, observa que a falsa confissão de vítima de tráfico permite que os países se livrem e fechem as fronteiras para essas mulheres sem criar nenhum problema interno ou externo.

Em relação aos aspectos legais, a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha, por exemplo, vai provocar uma situação curiosa. Prostitutas brasileiras que forem trabalhar por conta própria durante o evento podem ser enquadradas como vítimas de tráfico internacional, mesmo que tenham ido por conta própria. “Como o governo brasileiro vai lidar com isso?”, provoca Thaddeus.

Dados divulgados pela Alemanha indicam que cerca de 440 mil prostitutas estarão a postos durante o Mundial. O parlamento da União Européia (EU) chegou a elaborar um estudo com o objetivo de impedir exageros no mercado sexual entre os meses de junho e julho. O Congresso da UE também cogitou a hipótese de exigir visto de entrada para pessoas oriundas de países do terceiro mundo, principalmente da América Latina no período da Copa, mas a proposta foi vetada.

Repúdio à pedofilia

Outro ponto relevante da pesquisa de Thaddeus Blanchette e Ana Paula da Silva é a constatação de que a prostituição de menores de idade é muito menor do que divulga a imprensa e alardeiam as autoridades. Garotas de programa que podem ser claramente identificadas como menores de 18 anos raramente são encontradas nas áreas de turismo de Copacabana.

Os antropólogos admitem a impossibilidade de saber com certeza, apenas olhando para as garotas, quem é menor de idade. Geralmente, o que se faz é mapear o número de meninas por “achismo”, ou seja, pela frágil identificação física. Raramente, diz os estudiosos, a polícia prende menores de idade se prostituindo nas ruas, pois as boates de Copacabana que recebem estrangeiros conseguem fazer um controle de certa forma rigoroso nas portarias. As menores só passam se aparentarem maioridade e, além disso, portarem um documento falso. “Os estrangeiros com quem conversamos repudiaram a pedofilia. Eles disseram estar em busca de mulheres e não de crianças”, diz Ana Paula.

É o que confirma o americano Gerald, de 25 anos. Na boate Help, em busca de companhia feminina para o prazer, brinca dizendo não ser o cantor Michael Jackson para se interessar por criança. Depois, assume um tom agressivo. “Gosto de mulher, cara. Muuuuuuulheeeer. Acho que os homens que querem trepar com criança devem levar uma bala na cabeça. Se eu encontro um cara assim, ele vai ter sorte se sobrar algo para a polícia levar embora”.

Pai de duas filhas e após dois casamentos, Gerald diz buscar prostitutas para evitar novos relacionamentos amorosos. “Sinceramente, cara, outra esposa, nunca mais. Venho ao Rio porque aqui eu posso contratar mulher, maior de idade, para atividades sexuais, sem violar nenhuma lei. Pago a garota de programa para ela ir embora no dia seguinte”. Para evitar problema, Gerald pede para ver a carteira de identidade. “Se a garota não mostra, paciência, tem muito mais peixe nesse mar”.

O estudo “Nossa Senhora da Help: sexo, turismo e deslocamento transnacional em Copacabana” deverá causar polêmica, mas, passada a grita, vai permitir que a prostituição no Rio de Janeiro seja debatida de forma mais honesta. E, quem sabe, as garotas de programa passarão a não mais ser vistas como coitadinhas que precisam de amparo do estado ou da comiseração da sociedade.

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karlmarx
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#2 Mensagem por karlmarx » 24 Abr 2006, 13:28

Belo estudo! E eu acho que é verdade isso aí mesmo, é uma relação de dupla perniciosidade!

Agora não sei se está correto minimizar a prostituição infantil. Em Fortaleza a situação até um ano atrás estava bravíssima, passei na praia de iracema à noite e sinceramente perdi o estômago, o jantar que eu tinha comido e a disposição para sair com uma GP tal era a quantidade de crianças imaturas e imberbes oferecendo sexo na rua.

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#3 Mensagem por karlmarx » 24 Abr 2006, 13:33

Belo estudo! E eu acho que é verdade isso aí mesmo, é uma relação de dupla perniciosidade!

Agora não sei se está correto minimizar a prostituição infantil. Em Fortaleza a situação até um ano atrás estava bravíssima, passei na praia de iracema à noite e sinceramente perdi o estômago, o jantar que eu tinha comido e a disposição para sair com uma GP tal era a quantidade de crianças imaturas e imberbes oferecendo sexo na rua.

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#4 Mensagem por Kakinho » 24 Abr 2006, 14:41

Governo, autoridades em geral e a sociedade tem a idiota mania de querer
"botar juízo" na cabeça das "putas adultas" e esquecem as crianças, que a
cada dia adentra mais o mundo do sexo pago. Deixem as putas quietas e
tentem resolver a questão da pedofilia. Isso sim é preocupante !!!

Pena que a matéria é focada no Rio, que não condiz muito com a realidade
do Brasil (a citar o comentário do KarlMarx). Quem é do Rio poderia ler e
dar o parecer, tipo, se tá dentro do real e tals...

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#5 Mensagem por Carnage » 25 Abr 2006, 12:16

Achei essa frase ótima:
O homem médio, como se vê, é imbecil em qualquer parte do mundo, o que fez o jornalista e escritor Otto Lara Resende, ao voltar de um período na Bélgica em 1960, dizer que a Europa era uma burrice aparelhada de museus.

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#6 Mensagem por wheresgrelo » 25 Abr 2006, 13:26

Para quem tiver afim, aí vai o link para baixar o Artigo Nossa Senhora da Help em pdf:

http://www.scielo.br/pdf/cpa/n25/26529.pdf

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dexterLab()
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#7 Mensagem por dexterLab() » 25 Abr 2006, 19:07

bem legal.

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ElPatrio
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#8 Mensagem por ElPatrio » 26 Abr 2006, 00:54

Grande Américo!

Abrindo tópico meu amigo?! Não poderia deixar de prestigiar com meu relés comentário.

Bom, belo tópico.

Esse texto comprova mais uma vez que antropólgos e sociólogos, de forma geral, servem para dizer e formar as coisas mais óbvias que ninguém quer enxergar, ou, na melhor das hipóteses, derrubarem mentiras coletivas, falácias, como estas do texto acima, que de tanto todos falarem acaba virando verdade.

Para os brasileiros parece que culpa de nossos males sempre são dos outros, que o estrangeiro é o diabo e que Deus é brasileiro. Mas quando os estrangeiros aqui estão nos sentimos inferiores, não temos coragem de repetir na cara do gringo tudo aquilo que falamos dele pelas costas. Abaixamos a cabeça e dizemos amém.

Um exemplo típico disto é o caso do Tevez no Corinthians. Senhores, quantas vezes já não ouvi dizer que o Romário, jogador que ganhou uma copa do mundo para o brasil e foi artilheiro do brasileiro aos 40 anos, é vagabundo e que aqui em SP um jogador como ele, que não treina, não tem vez pois aqui ninguém tem privilégios. POis bem, o Tevez, argentino outrora esculachado pelos brasileiros, goza de privilégios no Corinthians, joga quando quer e ninguém fala nada. Nem entrevista o Tevez dá. E se um jogador brasileiro se recusa a dar entrevista a imprensa detona o cara. Mas o Tevez pode não dar entrevista, pode cuspir na nossa água, pode querer não jogar...

Daí o cara vira as costas e começam a zombar os argentinos chamando de maricones, racistas, prepotentes e por aí vai. Fazendo parecer que nós somos santos e nossos vizinhos os diabos.

POvo engraçado o nosso.


NO caso específico da matéria digo que não sou antropólogo mas comprovo oq disseram pois conheço algunas putas que foram para europa por livre e espontânea vontade para ganhar dinheiro, como fazem todos que vão para o exterior, com o direito de ir e vir resguardado. Exploradas elas são tanto quanto em puteiros daqui com a diferença que lá elas ganham em euros.

Só isso.

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m4rreco
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#9 Mensagem por m4rreco » 26 Abr 2006, 09:25

Como caro amigo ElPátrio...

Bem a respeito do teto a única ressalva que faço é que a pesquisa se restringiu apenas ao RJ, que provavelmente não deva ser muito diferente do que acontece por aqui em Sampa.

Mas é bom lembrar que os casos de pedofilia acontecem mais freqüentemente nas regiões norte e nordeste do nosso país, locais que a pesquisa não abrangeu.

Até mais...

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Trankera
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Reportagem holandesa

#10 Mensagem por Trankera » 21 Nov 2006, 23:58

Reportagem holandesa sobre prostituição em Fortaleza, Ceará...

http://www.youtube.com/watch?v=pu0RSGpoJso

http://www.youtube.com/watch?v=xa1OAJOK ... ed&search=

http://www.youtube.com/watch?v=-r0oEYJL ... ed&search=

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MIGUEL45
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#11 Mensagem por MIGUEL45 » 28 Nov 2006, 13:41

Excelente o topico!!! parabens

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Trankera
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Militares americanos

#12 Mensagem por Trankera » 04 Fev 2007, 16:20

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
Enviado especial da Folha a Miami

Ah, as mulheres que o tenente americano Mark Browne conheceu neste verão em Copacabana! Como boa parte dos militares dos EUA, ele serviu no Iraque por 12 meses e, num programa de incentivo do Departamento da Defesa, veio parar no Rio, em pleno janeiro. A história está só começando.

Segundo o site do Exército dos EUA, a meta do programa Descanso e Recuperação é "dar alívio aos servidores e livrá-los do estresse da missão de combate". Tudo começa na agência Tours Gone Wild, de Miami, que promete "a viagem da sua vida". Mas turismo é o que menos importa. No site, a propaganda é mulher, festa, mulher, mulher, festa, outra festa, outra mulher. Não necessariamente nessa ordem. Quer mais?

O pacote, oferecido a partir de US$ 1.300 (US$ 3.000 nesta alta estação), descreve: "É difícil viajar para um país diferente e saber as baladas quentes, os lugares que os baladeiros brasileiros vão. Você não quer perder a noite inteira buscando um lugar e muito menos ficar na fila atrás de gente que não fala inglês e que não deixará você entrar. Nosso serviço de festas VIP é a solução, com transporte, entrada, fura-fila, acesso à área VIP e guia particular".

Para convencer os clientes (os militares americanos no Iraque, lembra?), fotos. De quê? Mulher, festa, mulher de novo, outra festa, outra mulher.

Na galeria de imagens, mais mulheres, aparentemente brasileiras, em poses sensuais ou simulando o ato sexual.

Em inglês, "party" (festa) também é empregado no sentido de usar drogas, em linguagem informal. "Dar um teco", embora a agência não deixe claro (nem poderia).

E o Pão de Açúcar, o Cristo, a Lagoa, o passeio em jipe pela Rocinha, as outras atrações do Rio? O lugar é Copacabana. Melhor: a orla de Copacabana.

Colega de batalhão do tenente Mark Browne, Brian Feldmayer (os dois têm 25 anos), explica ao jornal britânico "The Guardian": "Já vi o suficiente [de favelas] no Iraque. A maioria dos meus amigos está ansiosa para vir ao Rio. Eles já ouviram falar do crime, de todos os problemas. Mas quando digo o que acontece nessa viagem... Garanto que nos próximos dois anos 65% deles virão".

Na página de testemunhos de clientes, Andrew P., 31, de Denver, diz: "Fomos às boates mais quentes e conhecemos as mulheres mais gostosas. Altamente recomendado". Abaixo, o tenente Kirk B., 21, completa, numa foto ao lado de duas mulheres: "Depois de passar o pior ano da minha vida no Iraque, viajar ao Rio foram as melhores férias que já tive".

Outro lado

A agência de turismo Tours Gone Wild nega promover turismo sexual de soldados americanos no Rio de Janeiro.

Segundo um dos proprietários, Santiago Merija, que no site aparece ao lado de uma mulata vestida de passista, a política da agência é "não perguntar e não comentar" [a respeito de turismo sexual]. Nos EUA, exploração e prostituição são crimes com pena de um ano de prisão.

"Nossos clientes se viram sozinhos. Nós levamos aos lugares, mas a abordagem é responsabilidade deles", diz.

A Tours Gone Wild espera levar 300 soldados americanos neste ano ao Rio. O número é quatro vezes maior que no início da guerra, em 2003.

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/coti ... 1316.shtml

Eu também se estivesse em uma guerra e tirasse umas férias, viria ao Brazil... comer umas pererecas :)

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