O ser humano é poligâmico essencialmente?
Acho que não existe uma resposta genética, e sim cultural: nós somos contraditórios. As pessoas exigem uma inteireza idealizada. Isso causa dor por causa da culpa. O conceito de lealdade, de traição, é um conflito que pelo menos para a alma latina não está resolvido. Todo mundo que conheço, todos os meus pacientes, principalmente os homens, quer lealdade de seu parceiro. Mas se reserva o direito de pular a cerca.
Teria outra maneira de encarar a traição?
Só existe traição quando há a intencionalidade e a perversidade de impingir ao outro sofrimento. Se você está no cinema de mãozinha dada com seu parceiro e roça o braço no cidadão à sua esquerda só para que seu parceiro fique com ciúme, é traição. Agora, se você ama seu parceiro e ele foi fazer um curso no Canadá, você saiu uma noite, se excitou sexualmente, nem se lembrou dele, não teve a intenção de trair. Pelo contrário.
Nesse caso seria uma questão de respeito não contar? Exatamente. É um limite de censura que a sociedade e a nossa cultura impõem e você faz até por delicadeza. Muitas vezes também eu percebo um drama: “Eu gostaria de ser autêntico”. Autêntico ou impiedoso?
Fundamental é mesmo o amor ou é possível ser feliz sozinha?
O destino do ser humano é solitário. As relações humanas são importantes, mas circunstanciais. Você de mãos dadas, beijando a boca, no meio de uma transa, fecha os olhos e vem uma fantasia erótica com outra pessoa. Nós sempre pretendemos um diálogo, mas estamos sempre num monólogo.
É hipocrisia, ingenuidade ou nada disso achar que dá para viver um longo casamento sem traição?
É freqüente que seja por covardia. Medo de ser pego e das conseqüências que possam advir. Nessa hipótese entra uma dose de hipocrisia. Às vezes há ingenuidade diante da vida, uma dificuldade de ter manha de fazer sem ser pego. E às vezes é uma respeitável decisão. A pessoa gosta da outra e se basta. Uma outra mentira é a idéia da necessidade de ter casos.
As pessoas querem amar ou se apaixonar?
Colocando em termos prioritários: primeiro, querem ser amadas; depois, querem se apaixonar; terceiro, não querem se apaixonar porque têm medo de sofrer. Estamos no território das contradições. Em quarto lugar, querem amar. E durma-se com um barulho desses.