


http://br.youtube.com/watch?v=QWiZil4S0V0
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É o gás, estúpido: Isso aqui você NUNCA vai ler, ver ou ouvir na mídia brasileira
Um leitor reclama que sou contra Chávez e a favor dos colonizadores. Não é bem assim. Acho que o Chávez fala mais do que deveria. Poderia fazer tudo o que faz sem dar à mídia internacional, que quer a cabeça dele, a chance de isolá-lo.
Lula vai visitar Fidel Castro na semana que vem. Seria bom que pedisse ao mentor de Chávez que aconselhasse o venezuelano a "baixar" a bola. Isso não se faz em público. Deve ser feito na quietude, na maciota, na linguagem cifrada tão cara à diplomacia brasileira, que é boa de bola.
Outra amiga, ítalo-brasileira, me liga para saber se estou com Zapatero - o primeiro-ministro do Partido Socialista espanhol - ou com Chávez. O debate entre eles, no encerramento da Cúpula Iberoamericana, esquentou o sangue de Vossa Majestade, que saiu apontando o dedo e dando ordens ao súdito.
Zapatero-Chávez é a falsa polêmica. Zapatero fez média com o antecessor, de quem vem apanhando feio através da mídia espanhola, que é francamente (sem trocadilho) favorável ao Partido Popular, de José Maria Aznar. Zapatero defendeu o adversário político, que Chávez chamou de fascista, para dar satisfação aos espanhóis, para "defender a honra" espanhola.
Aznar, se vocês não sabem, é muito bem articulado. Com a Coroa espanhola, com a Igreja Católica, com George Bush, com Fernando Henrique Cardoso. O Partido Popular, que ele dirige, tem um discurso velado para não ofender a sensibilidade dos eleitores centristas da Espanha. Mas, trocando em miúdos, está na onda européia do momento: xenofobia, defesa do catolicismo e do Ocidente contra o Oriente dos "bárbaros" muçulmanos, chineses e assim por diante.
Se vocês fizerem uma necropsia nos discursos de Aznar, vão descobrir traços comuns com os de vários partidos do mundo, inclusive com uma facção do PSDB brasileiro, a de Geraldo Alckmin. Ou com o discurso do Jornal da Globo. Ou com o que a TV Globo prega, o que é sinistro para uma emissora que fala a tantos mestiços, negros e pobres. É tradição, família e propriedade. É nós contra eles. No Brasil, nós do asfalto contra "eles" do morro; nós do Sul Maravilha contra "eles", que sustentam o governo em troca de esmola; nós, educados em Yale, contra "eles", a mestiçagem que sobe pelo elevador de serviço e dorme no quarto de empregada. Quando alguém aponta para esse discurso que, francamente (sem trocadilho) tem tons racistas e integralistas, eles se defendem dizendo que tem gente incitando à LUTA DE CLASSES.
Hoje as pessoas que procuram fontes de informação fora do Brasil sabem que a grande mídia brasileira omite, deturpa e manipula as informações sobre a Venezuela. Descaradamente. É como se estivesse em campanha eleitoral. Qual é o sentido disso, se os brasileiros não vão votar no plebiscito de 2 de dezembro, na Venezuela? O povo não é bobo, nem a Rede Globo. O objetivo concreto é evitar a entrada da Venezuela no Mercosul.
Quem não quer a Venezuela no Mercosul? Os Estados Unidos, com certeza. As empresas representadas por Aznar também não. Eles são idiotas? Não. Pensam lá na frente. A Venezuela no Mercosul fortalece as posições do bloco nas negociações econômicas com a União Européia e os Estados Unidos. Abre de novo a porta para a ALCA, ou pelo menos para um acordo comercial americano com o Brasil se o PSDB reassumir o poder em 2010.
Se eles estivessem MESMO preocupados com a democracia, estariam fazendo discursos no Congresso, publicando capas de revista e pedindo a cabeça TAMBÉM do ditador paquistanês Pervez Musharraf, que prendeu advogados, oposicionistas e colocou uma aliada americana em prisão domiciliar. O ditador Musharraf é chamado de presidente. Não tem campanha na mídia contra ele. Nem contra os reis "democratas" da Arábia Saudita. Eles são NOSSOS, entenderam?
Esse pessoal pensa longe. A turma que governou com Bush começou a "tramar" lá atrás. Ainda no governo Clinton já tinha escrito e divulgado um documento batizado de "Projeto para Um Século Americano", que prega a hegemonia americana em terra, no mar, no ar e no espaço. Assinaram o documento muitos daqueles que assumiram o poder com Bush, inclusive o ex-secretário de defesa Donald Rumsfeld.
Antes da ocupação do Iraque, lembrem-se que Rumsfeld foi porta-voz da divisão da Europa entre "velha Europa" (a que não apoiou a ocupação americana) e a "nova Europa" (Espanha, então governada por Aznar, Portugal, Polônia e outros países do leste europeu que trocaram apoio à guerra por proteção americana contra os russos e vantagens comerciais).
Quem mandou tropas para o Iraque, depois da tremenda pressão exercida pelos Estados Unidos em todo o mundo, para formar aquela coalizão meia boca? Tony Blair e José Maria Aznar.
Os europeus, em geral, não caíram naquele engodo de Europa velha vs. Europa nova, porque torpedeava a União Européia e enfraquecia o poder de barganha dela diante dos Estados Unidos.
Muitos dos brasileiros estão caindo no engodo do discurso que divide os líderes da América Latina entre "mocinhos" e "bandidos", um discurso formulado no Departamento de Estado do governo Bush. É o dividir para governar, em versão recauchutada, que abastece a artilharia da máquina de propaganda. "Época" e "Veja" dedicaram capa ao Chávez uma em seguida à outra, às vésperas da Cúpula Iberoamericana. Não acho que tenha sido por acaso. O objetivo é causar constrangimento, afastar Lula cada vez mais de Chávez e bombardear a entrada da Venezuela no Mercosul.
O que os americanos tentaram com a Europa - e não deu certo - agora patrocinam na América Latina, desta vez com apoio da turma do Aznar, de facções do PSDB e de oligarcas brasileiros. Será que são doidos? Não, ninguém dá tiro no pé. Grupos espanhóis têm grandes interesses econômicos na região, em parceria com grupos locais. Os americanos querem o petróleo da Venezuela, do Equador e o gás boliviano.
Que americanos? As grandes companhias de petróleo, que a dupla Bush-Cheney representa na Casa Branca. Essas empresas têm trilhões de dólares investidos em infraestrutura. Os Estados Unidos importam petróleo e gás. Tornam-se cada vez mais reféns do fornecimento externo. Gastam mais, por ano, do que é descoberto. E as novas descobertas acontecem em regiões que eles (ainda) não controlam politicamente.
O que representa Hugo Chávez? Um Mussolini mameluco, como definiu o Estadão? Isso é propaganda, gente. Chávez tem falado em uma OPEP do gás, que juntaria a Venezuela, a Bolívia, o Irã e quem sabe a Rússia. Essa OPEP do gás controlaria mais da metade da produção de gás do planeta. Chávez e Morales não querem entregar os recursos de seus países de graça.
O gás ganha importância na matriz energética americana. Olhem o mapa dos terminais de reconversão de gás liquefeito para produzir energia. Não estamos falando de meia dúzia de lâmpadas. É energia essencial para a indústria americana: http://viomundo.globo.com/imagens/2191986_gas.bmp
Olhem aí a origem do gás importado pelos Estados Unidos: http://viomundo.globo.com/imagens/reduz ... 90_gas.JPG
Pensem comigo: as gigantes do petróleo vão descartar a infraestrutura de trilhões de dólares que levou um século para ser construidá, da noite para o dia? Não. Vão brigar pelas gotas de petróleo e pelo direito de explorar, do jeito mais lucrativo para elas, as reservas de gás estejam onde estiverem. Ninguém menos que o vice-presidente americano Dick Cheney foi à China fazer lobby pela ExxonMobil na disputa para fornecer gás aos chineses, num negócio que envolvia o Qatar, protetorado americano no Golfo Pérsico.
Os Estados Unidos estão no Iraque para promover a democracia? Tenham dó. Os americanos queimam 15 mil litros de gasolina POR SEGUNDO e agora controlam território onde existem grandes reservas de petróleo, que praticamente brota da terra, levíssimo, de custo de refino baixíssimo em relação, por exemplo, ao da Venezuela. Na "big picture", para os financiadores de Bush, o que representam 5 mil soldados mortos?
As empresas de petróleo passaram a investir cada vez mais em gás, que antes era praticamente descartado por causa da dificuldade de lidar com o produto e da falta de tecnologia para transportá-lo e transformá-lo. Essas empresas não existem no mundo da fantasia, nem em teorias conspiratórias. Elas são grandes. Elas tem acionistas. Elas bancam termelétricas que queimam gás. Elas querem lucrar. Os executivos delas existem fisicamente. Eles contratam lobistas. Eles são representados em governos. Eles olham para o mundo e não gostam do que enxergam no futuro: precisam de acesso ao petróleo e gás, mas ele é propriedade estatal no Oriente Médio e, pior ainda, nas proximidades do maior e mais lucrativo mercado de energia do mundo, os Estados Unidos: Bolívia, Venezuela e Equador, os dois últimos integrantes da OPEP.
O gás da Venezuela é o mais próximo do mercado americano. É liqüefeito e transportado em navios-tanque para os Estados Unidos, para ser reprocessado. Antes de queimar biomassa ou biocombustível, anotem aí, teremos o auge do gás, para produção de eletricidade. Ou vocês acham que os americanos vão apagar as luzes, como os brasileiros fizeram, para economizar?
Qual era o plano do antecessor de Evo Morales, Sanchez de Lozada, que foi eleito na Bolívia com apoio de marqueteiros americanos e agora está exilado nos Estados Unidos? Fazer um acordo com o Chile, inimigo histórico dos bolivianos - por ter tomado o acesso da Bolívia ao mar - e exportar gás para os Estados Unidos, em navios-tanque. Essa idéia inflamou tanto os nacionalistas que o apóstolo do neoliberalismo foi expulso da Bolívia. O governo Morales pediu aos Estados Unidos a extradição de Lozada, por conta da repressão aos protestos que resultaram na morte de dezenas de pessoas. Pergunto: vocês acreditam que Washington vai entregar o "parceiro"? Depende da recompensa.
Olhem agora os mapas: o gás da Bolívia abasteceria a costa Oeste dos Estados Unidos. E o gás da Venezuela já abastece parte da costa Leste dos Estados Unidos.
http://viomundo.globo.com/imagens/5683487_mapa2.bmp
http://viomundo.globo.com/imagens/361400_Gasodutos.jpg
Ou seja, enquanto a mídia brasileira fica discutindo as picuinhas, informando a você que agora tem um toque de celular com o rei da Espanha mandando Chávez calar a boca, não te conta o essencial, não te diz nada sobre os verdadeiros motivos da disputa. Poderia até tomar partido, como faz. Mas se você fosse informado dos grandes interesses econômicos que se movem nos bastidores, iria compreender que, ao Brasil, interessa ter a Venezuela no Mercosul, até porque amarra Chávez a tratados regionais. Ele poderá espernear à vontade, mas terá que decidir em grupo.
Porém, a eficaz máquina dos Mesquita, dos Civita, dos Frias e dos Marinho está a serviço das grandes empresas, sejam elas espanholas ou americanas. Notem que os sobrenomes dos controladores da grande mídia brasileira não são de mamelucos, nem de cafuzos. Quando eles precisam de algum mameluco, negro, cafuzo ou árabe, eles alugam, desde que repita o discurso da superioridade da turma que habita o topo do PIB brasileiro, que por acaso é branca e veio da Europa. Se não veio, vive mentalmente lá ou em Miami.
Não é mentira do Chávez, quando ele diz que há um grupo de ex-presidentes no circuito internacional de palestras repetindo a mesma ladainha: além de Aznar, o peruano Alejando Toledo, o mexicano Vicente Fox e o brasileiro Fernando Henrique Cardoso, cada um usando seus próprios argumentos.
Eu lhes pergunto: se o Hugo Chávez fosse presidente do Paraguai, alguém se importaria com ele? Quanto o Paraguai produz de petróleo e gás? Eu juro por Deus que este gráfico, da produção de petróleo do Paraguai, foi tirado do Livro da Central de Inteligência Americana sobre fatos do mundo, o "CIA World Factbook". Reflete, em milhares de barris por ano, a produção paraguaia de petróleo, de 1980 a 2004: ZERO.
http://viomundo.globo.com/imagens/reduz ... raguai.JPG
Publicado em 14 de novembro de 2007
Olhaí a juventude fascista, que está em ascensão na Europa e em processo de formação no Brasil. Os que aparecem na foto são italianos, da torcida do Roma. Na TV Viomundo, muitos deles deixam mensagens: olhem lá. A estirpe é a mesma dos jovens de classe média do Rio que bateram na mulher negra achando que ela era prostituta. Esse desprezo pelo diferente e pelo que consideram "pior" aprenderam em casa, lendo revistas semanais, assistindo a certos telejornais... Quando eles saírem batendo em jornalistas, a quem acusam de "comunistas, viados e maconheiros", não digam que não avisei.
Acrescentado em 14 de novembro de 2007
Como é véspera de feriadão, divirtam-se com o mapa de 1945. Procurem ali, à esquerda, para encontrar quantos países já foram colonizados pelo Brasil, pela Venezuela e pela Bolívia.
http://viomundo.globo.com/imagens/80242 ... mo1945.bmp
Quantos países a Venezuela invadiu?
Quantos países os Estados Unidos já invadiram SÓ na América Latina, ANTES MESMO DA EXISTÊNCIA DA AMEAÇA COMUNISTA? México, Nicarágua, Haiti, Cuba, sem falar no estímulo para a "independência" do Panamá, com o objetivo de construir o canal. E, mais recentemente, voltaram ao Panamá. O general Noriega, ex-informante da CIA, também era comunista comedor de criancinhas?
O ruim não é ter sido colonizado. É CONTINUAR com a cabeça de colonizado mais de 500 anos depois.
Acrescentado em 14 de novembro de 2007
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Flávia SC escreveu:Pastor!
Mas você tem de concordar... O cara é um mala, fala mais do que faz...
Beijos
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Gabeira só defenderá liberdade de imprensa na Arábia Saudita se aparecer no Jornal Nacional
O problema entre Hugo Chávez e a TV Globo é um problema entre Hugo Chávez e a TV Globo. O que interessa à TV Globo não pode ser confundido com o que interessa ao Brasil, até porque a TV Globo esteve contra o Brasil em momentos decisivos de nossa História.
A integração da Venezuela ao Mercosul interessa ao Brasil, já escrevi neste espaço. Por três motivos: a expansão do capitalismo brasileiro se dará na América Latina e, mais a longo prazo, na África; o Mercosul com a Venezuela ganha força nas negociações internacionais; "amarrar" Hugo Chávez em compromissos multilaterais é uma forma de segurar o peão. Adotar a política de isolamento de Hugo Chávez, Rafael Correa e Evo Morales, que é a estratégia da Casa Branca, é fazer o jogo de Washington, que a TV Globo promove em seus telejornais.
"Ao não participar da votação, a oposição demonstrou ser contrária à ampliação do Mercosul e à integração sul-americana", afirmou o deputado Dr. Rosinha. "Essa postura revela que a oposição padece de uma cegueira política, estratégica e econômica. Além do mais, praticamente 100% dos empresários brasileiros querem a Venezuela no Mercosul."
O relatório do deputado petista foi aprovado com 15 votos a favor e a abstenção de Fernando Gabeira, que reclamou da falta de liberdade de imprensa na Venezuela. O deputado Gabeira não queria desagradar a TV Globo, onde tem lugar cativo no Jornal Nacional desde que diga o que a Globo quer. A Comissão de Relações Exteriores da Câmara tem 30 integrantes.
Agora a matéria tramitará na Câmara e no Senado em regime de urgência. O PSDB e o DEM vão tentar extrair concessões do governo Lula no caminho, porque é assim que funcionam os bastidores em Brasília, um eterno toma-lá-dá-cá.
A política da Casa Branca é tão burra quanto toda a política externa do governo Bush. Foi recentemente reafirmada pela secretária de Estado Condolleeza Rice: dividir para governar. Alguns líderes da América Latina são aceitáveis. Outros, não. Como sempre, tem os mocinhos e os bandidos. É uma visão superficial, prepotente e mal informada.
Entre os "inaceitáveis" estão Hugo Chávez, Evo Morales, Fidel Castro, Daniel Ortega, Rafael Correa e Nestor Kirchner. Um deles preside um país do Mercosul, a Argentina. Morales é vizinho do Brasil. A Bolívia precisa mais do Brasil do que o Brasil precisa da Bolívia. É só não provocar a vizinhança com uma política externa aloprada que, pelo tamanho de seu mercado, de sua indústria e da agroindústria, o Brasil se dá bem. Dois outros integrantes da lista negra de Washington são essenciais para a expansão de empresas brasileiras no continente: a Venezuela e o Equador. Rafael Correa é PHd em economia pela Universidade de Illinois e é "mau" porque já avisou que não vai autorizar a permanência de tropas americanas na base de Manta, no Equador.
A TV Globo, o PSDB e Fernando Henrique Cardoso se alinham claramente com o governo Bush, colocando os interesses de Washington acima dos interesses do Brasil. Os Estados Unidos se dizem preocupados com a democracia na Venezuela mas nada dizem da "democracia" na Arábia Saudita. Por que o deputado Gabeira não protesta contra a falta de liberdade de imprensa na Arábia Saudita? Por que não sai na Globo.
Publicado em 25 de outubro de 2007
http://viomundo.globo.com/site.php?nome ... dicao=1454Edição escondeu fotos de confronto estudantil
(ver as fotos mencinadas no link acima)
Os protestos estudantis na Venezuela são muito mais complexos do que faz acreditar a mídia corporativa brasileira. Na capa dos jornais só saem fotos atribuindo a "milícias" chavistas a repressão a estudantes que são contra a reforma constitucional que será submetida a plebiscito em dezembro.
A mídia brasileira se nega a abandonar o maniqueísmo e aceitar que existem estudantes contra e a favor das reformas. No Brasil, clama pela polícia para reintegrar a posse nas ocupações estudantis ou protesta quando movimentos sociais prejudicam o trânsito.
Na Venezuela, o apoio é total ao movimento estudantil, desde que seja contra o governo. As fotos que aparecem acima são de confrontos que aconteceram dentro de uma das universidades de Caracas. Um grupo de estudantes bolivarianos teria sido perseguido por outro, anti-Chávez, que usou coquetéis molotov para destruir instalações.
Notem que não há polícia à vista, dado que na Venezuela continua valendo a autonomia universitária. Em recente encontro, representantes do governo e das universidades concordaram que é papel da segurança das escolas evitar novos conflitos. Isso você não vai ver na TV.
Publicado em 10 de novembro de 2007
Revista semanal de desinformação (2)
Esta capa esteve nas bancas. O texto escrito pelo diretor de arte da revista Época é auto-explicativo:
"Capa da semana
Para fazer a capa desta semana foi feita uma pesquisa de imagem muito específica. O presidente da Venezuela Hugo Chávez teria que estar com cara ameaçadora. Foi muito difícil, ele tem uma cara gorda e simpática, não dá medo em ninguém. A imagem que mais chegou próximo do objetivo foi a que ele está de boina vermelha olhando para o lado esquerdo. Para deixar a imagem ainda mais forte, o nosso ilustrador Nilson Cardoso fez um trabalho de manipulação na imagem original, até chegar a este resultado final.O que acham? Façam seus comentários
Marcos Marques - diretor de arte"
[url=http://viomundo.globo.com/imagens/reduzido_9114933_epoca3.jpg]Estas são as capas que não foram aproveitadas.
Meu comentário:
Lembrem-se que supostamente é uma revista de informação. Imagem é informação. Não se trata de uma caricatura. O caricaturista tem liberdade completa de criação. Não é fotomontagem. Juntar o corpo do Chávez com a cabeça de uma serpente é uma fotomontagem e o leitor saberia disso.
Aqui, não. É manipulação com o carimbo de sutileza das Organizações Globo. Pelo menos a "Veja" bota logo uma fotomontagem de um pé-na-bunda do Lula. Pergunto: dá para confiar nas fotos publicadas pela Época? Quais recebem tratamento gráfico? Eles "manipulam" fotos do Lula? E do José Serra? Não se trata de partidarismo. Trata-se do direito do leitor de saber quais são os critérios da revista para "manipular" imagens.
Publicado em 2 de novembro de 2007
É a "Época" atacando de ameaça em uma semana e a "Veja" atacando de boina e "ditador" na semana seguinte. Parece até que existe uma coordenação.
Como brincou um colunista americano, escrevendo sobre a relação dos Estados Unidos com o Irã, os americanos tentaram tanto isolar o Irã que acabaram isolados - com os interessados no petróleo iraniano ao lado de Teerã: China, Rússia e Índia.
A diplomacia maluca de Washington é dividir para governar e, pelo jeito, a divisão pode deixar o Brasil de um lado e, de outro, a Venezuela, o Equador, a Colômbia, a Bolívia, a Argentina... Do jeitinho que o Departamento de Estado quer. Aliás, aqui no Brasil a diplomacia americana já obteve o apoio apaixonado das famílias Marinho e Civita, do PSDB, do DEM, do deputado Fernando "Falo o que a Globo Quiser" Gabeira e do oligarca José Sarney.
Acrescentado em 2 de novembro de 2007
Capa do jornal "El Nacional", de Caracas, demonstrando que estão em vigor no país a liberdade de expressão, de opinião, de reunião, de manifestação e de imprensa. As reformas constitucionais aprovadas pela Assembléia Nacional serão APROVADAS OU NÃO em plebiscito marcado para dezembro.
Fique sabendo, aqui, dos resultados das eleições que aconteceram na Venezuela desde 1998.
Acrescentado em 3 de novembro de 2007
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Em documento oficial do Congresso, Maluf deseja morte de "Chaves"; Parlamento entregou investigação à mídia
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal pode votar hoje o relatório do deputado Paulo Maluf que concorda com a adesão da Venezuela ao Mercosul. O projeto tramita em regime de urgência. Além de referir-se ao presidente da Venezuela como "psicopata" e "cafajeste", através da imprensa, o relator incluiu no texto oficial que será submetido à votação seu desejo de que o presidente da Venezuela morra logo.
O relatório deveria entrar para os anais das piadas legislativas brasileiras. Nele, o deputado que analisou a matéria demonstra que não sabe escrever o nome do presidente do país vizinho. Ou vai ver que, numa sutileza que seria surpreendente em Maluf, ele se refere ao Chaves mexicano?
Eu esperava encontrar uma sólida argumentação baseada em fatores políticos, sim, mas também geopolíticos e econômicos. Porém, parte do relatório é calcada em notícias de jornal e revista. É a política externa do Brasil "conduzida" por subalternos dos Marinho e Mesquita.
Além de desejar a morte de Hugo Chávez, Maluf sugere que ele é o verdadeiro governante da Bolívia e que o Brasil deve seguir a liderança do Paraguai, como se isso fosse algum tipo de desmoralização. Em outras palavras, Maluf ofende a Hugo Chávez, à Bolívia e ao Paraguai em um único texto oficial. Nada mau para quem é autor da célebre frase "estupra mas não mata".
Além de cobrar democracia da Venezuela, o ex-prefeito de São Paulo - indicado pelo regime militar - faz menção a outro democrata, José Sarney, o oligarca que, depois de 40 anos comandando o Maranhão "deixou" o estado com alguns dos piores indicadores sociais do Brasil.
Nos últimos nove anos Hugo Chávez foi eleito três vezes presidente da República pelo voto direto dos venezuelanos; Paulo Maluf tentou se eleger presidente do Brasil indiretamente e José Sarney foi eleito vice-presidente do Brasil na mesma ocasião. Os dois foram aliados do regime militar que prendeu, cassou, fechou o Congresso, censurou a imprensa, torturou e "desapareceu" com adversários políticos.
José Sarney fez um discurso-denúncia contra a Venezuela no Congresso, para o qual obteve ampla cobertura da mídia, dando continuidade à sua campanha com artigo na "Folha de S. Paulo" em que sugere que a Venezuela está se armando para controlar território que disputa com a Guiana, ex-protetorado britânico na América do Sul.
Sarney foi incluído por Chávez numa lista de ex-presidentes que fazem campanha internacional contra a Venezuela, dentre os quais se destacam o ex-primeiro ministro de Governo da Espanha, José Maria Aznar; o ex-presidente do México, Vicente Fox e o ex-presidente Alejandro Toledo, do Peru. O ex-presidente FHC também se dedica a falar mal do Brasil e de Chávez no circuito internacional de palestras.
A verdade factual é que, desde 1998, Hugo Chávez ganhou mais eleições, referendos e plebiscitos do que a soma das que foram vencidas por Paulo Maluf e José Sarney no mesmo período.
Eis parte da argumentação malufista:
"Fazendo um parêntesis ao referido argumento, mas para reforçá-lo, lembramos a disposição do senhor Chaves em intervir ou, se quisermos, “prestar auxílio” a Bolívia, oferecendo suporte, inclusive bélico, ao regime de Evo Morales. Essa ordem de fatores nos leva, até mesmo, a vislumbrar o papel decisivo que o Senhor Chaves exerce na condução dos negócios bolivianos.
Em outras palavras, não foge de nossas considerações a perspectiva de ser, o senhor Chaves, o verdadeiro governante da Bolívia, estando inclusive por trás da desapropriação vergonhosa impingida a Petrobrás na questão do gás, bem como das chantagens que o pupilo Evo vem fazendo contra o Brasil, à vista das notícias que O Estado de São Paulo traz na edição do dia 7 de novembro: “Evo impõe regras para negociar gás com o Brasil.”
O que mais nos surpreende é que tudo isso vem sendo feito à sorrelfa, iludindo as ingênuas – talvez fosse melhor considerá-las como passivas – autoridades brasileiras, que não percebem o escárnio e a desfaçatez de nossos “amigos” sul-americanos. Ademais, o senhor Chaves já manifestou a pretensão de ocupar a região de Essequibo, na Guiana, como nos informa O Estado de São Paulo do dia 6 de novembro do corrente ano.
Como reação interna às medidas do senhor Chaves, o Estado de São Paulo, na edição de 27 de outubro do corrente ano, observa que até o episcopado venezuelano vem se manifestando sobre o assunto, verificando que está se caracterizando ”um modelo de Estado socialista, marxista-leninista, estatista, contrário ao pensamento do libertador Simón Bolivar e também contrário à natureza do ser humano e à visão cristã do homem, porque estabelece o domínio absoluto do Estado sobre a pessoa.”
Há, ainda, uma outra perspectiva para o tema Venezuela, como chama a atenção a Revista Época do dia 29 de outubro: a corrida armamentista promovida pelo dirigente daquele país, que vem sistematicamente transformando o petróleo, do iludido povo venezuelano, em equipamentos bélicos modernos e sofisticados, levando insegurança aos vizinhos daquele país, inclusive, ao Brasil.
A propósito, o Senador José Sarney, com a experiência de ex-Presidente da República que contribuiu para o nascimento do MERCOSUL, em discurso no Plenário do Senado Federal, no dia 29 de outubro de 2007, reforça o temor de que a Venezuela se transforme em uma potência militar, provocando a referida corrida armamentista na América Latina.
O Senador José Sarney, além disso, afirmou que o clima não é favorável, no Congresso Nacional, para a adesão da Venezuela ao MERCOSUL, porquanto esse país deveria, antes, “mostrar que está pronto para a democracia”. Com isso, o nosso ex-Presidente manifesta preocupação com a possibilidade de a Venezuela se transformar em um país ditatorial.
Nesse particular, tememos que, ao aceitarmos a provocação bélica, haja um esvaziamento de nossa agenda social, com o desvio de recursos imprescindíveis para os programas sociais como o Bolsa Família, a merenda escolar e o pagamento das aposentadorias de nossos idosos.
Enfim, nessa matéria talvez a solução esteja em adotar a postura paraguaia, qual seja a de precaução no que diz respeito à admissão da Venezuela no MERCOSUL. Isso mesmo: já que as nossas lideranças vacilam, deveríamos, nessa matéria, seguir a liderança do Paraguai!
Afinal, é difícil esquecer as declarações infelizes do senhor Chaves em relação ao Congresso Nacional brasileiro, impondo inclusive prazo para que aprovássemos a inclusão da Venezuela no MERCOSUL. De qualquer modo, sobre a ausência de democracia na Venezuela, nos tranqüiliza, em parte, a posição do Presidente Lula, quando o mesmo apregoa, com foros de sinceridade, que a alternância do Poder é salutar para reforçar a democracia. Mais do que isso, poderíamos até apelar ao senhor Chaves para que não deixe de ter em consideração que a alternância de poder na Venezuela constituiria o ponto culminante em sua modesta e bizarra biografia.
Não obstante, nesse momento, para definir nosso juízo sobre a matéria, temos em consideração, sobretudo, o povo venezuelano, a Venezuela como país. Acima e a despeito do senhor Chaves – que é passageiro, e esperando que a passagem seja a mais breve possível – não podemos perder de vista o país chamado Venezuela. A nação venezuelana é que permanecerá como amiga do povo brasileiro, como nossos vizinhos, acima de “chavismos” eventuais."
Isso lá é relatório digno do Congresso de um país com a grandeza do Brasil? Ele pelo menos poderia esculhambar o Chávez com informações de qualidade que houvesse conseguido, por exemplo, numa visita à Venezuela ou ao território de Essequibo. Mas é tudo de ouvir dizer.
Aqui está a lista de eleições vencidas por Hugo Chávez e seus partidários na Venezuela, por conta dos "eleitores iludidos" aos quais se refere Maluf.
http://viomundo.globo.com/imagens/24161 ... milton.gif
Para refrescar a memória dos mais velhos e informar aos mais novos, Paulo Maluf foi prefeito de São Paulo indicado pelo regime militar e governador biônico do Estado. Foi aliado da linha-dura do Exército, que tinha como um de seus expoentes o general Milton Tavares (foto acima). Maluf votou contra a emenda que restabelecia eleições presidenciais diretas no Brasil. Foi eleito uma vez prefeito e duas vezes deputado federal - foi o mais votado em 2006. Hoje é aliado do presidente Lula.
http://viomundo.globo.com/imagens/110212_maranhao66.jpg
José Sarney é o mais antigo parlamentar em atividade no Congresso. Começou a carreira como deputado federal, nos anos 50. Em 1966 foi eleito governador do Maranhão pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido criado para dar apoio ao regime militar. Antes do golpe Sarney havia apoiado o presidente deposto, João Goulart. Sarney abandonou os militares para fundar a Frente Liberal, cavou a vaga de vice na chapa de Tancredo Neves e foi eleito vice-presidente da República. Quando Tancredo morreu, tornou-se presidente da República. Foi aliado de Itamar Franco, de Fernando Henrique Cardoso e hoje é aliado do presidente Lula. O documentário Maranhão 66, de Glauber Rocha, feito a pedido de Sarney, registra a posse do então governador de forma magistral. Sarney é a caricatura do coronel eletrônico, tendo dado concessões públicas de rádio e televisão, por decreto, a parentes e aliados políticos. Controla o Sistema Mirante de Comunicação, que retransmite a TV Globo no Maranhão.
Publicado em 21 de novembro de 2007
Querem mais piada? Isso aqui vai se tornar uma sucursal do José Simão. Segundo nota publicada em "O Globo", o deputado federal Raul Jungmann disse que o PPS votará contra o relatório de Maluf, sob a alegação de que o deputado foi "fiel servidor da ditadura militar".
Perfeito. Porém, quatro votos já foram dados em separado, todos a favor do relatório. Um deles é de Moreira Mendes, do PPS de Rondônia.
E agora uma curiosidade: a CCJ chamou duas pessoas para a audiência pública sobre o assunto. Um representante do Itamaraty. O outro foi o professor Carlos Roberto Pio, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. O mesmo que ouvi dando entrevista à rádio CBN, do grupo Globo, há alguns dias. Na entrevista, ele disse que a entrada da Venezuela no Mercosul não terá impacto econômico, mas apenas político.
Acrescentado em 21 de novembro de 2007
Em qualquer país sério do mundo, às vesperas de tomar uma decisão importante como essa, o Congresso enviaria uma delegação parlamentar numa missão de "fact finding", justamente para não ficar à mercê dos humores de alguns donos de jornais ou emissoras de TV. Os deputados e senadores vão até lá, conversam com o governo, com a oposição, com especialistas, com militares e, ao voltar, fazem um relatório sobre o assunto. Mas a qualidade de nossa representação política é tão bisonha que o deputado mais votado do Brasil escreve um texto baseado no "ouvi dizer".
Acrescentado em 21 de novembro de 2007
O pano de fundo da disputa política que se dá na América Latina é entre governos que pretendem exercer sua soberania e o "novo colonialismo" assentado nos interesses das corporações supra-nacionais. Leia aqui.
Acrescentado em 22 de novembro de 2007
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América dos punhos sem renda
Há um motivo para que a mídia tenha transformado em ícone a foto na qual o rei de Espanha pede a Chávez que se cale. Ela expressa o desconcerto das elites com um continente mestiço, onde está está cada vez mais difícil dizer às maiorias que reconheçam “o seu lugar”
Elizabeth Carvalho
O presidente venezuelano Hugo Chávez não veste o modelo de um lorde inglês e não tem em sua genealogia ascendentes com punho de renda. Baixinho, volumoso, olhos puxados e penetrantes se destacando nas feições rudes de cabloco meio branco, meio índio, e ainda um remoto vestígio certamente herdado de algum antepassado negro, ele é, ao mesmo tempo, espelho e símbolo mais contundente de algumas lideranças expressivas escolhidas democraticamente pelos povos latino-americano, à sua imagem e semelhança, para governá-los neste ainda tão novo século 21.
Para desgosto das nossas elites brancas-brancas, que sempre ditaram as regras do jogo e ainda hoje vivem, nessas terras tão desiguais, uma projeção do que até pouco tempo atrás era chamado de Primeiro Mundo, a Bolívia é governada por um índio. O Brasil, por um nordestino saído das fábricas do ABC paulista. A Argentina, que já foi tão sofisticada, acaba de eleger uma mulher classificada à boca pequena de cafona, casada com um presidente provinciano de maus modos. O Equador, é verdade, levou ao poder um líder de olhos azuis educado nas melhores escolas, mas identificado com a tendência continental crescente de reformar a Constituição para atender à massa dos excluídos. Tempos difíceis esses, para os “puros” com linha direta nas caravelas que despejaram os conquistadores europeus neste lado do mundo. Tempos de inversão de valores. Está cada vez mais difícil fazer com que as pessoas deste caldeirão racial cozido nos últimos 500 anos reconheçam “o seu lugar”.
Nada mais emblemático do desconforto e indignação das elites nesse nosso mundo periférico de hoje do que a foto e a legenda estampadas na primeira página de jornais de todo o mundo no dia 10 de setembro, registrando o início da cerimônia de encerramento da 12ª reunião da Cúpula Ibero-Americana, no Chile. De dedo em riste, o rei Juan Carlos, da Espanha, dirige-se a Chávez com a voz alterada e ordena: “Por que não te calas?” Irritado com as intervenções de Chávez ao discurso do presidente espanhol José Luiz Zapatero, o rei perde a paciência, grita e sai da sala.
Não há nenhuma novidade no fato de um histriônico e impetuoso presidente Chávez falar pelos cotovelos e se destacar numa reunião internacional como um elefante numa loja de louças, que ao menor movimento faz ruir das prateleiras porcelanas e cristais. A mídia, sempre atenta ao menor deslize dos punhos sem renda, é pródiga no trabalho de manter sua imagem política sob a forma de uma caricatura. Curiosamente nova pode ser a leitura simbólica que a foto proporciona nos gestos e atitudes de seus personagens: o rei de Espanha, figura maior do outrora império de dominação colonial na América, manda calar o presidente caboclo de um de seus antigos territórios vassalos, justamente de onde saiu, por uma ironia da história, o grande herói da independência latino-americana Simón Bolívar. Na foto, o rei aparece no centro, em primeiro plano, decidido, majestoso. Chávez, no canto, quase saindo de quadro, parece ter encolhido de tamanho.
Elevar a voz e bater em retirada, antes que a moda pegue e a quebradeira seja geral
Os fatos que desembocaram nesta cena são conhecidos. Chávez batera por duas ou três vezes, durante a reunião da cúpula, num mesmo bordão (é notória a sua tendência a ignorar a regra básica de que uma boa nota, se muito repetida, torna-se cansativa e incômoda). Insistira em criticar o ex-presidente espanhol José Maria Aznar, un conservador ligado à Opus Dei, que governou o país por dois períodos consecutivos antes de Zapatero, e claramente posicionou-se a favor do golpe contra o presidente venezuelano, em 2002. Hoje à frente da Fundação para a Análise e os Estudos Sociais (FAES), voltada para sistematização de um pensamento de direita nos países de língua espanhola, Aznar dedica-se a fazer incursões pela América Latina. Prega o ideário da superioridade da civilização ocidental cristã, sob a “grande liderança” dos Estados Unidos. Promove combate implacável aos três demônios que supostamente ameaçam essa civilização e querem acabar com a democracia no continente — o multiculturalismo, o “populismo” chavista e o indigenismo “racista”dos países andinos, que vai levar a América Latina ao retrocesso dos tempos dos incas.
Apesar de suas notórias diferenças com Aznar, o presidente Zapatero achou por bem passar por cima de suas convicções socialistas para prontamente defender as cores da bandeira da nação. Aznar, em que pesem as diferenças políticas, é acima de tudo um cidadão espanhol, dessa mesma Espanha que até o século 19 saqueou as riquezas do continente e que, como lembra o sociólogo Emir Sader, pôde participar das duras condições de competição no marco da integração européia graças aos investimentos de suas empresas neste mesmo continente, no alvorecer do século 21. Em que pesem as dificuldades causadas pelas medidas protecionistas justamente na Bolívia, na Argentina e na Venezuela dos punhos sem renda, os investimentos no ano passado ultrapassaram 20 milhões de euros.
A indignação do rei com as tentativas de Chávez de interromper a defesa que Zapatero fazia de Aznar em seu pronunciamento forneceu o caviar que faltava no interminável banquete de interpretações duvidosas sobre a atitude de líderes que trouxeram de volta ao discurso político latino-americano questões incômodas como soberania, igualdade social e defesa das riquezas nacionais. Até então, servia-se à mesa apenas o “deboche” com que Chávez contemplou a descoberta do megacampo de petróleo na bacia de Santos, cuja exploração pode aumentar em mais da metade as atuais reservas do país.
Ao saudar o presidente Lula como o “magnata do petróleo” e dizer que, pelo andar da carruagem, o Brasil pode acabar fazendo parte do seleto grupo da OPEP, o superlativo Chávez ofereceu à mídia um tira-gosto que teve ao menos o mérito de levar a público uma esperança otimista sobre o tamanho da descoberta, que o Brasil, na verdade continua ignorando. Afinal, se os países dos punhos sem renda não podem dar certo, melhor fazer acreditar que o governo exagera para esconder a gravidade de uma crise do gás que não se concretizou, ou tentar evitar a todo o custo que uma nova lei do petróleo garanta ao Estado brasileiro lucros futuros que deveriam ficar em mãos do capital privado. Ou fazer como o rei: elevar a voz e bater em retirada, antes que a moda do elefante pegue e a quebradeira seja geral.
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Eu também gosteiZebedeu81 escreveu:até que enfim deram um cala boca nele.
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Carnage escreveu:Novamente, que o Chavez é um aloprado com alma de ditador ninguém discorda, mas tem outras coisas aí
Nossos políticos estão discutindo a entrada ou não da Venezuela no Mercosul, e hoje vi na televisão muitos deles argumentando que não deveria se permitir porque a Venezuela "não é uma democracia".
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Zebedeu81 escreveu:até que enfim deram um cala boca nele.
O problema é que, tal como o NOSSO presidente LULA, ele não toma simancol, não tem ideia do que é isso, e só fala o que quer. E como diz o ditado:
QUEM FALA O QUE QUER, OUVE O QUE NÃO QUER !!!!
Ninguém Liga escreveu:Eu também gostei
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O CORONEL E A MÍDIA
Quem tem medo de Hugo Chávez?
Por Luciano Martins Costa em 20/11/2007
O Instituto Venezuelano de Análise de Dados (IVAD) divulgou no dia 28 de outubro passado o resultado de uma pesquisa com uma amostragem de 1.200 venezuelanos sobre o projeto político do presidente Hugo Chávez. Resultado: 46,7% responderam que, no futuro, as reformas propostas por Chávez vão transformar o país numa república socialista e democrática; 29,9% disseram que a Venezuela será um país comunista, como Cuba, e 15,9% declararam entender que o país será socialista, mas não democrático.
Hugo Chávez usou o resultado da consulta para declarar que 92,5% dos venezuelanos estão de acordo que o país adote o socialismo. A imprensa destacou o contrário, que 45,8% temem que o país seja conduzido a um regime totalitário.
Tem sido assim desde a posse de Chávez, em fevereiro de 1999, eleito com 56,2% dos votos. Em abril de 2002, ele chegou a ser afastado do governo por um golpe virtual, produzido pela mídia, mas reconduzido ao Palácio de Miraflores por uma multidão de cidadãos apoiados por oficiais militares. Em agosto de 2004, ele venceu com 59% dos votos um referendo convocado pela oposição, que apresentou ao Congresso um abaixo-assinado de 2,5 milhões de venezuelanos que exigiam a confirmação de seu mandato. Em dezembro de 2006, Chávez foi reeleito para um novo mandato de seis anos, com 62,9% dos votos.
Indicadores em alta
Em junho de 2007, anunciou a intenção de submeter aos eleitores uma série de mudanças em artigos da Constituição, entre os quais a ampliação do mandato de seis para sete anos e a possibilidade da reeleição ilimitada do presidente da República. A Assembléia Nacional, ocupada em mais de dois terços por chavistas, aprovou a proposta, que deverá ser submetida a referendo popular no dia 2 de dezembro.
A exemplo de seu colega brasileiro, Chávez é apoiado maciçamente pela população de baixa renda, beneficiária principal de sua política econômica e de seus projetos sociais e principal objeto de sua polêmica e destemperada oratória sobre a tal "revolução bolivariana". A classe média, que era inexpressiva antes da posse de Chávez, também foi beneficiada, mas tem arcado com os custos da inflação, principal fragilidade do projeto econômico "bolivariano".
Segundo o sociólogo americano Gregory Wilpert, que vive em Caracas desde 1995, os mais pobres também são afetados pela inflação, mas acabam se protegendo na economia solidária e na ação social do governo, enquanto a classe média, que consome mais produtos importados e cotados em dólar, sente os maiores efeitos.
Estudiosos que contribuem para o Observatório da Economia Latino-Americana (OELA) registram que, entre 1989 e 1998, quando Hugo Chávez foi eleito pela primeira vez, a inflação havia subido em média 53% ao ano. Nesse primeiro mandato, e até a tentativa de golpe contra ele em 2002, a inflação anual caiu para 23%.
A greve do setor petroleiro, que paralisou o país em 2003, logo após o retorno de Chávez ao poder, desarranjou completamente a economia, mas a Venezuela conseguiu retomar o crescimento e alcançar relativa estabilidade. A moeda nacional, que havia sofrido uma desvalorização média anual de 795% no período de 1983 a 1998, caiu menos – 40,9% entre 1998 e 2003. As desvalorizações ocorrem em grande parte por conta da alta liquidez, ou seja, a baixa diversidade na economia venezuelana reduz as possibilidades de investimento em ativos reais. A inexistência de uma indústria diversificada, com extrema dependência do petróleo exige a importação de muitos bens.
Segundo economistas contribuintes do OELA, praticamente todos os demais indicadores econômicos apresentaram saltos significativos após a posse de Hugo Chávez, mas o mais marcante é a evolução dos dados sociais. Nos dez anos anteriores a Chávez, haviam sido construídas na Venezuela 65 mil casas. Os registros de 1999 a 2002 mostram a construção de 92 mil habitações. O investimento social per capita foi de 285 dólares em 1995, em 2001 chegou a 402 dólares per capita. No mesmo período, o investimento oficial em educação foi duplicado.
Avanços comemorados
Até 1998, a Venezuela era celebrada em sites de pornografia como um paraíso do turismo sexual, como era Cuba nos anos 1950. Chávez criou políticas de desestímulo ao turismo sexual, estabeleceu uma legislação especial para a proteção de adolescentes inspirada no Estatuto da Criança e do Adolescente vigente no Brasil e aumentou a fiscalização nos hotéis e espaços públicos.
Na semana passada, a imprensa interrnacional – incluídos os jornais brasileiros – publicaram que a Venezuela, juntamente com o Brasil e a Argentina, liderava um impressionante avanço na melhoria da inclusão social dos mais pobres. Na sexta-feira (16/11), a manchete de O Globo ("Número de pobres é o menor em 17 anos na América Latina") reproduzia dados da Cepal – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, dando conta de que as políticas de aumento de emprego, redução da natalidade e programas de transferência de renda estavam produzindo os resultados que décadas de políticas econômicas conservadoras não haviam obtido. Os outros jornais esconderam a notícia, da mesma forma como omitem os detalhes da reforma proposta para o referendo de 2 de dezembro.
A imprensa demoniza o presidente venezuelano em grau muito mais grave do que a oposição que faz ao presidente Lula, no Brasil. Lula não é apresentado como uma "ameaça totalitária", mas a mídia vive assombrada com a hipótese – já desmentida por ele em muitas ocasiões – de que venha a pleitear um terceiro mandato. Mas qualquer coisa que diga será usada contra ele, porque Chávez é usado como referência. O confronto entre Chávez e a imprensa venezuelana contamina todo o continente, e não há hipótese de conciliação.
Se Chávez vencer o referendo, é possível que venha a estabelecer um governo centralizador e autoritário, o que de fato pode ameaçar as democracias do continente. Mas essa é apenas uma hipótese, e não está consagrada no projeto de 33 mudanças constitucionais aprovadas pela Assembléia Nacional da Venezuela. Além disso, os tratados internacionais e regionais levariam ao isolamento da Venezuela, se o presidente se tornasse um ditador. Boa parte dos acordos, inclusive com o Brasil, se tornaria letra morta.
Se, a rigor, o risco de a Venezuela perder as liberdades democráticas a partir da votação do dia 2 de dezembro está mais para ficção do que para a realidade, o que está por trás da demonização de Chávez, além de sua retórica descontrolada? Se os números dos avanços econômicos e sociais são celebrados pela própria imprensa, o que os jornais tanto temem na figura de Hugo Chávez não seria exatamente o sucesso do seu modelo?
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